BOLA QUADRADA

Eis a equipa sueca que disputou o Mundial de 1934 na Itália de Mussolini, e que foi vencido pela selecção da casa.
A publicação desta foto é também uma forma de homenagear a memória dos grandes mestres do cinema falecidos ontem: Ingmar Bergman, tinha então 16 anos, e Michelangelo Antonioni, que tinha 21.

AO QUILO

Desde o verão de 2004, ou seja em apenas três anos, entraram no plantel do Benfica 60 (!!) jogadores e sairam 59 (!!), o que perfaz um total de movimentações de 119 jogadores, a uma impressionante média de perto de 20 entradas e 20 saídas por época (!!).
Muitos foram contratados e nunca chegaram a vestir a camisola do clube, outros tiveram passagens meteóricas pela Luz, outros ainda vieram rotulados de grandes vedetas acabando por sair pela porta do fundo. Poucos, muito poucos, se afirmaram na primeira equipa.
Será possível construir um grupo de trabalho ganhador no meio desta permanente convulsão?
Fica a lista:
Entraram (60): Yannick, Amoreirinha, Everson, Paulo Almeida, Karadas, Dos Santos, Alcides, Bruno Aguiar, Carlitos, André Luíz, Delibasic, Nuno Assis, Alex, Hélio Roque, Tiago Gomes, João Vilela, Léo, Nelson, Rui Neréu, Bruno Costa, Anderson, Beto, Karyaka, Karagounis, Miccoli, Moretto, Marcel, Manduca, Marco Ferreira, José Fonte, Laurent Robert, José Rui, Ricardo Janota, Inzagi, Pedro Correia, Diego Souza, Canales, Patafta, Rui Costa, Miguelito, Katsouranis, Paulo Jorge, Manu, João Coimbra, Derlei, David Luíz, Kikin Fonseca, Butt, Sretenovic, Marc Zoro, Miguel Victor, Manuel Fernandes, Romeu Ribeiro, Andrés Diaz, Freddy Adu, Cardozo, Fábio Coentrão, Yu Dabao, Bergessio e Di Maria.
Saíram (59): Tiago, Armando, Hélder, Fernando Aguiar, Bossio, Ednilson, Carlitos I, Argel, Zahovic, Yannick, Sokota, Amoreirinha, Paulo Almeida, Karadas, Dos Santos, Fehér, Roger, Cristiano, Alcides, Bruno Aguiar, Carlitos II, André Luíz, Delibasic, Alex, Hélio Roque, Tiago Gomes, Everson, João Vilela, João Pereira, Fernando Alexandre, Rui Neréu, Bruno Costa, Marcel, Manduca, José Fonte, Laurent Robert, José Rui, Ricardo Janota, Inzagi, Diego Souza, Canales, Patafta, Kikin Fonseca, Geovanni, Miguel, Manuel Fernandes, Fyssas, Karyaka, Ricardo Rocha, Moretto, Anderson, Pedro Correia, Marco Ferreira, Beto, Karagounis, João Coimbra, Miccoli, Derlei, Paulo Jorge e Simão Sabrosa.

NAÇÕES UNIDAS

Com tanta movimentação no plantel encarnado, quase se perde o fio à meada.
Importa pois fazer um ponto de situação.
Saídas (12): Moretto, Anderson, Marco Ferreira, Pedro Correia, Beto, Karagounis, João Coimbra, Miccoli, Simão Sabrosa, Derlei, Paulo Jorge e Manú (?).
Entradas (14): Butt, Sretenovic, Zoro, Miguel Victor, Manuel Fernandes, Romeu Ribeiro, Andrés Diaz, Freddy Adu, Cardozo, Yu Dabao, Fábio Coentrão, Bergessio, Di Maria e Belletti (?).
No seu novo plantel, os encarnados têm agora 15 estrangeiros, provenientes de todos os cantos do mundo. Há por lá jogadores da América do Norte (Adu), América do Sul (Luisão, David Luiz, Léo, Diaz, Cardozo, Bergessio, Di Maria e eventualmente Belletti), África (Zoro e Mantorras), Ásia (Yu Dabao) e Europa (Butt, Katsouranis e Sretenovic), para além, naturalmente, dos portugueses.
Como se vai toda esta gente entender ? Mais um desafio para o já tão flagelado treinador do Benfica.

UM FEITICEIRO PARA A LUZ

O norte-americano Freddy Adu é a mais recente aquisição do Benfica.
Ao contrário de Di Maria, e sobretudo Andrés Diaz, Adu, embora muito jovem, é já um jogador com renome no panorama internacional, e a avaliar pelo que fez no Mundial sub 20 pode vir a tornar-se um elemento de relevo neste Benfica cada vez mais transfigurado.
Desde os 14 anos que o talento deste americano de origem ganesa tem dado que falar. Chegou, na altura, a ser apontado como um novo Pelé – comparações sempre falaciosas em tão tenra idade -, e foi chamado pelo Manchester United para ser testado. Não foi feliz em Inglaterra e voltou ao seu país de adopção, onde se tem destacado na MSL mas sem atingir, até agora, a bitola que tão precoce mediatismo parecia anunciar. Foi o mais jovem jogador de sempre a vestir a camisola da principal selecção norte-americana.
Tive oportunidade de o ver em acção no Mundial do Canadá, e as primeiras impressões não podiam ser melhores. Frente à Polónia marcou 4 golos e fez uma exibição portentosa, justificando tudo o que dele se dissera quando o seu nome começou a ser falado. Exibiu uma tremenda mobilidade, uma capacidade técnica prodigiosa, e uma veia goleadora implacável. Teve momentos de verdadeira magia, só ao alcance dos grandes da história do desporto-rei. Jogou e fez jogar, e se me dissessem nesse dia que ele vinha para o Benfica, teria dificuldades em acreditar, imaginando-o de certo mais num Chelsea ou num Real Madrid.
Vi mais dois jogos de Freddy Adu, mas aí esteve longe, muito longe, do brilhantismo daquela primeira partida. Ficou-me então a suspeita de que talvez não se trate de um jogador muito regular, e que essa intermitência de rendimento possa ter sido a causa da sua dispensa pelo United - não sendo de desprezar a eventualidade de uma tão grande mediatização face à sua idade, o poder ter prejudicado, pese embora a versão oficial ter a ver com limites às datas de saída dos E.U.A.. Além disso, é ainda muito jovem e, talento à parte, tem tudo a aprender em termos de dinâmica colectiva de jogo, sobretudo num panorama - o europeu - substancialmente diferente daquele a que está habituado.
Mesmo que Adu não apresente um rendimento constante, certamente que nalguns momentos será capaz de fazer levantar o estádio - como fizeram em épocas diferentes jogadores como Poborsky ou Miccoli - pois talento é coisa que não lhe falta. Pessoalmente gosto menos de virtuosos intermitentes e mais de jogadores de mentalidade e dinâmica colectiva, cujo rendimento seja regular, e que apareçam sempre que a equipa precisa deles – como Simão -, mas para já há que acreditar que este jovem possa evoluir na Luz e, quem sabe, dentro de poucos anos, possa de lá sair por uma porta tão grande como aquela por que passou há poucos dias o ex-capitão.
Se o preço adiantado pela generalidade da comunicação social se confirmar (cerca de dois milhões de euros), e tomando em linha de conta o talento deste verdadeiro diamante por lapidar, poder-se-á dizer que se trata, à partida, de uma excelente aquisição. Se, como diz o povo, a esmola parecer grande demais, restar-nos-á esperar para o ver em acção na Luz, e então perceber como é que alguém que marca 4 golos num jogo do Mundial, e é comparado a Pelé desde os 14 anos, vem parar a Portugal a preço de saldo.
Para já, e pelo menos sob o ponto de vista comercial, este negócio parece uma boa aposta. Se Yu Dabao permite projecção na China, Adu levará a marca Benfica até ao poderoso mercado norte-americano. Este não é um aspecto a desprezar numa indústria cada vez mais mercantilizada e globalizada.
Entretanto, para o lado direito da defesa fala-se de Belletti, que seria, diga-se, uma excelente escolha. Trata-se de um jogador experiente, internacional canarinho, com muita qualidade técnica, e grande capacidade ofensiva. Uma indiscutível mais valia numa Liga como a nossa.
Tenho fortes dúvidas que o Barcelona o liberte. Nos próximos dias se saberá.

