BALDE DE GELO

As derrotas custam mais quando são inesperadas. Para quem viu o Benfica-Atlético de Madrid, e voltou ao Estádio da Luz esta noite, o contraste não podia ser maior.
Fosse o Sporting a perder, e já se dizia nas televisões que o Feyenoord era uma super equipa, capaz de ombrear com o Real Madrid e o City na luta pelo título europeu. Quem me conhece saberá que não entro por aí. O conjunto de Roterdão apareceu, de facto, muito bem organizado e fisicamente bastante fresco, tem um ou outro jogador que se destaca, mas estava claramente ao alcance do melhor Benfica - por exemplo, daquele que venceu categoricamente os "Colchoneros" por 4-0. E este era mesmo um dos jogos a ganhar nesta fase da prova, teoricamente o mais "fácil" dos oito.
Acontece que o melhor Benfica não apareceu em campo. 
Suspeito que Lage tenha sido surpreendido pelo treinador adversário, que soube desde cedo como bloquear os encarnados na saída do seu meio-campo, e como encontrar espaços para contra-atacar com perigo.  Foi neste bloqueio táctico que o Benfica começou a perder o jogo.
Não sei nada de preparação física e muito menos de alto rendimento, pelo que não me meto a opinar sobre os efeitos da (enorme) pausa nas pernas e nas cabeças dos jogadores, nem se alguns deles deveriam, ou não, ter sido utilizados contra o Pevidém. Apenas noto, e isso é factual, que mais uma vez o Benfica - com diferentes treinadores - se apresentou bastante mal após uma pausa competitiva. E fiquei com a sensação, sobretudo após o golo de Akturkoglu (quando se esperaria uma carga ofensiva total sobre a área holandesa), que as pernas não ajudaram, e o discernimento perdeu-se, permitindo ao Feyenoord levar o jogo para onde queria. A derrota consumou-se, pois, na falta de frescura física.
Antes disso, e logo na primeira parte, vimos também como as fragilidades defensivas do Benfica o podem penalizar neste tipo de jogos (Clássicos e Champions). O problema não será apenas dos próprios defesas, mas da forma como todo o bloco colectivo defende, desde logo no trio da frente, passando depois pelo meio-campo onde, quando se perde a bola, Florentino não chega para tudo. Há uma questão até cultural no clube da Luz, que tem a ver com o culto do chamado futebol "de ataque", e que tem custado dinheiro e títulos ao longo das últimas décadas. Tenho para mim que, para obter sucesso interno, e sobretudo externo, há que começar por ter uma defesa de ferro - ou, melhor dizendo, uma equipa que, colectivamente, defenda a ferro e fogo. Essa nunca foi a opção do Benfica, dos dirigentes do Benfca, nem dos próprios adeptos do Benfica - que exigem ópera como tinham nos anos sessenta, quando foi possível manter, durante uma década, alguns dos melhores jogadores do mundo na equipa.
Em particular no quarteto defensivo, também é preciso falar de Otamendi. Choca-me ver António Silva no banco, quando o central argentino compromete a olhos vistos. Percebo a questão do estatuto, da voz de comando, do respeito que impõe a adversários (e até a árbitros), mas parece-me que está na hora de olhar para este problema como um dia se olhou para Luisão.
O árbitro pareceu-me fraquinho. Ficou uma grande penalidade por assinalar sobre Di Maria na primeira parte, e a gestão do tempo ostensivamente perdido pelo Feyenoord (a um ponto que não me recorde de ver na Champions) não foi coerente. Mas não foi pela arbitragem que o Benfica perdeu o jogo.
Agora, há que reagir. Desde já no campeonato, frente ao Rio Ave. Na frente externa, esta derrota anulou a vitória sobre o Atlético, e tudo voltou ao princípio - nesta altura previa-se que o Benfica tivesse os seis pontos que tem. Há, pois, que vencer o Bolonha na Luz, e obter mais um pontinho em algum dos outros jogos. Dez pontos talvez cheguem para ficar nos 24 primeiros - que é o objectivo natural deste Benfica.

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