A MESMA CANTIGA
Há várias tendências
que se repetem na história do futebol português das últimas décadas. As
arbitragens protegerem o FC Porto nos momentos decisivos é uma delas. O
Sporting queixar-se espalhafatosamente das mesmas, exacerbando pequenos
prejuízos, e ignorando benefícios, é outra. Mas há uma terceira,
verdadeiramente pavloviana, que se repete a cada campeonato que o Benfica
lidera, mormente quando a distância para a concorrência começa a ter algum
significado.
Sempre que tal
acontece, surge um coro de comentadores e escribas mais ou menos encartados,
mais ou menos assumidos, pouco ou nada isentos, a entoar uma música já muito
batida: “o Benfica está a ser levado ao colo”. Foi assim em 2005, foi assim em
2010, foi assim a dada altura da temporada passada, pelo que não devemos,
agora, ficar particularmente surpreendidos.
A melodia não tem
graça, mas o concerto é afinado. Ora diz um, ora escreve outro, até fazer
vingar a máxima de que uma mentira repetida muitas vezes pode transformar-se
numa verdade.
Tomemos por exemplo a
última jornada. No Estoril vi um penálti claríssimo ser perdoado ao FC Porto,
ainda na primeira parte. Em Alvalade, vi um golo irregular ser bem anulado
(sendo essa, por sinal, opinião partilhada por todo o painel de um programa da
insuspeita Sport Tv). Na Choupana, o único erro que recordo foi um fora-de-jogo
de centímetros mal assinalado, num lance que, estou em crer, Júlio César
deteria. Poderia ainda lembrar a única derrota do Benfica nesta Liga, e uma
grande penalidade claríssima sobre Gaitán, que ficou por assinalar na área
bracarense. Mas, eles não se calam, nem irão calar-se enquanto o Benfica seguir
na liderança.
Nós não nos deixamos
impressionar. Mas confesso o meu receio de que árbitros e assistentes encarem
as coisas de outro modo, e tendam a procurar dissipar o ruído da pior forma
possível. No fundo, uma questão de coragem, ou de falta dela. E é preciso dizer
que as minhas expectativas relativamente a essa gente também não são elevadas.
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