LUZ NO DRAGÃO, SOMBRAS NA SEGUNDA CIRCULAR

Os três grandes jogaram este fim-de-semana, e a avaliar pelas respectivas prestações bem se pode dizer que a hierarquia da temporada passada se mantém, para já, inalterada.
Um F.C.Porto bastante desfalcado dizimou um Boavista em fase de transição, e mostrou que a alma e o espírito de campeão ainda moram no Dragão. A equipa de Jesualdo já havia vencido o torneio em Itália, e antes derrotara o Mónaco, pelo que motivos de confiança não lhe faltam nesta pré-época, onde acabou por segurar Quaresma, e poderá também ainda manter Lucho Gonzalez no seu luxuoso plantel.
Já o Sporting tem tido até agora um comportamento algo oscilante. Se frente ao Lille parecera já ter encontrado o caminho dos golos e das vitórias, a exibição deste sábado diante do Recreativo de Hueva deixou muito a desejar sob quase todos os pontos de vista. É verdade que Moutinho e Veloso vieram mais tarde, os laterais só agora estão a chegar, e têm ocorrido algumas lesões – coisa com que o Sporting não tem sido muito fustigado. Mas é um facto evidente que Paulo Bento terá muito mais trabalho este verão do que teve em igual período da época transacta, em que, com poucas alterações na estrutura base, pôde preparar, com “tranquilidade”, uma equipa à sua imagem.
O Benfica também decepcionou. Jogando frente ao campeão africano, os encarnados foram lentos, inofensivos e desconcentrados. O calor pode ter sido uma atenuante, mas ficaram à vista bem desarmada as gritantes carências que o plantel encarnado ainda encerra, agora dramaticamente acentuadas pela saída do seu capitão e mais influente jogador. O torneio do Guadiana poderá ser a altura para aferir em que condições o Benfica enfrentará a pré-eliminatória da Champions League, que recorde-se, terá a sua primeira mão já daqui a duas semanas

CONTRAPESOS

Daniel Carvalho? Não. Riquelme? Não.
O substituto de Simão Sabrosa é... um suplente (ou quase) da selecção sub 20 argentina, acompanhado de um brinde !
Angel Di Maria não foi utilizado na final do Mundial da categoria, competição que também iniciou sem sair do banco. Nos restantes cinco jogos, nunca jogou os noventa minutos apesar de ter entrado de início em três deles, marcando ainda assim três dos dezasseis golos da sua selecção na prova. Era titular do modesto Rosário Central, 12º classificado do campeonato argentino, com o pecúlio de seis golos em trinta e quatro jogos.
Trata-se de um esquerdino que joga frequentemente como segundo ponta-de-lança, num esquema de 4-4-2. Na sua primeira declaração após a transferência, não hesitou em dizer que na próxima época pretende ir para o... Chelsea (!!) - pelo menos ambição não lhe falta.
No (caro) pacote vem também um suplente do mesmo clube, que desde Março apenas foi utilizado por duas vezes na equipa, e em nenhuma das quais como titular. É um médio interior direito chamado Andrés Diaz, que nada tem a ver com Damian Diaz, esse sim indiscutível no onze do Rosário. Andrés tem fama de ser um jogador problemático, e inclusivamente já se recusou a treinar e jogar durante um mês sem justificar muito bem os motivos. A foto do lado é extremamente feliz pois mostra o jogador a comemorar um golo, coisa que apenas fez por três vezes na sua carreira.
6 milhões de euros por: 80 % do passe de Di Maria mais 50% do passe de Diaz! Belo negócio para o...Rosário Central.
Entretanto, de mansinho, sem que ninguém fale muito dele, vem por "tuta e meia" para o F.C.Porto, um avançado que marcou quase tantos golos como Oscar Cardozo no campeonato da Argentina. Chama-se Ernesto Farias e era titularissimo do poderoso River Plate.
A menos que este Santo(s) seja mesmo capaz de fazer milagres, é pois bem provável que lá para Maio estejamos aqui novamente a dissecar as razões de mais uma época frustrada do Benfica, culpando este, aquele ou o outro, as lesões, o azar, etc, enquanto outros levam os títulos. Tem sido essa a sina dos benfiquistas, em claro contraste com o megalómano e populista discurso oficial, ao qual os benfiquistas vão cada vez achando menos graça.

RUDE GOLPE

“O Benfica não vai vender ninguém. Contudo, se alguém pagar a clausula de rescisão, não poderemos fazer nada”. Estas foram as palavras que todos ouvimos da boca de Luís Filipe Vieira há poucos dias atrás. Estas foram as palavras que tranquilizaram os benfiquistas, que com elas ficaram a saber que Simão Sabrosa, capitão de equipa e seu melhor jogador da última década, apenas sairia do clube por 25 milhões de euros.
Esta manhã acordamos com a notícia da transferência de Simão para o Atlético de Madrid por 20 milhões.
O futebol de hoje é o que é, os custos são exorbitantes – bem maiores que os proveitos, que em Portugal, como sabemos, são exíguos - e neste contexto sabe-se que há necessidade de proceder a este tipo de encaixes extraordinários. O que não há necessidade é de mentir. Porque não admitiu Vieira que isto poderia acontecer, quando provavelmente até já estava a negociar com os espanhóis ?
Os sócios do Benfica já se vão habituando a ser tratados como imbecis. Vale e Azevedo inaugurou o estilo, com os resultados que se conhecem.
Luís Filipe Vieira, com o seu voluntarismo, tem-se deixado frequentemente cair numa lógica de populismo barato, que por vezes acaba por prejudicar o clube (equipa maravilha, 300 mil kits, Nuno Assis etc). Neste caso, é todavia de uma mentira que se trata. De uma mentira inaceitável, que passará inevitavelmente a constituir um dos mais tristes episódios desta gestão no seu relacionamento com a massa associativa que, directa e indirectamente, sustenta o clube.
Mas para além desta questão - da maior importância, diga-se -, o negócio em si também não é bom. 20 milhões de euros conseguem-se, por exemplo, com uma ou duas boas campanhas na Liga dos Campeões, para as quais são necessários...grandes jogadores. Deve ser esta a lógica de raciocínio dos grandes clubes. E o Benfica pretende sê-lo.
Fala-se na vinda de dois jogadores do plantel “colchonero”. Da sua lista de dispensas, certamente. Da lista de dispensas de um clube que não luta por nenhum título, nem estará nas competições europeias desta época, salvo vença a pudibunda Intertoto.
O Benfica acaba por ficar sem o seu melhor jogador, o seu maior símbolo e a sua principal referência desportiva, por menos 5 milhões do que rendeu Nani ao Sporting, e por menos 35 milhões do que renderam Pepe e Anderson ao F.C.Porto, com a agravante de isto acontecer num timing altamente comprometedor em termos de planificação da época - e já agora inviabilizando definitivamente a saida de Quaresma dos portistas, jogador que era também pretendido pelos madrilenos.
O clube da Luz terminou a época passada sem conquistar qualquer título, o que aliás já havia acontecido na anterior, e não parece ter-se ainda convencido de que para o conseguir tem, forçosa e rapidamente , de diminuir as distâncias que se vão cavando para a concorrência – para o F.C.Porto em função dos seus voluptuosos orçamentos, para o Sporting devido à sua torrencial formação –, e que isso se faz reforçando a equipa, mantendo a sua base, e não trocando uns jogadores por outros, sobretudo quando se trocam verdadeiros craques pelas mais totais e absolutas incertezas. Ou então assuma-se que Porto e Sporting são mais fortes e não se vendam ilusões.
Fernando Santos, depois de ver sair Karagounis e Miccoli (sem falar em Anderson e outros oito jogadores menos utilizados do plantel da época passada), fica agora sem aquele que não queria mesmo perder. O seu pesadelo aí está, tornado amarga realidade.
O plantel do Benfica vai emagrecendo da pior forma possível – à custa dos melhores. Aconteça o que acontecer, venha quem vier, está criado o panorama de instabilidade que na época passada originou o fracasso – os encarnados voltam a partir dum claro e atrasado terceiro lugar numa pole-position que pareciam há bem pouco ter condições para comandar. É bom que os críticos de Fernando Santos, quando lá para o Natal o Benfica estiver muito provavelmente afastado do título e das provas europeias, se lembrem disto. Nem todos os santos fazem milagres, e este não os pode manifestamente fazer.
O Benfica afinal não vai ter a grande equipa que se chegou a perfilar nos sonhos dos adeptos. Não senhor. Vai tudo ficar pior. Só um milagre fará desta a grande época com que os benfiquistas sonhavam.
Este momento marca também o fim de uma era. Depois das saídas de Tiago, Miguel, Geovanni, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes (este entretanto recuperado), e agora Simão, toda a estrutura edificada por José António Camacho, que venceu uma taça e depois conquistou um título, e que o presidente chegou a afirmar ser a base de um futuro Benfica campeão europeu, cai definitivamente por terra.
Fica Mantorras. Para animar a malta.

PRESTIGE !

