GUIÃO PARA O FUTURO

O que o Benfica tem de fazer é (com Schmidt ou sem Schmidt, não é esse o principal problema):
- Rever a cultura desportiva
No Benfica criou-se a ilusão de que o clube é o maior por decreto, tem o direito divino de vencer, e tal só não acontece por factores externos ou incompreensíveis. Falta humildade cultural a todos, e também aos adeptos. O clube nasceu pobre e operário, chegou ao topo da Europa com equipas de combate, mas a partir de certa altura entendeu-se que, além de tentar simplesmente ganhar, tinha de o fazer com um jogo bonito e com pés de veludo, esmagando, com classe, todos os adversários. Desprezam-se os músculos, os metros e os quilos, sendo que o futebol é, antes de mais, um desporto e não um bailado. Despreza-se a defesa porque os adversários são, obviamente, muito inferiores ao supremo e glorioso Benfica. Contratam-se extremos e mais extremos, criativos e mais criativos, e deixam-se posições a descoberto. Depois, todos ficamos muito espantados por perder.
- Mudar a política de contratações:
Basta de jogadores imberbes que custam milhões, e chegam só para ver se dão negócio. É preciso contratar, cirurgicamente, para o onze titular. Não é admissível dar 10 milhões, ou mesmo 5, para alguém que se destina fatalmente a ser emprestado, ou jogar na Equipa B. Esta, aliás, serve precisamente para constituir essa rectaguarda de juventude e promessas, mas com os jovens criados no Seixal, e não com estrangeiros trazidos a peso de ouro. 
Basta, também, de jogadores veteranos, de maior ou menor nomeada, e com extenso histórico de problemas físicos. Já veio Draxler, já veio Bernat. Penso que é suficiente.
É preciso ainda recuperar o olhar sobre o mercado nacional, que a partir de dada altura, inexplicavelmente, deixou de ser sequer considerado. Olhe-se para os rivais e veja-se de onde vêm, predominantemente, os seus reforços. Ficam mais baratos, já estão adaptados ao campeonato e à cultura portuguesa, além de, com essas negociações, fomentar boas relações com os clubes de que precisamos, nomeadamente, nas assembleias da Liga. Há bons jogadores no campeonato português, e devem ser esses o alvo primordial de um clube como o Benfica.
- Reflectir sobre os erros cometidos:
Rui Vitória foi Bi-Campeão Nacional e esteve à beira do Tri. Meses depois era despedido após um ciclo de maus resultados e péssimas exibições. Bruno Lage entrou de rompante, ganhou quase todos os jogos, bateu recordes e foi campeão. Nem sequer terminou a segunda época, após uma queda a pique do rendimento da equipa, estranhíssima, e que ainda hoje permanece por explicar. Jorge Jesus ganhou três campeonatos e foi a duas finais europeias. A segunda passagem foi um inesperado fiasco, até porque o treinador continuou a vencer mal saiu do Benfica. Roger Schmidt foi campeão, a sua equipa praticava um futebol espectacular, chegou aos Quartos-de-Final da Champions, e agora é o que se vê. Ora parece-me que há aqui um padrão, que tem de ser analisado. O Benfica não pode tornar-se um cemitério de treinadores, como aconteceu nos anos do "Vietname" - ao longo dos quais, recordemos, passaram pela Luz nomes como Artur Jorge, Paulo Autuori, Manuel José, Mário Wilson, Graeme Souness, Jupp Heynckes, José Mourinho, Toni, José António Camacho, Jesualdo Ferreira, e quase todos saíram pela porta dos fundos. Obviamente que, na altura, o problema não era de treinador. Temo que agora também não o seja.
- Manter a serenidade:
Nestas alturas o adepto comum tende a confundir tudo, e a querer deitar fora o menino com a água do banho. Ora o Benfica tem de reflectir, tem de melhorar, tem de mudar o perfil do seu plantel e resolver o seu problema desportivo. Mas não precisa de uma revolução institucional, sem que se saiba o que dela possa vir a resultar. Rui Costa é benfiquista, conhece o clube, conhece o futebol, e não acredito que tudo o que escrevi acima não lhe tenha já passado pela cabeça. Cometeu erros, e espera-se que venha a aprender com eles. Mas, caramba, uma coisa é apontar responsabilidades, outra é apontar a porta da rua. Até porque não se perfila nenhum outro nome em condições de dirigir o Benfica nesta altura.
Isto significa que os benfiquistas, mantendo o sentido crítico (não tenho aqui feito outra coisa), devem também manter a serenidade e a união, pois só assim as coisas podem melhorar. Caso contrário, caso se entre por uma política de terra queimada, estaremos, ano após ano, a voltar ao ponto de partida. Infelizmente, também sabemos o que isso é, e o efeito que dá.

