UMA HISTÓRIA AOS QUADRADINHOS

Meu Deus ! Como foi possível ?
Eu não acredito em bruxas mas…, tal como Rui Costa, em muitos anos de futebol não me recordo de um jogo assim.
A partida a que assisti ontem na Luz fica para a história deste campeonato, e perdurará na minha memória certamente durante muito tempo como símbolo da aleatoriedade, da crueldade e da injustiça de que por vezes se pode revestir um desafio de futebol.
Uma equipa dominadora, audaz, vistosa, alegre, entusiasmante, frenética, demolidora, em busca do golo, em busca da vitória. Uma outra atónita, desorientada, rendida, surpreendida, quase resignada a um desfecho que se adivinhava. Bolas no poste e na barra (quatro !!!!), defesas miraculosas de um inspiradíssimo guarda-redes (muitas !!!), perdidas escandalosas de baliza aberta (várias !!!!), num total de mais de uma quinzena de ocasiões claras de golo, e no final… zero a zero, dois pontos perdidos e o campeonato provavelmente também ele …ao poste. Inacreditável ! Lancinante !
Estou certo de que muitos dos mais de 50 mil benfiquistas presentes ontem na Luz se beliscavam à saída do estádio para verificar se era mesmo verdade. Se tinha sido possível perder dois pontos naquele jogo, no qual, diga-se, o Benfica terá realizado, sob o ponto de vista da estética e da plasticidade, da velocidade de processos e da circulação de bola, a sua melhor exibição de toda a temporada.
Não faço ideia o que seja possível dizer aos jogadores no balneário após uma noite como esta. Será também em momentos como este que emergem os grandes treinadores, e nessa medida Fernando Santos tem aqui um desafio.
Houve no Benfica unidades em altíssimo rendimento. Quase todos estiveram bem. Muito bem mesmo. Julgo ser de enaltecer o esforço realizado, julgo serem amplamente merecedores da ovação que o público lhes tributou no final, mas…
O “mas” que se tem de colocar aqui prende-se com uma confrangedora inépcia junto das redes em alguns lances verdadeiramente caricatos, e dignos de figurarem nos programas de apanhados de final de ano. Anderson, Nuno Gomes, Katsouranis, outra vez Nuno Gomes, outra vez Katsouranis, Luisão e Simão tiveram ocasiões em que o mais difícil parecia ser falhar o golo. Algumas delas, julgo que até eu próprio as concretizaria sem problemas.
Outro dado menos positivo que ficou do jogo dos encarnados (para além do resultado, como é óbvio) partiu do banco, pois Fernando Santos, perante uma exibição de luxo da sua equipa à qual objectivamente apenas faltava a sorte, decidiu adulterar o seu figurino, desperdiçando desse modo os últimos minutos de jogo, que constituíram estranhamente o período de menor aceleração dos encarnados. É evidente que o desgaste físico era muitíssimo, mas se já a saída de Karagounis - que estava a fazer uma belíssima exibição – provocou alguma perplexidade, as substituições de Petit e Nelson acabaram com o Benfica que descrevi acima, dando ao Boavista algum ar para finalmente poder respirar e conduzir o jogo até ao apito final de Pedro Henriques. Fernando Santos saberá o que quis fazer, mas a mim parece-me que com o onze que iniciou a partida, o Benfica ainda talvez tivesse conseguido fintar o seu azarado destino.
Na equipa da Luz brilharam a grande altura Simão (enorme !), Léo, Luisão, Karagounis, Katsouranis e Petit (outro gigante !). Pelo contrário, enquanto Rui Costa não esteve muito feliz – sofrendo ainda também de alguma incompreensão da equipa face ao seu futebol de veludo -, a Nuno Gomes, único ponta-de-lança da equipa, terão obviamente de ser assacadas maiores responsabilidades por mais um nulo. O avançado de Amarante marcou apenas um único golo nos últimos dez (!!) jogos da liga, mas na mesma medida em que manifestamente não resiste a qualquer carga física dos defesas contrários chegando sempre suficientemente tarde aos lances para os perder, parece resistir com estoicismo na titularidade mesmo em face das múltiplas entradas e saídas de avançados do plantel encarnado. Um verdadeiro “case-study” este avançado do Benfica, que ontem esteve em dois dos lances de… “apanhados”.
Nota também para a estreia de Derlei de águia ao peito, ofuscada pelo resultado, e talvez permatura, quer por se apresentar visivelmente sem o ritmo de jogo aconselhável, quer, como disse atrás, por ter representado um pauzinho numa engrenagem que estava a funcionar em alta voltagem. Karagounis estava-se a cotar como um dos melhores homens em campo, tendo para além disso a vantagem de dispor de uma poderosa meia distância, o que seria sempre uma solução a ter em conta para os minutos finais.
Não era justo terminar este texto sem me referir a duas figuras cimeiras da noite de ontem. William terá feito seguramente, aos 39 anos, uma das melhores exibições da sua carreira – e já vai sendo malapata a inspiração que os guarda-redes adversários encontram normalmente no Estádio da Luz. O árbitro Pedro Henriques por seu turno deu uma vez mais uma verdadeira lição de como se deve conduzir um espectáculo de futebol, contribuindo também ele, na medida em que um juiz o pode fazer, para o grande jogo que pudemos ver – sim, porque se tratou de um grande jogo ! – chegando a parecer fácil como este homem, mesmo quando erra, consegue cativar a compreensão dos amantes do futebol pela forma simples e minimalista como faz uso do apito, nos antípodas daquilo que costuma ser a forma bem portuguesa de arbitrar, responsável, também ela, pelo esvaziar dos estádios a que assistimos domingo a domingo nos nossos campeonatos. .
Pontuações individuais: Quim 3, Nelson 3, Anderson 3, Luisão 4, Léo 4, Petit 5, Katsouranis 4, Karagounis 4, Rui Costa 3, Simão 5, Nuno Gomes 2, Derlei 2, Mantorras 1, João Coimbra -.
Melhor benfiquista em campo: Simão Sabrosa