Quando revolvemos aquilo que se diz ou recorda por esse mundo fora, ficamos impressionados com o prestígio que o Benfica, mesmo a atravessar uma gritante crise de resultados, ainda mantém bem vivo.
Veja-se por exemplo como este site espanhol inclui o Benfica dos anos sessenta num restrito lote de nove grandes equipas de sempre do futebol mundial, incluindo selecções. Noutra página pode ver-se o antigo Estádio da Luz como um dos doze mais míticos do mundo.
Há dias atrás, encontrei também, algures num blogue argentino, uma lista dos 20 melhores jogos de sempre. Pois lá estava o Benfica-Real Madrid de 1962, que aliás era o único englobando equipas portuguesas. 5-3 foi o resultado, e com ele os encarnados alcançaram o seu segundo título euroepeu consecutivo. Jogaram com o onze que se vê na foto (em cima: Angelo, Cruz, Mario João, Cavem, Germano e Costa Pereira, Em baixo: José Augusto, Eusébio, José Águas, Coluna e Simões).

DESENHOS PARA A NOVA ÉPOCA

Segundo os dados que neste momento estão disponíveis, os onzes-base dos três grandes para 2007-2008 poderão não ser muito diferentes destes.

SABER DIZER NÃO !

A propósito da possível transferência de Simão para o Atlético de Madrid, procurei em fontes próximas do clube "colchonero", perceber o sentimento dos adeptos atléticos face a essa (espero que improvável) eventualidade.
Sobre Simão não há grandes novidades - e ao invés parece haver alguns equívocos -, mas como as conversas e os blogues são como as cerejas, acabei por me debruçar sobre a calamitosa situação institucional em que se encontra mergulhado o histórico clube madrileno - fala-se em vender o estádio - , fruto dos aventureirismos que levaram Gil y Gil a tornar-se dono dum clube que, entretanto, com a sua morte, passou para as mãos de seu filho como se de uma qualquer fábrica de detergentes se tratasse.
Isto e isto são oportunos exemplos daquilo que pode acontecer a um qualquer clube português, em que os sócios, embarcados por pomposos contos de fadas e ilusionismos bacocos, se deixem seduzir por um qualquer magnata de carteira à vista e interesses ocultos.
PS: Já agora, e usando o título deste texto, importa também que Luís Filipe Vieira saiba dizer não às propostas que circulam por aí para levar o capitão benfiquista para Mazanares. É que há espanhóis que pensam que o levam por 19 milhões. E acham muito...

SINAL DE ALERTA

A estreia do Benfica na nova temporada trouxe desde já algumas importantes conclusões.
Se por um lado, na vertente ofensiva, Cardozo parece determinado em demonstrar que os quase dez milhões de euros pagos pelo seu passe foram dinheiro bem gasto – que grande golo ! que pormenores deliciosos ! -, por outro, cá mais atrás, os problemas são muitos e exigem uma profunda reflexão, agora que o mercado de transferências ainda permite correcções e ajustamentos.
De facto, na linha defensiva do Benfica há dois elementos de grande qualidade, que têm o lugar mais que assegurado: Luisão e Léo. Tudo o resto é um mar de dúvidas e de alguns equívocos.
Pelo que se viu contra o Cluj, Marc Zoro não tem perfil para lateral direito, sendo naturalmente uma opção muito mais firme para o centro da defesa. Sretenovic nada mostrou, permanecendo por saber que motivo levou o Benfica a contratá-lo tendo, por exemplo, José Fonte nos seus quadros (jogador do mesmo estilo e valia). David Luíz continua a ser, no meu ponto de vista, apenas e só um jovem talentoso e de futuro, estando ainda longe de ser o central categorizado, seguro e experiente que o Benfica necessitaria para fazer face às suas naturais ambições. Se juntarmos a estes dados os problemas disciplinares e afins de Nelson e Anderson, bem se pode dizer que todo o triunfalismo que parece desde já envolver a equipa – como é frequente em muitas pré-temporadas – tem pouca base de sustentação.
Uma equipa constrói-se de trás para a frente, e o Benfica tinha há precisamente um ano, ainda com Ricardo Rocha e Alcides, a melhor linha defensiva do nosso campeonato, e eventualmente uma das melhores até mesmo a nível europeu, como aliás ficou demonstrado na participação europeia no ano de Koeman. Temo que este ano, com todas estas indefinições – que no fundo se traduzem em falta de opções de qualidade – estejamos dentro de alguns meses ainda a discutir esta questão, com os títulos uma vez mais a voarem para outras paragens.
Com efeito, se no meio-campo e no ataque o lote de opções, embora numericamente não muito amplo, oferece qualidade de sobra, nas linhas mais recuadas é urgente uma abordagem incisiva ao mercado. O Benfica tem poucas semanas para contratar um bom lateral direito e um bom central - em vez de um guarda-redes perfeitamente supérfluo, e que pelo que se viu dificilmente passará do banco de suplentes - ambos para serem titulares, sem os quais os riscos de mais uma época fracassada aumentam em flecha.
Como notas mais positivas desta primeira apresentação, além do que já ficou dito sobre Óscar Cardozo, realce para as boas exibições de Manuel Fernandes e Rui Costa.
O resultado (o menos importante neste tipo de jogos) foi um natural empate entre uma equipa que fazia a festa e um visitante ilustre – recorde-se que o jogo do centenário benfiquista foi contra o Real Madrid e terminou…2-2.

CAMPEÕES DO MUNDO DE SUB 20

Para além de Aguero, jogadores como Moralez, Acosta ou Fazio formaram um conjunto de grande qualidade, bem merecedor do título de campeão.
Derrotada na Copa América, a pátria do tango tem agora motivos para festejar.

"A" VEDETA DO MUNDIAL SUB 20

SERGIO AGUERO (Argentina) Melhor jogador, melhor marcador, campeão do mundo! Aguero foi o primeiro jogador que destaquei nesta rúbrica- logo à primeira jornada - e o seu talento fora do comum faz com que seja também o último.
Herdeiro de Riquelme, Saviola e Messi (seria prematuro e abusivo falar de Maradona...), titular do Atlético de Madrid, é um jogador a seguir com muita atenção nos próximos anos. Pés mágicos, visão de jogo, capacidade de remate, liderança em campo. Um craque!

TÍTULO MERECIDO

Conforme se esperava, a Argentina revalidou o título mundial de Sub 20 ao bater a República Checa na final por 2-1.
Durante uma parte significativa da partida os checos surpreenderam, criando inclusivamente algumas ocasiões de golo, perante uma selecção argentina algo adormecida. Já em plena segunda parte a equipa europeia colocou-se mesmo em vantagem com um soberbo golo de Fenin. Contudo, dois minutos decorridos, na sequência de uma falha defensiva gritante, a estrela do mundial Sérgio Aguero restabeleceu a igualdade. Na ponta final da partida, a Argentina puxou dos galões de campeão e favorito, e à custa de uma pressão asfixiante, remeteu os checos para as imediações da sua área, de onde praticamente não mais voltaram a sair. O segundo golo – em mais uma falha, desta vez do guardião Petr - foi o corolário lógico deste amplo domínio, acabando por fazer justiça àqueles que durante toda a competição mais fizeram por merecer o título.
Com cinco títulos nos últimos doze anos, a Argentina confirma um estatuto, pelo menos, semelhante ao do Brasil, enquanto filão de nascimento e crescimento de grandes jogadores de futebol.
Se em 2005 foi Messi a brilhar a grande altura nos relvados holandeses, desta vez foi o avançado do Atlético de Madrid Sérgio Aguero a figura em destaque, sagrando-se melhor jogador e melhor marcador da prova.

VEDETAS DO MUNDIAL SUB 20

FENIN (República Checa) Já havia dado nas vistas, mas o fabuloso golo que marcou na final remete-o necessariamente para o galarim das grandes figuras da prova.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (7) - Brasil-Itália / 1982

O Mundial Espanha 82 marcou indelevelmente a minha geração.

Foi uma competição extraordinária, disputada aqui mesmo ao lado - ainda que as distâncias nessa altura fossem bem mais difíceis de percorrer – e que juntou figuras como Maradona, Platini, Zico, Rummenigge, Falcão, Sócrates, Paolo Rossi, Keegan, Dino Zoff, Kempes, Boniek e muitos outros, numa época em que o futebol ainda não tinha definitivamente sido conquistado pelo pragmatismo dos resultados.

É verdade que Portugal não esteve presente, mas isso até então era vulgar – apenas em 1966 a selecção nacional conseguira o apuramento. Não foi portanto esse “pormenor” que impediu que o país futebolístico parasse durante um mês, em frente dos televisores (a maioria ainda a preto e branco), a deliciar-se com a quantidade e qualidade das estrelas que lhe entravam pela casa dentro. À falta de Portugal, era o Brasil (que até estagiou no Estoril) que nos alegrava a alma.

