TRÊS PONTOS

Entrar num campeonato do mundo a vencer é, por si só, motivo de alegria para qualquer selecção. Estamos a falar de uma competição que reúne os melhores do mundo, e uma vitória do primeiro jogo constitui normalmente um factor de motivação e tranquilização que podem ser determinantes para o resto da campanha.
A equipa nacional não tem pois motivos para qualquer amargura com a exibição menos conseguida de ontem à noite em Colónia. Ao fim e ao cabo, Portugal conseguiu ganhar, não sofreu golos, criou umas seis ou sete claras ocasiões para marcar, e não permitiu aos angolanos quaisquer veleidades atacantes. E se na ponta final do jogo, com o resultado a manter-se tangencial, alguns fantasmas chegaram a pairar no ar, tal deveu-se mais a um medo algo traumático que se repetissem os infortúnios de 2002 e 2004 (em que Portugal entrou com uma derrota), do que propriamente às características do jogo que ontem se estava a disputar, pois nesse, nunca Portugal deu a sensação perder o completo controlo das operações.
Não se diga com isto que a exibição portuguesa foi boa. De facto esperava-se algo mais desta selecção frente a um adversário valoroso mas inexperiente.
O menor desempenho qualitativo da selecção nacional começou desde logo na ausência de Deco. Não adianta escamotear que Deco é uma peça quase insubstituível nesta selecção, e a sua falta fez-se sentir em grande parte do tempo de jogo. Mais do que a qualidade do jogador em si, o facto de ele não estar presente obrigou Scolari a uma pequena revolução no meio campo português, com as inclusões de Petit, Tiago e Simão, e com o deslocamento de Figo para o centro do terreno. Embora Figo tenha feito uma extraordinária exibição, a verdade é que a sua movimentação remeteu-o muitas vezes para as alas, assistindo-se quase a uma sobreposição com Simão e Ronaldo, enquanto que no centro do terreno ficava claramente a faltar uma unidade capaz de dotar a equipa de dinamismo nas acções ofensivas e eficácia na transição ataque-defesa através de uma pressão subida, sobre o primeiro homem de Angola a sair para o ataque, algo que Deco faz na perfeição e mais ninguém nesta selecção consegue fazer.
Por outro lado, a ausência de Costinha no onze inicial obrigou Petit a tarefas eminentemente de reequilíbrio táctico, amputando-lhe a liberdade de construção de que desfruta no Benfica, nomeadamente ao nível do aproveitamento da sua fantástica meia-distância. Essa função ficou a cargo de Tiago que todavia não esteve muito feliz. Mostrou um ou outro pormenor definidor de toda a sua enorme classe, mas não foi capaz de transmitir às acções de ataque da equipa a velocidade de que o jogo de Portugal precisava, e por vezes pareceu sobrepor-se à zona de acção de Petit, numa coabitação que, mau grado os anos de Benfica que passaram juntos, não pareceu muito bem conseguida (note-se que este onze de Portugal nunca havia jogado junto), e que em muitos períodos de jogo deixou a equipa partida em dois, os que defendiam e os que esperavam pela bola lá na frente. De salientar ainda que a um super-Figo não correspondeu um super-Ronaldo, muito longe do seu melhor, perdido em individualismos estéreis, e bem substituído.
Mas a equipa nacional até entrou de rompante no jogo, e à passagem do primeiro quarto de hora já podia ter arrumado definitivamente a questão, e partido mesmo para a goleada. Pauleta logo aos trinta segundos, após uma maravilhosa assistência de Simão Sabrosa, fez a bola rasar o poste da baliza de João Ricardo, aos quatro minutos foi a vez de Figo abrir o livro e, com uma jogada a fazer recordar os seus melhores tempos de Barcelona e Madrid, oferecer o golo a Pauleta que desta vez não se fez rogado e marcou aquele que viria a ser o único tento do jogo. Pouco depois novamente Pauleta, e nos minutos seguintes Cristiano Ronaldo por duas vezes, podiam ter colocado um ponto final na incerteza. Não o fizeram e com isso Angola foi tranquilizando o seu jogo e ganhando confiança para fazer um pouco mais do que assistir às trocas de bola entre os jogadores portugueses, que à medida que o tempo passava iam revelando uma progressiva letargia, como que pensando que o mais difícil estava feito e que o segundo golo apareceria a qualquer momento, até porque Angola teria de abrir o seu jogo e procurar o empate. Não aconteceu nem uma coisa nem outra e o jogo entrou num clima de adormecimento total.
A selecção angolana, muito bem organizada e bem dotada fisicamente, acabou a primeira parte em bom plano, obrigando Ricardo a uma grande defesa, entre outras intervenções de menor grau de dificuldade.
Para o segundo tempo esperava-se que Portugal entrasse de novo com o fulgor que apresentou nos primeiros minutos da primeira parte de modo a, com mais um golo, resolver de vez o jogo e colocar-se a salvo de qualquer eventualidade. Surpreendentemente a selecção nacional entrou ainda mais lenta e apática do que havia terminado a primeira parte, mas verdade seja dita, era a Angola, em desvantagem no resultado, que cabia assumir mais o jogo e tentar atormentar a zona defensiva portuguesa, o que acabou por nunca chegar a fazer (entrou Mantorras mas saiu Akwá). Entende-se que a estratégia angolana passaria por manter essa expectativa enquanto o resultado permanecesse tangencial, na esperança que num lance fortuito pudesse ainda empatar o jogo. O Benfica fez esta temporada algo semelhante quando se deslocou a Nou Camp para a Champions League, e a verdade é que dessa forma poderia ter eliminado o Barcelona (todos se lembram do golo falhado por Simão nesse jogo, que daria a eliminatória à equipa portuguesa), perante um interminável rol de acusações de pouca ambição.
O tempo foi passando, e ainda assim acabou por ser Portugal a criar a melhor ocasião para marcar, num excelente remate de Maniche já perto do fim a que João Ricardo correspondeu com uma grande defesa.
No final todos ficaram satisfeitos. Portugal pela importante vitória e os três pontos respectivos. Angola porque de certa forma temia ser humilhada pela antiga potência colonial e conseguiu acabar o jogo de cabeça erguida, resignada a uma derrota tangencial mas deixando a impressão de se tratar de uma equipa em crescimento, que dentro de poucos anos poderá figurar entre as principais potências do seu continente.
É claro que não faltarão os críticos a esta exibição da selecção portuguesa, que de facto não foi bonita. Contudo o mundial está agora a começar, e com os reajustamentos que Scolari de certo fará, Portugal tem condições e tempo para se apresentar bem melhor nos próximos jogos. Para já tem três pontos na primeira jornada, que era o objectivo fundamental. As exibições de Figo e Miguel, bem como o golo de Pauleta e a segurança de Ricardo, são também aspectos positivos que resultaram deste jogo.
Com a vitória do México, e com as fracas indicações que o Irão deixou, sobretudo no seu processo defensivo, tudo se conjuga para que Portugal venha a discutir com os mexicanos o primeiro lugar do grupo. Qualquer outro desenlace será uma enorme surpresa face ao que se viu nesta primeira jornada.

