NOTAS SOBRE O MERCADO
Depois de meses de notícias e desmentidos, manchetes e folclore, agora sim, a poucos dias do fecho do mercado, é oportuno falar um pouco do assunto.
Começemos pelo que está consumado. Primeiro as saídas:
Começemos pelo que está consumado. Primeiro as saídas:
CARRERAS - a venda do lateral era, naturalmente, inevitável, sobretudo a partir das excelentes exibições na Champions contra equipas espanholas (Atlético e Barcelona). O valor de 50 milhões corresponde ao potencial do jogador, pelo que nada há a dizer a não ser desejar-lhe sorte. Deixa uma responsabilidade grande nos ombros de Dahl e Obrador, pois na última época habituamo-nos a ver, na ala esquerda do sector defensivo, um dos melhores elementos da equipa.
KOKÇU - outra saída que se tornou inevitável, esta a partir do episódio do Mundial. A mim, particularmente, não deixa quaisquer saudades. Nunca foi aquilo que se esperava dele e que fundamentava tão elevado investimento. Foi melhor jogador da Eredivisie onde apenas se ataca, e ele, como médio, sempre se pautou por uma certa negligência sem bola. Com tiques de vedetismo indisfarçáveis, recuperar quase todo o investimento foi um milagre. Apesar de tudo, também lhe desejo sorte, mas bem longe da Luz.
ARTHUR CABRAL- o exemplo paradigmático do flop anunciado. Alguém, num dia infeliz, pensou que podia ser ele o substituto de Gonçalo Ramos, e deu 20 milhões por um jogador que, já com 25 anos, nunca jogara na selecção, nunca jogara a Liga dos Campeões, e era suplente da...Fiorentina. Logo nas primeiras impressões se percebeu que eram milhões a mais para jogador a menos. Sempre me pareceu ter potencial, sim, mas para pivot de...Futsal. Nos relvados, falta-lhe escola, falta-lhe sentido posicional, falta-lhe tempo de salto, falta-lhe velocidade, falta-lhe sentido colectivo, falta-lhe capaidade de pressão, falta-lhe eficácia de remate. De vez em quando conseguia um golo bonito, fruto do bom toque de bola, mas nada mais dava à equipa a não ser confusão na linha da frente. Também pagou pelo facto de, ao mesmo tempo, no mesmo período e praticamente pelo mesmo dinheiro, o Sporting ter contratado um sueco de quem já não nos recordamos bem. 12 milhões acabou por ser o possível, sendo que se trata de um bom rapaz, mas que não valeria mais do que metade daquilo que o Benfica acaba por recuperar. Preferia o Musa, e até o Tengstedt.
TENGSTEDT - apesar de o preferir ao brasileiro, a verdade é que nunca se impôs no Benfica. Ter condições atléticas, e escola de movimentos, mas as deficiências técnicas são demasiadas para um clube como este. Assim, a venda tornou-se natural, mesmo perdendo dinheiro. Como memória fica aquele golo ao Sporting, ao minuto 96.
Passemos às entradas:
DEDIC - espero não me enganar, mas parece-me que estamos perante uma excelente aquisição. Falta vê-lo em testes mais exigentes, como Sporting e Porto, ou Champions (assim o esperamos...), mas quanto a velocidade e capacidade técnica já se apresentou, e bem. Mais do que Bah, parece ser uma espécie de Nélson Semedo. Para já, creio que podemos estar descansados quanto à posição, sendo que o dinamarquês ainda voltará (se tudo correr bem) nesta temporada. 10 milhões parece um bom preço para um jogador ainda com margem para progredir.
OBRADOR - custou apenas 5 milhões, e vem para ser alternativa a Dahl. Tem Carreras como exemplo: ambos jovens, ambos espanhóis, ambos laterais esquerdos, ambos formados no Real Madrid, ambos vindos de empréstimo, ambos com ambição de jogar a Champions, valorizar-se e voltar à casa mãe. Se Obrador seguir as pisadas do seu antecessor, temos homem. Caso contrário, agarremo-nos a Dahl. Do pouco que vi em campo não desgostei, mas também não me encheu o olho - uma vez mais como Carreras, que também não impressionou nas primeiras aparições como titular.
BARRENECHEA - até agora gostei bastante daquilo que vi. Uma espécie de Florentino, mas com capacidade de passe frontal. Tem margem de crescimento. Tem passagem por grandes clubes e grandes campeonatos. Tem a garra tipicamente argentina. Não me admirava de o ver, um dia, sair por um valor bem superior ao que custou. Na segunda metade da época disputará o lugar com Manu Silva. Até lá, temos Florentino na rectaguarda, do qual falarei mais adiante.
RIOS - à partida esperava-se que Richard Rios, ainda por cima rodado e a meio da sua temporada biológica, fosse, digamos, "o" reforço. É obviamente prematuro dar o caso como perdido, mas a verdade é que, até agora, não me convenceu, ou, pelo menos, não é aquilo que eu esperava dele, e que qualquer adepto esperaria do jogador mais caro da história do Benfica. Mais do que um Enzo Perez, faz lembrar, preocupantemente, Weigl, ou o próprio Kokçu, acima referido. Esperemos que seja uma primeira impressão, se bem que os grandes jogadores normalmente dispensam períodos de adaptação. Precisa de perceber rapidamente o que é o futebol europeu, a velocidade a que tem de pensar e jogar, e a forma como deve gerir a presença muscular (preferencialmente ganhando duelos sem ser em falta, coisa que até agora se viu pouco). Aguardemos por uma grande exibição, que lhe possa transmitir a confiança para se afirmar.