Recorde-se que este Mundial contou com a participação de 24 países, o que além de representar uma novidade em termos de formato, significava um número acrescido de jogos – de 38 nos mundiais anteriores, tínhamos agora 52 partidas, todas, ou quase, transmitidas pela televisão.

Vivia-se ainda nos dias da rádio, em que as transmissões televisivas se cingiam normalmente à final da Taça de Inglaterra, à final da Taça dos Campeões, e a um ou outro jogo da selecção nacional no estrangeiro. Imagine-se pois o regalo que era durante um mês poder desfrutar de 52 jogos entre as melhores selecções do mundo, recheadas de algumas das estrelas mais cintilantes da história da modalidade.

Conforme disse, a esmagadora maioria dos portugueses apoiava a selecção brasileira. O nosso país, depois das convulsões revolucionárias, vivia uma fase de reencontro com os seus símbolos nacionais, e o mais importante de todos era a língua. Esse aspecto, paralelamente à possibilidade de êxito que uma selecção brasileira sempre abre em qualquer competição, fazia com que milhares, para não dizer milhões, de portugueses vibrassem com o “Escrete Canarinho”. Até porque essa equipa do Brasil não era uma equipa qualquer.

Se me perguntarem qual foi o melhor jogador do meu tempo, não hesito: Diego Maradona. Se me perguntarem qual o melhor conjunto, talvez responda o Milan de Sacchi ou o Liverpool de Paisley. Se a questão contudo for qual a equipa que mais me encantou, ou aquela cujo perfume mais sedução espalhou, essa foi sem dúvida esta selecção brasileira de 1982, que praticava o futebol mais bonito que alguma vez pude ver.

Era interessante que a RTP Memória pudesse um dia passar esses jogos, pois o requinte técnico, a magia colectiva alicerçada no talento individual de vários foras-de-série, a força ofensiva, a criatividade a tocar os limites da nossa imaginação, fazia desse Brasil uma selecção empolgante como nenhuma outra, e dos seus jogos, espectáculos deslumbrantes da mais pura arte.

Se no início do Mundial os portugueses já estavam com o “Escrete”, ao longo da prova os brasileiros terão cativado o mundo inteiro, e quando disputaram o acesso às meias finais com a Itália, talvez só na “bota mediterrânica” não arregimentassem apoios.

O Brasil começou a prova com a URSS, num jogo muito aguardado, até por motivos políticos – no Brasil a ditadura de Figueiredo ainda estava para durar, e na União Soviética vivia-se ainda a era Brejnev.

Ao frango do guardião Valdir Peres nos primeiros minutos, respondeu o Brasil com uma segunda parte magistral, e dois golos sublimes de Sócrates e Eder (este no último minuto) que garantiram a vitória. Em seguida o Brasil derrotou facilmente a Escócia por 4-1, e a Nova Zelândia por 4-0, com mais duas exibições luxuosas, apurando-se com toda a tranquilidade para a segunda fase da prova.

No grupo A, uma Itália tristonha e ineficaz conseguiu o apuramento por um…golo. Três empates deixaram-na atrás da Polónia, e em igualdade pontual com os surpreendentes Camarões. No goal-average, mais um golo marcado que os africanos levou a Squadra Azurra para a segunda fase. Longe estávamos de saber onde chegaria depois.

O Mundial 82 teve um figurino competitivo único, que não mais se repetiria. Dos seis grupos iniciais eram apuradas doze selecções (até aqui tudo normal), mas depois, ao invés de eliminatórias, havia outra fase de grupos, então com quatro poules de três equipas cada.

Brasil, Itália e Argentina (com a base da equipa campeã em 78 reforçada com…Maradona), fruto dos segundos lugares destes dois últimos, constituíram um dos agrupamentos. Um luxo !

Jogariam em Sarriá, ex-estádio do Espanhol de Barcelona (hoje demolido). Na primeira jornada Itália-Argentina, depois o derby sul-americano e por fim a reedição da final de 70.

Logo no primeiro jogo, a Squadra Azurra orientada por Enzo Bearzot, mostrou que as dificuldades da primeira fase não passavam de um equívoco. Com uma extrema eficácia na arte de contra-atacar, derrotou os campeões do mundo por 2-1.

Na segunda ronda tivemos oportunidade de desfrutar de mais um festival Brasil. Vencendo categoricamente a Argentina por 3-1 (podiam ter sido muitos mais), o Escrete realizou talvez a melhor de todas as suas exibições na prova. Maradona foi expulso por agressão a Batista, e a Argentina dizia adeus à competição e à revalidação do título. Ao Brasil bastaria o empate frente à Itália para seguir rumo às meias finais, onde tinha a Polónia à sua espera.

Chegou-se assim ao decisivo jogo, de um grupo onde, mau grado os nomes em presença, o Brasil, pelo que mostrara até aí, era claramente favorito.

Numa tarde de sol e calor, a equipa de Tele Santana actuou com o seu onze base: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Cerezzo, Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Eder.

Com um meio campo deslumbrante, o Brasil espalhava magia pelos relvados. Mas o seu guarda-redes, a sua estratégia defensiva e o seu ponta de lança (Serginho), ficavam um tanto aquém da qualidade geral da equipa. Os italianos, matreiros, saberiam explorar isso muito bem.

Enzo Bearzot fez alinhar : Zoff, Gentile, Scirea, Colovatti, Cabrini, Oriali, Tardelli, Antognioni, Conti, Rossi e Grazziani.

Apesar de não ter marcado qualquer golo na primeira fase, Paolo Rossi, depois de dois anos a cumprir castigo por corrupção e viciação de resultados (no célebre caso “Totonero” que levou o Milan para série B), era ainda a grande figura da equipa. Mas Bruno Conti, em início de carreira, estava a revelar também o seu enorme talento. A força defensiva da equipa era notável .Zoff ainda era o melhor do mundo na altura , e Gentile vinha de uma marcação impiedosa sobre Maradona, que o secou por completo.

Logo aos seis minutos de jogo, Rossi recebe um cruzamento ao segundo poste e cabeceia para o fundo da baliza de Valdir Peres. A Itália praticamente entrava a ganhar, causando sensação.

Ainda havia muito jogo pela frente, e isso tratou de demonstrar Sócrates, cinco minutos depois, após um passe perfeito de Zico, restabelecendo um empate que todos aguardavam com naturalidade.

A meio da primeira parte, Paolo Rossi aproveita um passe errado de Leandro, isola-se e dispara à entrada da área para o fundo da baliza de um ineficaz Valdir Peres. A Itália voltava a surpreender, e colocava-se de novo na frente do marcador, resultado com que se atingiria o intervalo.

Na segunda parte viu-se a um verdadeiro massacre brasileiro em busca do golo da igualdade que, recorde-se, apurava o “Escrete”. A Itália contra-atacava com perigo. Assistia-se a um espectáculo de sonho, com qualidade técnica e intensidade competitiva levada aos limites do absurdo.

A pouco mais de um quarto de hora do fim, Falcão recebe a bola na intermediária transalpina, simula que vai flanquear, aproveita a desmarcação inteligente de um colega para ganhar espaço, e faz um potente remate cruzado que bate pela segunda vez o veteraníssimo Dino Zoff. Era o delírio nas bancadas pintadas de verde e amarelo. A imagem de Falcão a correr de braços abertos em direcção ao banco ainda permanece na memória de muitos de nós como um dos mais belos e marcantes momentos desse mundial. O mais difícil parecia feito.

Mas o dia era mesmo de Paolo Rossi. Ainda se festejava o golo de Falcão e há um canto contra o Brasil. A bola vai para a área, é devolvida pela defesa sul-americana, mas a segunda vaga apanha Rossi (posto em jogo por Júnior) que, completamente sozinho diante de Valdir Peres, não tem dificuldade em desviar a bola para dentro da baliza brasileira, perante o espanto generalizado.

A Itália, a dez minutos do fim do jogo, colocava-se numa inesperada posição de apuramento. O Brasil, o mágico Brasil, o assombroso Brasil, começava a ver bem perto de si a porta de saída do Mundial.

Os últimos momentos foram dramáticos. Zoff defendia tudo. Defendeu inclusivamente sobre a linha uma bola que fez gritar golo em todo o estádio. Em todo o mundo.

A Itália queimava tempo. Parecia sempre saber muito bem como o fazer. O árbitro apitou. Ninguém acreditava no que se estava a passar. Trinta e dois anos depois do “Maracanazzo”, a nação brasileira voltava a chorar uma dolorosa e cruel derrota da sua selecção. Em Portugal o sentimento era quase idêntico. Estava afastada uma das melhores selecções de todos os tempos.

A Itália, sabe-se, embalou para o título, com Rossi a marcar em todos os jogos até à final.

O Brasil de Telé Santana teria nova oportunidade no México 86. Mas, noutro sublime jogo, seria novamente eliminado, novamente de forma cruel, por penáltis, diante da França de Platini.

