PONTAPÉS NA SORTE, PONTAPÉ NO AZAR
País de fadistas e de poetas, Portugal carrega consigo uma alma sofredora, da qual é raro conseguir libertar-se. Quando as coisas parecem fáceis, rapidamente desligamos a corrente, empinamos o nariz, e cruzamos os braços. E só quando a angústia aperta, voltamos à vida, conseguindo então mostrar a melhor das nossas capacidades – a de improvisar, desenrascando, e alcançando, nos limites, aquilo que outros metodicamente constroem.
O jogo com a Dinamarca foi uma metáfora quase perfeita das idiossincrasias nacionais, e quase matou de coração os milhões de portugueses que, pregados ao ecrã, iam sofrendo com os pontapés na sorte que Ronaldo e seus pares iam dando, mesmo depois de parecerem ter o jogo seguro em suas mãos. Tudo acabou em bem, com um pontapé que Varela deu, mas desta vez na fatalidade. Estávamos então á beira de um precipício. Conseguimos evitá-lo. Nos limites, como é hábito.
Paulo Bento não arriscou, e colocou em campo a mesma equipa que, diante da Alemanha, tinha ameaçado uma boa surpresa. Pelo menos terá sido esse o seu entendimento, e na primeira parte a resposta foi eloquente: Portugal jogou, dominou, marcou, e até Postiga justificou (com um golo) a confiança nele depositada. O golo dinamarquês, perto do intervalo, devolveu os nórdicos à partida, e abalou um pouco a serenidade lusa. A segunda parte trazia a incerteza, e anunciava o drama. E quanto a suspense, o filme não iria desiludir.
Será justo dizermos que as oportunidades criadas pela Selecção portuguesa ao longo do segundo período, chegavam e sobravam para manter o adversário em sentido, e para garantir um resultado bem mais folgado. Tão justo como dizermos que Cristiano Ronaldo, com desperdícios infantis na cara do golo, mas também com uma total ausência de sentido colectivo na hora de fechar o seu flanco, foi, não só uma unidade a menos na força da equipa, como até um elemento perturbador – justificando-se claramente uma substituição que Paulo Bento (como, acredito, qualquer outro em seu lugar) dificilmente teria a coragem de fazer.
Com Fábio Coentrão entregue a dois, e por vezes três Vikings assanhados (a entrada de Mikkelsen trouxe uma nova vivacidade àquele flanco), Portugal ficou à mercê de um assalto que, mais cedo ou mais tarde, traria forçosamente consequências. Quando Bendtner voltou a marcar, tudo parecia terminado ali, e já se imaginava a comitiva portuguesa a ser insultada, na próxima segunda-feira, na chegada à Portela.
Ao contrário do que seria natural, a Dinamarca não recuou as suas linhas, pareceu empenhada na busca dos três pontos (erro estratégico que lhe poderá vir a custar caro), e os espaços que concedeu acabaram por se revelar determinantes no regresso de Portugal ao jogo. Fazendo das fraquezas forças, com Pepe, Nani, Coentrão, e os recém-entrados Varela e Nélson Oliveira, à frente das tropas, Portugal foi buscar a vitória onde já não se esperava que ela estivesse.
Desde o Mundial 2006 que não dava um salto do sofá com um golo de Portugal. A vitória assim sabe melhor, e, apesar da total obscuridade de Ronaldo (começa a ser demais…), a Equipa das Quinas mantém-se na luta pelo apuramento.
As contas são também a nossa sina. E estas são bem complicadas. A Selecção Nacional não depende de si própria, mas, paradoxalmente, até pode apurar-se perdendo com a Holanda. Não me lembro de situação similar na história recente de Europeus, Mundiais ou Ligas dos Campeões. A melhor solução é, claro, ganhar o jogo, e acreditar que não aconteça nada de estranho no Alemanha-Dinamarca.
Aos domingos à noite, tenho por hábito terminar o fim-de-semana vendo um filme de Hitchcock. Neste, creio que não precisarei.