6 comentários:

disse...

O alemão é parte do problema, SIM. É manifestamente incompetente.

jose helder soares disse...

Tem que contratar jogadores e não burguesinhos que vêm de passagem. O SLB foi feito por africanos, agora só tem dois de origem africana, e mesmo esses, um deles para ser titular por mérito, só depois de muitos assobios, teve o direito. O SLB tem de voltar a ser humilde e do povo.

Anónimo disse...

Tudo bem. Eu que sou acérrimo defensor da saída de Roger Schmidt até nem me custa aceitar o que está escrito no texto em relação ao que diz respeito ao treinador, dar-lhe o benefício da dúvida e aguentar a sua presença a frente da equipa mais uma época, mas neste caso pergunto quem é que vai perante o Sr. RS e lhe faz ver que não é sem ponta de lança que se marca golos, que o "velho" DiMaria só aguenta 35 mts e não 120 como vimos, que o plantel tem 26 jogadores e não só 11 ou 12, que o Aursnes é atacante e não DE, que o chefe é para incentivar a equipa e não estar calado com as mãos nos bolsos durante o jogo todo, que as substituições são para fazer na hora necessária e não já em tempo de descontos, e mais ques e ques e ques. Vamos continuar a aceitar as suas casmurrices, teimosias, etc.etc. parecendo que é ele o dono daquilo tudo? Joseferreira.

BENFICAHEXACAMPEÃO disse...

Concordo com quase tudo,... agora vedeta, quantas pessoas conheces que na idade adulta "mudaram de personalidade", "de comportamentos base"? Pois... admitir que o Rui entenda e se reinvente ao fim de 15 anos, é acreditar no Pai natal, aguardemos.

joão carlos disse...

na parte da política desportiva completamente de acordo, embora não sejam os adeptos que só contratam extremos e pontas de lança e depois se tem posições apenas com um jogador.

política de contrações concordo que contratar apenas para o negocio e parvo pena é que só agora ao fim de vinte anos é que tenham visto o erro e que durante esses vinte anos tenham andado sempre a dar cobertura a essa política votando sempre nos mesmos.
o problema não esta nos jogadores sejam de que idade for, mas sim em jogadores lesionados crónicos de que idade forem.
muito gostam da tralha nacional que não passa disso, como já disse o que renderam o ivan jaime, o gajo que era do gil vicente, o toni martinez, o rochinha ou o david carmo etc tudo gajos que andaram por aqui a barbar para serem contratados.
já agora curiosamente os dois melhores jogadores do clube que lidera o campeonato e que foram contratações deste ano vieram do mercado interno sem duvida se acharmos que o campionship e a seria a são competições internas.
ao contrario do que aqui se diz as contratações no mercado nacional são mais caras que noutros lados quaisquer basta ver os casos dos jogadores que pretendíamos do braga.

a segunda passagem do bazofias foi um inesperado fiasco apenas para aqueles que achavam que ele era o salvador, não sei se devido ao nome, e que era o melhor treinador português de todos os tempos e um dos melhores do mundo e que achavam que era ele ou o caos.
como naquela altura o problema também eram os treinadores até porque eram, e são, escolhido pelo maior problema.

o que é preciso é serenidade vinte anos a fazer a mesma coisa e mesmo assim ainda acham que não nos podemos precipitar não existe volta a dar como dia o outro "Insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".
a culpa nem sequer é da direção mas de quem os lá tem mantido.

Anónimo disse...

Esta é uma das boas reflexões que aqui já li; provavelmente uma das que me merecerá mais concordância.
Desejaria, todavia, que pudesse ser mais afirmativa. Esclarecedora. Informativa.
(Quem sabe para o departamento de comunicação e também do respetivo para o adepto.)
Quem tem responsabilidade na grande maioria das contratações, quase todas falhadas?
Que faz Luizão no banco? É, aí, útil?
Que apoio, ou assessoria teve e, ou, tem Roger Schmidt, no balneário e no banco?
Que valor ou qualidade existe nas equipas B e sub23? Que aproveitamento se lhes exige? Tiveram?
Porque se passou uma época, quase completa, com problemas defensivos, desde as laterais ao
meio campo? De quem é essa responsabilidade?
Porque se leva ao limite as substituições, com resultados de enorme desgaste para os
substituídos, e distanciamento, desinteresse, dos substitutos?
Que automatismos, e estudo de bolas paradas, terão sido feitos, foram vistos, ao longo da época?
Será Roger Schmidt tão egocêntrico e relapso ao diálogo e á opinião alheia, como se apregoa, ou não tem
mesmo ninguém em quem possa confiar ?
Tantas dúvidas e incertezas que atulham a cabeça do sofredor adepto!