Daí em diante o futebol não mais foi o mesmo. A arte deu lugar ao rigor, a criatividade perdeu para a força. Em Sarriá nessa tarde, morreu um conceito de futebol.

Um jogo que ficou para a história como um dos mais belos de sempre.

Inesquecível !

VEDETAS DO MUNDIAL DE SUB 20

MORALEZ (Argentina) - É o complemento ideal para o futebol de Aguero na selecção do país do tango. Voltou a marcar e assistir frente ao Chile. Um futuro radioso à sua frente.

FINALISTAS ESPERADOS

Depois de uns quartos-de-final carregados de emoçao e surpresas, os jogos das meias-finais do Mundial de sub 20 voltaram a repôr alguma lógica na competição, com os favoritos a venceram tranquilamente.
A República Checa, com um início demolidor, venceu a Áustria por 2-0, enquanto que a Argentina triunfou com clareza diante de um Chile algo desgastado. 3-0 foi o resultado.
Checos e Argentinos defrontam-se assim no próximo domingo, numa final que irá colocar frente a frente típicos representantes do futebol europeu e sul-americano. A selecção checa com uma força colectiva notável, enquanto os das pampas com artistas de primeira água a fazerem a diferença sempre que necessário.
A Argentina é favorita, mas convém não menosprezar estes checos que, sem se dar muito por eles, aí estão na final.
A RTPN e a Eurosport transmitem em directo a grande final.

NA ALTURA CERTA

Há já algum tempo que se dizia nos bastidores que Anderson andava de cabeça perdida devido à grave doença do filho. Esse mesmo foi o argumento que ouvi a meio da temporada passada, para justificar o seu menor rendimento, quando a saída de Ricardo Rocha e a lesão de Luisão o obrigaram a assumir o comando da defesa encarnada.
Agora que o caso veio a público, o jogador entendeu partir a corda perante a direcção benfiquista, recusando-se inclusivamente a partir para a Roménia onde amanhã os encarnados jogarão frente ao Cluj a sua primeira partida da época.
É evidente que uma situação familiar desta natureza merece a máxima compreensão de dirigentes, colegas e adeptos. Ao fim e ao cabo, não se pode pretender criar um espírito de equipa forte, e depois não fomentar a familiaridade e a solidariedade dentro do grupo e do clube.
Todavia, o Benfica não tem obviamente qualquer culpa na situação, e não pode de modo algum ver beliscado o seu máximo interesse devido a uma situação do âmbito particular – e diga-se que também Léo tem vivido um problema semelhante. Uma coisa será conceder umas dispensas extra ao jogador para se deslocar ao Brasil, ou até mesmo procurar uma solução no mercado que não prejudique nenhuma das partes (preferencialmente no silêncio do secretismo), outra bem diferente é ceder a uma pressão chantagista da parte de um jogador, que é um profissional muitíssimo bem pago, e que ninguém obrigou a vir para a Europa e a assinar um contrato com o Benfica.
Além do mais, aquilo que o jogador foi dizendo – em vez de se manter calado – foi que estava insatisfeito por jogar fora da sua posição preferida, como se isso fosse motivo para alguém se sentir no direito de denunciar um contrato, sabendo-se que o plantel tem quase trinta elementos, alguns deles pouco jogam, e os que o fazem terão naturalmente de o fazer de acordo com as ideias e as orientações do técnico.
Quem lê habitualmente o que escrevo, sabe que por princípio estou quase sempre do lado dos jogadores. São eles que jogam, que marcam golos, que defendem, que, enfim, interpretam os nossos sonhos dentro dos relvados. São os nossos ídolos, e é assim que os entendo, até por antagonismo com outros personagens, por vezes com maior protagonismo dentro da indústria futebolística.
Não posso contudo deixar de condenar este tipo de atitude, que parece começar a fazer escola, de um qualquer profissional ter um contrato assinado com um clube, este pagar-lhe a tempo e horas (como é o caso do Benfica), e ainda assim, achar-se no direito de o romper ou condicionar unilateralmente, quer porque outros lhe prometem pagar mais, quer por motivos da mais variada ordem, por mais respeito que alguns deles possam merecer. No limite, a aceitar-se este tipo de pressão, deixariam de existir contratos e instituía-se de vez a lei da selva, na qual naturalmente - como sempre acontece na vida quando se segue a via da desregulamentação -seriam os mais fortes (neste caso clubes ou países) a impor opressoramente a sua vontade.
Não consigo advogar aqui uma posição de força do Benfica, pois a sensibilidade ao problema do jogador não mo permite. Não deixo no entanto de notar que este caso – assim como o de Nelson, embora este de natureza eminentemente disciplinar e a justificar outro tipo de acção – surgem em ainda em muito boa altura para re-equacionar a necessidade de reforço do sector defensivo do plantel encarnado (tal como já disse em mais de uma ocasião), preferencialmente com jogadores que coloquem a sua profissão num plano mais elevado das suas prioridades. Um plantel com as aspirações do do Benfica, não pode estar sujeito ao sortilégio de questões familiares deste ou daquele jogador, e muito menos a atitudes de displicência profissional de pseudo-craques que nenhum título ainda ganharam. É também por isso que não há milhões que paguem um jogador, mais que com a qualidade técnica, com o perfil competitivo e a mentalidade profissional de, por exemplo, Simão Sabrosa.

FUTEBOL PORTUGUÊS

Está já nas bancas o nº2 da revista "Futebol Português".
Para além de entrevistas com Paulo Bento e Fábio Coentrão, este número traz também o balanço da epoca passada e uma coluna de opinião deste vosso amigo, entre muitos outros motivos de interesse.
Não perca. São só dois euros e vale bem o preço.

NOTAS SOLTAS

JOGOS DE PREPARAÇÃO – Não gosto de jogos a feijões. A força da competição, o drama dos pontos, dos títulos, é um alimento fundamental para a minha paixão futebolística.
Não sigo por isso, normalmente, os inúmeros jogos que se realizam nesta altura do ano, com 15 ou 20 substituições, pouco ou nenhum ritmo, e sem vencedores nem vencidos. Sobretudo em épocas como esta, em que o Euro sub-21, a Copa América, o Mundial sub-20, e agora o Euro sub-19, foram assegurando as doses suficientes para manter o vício de pé, não permitindo que a chamada “fome de bola” começasse a inundar a minha imaginação.
Ainda assim espreitei ontem um pouco do Sporting-V.Guimarães, e vi um leão ainda de garras pouco afiadas.
Conto ver no próximo sábado o Cluj-Benfica. Depois, só talvez o Torneio do Guadiana, mas ao vivo, e durante as férias.

GUARDA-REDES – Disse aqui por mais de uma vez que o Benfica, mantendo Quim e Moreira, não precisava de outro guarda-redes. Tanto um como outro já foram titulares em períodos
prolongados, e em nada comprometeram a equipa. Com um jovem da formação como terceiro elemento, as balizas do Benfica ficariam em excelentes mãos, e a luta pela titularidade manter-se-ia de pé.
Veio o alemão Hans-Jorg Butt. Espero que Moreira e Quim, dois guarda-redes de selecção, não desmotivem nem acabem por procurar outras paragens, desgastados com as constantes manifestações de desconfiança que a SAD lhes tem devotado. Espero também que o ambiente no balneário da Luz não se venha a ressentir desta opção.
Enquanto isto, no plantel de Fernando Santos continuam a faltar um médio e um defesa central.

CALENDÁRIOS – Foram entretanto sorteados os calendários para a nova época.
Aparentemente, parece que F.C.Porto – desloca-se a Braga, Leiria e Paços e recebe o Sporting e Boavista nas seis primeiras rondas – e Sporting – vai ao Dragão e à Luz no mesmo período – têm menos razões para sorrir, até porque têm planteis bastante restruturados, e têm já à partida garantida presença na Champions League, que vai ter também aí os seus primeiros jogos.
Cabe ao Benfica aproveitar a oportunidade para embalar. Veremos se o consegue.

QUADROS COMPETITIVOS F.P.F. – Talvez mereçam maior atenção dentro em breve, mas para já importa dizer que os campeonatos nacionais da segunda e terceira divisões continuarão na nova época a lutar contra as absurdas imposições administrativas que parecem pretender fazer tudo para acabar com eles.
Na segunda divisão jogar-se-ão quatro séries de catorze clubes cada, sendo que cinco deles descerão, ao mesmo tempo que nenhum (nem o primeiro !!) garante a subida aos escalões profissionais. Que motivante…
Ao impor-se a redução de clubes, devia-se tê-lo feito apenas e só onde ela fazia sentido: na Liga principal.
Ao fazê-lo também nos restantes escalões, está-se apenas a dar mais um passo para o abismo.
Uma primeira divisão com 10 clubes, e uma segunda em quatro séries de 22, seria o ideal -acabando-se, claro, com o embuste que é a Liga de Honra.