O jogo com a Dinamarca foi uma metáfora quase perfeita das idiossincrasias nacionais, e quase matou de coração os milhões de portugueses que, pregados ao ecrã, iam sofrendo com os pontapés na sorte que Ronaldo e seus pares iam dando, mesmo depois de parecerem ter o jogo seguro em suas mãos. Tudo acabou em bem, com um pontapé que Varela deu, mas desta vez na fatalidade. Estávamos então á beira de um precipício. Conseguimos evitá-lo. Nos limites, como é hábito.
Paulo Bento não arriscou, e colocou em campo a mesma equipa que, diante da Alemanha, tinha ameaçado uma boa surpresa. Pelo menos terá sido esse o seu entendimento, e na primeira parte a resposta foi eloquente: Portugal jogou, dominou, marcou, e até Postiga justificou (com um golo) a confiança nele depositada. O golo dinamarquês, perto do intervalo, devolveu os nórdicos à partida, e abalou um pouco a serenidade lusa. A segunda parte trazia a incerteza, e anunciava o drama. E quanto a suspense, o filme não iria desiludir.
Será justo dizermos que as oportunidades criadas pela Selecção portuguesa ao longo do segundo período, chegavam e sobravam para manter o adversário em sentido, e para garantir um resultado bem mais folgado. Tão justo como dizermos que Cristiano Ronaldo, com desperdícios infantis na cara do golo, mas também com uma total ausência de sentido colectivo na hora de fechar o seu flanco, foi, não só uma unidade a menos na força da equipa, como até um elemento perturbador – justificando-se claramente uma substituição que Paulo Bento (como, acredito, qualquer outro em seu lugar) dificilmente teria a coragem de fazer.
Com Fábio Coentrão entregue a dois, e por vezes três Vikings assanhados (a entrada de Mikkelsen trouxe uma nova vivacidade àquele flanco), Portugal ficou à mercê de um assalto que, mais cedo ou mais tarde, traria forçosamente consequências. Quando Bendtner voltou a marcar, tudo parecia terminado ali, e já se imaginava a comitiva portuguesa a ser insultada, na próxima segunda-feira, na chegada à Portela.
Ao contrário do que seria natural, a Dinamarca não recuou as suas linhas, pareceu empenhada na busca dos três pontos (erro estratégico que lhe poderá vir a custar caro), e os espaços que concedeu acabaram por se revelar determinantes no regresso de Portugal ao jogo. Fazendo das fraquezas forças, com Pepe, Nani, Coentrão, e os recém-entrados Varela e Nélson Oliveira, à frente das tropas, Portugal foi buscar a vitória onde já não se esperava que ela estivesse.
Desde o Mundial 2006 que não dava um salto do sofá com um golo de Portugal. A vitória assim sabe melhor, e, apesar da total obscuridade de Ronaldo (começa a ser demais…), a Equipa das Quinas mantém-se na luta pelo apuramento.
As contas são também a nossa sina. E estas são bem complicadas. A Selecção Nacional não depende de si própria, mas, paradoxalmente, até pode apurar-se perdendo com a Holanda. Não me lembro de situação similar na história recente de Europeus, Mundiais ou Ligas dos Campeões. A melhor solução é, claro, ganhar o jogo, e acreditar que não aconteça nada de estranho no Alemanha-Dinamarca.
Aos domingos à noite, tenho por hábito terminar o fim-de-semana vendo um filme de Hitchcock. Neste, creio que não precisarei.
3 comentários:
ahahahah.
Até o Varela só acertou à segunda. Teve Portugal essa sorte
Confesso quenão me impressionei antes do jogo. Surpreendeu-me pela positiva. Não esperava aquela atitude e na realidade via Portugal no lugar em que está hoje a Holanda o que para mim seria impensável. Diversas razões me ligam aos oranges não aos laranjas.
Mas achei garra na equipa Portuguesa gostei de Pepe mas achei Raul Meireles ao seu melhor nem uma vez passou a bola a Nelson Oliveira.
O que acontece com Ronaldo é o que acontece com Cardozo ou até mesmo com Messi no último mundial. São jogadas incriveis pela negativa.
Gostei do jogo e como o vi de forma desapaixonada apreciei mais os passes. Foi um lindo jogo. No Domingo não sei para onde o meu coração vai bater. Espero e desejo que a Alemanha ganhe á Dinamarca. E depois que venham os Russos
Nota para a total desorientação e Patrício no primeiro golo, silenciada pela sua habitual boa imprensa
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