5 comentários:

Anónimo disse...

pois é.
lembras-te do jogo contra o belenenses?...
quanto a não falhares, eu não apostava...
cj

LF disse...

Com o Belenenses aconteceu o inverso.

Isso é porque nunca jogaste comigo ;)

LF disse...

No sábado talvez nos encontremos no Pinhalnovense-Sporting, que se disputa no Barreiro.

Anónimo disse...

LF

Fiquei bastante satisfeito com o jogo do Benfica, grande mentalidade competitiva, lutando contra o distino, sem virar a cara á luta, este é o Benfica, que os Benfiquistas gostam, com este Benfica o Estádio terá sempre muita gente

Fiquei triste ao ler na empresa escita ( Record ), a nota individual do Katsouranis (2), então um médio de caríz defensivo, que atira 3 bolas ao poste, merece nota 2, só pelo facto de lá estar já merecia nota positiva ou será que estou enganado ?

Em relação ao FS, julgo que tentou dar a ideia que queria mesmo ganhar o jogo, lançando avançados para o campo, agora é normal dizer, que deveria apostar no meio campo para ter posse de bola, quero ainda dizer que o campeonato está lançado para nós, agora podemos dizer que temos uma equipa e é mais facil termos hipoteses, jogando bom futebol

Foi um grande jogo de todos, jogadores, arbitros, treinadores e adeptos, quero realçar a postura do Jaime Pacheco, que teve a humildade de dizer, que tiveram sorte, muita sorte, mas há dias assim, podiam estar ali toda a noite, que o resultado seria sempre 0-0

Este jogo foi um hino ao bom futebol, ao fair play e como se deve arbitrar um jogo de futebol

Gostei !!!!

Anónimo disse...

Só faltou pelo menos um golinho...