PEPE – Depois de dar voltas e voltas à cabeça a tentar descobrir como é que o Real Madrid tinha dado trinta milhões de euros por um defesa central que, embora bastante categorizado, nem sequer é internacional, soube enfim de uma versão que, pela sua verosimilhança, trago
a este espaço:
Supostamente o Chelsea teria uma dívida de 18 milhões de euros por saldar com o F.C.Porto, ainda decorrente das vendas de Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira. Pois o Real Madrid, interessado em Robben, teria liquidado esse valor acrescentando-lhe mais 12 milhões (valor real do central luso-brasileiro), ficando assim também com direitos sobre o holandês.
As próximas semanas responderão a este tema. Veremos por exemplo, se Robben vai ou não para Madrid. Para já a dúvida continua.

BOLA QUADRADA

Antes ainda da Primeira Grande Guerra, muitos anos antes do golpe de Gomes da Costa e do posterior Estado Novo, ainda com a monarquia a sobrevoar os espíritos, já o Benfica ai estava, a jogar futebol, a vencer e a dar alegrias aos seus adeptos.
Esta foto é de 1912. 22 anos antes do primeiro campeonato nacional.
Nessa longinqua época, em que nem os nossos avós ainda eram nascidos, o Benfica foi, como muitas vezes, campeão. Neste caso campeão de Lisboa, sem qualquer derrota nos oito jogos disputados.
Pouco tempo depois receberia o Real Madrid em jogo amigável, vencendo por 7-0 (!!!), como que a anunciar o que viria a acontecer 50 anos depois em Amsterdão.
Veja aqui muitas e muitas fotos de equipas do Benfica de todos os tempos.

VEDETA A CRESCER

Os últimos dados estatísticos confirmam uma incessante subida do número de visitantes no VEDETA DA BOLA.
A todos muito obrigado. Continuem a aparecer !

PARABÉNS BRASIL !

SAMBA VIVO E BATUQUEIRO ABAFA TANGO SONOLENTO E ARRASTADO

Se à partida para a final da Copa América se considerava quase unanimemente a Argentina como favorita, bem se pode dizer que uma vez mais fez regra a velha máxima segundo a qual em clássicos deste tipo o favoritismo não passa de uma fantasia especulativa. A verdade é que o jogo de ontem, ao contrário do que as últimas semanas pareciam apontar, mostrou-nos um Brasil superior em todos os aspectos, e uma Argentina completamente de joelhos face ao melhor futebol e maior vontade de ganhar de uns canarinhos desfalcados mas muito mais disponíveis, mais motivados e mais frescos.
Se do Brasil era de esperar sempre qualquer coisa – mesmo sem Kaká e Ronaldinho, tem Robinho, Wagner Love, Júlio Baptista etc -, poucos imaginariam que a poderosa Argentina de quase todos os jogos anteriores, surgisse nesta final a passo de caracol, como que a pensar que tarde ou cedo o jogo e a taça lhe iriam sorrir. Mais estranho que isso foi, vendo-se a perder por 0-2 (ainda que com alguma infelicidade pelo meio), a selecção das pampas não ter conseguido sequer apelar ao seu orgulho e fazer uma segunda parte de melhor nível, antes se resignando totalmente ao adversário, qual lutador que aos primeiros golpes se deixa cair no tapete para não mais se levantar.
Olhando para o desempenho do meio campo argentino na partida de ontem estranha-se, não o facto de ter perdido com clareza, mas sim - quem não tenho visto os restantes jogos - ter chegado com tanta facilidade a esta final. Riquelme (observando a lentidão com que se movimenta em campo percebe-se cabalmente porque não foi feliz no futebol europeu), Verón e Mascherano foram três autênticos espantalhos que pouco ou nada correram durante os noventa minutos, esperando apenas de forma displicente (e por vezes também algo desconcentrada) que a bola lhes fosse ter aos pés- chamaram-lhes um figo os batalhadores centrocampistas Josué e Mineiro, que como carraças manietaram por completo o futebol argentino – mas também mais na frente, os artistas Messi e Tevez mostraram-se profundamente desinspirados, e incapazes de superar a forte e organizada linha defensiva brasileira.
Apanhando-se em vantagem, os brasileiros apostaram no rigor defensivo e em lances de transição rápida para o ataque, através dos quais foram criando algum perigo e acabaram por marcar o terceiro golo, verdadeiro golpe de misericórdia nos rivais. Na ponta final do jogo o resultado ainda poderia ter assumido contornos mais elevados, o que, reconheça-se, seria de algum modo injusto para o que a Argentina fez ao longo desta Copa América.
No Brasil, em termos individuais, o destaque vai para a soberba exibição do pequeno (e até agora desconhecido na Europa) Josué que mostrou uma raça e uma energia inesgotáveis. Daniel Alves entrou muito bem no jogo e esteve nos dois últimos golos, e tanto Júlio Baptista como Wagner Love foram um perigo constante para a baliza de Abondanzieri. Alex foi rei e senhor da zona defensiva, muito bem coadjuvado por Juan. Robinho esteve um pouco mais discreto que o habitual, mas não deixou por isso de ser um dos homens da noite ao receber os prémios de melhor marcador e melhor jogador da prova.
Entre os argentinos, além do que já ficou dito, nada mais há a destacar. Será preferível recordá-los pelo que fizeram antes desta final.
Parabéns ao Brasil, que conquista assim a sua quarta Copa nas últimas cinco edições, e mostrou que mesmo sem algumas das suas maiores estrelas consegue formar um grupo vencedor, e eventualmente até mais coeso e lutador. Tivesse acontecido assim no último Mundial, e talvez a história pudesse ter sido outra.

VEDETAS DO MUNDIAL SUB 20

OKOTIE (Áustria) Não parece mas é mesmo o avançado da selecção austríaca. Ao que se sabe tem feito grandes jogos, mas no único que vi dele (frente aos E.U.A.) logo mostrou as suas credenciais, com um conjunto de lances de elevadíssima categoria. A Áustria tem nele depositada grande esperança. O país que conseguiu convencer o mundo de que Hitler era alemão e Beethoven austríaco tem, pelo que se tem visto no Canadá, razões para acreditar no futuro do seu futebol.

A LÓGICA COMO UMA BATATA

Foi sob o signo das surpresas que se disputaram os quartos-de-final do Mundial de sub-20.
Favoritos como Espanha e Estados Unidos caíram aos pés de outsiders como República Checa e Áustria, enquanto a poderosa Nigéria acabou goleada (0-4) pelo Chile, carrasco de Portugal na fase anterior.
O único resultado normal da ronda registou-se no jogo que à partida se antevia mais equilibrado. A Argentina derrotou o México por tangencial 1-0, com um golo de Moralez nos últimos instantes da primeira parte, afastando assim os mexicanos e a sua estrela Dos Santos desta competição.
Nas meias-finais teremos assim os seguintes enfrentamentos:
Quarta-feira, 22.45h Áustria-República Checa
Quinta-feira, 00.45h Chile-Argentina