IVANOVIC - é preciso começar por dizer que 22 milhões é uma pechincha para um ponta-de-lança goleador na equipa campeã da Bélgica. Do que se viu, não creio que esteja ao nível de Pavlidis, mas é muito, mas muito melhor do que Arthur Cabral. Pode fazer uma boa dupla com o grego, se bem que nos jogos de maior aperto deva ser, sobretudo, uma alternativa ao titular. É o tipo de jogador que pode marcar muitos golos na liga portuguesa. Assim seja.
Veremos então os casos em aberto:
AKTURKOGLU - a melhor notícia destas semanas foi a continuidade do extremo turco, que tem tudo o que um jogador à Benfica deve ter: garra, velocidade, intensidade, técnica, golo. No seu melhor, foi um caso sério na época passada, chegando a levar a equipa às costas durante um par de meses. Pelo que se vê à distância, gosto da sua personalidade, do seu caracter, da sua fibra. Ficando mais dois oou três anos, tornar-se-á, estou seguro, um jogador muito carismático entre os adeptos. Uma proposta de 25 por quem custou 12 era música para a contabilidade. Mas perder Kerem para ir buscar um Amoura qualquer por 35M seria um risco desportivo (e também financeiro) que o Benfica parece ter entendido, e bem, não correr.
TIAGO GOUVEIA - caso o Benfica chegue à fase regular da Champions, é provável que contrate um extremo. Nessa medida, Gouveia ficará sem espaço. Não é um craque, mas, por mim, caberia bem no plantel. Até porque não há por lá muitos extremos direitos. Se vier alguém melhor, pois que vá então à sua vida, desejando-lhe naturalmente a melhor sorte. Se alguma coisa correr mal amanhã, e o Benfica ficar sem os 70 milhões da Champions, logo, sem capacidade de investimento para trazer alguém de fora, nesse caso creio que Tiago Gouveia deveria ficar. Não sei qual a vontade do jogador, nem o que Bruno Lage pensa dele.
FLORENTINO - estivesse Manu Silva recuperado, com a chegada de Enzo podia ser o momento para Florentino seguir outro caminho. Sem Manu até Janeiro (?), não me parece prudente dispensar o outro "seis" puro de que o palntel dispõe. Havendo uma proposta pomposa até poderei perceber a eventual saída. Mas creio que Florentino é um daqueles casos em que a importância para o plantel (sobretudo no plano defensivo) é maior do que o valor de mercado que terá. Enfim, por 40M vendia. Abaixo de 25M nem pensar. Espero é que o mercado de Florentino não seja influenciado pelo empresário A ou B. Sei que o mundo do futebol tem razões que a razão desconhece, mas a avaliação de um jogador titular, e formado no clube, tem de ser objectiva, e apenas baseada nos interesses (desportivos e/ou financeiros) do Benfica.
SUDAKOV - Nunca o vi jogar, mas assim de repente, um médio criativo jovem, que marcou quinze golos na última temporada, e aos 22 anos já realizou quase trinta jogos pela selecção principal do seu país (que não é São Marino, nem Gibraltar), parece uma boa aposta. Teria Trubin para o integrar. O único obstáculo que vejo é o preço (já ouvi falar em 35, em 40). Em todo o caso, só a presença na fase regular da Champions, e o dinheiro que daí virá, poderá permitir olhar para este jogador com verdadeira ambição de o trazer.
ALVAREZ - Sem Di Maria, com um elenco de extremos que jogam, preferencialmente, do lado esquerdo (Schjelderup, Akturkoglu, Bruma), e com a eventual saída de Gouveia, a contratação de um extremo-direito é, diria, natural. Não conheço o jovem, mas já li algures que padece de uma pubalgia. Enfim, poderá ser um risco desnecessário. De qualquer forma, à semelhança de Sudakov, acredito que apenas a entrada na Champions possibilitará olhar para mais este dossier.
Em termos de contas, o panorama simplificado é o seguinte, contando com direitos indirectos de jogadores que já não estavam na Luz:
5 comentários:
Apenas duas notas, já que não discordo de nada.
Independentemente do que venha a fazer Ivanovic, chegámos a um ponto em que 22M é "uma pechincha". Sinal dos tempos ou da gestão do Benfica?
Também concordo que Gouveia tem espaço, mas com a contratação de Dedic fica mais limitado. E para a ala direita Prestianni parece estar à frente. Se aparecer uma boa proposta não me choca que saia. E se vier ainda outro extremo então sai de certeza, nem que seja emprestado.
Sinal dos tempos. E particularmente os pontas-de-lança estão cada vez mais caros.
Só falta tapar a cratera de 70 a 100 km existente nas contas.
Sr.prior, o Benfica já lhe enviou algum pedido de ajuda?
Não terá pedido ajuda ao Padre Felício, mas está a rezar a todos os santinhos para passar o Fenerbahce.
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