9 comentários:

cj disse...

não sei se o irão deixou fracas indicações, mas penso que este resultado é o melhor que se poderia pedir.
deixa a equipa a pensar que tem de crescer e, além disso, deixa a selecção angolana confiante e motivada para os jogos que se seguem, o que poderá ser benéfico para portugal.
e oxalá também cheguem mais longe, com portugal, obviamente.

Anónimo disse...

Eu também gostava que Angola chegasse longe, mas se observar friamente o interesse nacional, se calhar era melhor que perdessem com o México, pois se assim fosse, e Portugal ganhasse ao Irão, ficávamos já apurados, enquanto se Angola ganhar ao México vai baralhar as contas todas para a última jornada.

Anónimo disse...

Acho que se Portugal não tem amrcado logo aos 4 m., teria talvez feito uma exibição bem melhor.
O golo fez a equipa esperar pelos angolanos, e estragou o jogo

Anónimo disse...

Talvez Xinfrim, mas também podia ter acontecido como no Suécia-Tobago, em que os suecos atacaram atacaram e não chegaram a conseguir marcar. E têm avançados como Larsson e Ibrahimovic.

Por mim preferi assim. Nada como marcar cedo e que se lixe a exibição.

Anónimo disse...

Vai ser 1-0 a Angola, 2-0 ao irão e 3-0 ao México.
viva Portugal

Anónimo disse...

Não era nada mau, Eusebio.
Já agora, 4-0 à Argentina nos oitavos de final...

Anónimo disse...

O que conta são os pontos.
Força Portugal

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