UM ADEUS PORTUGUÊS

Gabriel Garcia Marquez no seu romance “Crónica de uma Morte Anunciada”, dá a conhecer logo na primeira página o trágico destino do principal personagem. Ontem ao assistir à eliminação da selecção nacional perante o Chile lembrei-me deste magnífico romance, quer pela forma como nas estrelas se já parecera escrever a condenação desta equipa, quer pelo modo trágico-cómico como ela se acabou por concretizar, como que a lembrar algumas das melhores pérolas do realismo-mágico do mestre colombiano.
O episódio digno de desenhos animados protagonizado por Zequinha, vai certamente alimentar as televisões do mundo inteiro, vai (ou já estará a ?) ser consultado no You Tube e ser falado em todos os recantos onde se comentem as curiosidades em redor do desporto-rei. Vai também, e isso é gravíssimo, contribuir para denegrir ainda mais a imagem que o futebol português e os jogadores portugueses já têm perante as instâncias internacionais, imagem essa formada substancialmente por culpa própria (um balneário destruído em França, camisolas atiradas a árbitros na Bélgica, murros na cintura de árbitros argentinos, protestos constantes, conferências de imprensa inflamadas, expulsões compulsivas) e que já começa a causar engulhos aos clubes e representações nacionais perante as arbitragens que vão encontrando, quer em competições europeias, quer em torneios deste tipo.
Em trinta anos de futebol, recordo-me de ver um jogador dos campeonatos distritais a correr atrás de um árbitro com a bota na mão para lhe atirar acima, e depois sair do campo para agredir um espectador - julgo que foi irradiado, estávamos nos princípios dos anos oitenta -, alguns anos mais tarde da cena da karaté protagonizada por Eric Cantona num estádio inglês, e mais recentemente de um assomo de arruaceirismo de Sérgio Conceição no campeonato belga. A atitude de Zequinha – jogador que fica desde já com a sua carreira carimbada por esta tremenda demonstração de imaturidade – inscreve-se praticamente no mesmo nível que as referidas acima, senão pela violência, pelo grotesco, o que em termos de má propaganda para o futebol português talvez se revele até bem pior.
Mas se a selecção nacional tem motivos para sair envergonhada desta competição pelo que se passou nos últimos instantes da partida, futebolisticamente não os terá menos de acordo com o desenrolar dos noventa minutos, e para ir mais longe, por tudo o que fez neste mundial, excepção feita ao primeiro jogo (com um adversário bastante dócil) e a alguns momentos do segundo.
Portugal foi uma vez mais uma equipa sem chama, sem critério, sem classe e sem orientação. A primeira parte, sobretudo, foi verdadeiramente tormentosa. A equipa nacional mudou o seu figurino táctico (para 4-4-2), mas deu mostras evidentes de não estar preparada para isso, tornando-se previsível primeiro, e desorientada depois, insistindo num jogo directo sem rei nem roque, que se foi transformando a pouco e pouco em mero pontapé para a frente.
Na segunda parte, já a perder e com toda a justiça, Portugal foi mais agressivo e mais acutilante, mas tudo foi sendo feito muito mais com o coração, do que com uma cabeça que de facto parecia não ser capaz de pensar, nem ter ninguém que pensasse por ela. O Chile também se retraiu, mas ainda assim foi dos sul-americanos a melhor oportunidade de todo o segundo período.
Quando a esperança ainda residia num eventual milagre que permitisse empatar e levar o jogo para prolongamento, eis que Mano primeiro, e Zequinha depois, espetaram os últimos pregos no caixão desta triste e pobre participação portuguesa.
Pobres emigrantes, que tão longe dos seus clubes e dos seus jogadores, não mereciam ser assim tão defraudados. Três derrotas em quatro jogos, com os adversários que Portugal enfrentou, é de facto mau. Muito mau. Terminar o mundial a tirar um cartão vermelho das mãos do árbitro é uma vergonha. Mais uma.
A alguns jogadores sem ponta de classe (Nuno Coelho, João Pedro, Zequinha, Mano etc), juntou-se um técnico sem competência. Nada me move contra ele, que acredito ser um profissional sério e honesto. Simplesmente não têm competência, ou seja, não dispõe daquilo que constitui uma mistura entre conhecimentos técnicos de base, e vocação para a função. Não percebo como chegou ao F.C.Porto, e muito menos como, depois de ter feito descer o Belenenses - que praticamente com o mesmo plantel se apurou um ano depois para as competições europeias - acabou por ser contratado pela F.P.F. Como já aqui disse, Couceiro dá por vezes a sensação de saber tanto de futebol como um adepto comum, e que num mundo (e sobretudo num país) em que a imagem dita leis, chegou, com o seu discurso fluente e com os seus fatos de bom corte, a um nível completamente desfasado das suas reais capacidades, que dariam, vá lá, para uma Liga de Honra se tanto.
Mas em verdade se digaque será injusto culpá-lo só a ele e esquecer quem o nomeou.
Onde anda Gilberto Madaíl ? Estará de férias ?

PS: Nos outros jogos destaque para a eliminação do Brasil diante da Espanha, que virou um resultado de 0-2 para um categórico e merecido 4-2.
O quadro dos quartos-de-final a disputar no fim-de-semana ficou assim definido:
E.U.A-Austria
Espanha-Rep.Checa
Chile-Nigéria
Argentina-México

A FINAL MAIS DESEJADA

Brasil e Argentina vão disputar no próximo domingo, mais uma vez, a final da Copa América. Era a final mais desejada, que coloca frente a frente dois colossos do futebol mundial, dois vizinhos e rivais, que repetem afinal o decisivo jogo de há dois anos no Perú, quando um golo do benfiquista Luisão permitiu ao Brasil a possibilidade de, nos penáltis, conquistar o troféu. Se em condições normais este seria um jogo de desfecho imprevisível e certamente muito equilibrado, desta vez, podendo sê-lo, há que dizer que a Argentina se apresenta com amplo favoritismo.
Quem tenha seguido a trajectória das equipas até esta final, quem tenha por exemplo visto a forma fácil e brilhante como a selecção das Pampas se desembaraçou do forte México, por antagonismo com as dificuldades que o Brasil enfrentou para eliminar o bem mais modesto Uruguai. Só pode concluir que dificilmente este Escrete, despido de grande parte da sua força criativa (Kaká, Ronaldinho etc), terá argumentos para ultrapassar uma das mais poderosas selecções argentinas dos últimos anos, quiçá mesmo a mais forte desde os tempos de Diego Maradona.
Nos jogos das meias-finais, há que destacar a infelicidade de um Uruguai que teve o pássaro, já depenado, nas mãos, durante o desempate por penáltis, e o sublime golo de Lionel Messi frente aos mexicanos – Messi é aliás daqueles que por si só justifica perder duas horas em frente da televisão, e afirma-se assim uma vez mais, juntamente com Kaká e Cristiano Ronaldo, como o trio de melhores jogadores do planeta na actualidade.

O QUE AINDA FALTA AO BENFICA

Prometido é devido, e é agora tempo de analisar, sector por sector, o plantel benfiquista que se antevê para a temporada que se avizinha, identificando aquilo que está ainda por fazer no sentido de capacitar Fernando Santos para, agora sim, poder construir uma equipa vencedora, que é como quem diz, uma equipa campeã. Vejamos então:
BALIZA:
Com Quim, Moreira e Moretto no plantel não se entende a procura de um novo guarda-redes. Qualquer um destes – sobretudo os dois primeiros – pode assegurar sem problemas a titularidade. A possível contratação de Cássio (guarda-redes da selecção do Brasil de sub-20) não faz qualquer sentido, até porque o jovem brasileiro, embora bastante alto, não me pareceu demonstrar grande segurança nos jogos que vi dele neste Mundial.
Entendia-se bem melhor a venda de Moretto e a integração de um jovem da formação como terceiro guarda-redes, mas seja como for este é um sector com o qual os benfiquistas podem dormir descansados.
RECTAGUARDA:
Se nas laterais a contratação de Zoro parece resolver o problema -já havia Nelson, e do lado esquerdo Léo e Miguelito, o que perfaz dois jogadores para cada lugar -, já no centro da defesa há ainda um certo défice que perdura desde as saídas de Alcides e Ricardo Rocha, quase no mesmo dia, em Janeiro passado.
Luisão é indiscutível, mas ao seu lado falta alguém que dê inequívocas garantias de segurança, senão vejamos:
-David Luíz tem talento mas ainda está em fase de amadurecimento, e como tal não lhe deverá ser ainda demasiada responsabilidade. Pode e deve ser uma primeira alternativa de banco.
-Anderson está claramente desmotivado e as suas últimas declarações revelam uma personalidade algo infantil e pouco orientada para o espírito que deve presidir a uma equipa altamente profissional (qualquer jogador tem de jogar onde o técnico entender e ponto final, pois ganha o dinheiro suficiente para o fazer sem lamentos). O ideal seria talvez a sua venda, pois supõe-se que tenha mercado, pelo menos no Brasil.
-Sretenovic é um tiro no escuro, e segundo as primeiras indicações está longe de corresponder às expectativas mais optimistas.
-Zoro deverá talvez ser o titular do lado direito da defesa (com Nelson a transitar para o banco), e como tal talvez não possa contar como opção para o centro.
Como se percebe, ao contrário do que tem sido anunciado, parece evidente a necessidade de contratar um bom central, daqueles que não ofereça dúvidas e garanta no imediato a titularidade (falou-se de Pellegrino, mas há outros). É verdade que já não haverá muita folga orçamental, mas sempre se pode conseguir um bom empréstimo, ou um oportuno custo zero, mesmo que subindo um pouco a massa salarial da equipa – uma boa performance na Champions de certo compensará o esforço.
MEIO-CAMPO:
No meio-campo, a saída de Karagounis destapou um buraco que urge colmatar com brevidade, e se possível, com alguns ganhos competitivos.
Petit, Katsouranis, Manuel Fernandes e Simão podem constituir um quarteto de luxo, reforçado com o “Joker” ( também ele de luxo) Rui Costa, cujo tempo de utilização terá necessariamente de ser gerido com algum critério. Sobra ainda a alternativa Nuno Assis, que assegura a indispensável rotatividade no meio-campo ofensivo, e ainda o jovem Romeu Ribeiro. Mas, e se Petit se lesiona ? ou é castigado, o que conhecendo-se o seu estilo de jogo até é um risco manifesto ?
É verdade que Katsouranis pode fazer a posição “seis” mas nesse caso o losango ficaria desfalcado de um dos médios de transição, o que em certos jogos até poderia ser disfarçado, mas perante um adversário mais forte tornar-se-ia certamente perigoso.
Fernando Santos tem alguma razão quando diz que Diego Souza, emprestado ao Grémio, tem brilhado mais em termos de construção, e aí tem Rui Costa, Simão e Nuno Assis. Falta um médio de características mais defensivas – ainda que saiba atacar -, e preferencialmente alto e bom cabeceador. Em suma, um outro Katsouranis, que até nem terá ficado assim tão caro.
ATAQUE:
No ataque, mau grado as saídas de Derlei, e sobretudo Fabrizio Miccoli, foi o sector onde o Benfica mais se reforçou. As contratações de Bergessio – a dar excelentes indicações nos primeiros treinos – e de Cardozo dotam o clube da Luz de alternativas que antes não tinha. Nuno Gomes talvez venha também a ganhar com a presença de uma referência fixa na área, podendo demonstrar enfim, com os espaços conquistados pelo paraguaio e/ou pelo argentino, a sua veia goleadora há tanto tempo arredia. Sobram ainda Fábio Coentrão, de características diferentes, Mantorras para as aflições, e a promessa Yu Dabao, que todavia talvez tivesse mais a ganhar em ser emprestado a um clube onde pudesse jogar semanalmente.
Se for contratado mais um avançado não será demais (há lesões, há castigos). Mas com estes cinco elementos, ressalvando as necessárias adaptações dos contratados, parece não ser esta a maior prioridade.
CONCLUSÃO GLOBAL:
Em suma, para fazer deste um Benfica fortíssimo, claramente favorito ao título nacional e a uma presença na Liga dos Campeões condigna com o seu passado (e que seria grosso modo, para além de evidentemente alcançar o apuramento, ultrapassar também a fase de grupos), haveria que contratar um grande central (para ser indiscutível ao lado de Luisão), um bom médio de contenção/transição (para suprir ausências de Petit e/ou Katsouranis), e eventualmente um avançado móvel e goleador. Para que o equilíbrio seja total, convém que estes possam ser elementos altos e fortes fisicamente mesmo que menos habilidosos, pois uma das carências da equipa no ano transacto era justamente a sua debilidade atlética.
Moretto é vendável, tal como Manú. Por sua vez Sretenovic, Romeu Ribeiro e Yu Dabao poderiam e talvez devessem ser emprestados.
Palavra a José Veiga, na esperança que este Benfica possa ainda vir a ser, com mais esses três elementos, efectiva e finalmente, uma grande equipa !

