DERBY ETERNO

Sporting e Benfica disputam na próxima sexta-feira mais um derby lisboeta. Na verdade um derby como este nunca é propriamente “mais um”, pois trata-se de um duelo com décadas de história, onde a cada confronto nos surge sempre algo novo para contar, e escrever, desse modo, passo a passo, algumas das páginas mais relevantes da própria história do futebol português. Este jogo não foge à regra, transportando consigo, como sempre, a chama da paixão e da emoção.
Na situação particular em que se encontra o clube da Luz, poder-se-á afirmar com propriedade que este derby é bem mais importante para o Benfica do que para o Sporting. Os encarnados encontram-se a uma distância já de algum modo considerável do lider F.C.Porto (que dá poucos sinais de vacilar), e uma derrota em Alvalade pode inclusivamente deixá-los também demasiado longe do rival lisboeta face a um campeonato com menos quatro jornadas que os dos últimos anos, e onde as equipas mais pequenas atravessam uma impiedosa crise de valores e de finanças, que não parece permitir-lhes pensar em “roubar” muitos pontos aos três gigantes.
Como pano de fundo deste encontro, e a marcá-lo indelevelmente, temos uma ultra-decisiva jornada europeia na qual o Benfica jogará na próxima semana todas as suas últimas esperanças de prosseguir na Champions League, tendo para isso forçosamente de triunfar em Manchester, feito para o qual todas as forças serão poucas. E digo desde já que, como benfiquista, não hesitaria um segundo que fosse entre uma vitória ou outra, caso me pudesse ser dado a optar por vencer em Alvalade ou Old Trafford. À relevância internacional, ao prestígio, às receitas, e também à ...exaltação clubista de uma grande vitória e de um apuramento na Liga dos Campeões, não há rivalidade interna que faça frente. Isso irá certamente pesar na mente e ...nas pernas dos jogadores do Benfica, por muito que a retórica oficial nos possa remeter para o contrário.
Mas jornada europeia à parte, as dificuldades que o Benfica tem sistematicamente sentido diante das equipas mais fortes no que leva a temporada, por vezes com derrotas copiosas (Boavista, Braga, Sporting, Celtic, Porto, AEK, Sion), por contraste com as facilidades com que se desembaraça dos adversários mais frágeis e de cariz menos afirmativo, não podem deixar de constituir motivo de desconfiança perante um jogo desta natureza. O modelo de jogo que Fernando Santos tem implementado na Luz têm-se dado muitíssimo mal quando encontra pela frente equipas muito pressionantes, com as linhas muito próximas e com atacantes móveis e perigosos. Ora haverá poucas equipas que correspondam a este perfil com a exactidão dos comandados de Paulo Bento, que fazem destas justamente as suas armas.
Efectivamente, a forma como os leões ocupam o meio-campo, o modo como a sua linha mais recuada se cola ao sector intermediário diminuindo os espaços, e a frescura da maioria dos seus jovens elementos, são factores suficientes para tirar o sono ao Engenheiro, que não tem no seu plantel muitas soluções para contrariar a realidade evidenciada pelo conjunto encarnado já por várias ocasiões: a extrema dificuldade em libertar-se da forte pressão exercida sobre o espaço intermediário, e a incapacidade para travar os desdobramentos ofensivos do adversário sempre que perde a bola.
Depois há Liedson, que por maior crise concretizadora por que esteja a passar, se parece empertigar sempre que tem pela frente adversários de vermelho vestidos – impressionante como o Benfica é o clube que mais golos sofreu do levezinho ....
Para além desta incompatibilidade táctica do Benfica sempre que enfrenta o Sporting de Paulo Bento (2 jogos 2 derrotas 1-6 em golos), a ausência de um jogador como Fabrizio Miccoli, eventualmente no seu mais alto ponto de forma desde que chegou a Portugal, e com uma importância determinante no processo ofensivo dos encarnados, é inquestionavelmente razão para lamento por parte dos benfiquistas. Tratando-se de um jogador extremamente rápido a pensar e a executar, a sua utilidade no jogo com estas características - como o de Manchester, seguramente sem tanta posse de bola como tem acontecido na Luz diante de adversários mais humildes – poderia ser determinante.
Se juntarmos a estes factores a desinspiração de Nuno Gomes nos últimos tempos diante das balizas, e a tradicional postura competitiva do Sporting sempre que defronta o seu grande rival, e faz desse jogo invariavelmente o jogo do ano (algo a que este Benfica, neste momento, não pode, de todo, corresponder), temos um quadro de problemas que acaba por se consubstanciar na atribuição de uma elevada dose de favoritismo aos leões.
É pois assim que partimos para este desafio, na certeza porém de que um derby é, por definição, fértil em surpresas - como de resto sucedeu na Luz na temporada passada, em momento de grande empolgamento benfiquista e de alguma nebulosidade sportinguista, partida em que os leões levaram a melhor por 1-3.
Paulo Bento deverá em princípio fazer alinhar Ricardo, Miguel Garcia, Tonel, Anderson Polga, Tello, Custódio, Carlos Martins, João Moutinho, Nani, Liedson e Alecsandro (ou Djaló se recuperar).
Fernando Santos deverá ter neste momento apenas algumas dúvidas relativamente a quem deva render Miccoli no onze. Karagounis, Karyaka ou mesmo Mantorras são as hipótese que saltam à vista. A meu ver qualquer uma das duas primeiras é válida, oferecendo até uma ligeira dose de consistência acrescida, e libertando eventualmente Simão para funções mais exclusivamente ofensivas. Santos saberá melhor que ninguém como estão o grego e o russo, parecendo, pelos últimos dados disponíveis, ser Karyaka quem está melhor colocado para a titularidade. Na defesa, não sendo o Sporting uma equipa particularmente perigosa no jogo aéreo, julgo que Ricardo Rocha poderá ser uma opção mais lógica do que Anderson. Assim o Benfica poderá alinhar com Quim, Nélson, Luisão, Ricardo Rocha, Léo, Petit, Katsouranis, Nuno Assis, Karyaka, Nuno Gomes e Simão.
O árbitro Jorge Sousa, estreante em grandes clássicos, não tem um passado muito abonatório em jogos do Benfica. Recordo por exemplo um penálti assinalado em Guimarães há dois anos num lance em que Luisão nem tocou no adversário (na circustância Romeu) e que ia custando dois importantes pontos ao Benfica na sua rota para o título. Veremos o que sucede em Alvalade.
Por agora resta desejar um grande jogo – e o futebol português bem precisa deles – com emoção e golos, sem casos e...uma vitória do Benfica. Até porque a Liga resultará claramente empobrecida caso os encarnados se vejam desde já afastados da luta pelo título.
VEDETA DA BOLA não irá estar em Alvalade, pois os preços dos bilhetes disponibilizados para não sócios do Sporting cifra-se na módica quantia de 75 euros, mais do que uma cadeira num camarote do São Carlos...

1 comentário:

Golo de Letra disse...

A história dá-nos conta de um facto curioso: a equipa pior classificada sai muitas vezes vencedora. S
Será assim desta vez?