RUI COSTA E A ANÁLISE AO MERCADO

Rui Costa está a ser vítima de si próprio. 
Prometeu uma auditoria, cumpriu, e o resultado foi contestação. Prometeu mudar os estatutos, está a cumprir, e o resultado é mais contestação. Prometeu abordar o mercado com transparência, tem cumprido, e a cada palavra que solta é alvo de ainda maior contestação. Como bem sabemos, contestação em 2024 significa insultos, quando não agressões ou tentativas de tal. E ninguém já quer saber de ter sido campeão nacional em Maio de 2023 (ou seja, há apenas 16 meses!), ou de ter ido a três Quartos-de-Final europeus consecutivos (dois deles na Champions). Enfim, o mundo está assim, e não sei onde vai parar.
Fosse eu, e não tinha feito auditoria nenhuma (um autêntico strip-tease aos negócios do Benfica, para gáudio dos media e dos rivais), não mudava estatutos nenhuns (não são, nem alguma vez foram, os estatutos a ganhar ou a perder campeonatos), nem dava satisfações públicas sobre a contratação de A ou B, nem sobre a venda de C ou D, até porque em muitos desses casos não é possível dizer a verdade toda (como, por exemplo, que João Mário tinha  talvez o salário mais alto do plantel, ou que Neres, Leonardo e Morato, diz-se por aí, encontravam-se depois dos treinos para beber copos num bar da margem sul). Abrem-se várias caixas de pandora, que depois se torna impossível fechar. Fica sempre a esperança, como na mitologia grega.
Talvez o próprio Rui Costa aprenda com os erros, e um dia entenda que não pode agradar a toda a gente, sob pena de não agradar a ninguém. E se queriam, da minha parte, críticas ao presidente do Benfica, aqui estão elas. Posso ainda acrescentar ao ramalhete, a renovação extemporânea com Roger Schmidt, e as demasiadas mexidas no plantel no pós-título de 2023 (para as quais aqui chamei a atenção em devido tempo), tudo situações naturais na história do Benfica, como quando Ferreira Queimado deixou fugir Jordão e perdeu dois campeonatos para o FC Porto (que não ganhava havia 19 anos) porque só tinha um ponta-de-lança, ou quando Fernando Martins vendeu Chalana e Stromberg para fechar o Terceiro Anel que passado poucos anos (com o início das transmissões televisivas) estava às moscas, quando Borges Coutinho deixou sair Jimmy Hagan, hipotecando porventura a afirmação europeia de uma equipa que a merecia, quando Jorge de Brito ignorou o colapso financeiro que levou ao "Verão Quente" de 1993, quando Damásio permitiu que Artur Jorge despedisse meio plantel e depois despediu-o a ele, para não ir mais longe, nem mais perto. Todos os presidentes, de todas as instituições cometem erros, que constam de um balanço final ao lada das realizações. Eu tenho a mania que querer esperar pelos balanços finais.
Sobre o que Rui Costa disse em concreto não tenho muito a acrescentar. 
Como em todos os anos, e em todos os clubes, há contratações boas e contratações más. Há sempre um Fresnada por cada Gyokeres, um Bruno Cortez por cada Jonas e um Kabore por cada Akturkoglu. De resto, creio que muito do mercado de 2024 foi para corrigir erros de 2023 - e só no fim da época poderemos saber se com sucesso ou não. Algumas das contratações tiveram o claro crivo do técnico alemão (Beste e Barreiro, pelo menos), mas nem sequer foram as mais caras, e talvez nem sejam más de todo.
Quanto a vendas, só por ignorância se pode achar baixo o valor pago por João Neves - que, por muito que gostemos dele, e eu gosto muito dele, nem sequer foi titular da Selecção no Europeu. O outro titular indiscutível do Benfica que saiu, Rafa, creio não ter mesmo sido possível manter - e, diga-se, também não era consensual entre uma franja de benfiquistas.
Agora, o que espero do Benfica é menos conversa, menos Assembleias-Gerais, menos campanhas eleitorais, e mais golos e vitórias. É para isso que um clube serve, e não para dar conteúdos à comunicação social.

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