RICOS EM OURO, MAIS POBRES EM SONHOS

Há poucas semanas atrás falei aqui das novas contratações que os três principais clubes portugueses haviam feito ou se preparavam para fazer, apontando então para um previsível acréscimo de qualidade da nossa Liga. Às saídas de Miccoli, Nani e Anderson, as respectivas SAD’s responderam com um lote variado de novos jogadores, quase todos internacionais recrutados sobretudo na América do Sul, e capazes de dotar os plantéis de Benfica, Porto e Sporting, senão de melhor qualidade líquida, pelo menos de uma maior variedade de soluções.
As últimas horas demonstraram no entanto uma realidade bem diferente, e o sentido actual do mercado parece ser mais o de uma verdadeira debandada.
Pepe abandonou o F.C.Porto rumo ao Real Madrid, numa milionária transferência de 30 milhões de euros (grandes negócios consegue Jorge Mendes para os azuis e brancos !), falando-se persistentemente das possíveis saídas de Lucho Gonzalez (praticamente certa) e Ricardo Quaresma (mais duvidosa) para Espanha ou Inglaterra. Hoje mesmo era também anunciada a saída do guarda-redes do Sporting Ricardo para o Bétis de Sevilha, enquanto Marco Caneira parece cada vez mais próximo do regresso a Valencia.
Veremos se e como sairá o Benfica imune desta roleta de milhões, tendo ainda Luisão, Petit, Simão e Manuel Fernandes no seu baralho, mas para já há que dizer que o F.C.Porto sem Pepe e o Sporting sem Ricardo vão ficar necessariamente mais fracos.
O central luso-brasileiro que um dia o Sporting dispensou, só nas duas últimas épocas me convenceu plenamente, mas aí fê-lo de forma arrasadora mostrando-se um dos melhores jogadores a actuar em Portugal e um dos mais promissores centrais do futebol europeu da actualidade. Será uma mais valia importante para os merengues, que há muito procuram, sem sucesso, um central ao nível do resto da equipa, e até porque o já trintão Cannavaro não tem sido muito feliz em Madrid.
Para além do valor do jogador em si, o F.C.Porto, já sem Ricardo Costa e ainda sem Pedro Emanuel (recuperará em pleno ?), encheu os cofres de dinheiro mas abriu um gigantesco buraco no seu plantel, que muito dificilmente irá a tempo de suprir de forma segura ainda este verão. Se às saídas de Pepe e Anderson se juntarem as de Quaresma e Lucho, então bem se pode dizer que o F.C.Porto será uma desconchavada sombra da equipa bi-campeã nacional nas últimas duas temporadas. A ver vamos até que ponto Pinto da Costa estará disposto a delapidar o seu plantel em troco de astronómicas verbas que, a seguirem o mesmo destino das de 2004 (com Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Deco etc) pouco ou nada acrescentarão ao clube e à equipa.
Esfregam agora as mãos os benfiquistas, sonhando com um F.C.Porto à base de Renterias e Mareques, a lutar desesperadamente pelo terceiro lugar de acesso europeu. Será essa uma possibilidade ? As próximas semanas o dirão, mas digamos que a coisa está bem encaminhada….
Também em Alvalade é caso para existir alguma apreensão.
Depois de um fim de época empolgante, selado com a conquista da Taça de Portugal, seria de esperar uma aposta na continuidade.
Pois tem acontecido completamente o contrário. Saíram até agora dez jogadores (incluindo Caneira) e entrarão pelo menos nove, o que olhando aos nomes em causa (Ricardo, Caneira, Tello, Custódio, Carlos Martins, Nani etc,) pressupõe uma verdadeira revolução no plantel às ordens de Paulo Bento, com a agravante de sete dos dez “desertores” serem portugueses (cinco dos quais formados no clube, e os dois capitães de equipa), enquanto que nem um único de entre os reforços o é (sem falar dos juniores promovidos, claro), dado que revela uma reconfiguração significativa da política dos leões para a nova época, sabendo-se que a história do futebol prova não ser por norma muito profícuo mexer naquilo que está bem, e o Sporting no fim da época estava claramente bem.
No caso concreto de Ricardo – para mim há já alguns anos o melhor guarda-redes português -, é possível que o Sporting, a sua direcção e os seus adeptos nem tenham ainda a noção concreta da sua importância na equipa, e sobretudo da dificuldade em encontrar alguém capaz de, no curto prazo – dentro em pouco poderá explodir Rui Patrício -, assegurar a baliza com a segurança que o montijense o fazia, e que ainda na última época terá rendido seguramente para cima de uma boa meia dúzia de pontos.
Se Izmailov, Gladstone, Vukcevic e Derlei, ou mesmo apenas dois deles, se revelarem apostas falhadas, o Sporting vai ter muita dificuldade em responder às exigências de uma temporada em que terá de competir na Liga Bwin, na Liga dos Campeões, na Supertaça, na Taça de Portugal e ainda na Taça da Liga. Para já Paulo Bento trabalha em Alcochete com 15 profissionais…
Resta o Benfica.
A fazer fé naquilo que a direcção encarnada tem veiculado, não haverá vendas, mas…
Para já, há que suprir com segurança e perspicácia as saídas de Miccoli, Karagounis e (é quase certo) Anderson. Se no ataque Yu Dabao está a dar boas indicações de poder ser alternativa, no centro da defesa e no meio campo faltam claramente opções.
O plantel benfiquista merecerá naturalmente uma análise mais aprofundada logo que essas lacunas sejam preenchidas, pois delas depende também muito da força do novo plantel. Mas se o forem devidamente (o que também não é fácil), se ninguém mais sair, se se vierem a confirmar as transferências de Lucho e Quaresma no F.C.Porto, bem se pode dizer desde já que o principal, o grande candidato ao título de 2007-2008 mora na Luz.
Mais uma vez se realça a oportunidade de ouro que os encarnados têm de, actuando de forma cirúrgica no mercado e segurando a mãos firmes as suas jóias mais preciosas, se superiorizar à concorrência e assumir uma inequívoca pole-position na corrida ao título. É nestes momentos que qualquer erro pode ser determinante.
Mas vamos esperar para ver que outras surpresas nos reserva este animado mercado de verão.