CITAÇÕES

Custa-me, mesmo muito, fazer este exercício. Adorava não ter tido razão. Infelizmente estava certo na maioria dos textos que aqui escrevi em Junho, Julho e Agosto - quando, no meio da euforia generalizada, parecia ser eu a única voz dissonante e a desconfiar de como estava a ser preparada a época. Quem tiver a paciência de ler ou reler verá que estava lá tudo, ou quase tudo. É penoso imaginar como as coisas podiam ter sido diferentes, sem grande esforço, sem grande investimento. Dos 31 campeões de 2023 ficaram no plantel 12. Foi uma revolução silenciosa, mas devastadora. Agora, há que começar tudo de novo.

JUNHO

O único problema é que esta contratação pode vir a tapar a progressão de João Neves. E devo dizer também que, para mim, com Florentino, Aursnes, João Neves e Chiquinho, o meio campo até estaria razoavelmente bem preenchido, necessitando talvez apenas de um gorila (Al Musrati?) - coisa que o turco manifestamente não é. 

JULHO

Aí, falta claramente uma alternativa a Bah (tanto João Victor como, sobretudo, João Neves, rendem muito mais nas suas posições, e nenhum me convenceu como lateral), enquanto no lado esquerdo Jurasek ainda não mostrou as credenciais - aliás, se fosse eu a fazer o onze, neste momento preferia Ristic (que defensivamente, diga-se, também deixa muito a desejar)

As alternativas (no meio-campo) são muitas, mas o que me parece é que apenas há um Florentino. Kokcu ainda não mostrou praticamente nada face ao preço que custou. Neste momento, o melhor é mesmo João Neves. Tino-Neves seria a minha dupla nesta altura. Quanto a Tengstedt, confesso que ainda não vi nada que tivesse justificado a contratação (e a ideia já vem de há vários meses). Nem talento, nem capacidade física, nem eficácia.

Jurasek e Kokcu terão de mostrar muito mais. Se isto dá para ganhar ao FC Porto? Ao do ano passado, até pelas características tácticas de ambas as equipas,, temo que não.

Além de algumas coisas que esta equipa tem a menos (lá está: músculo, altura, agressividade, rigor...), agora parece-me ter também outras ...a mais.
À parte Jurasek - que ainda não mostrou absolutamente nada, mas cuja posição era imprescindível reforçar - os outros reforços estão a parecer-me, além de (muito) caros, também inúteis ou até mesmo inconvenientes. Di Maria e Kokçu provavelmente vão colocar David Neres e João Neves no banco, por uma mera questão de estatuto. Em termos de rendimento, e pelo que vi até agora, não justificam a entrada no onze. Veremos, ao longo da época, se justificam o avultadíssimo investimento.

Florentino continua a ser apenas um, e tem ido para o banco.

Que eu esteja enganado. Que sejam as obsessões de Roger Schmidt a vingar. 

 AGOSTO

Também ainda não gostei de Jurasek, nem de.. Kokcu. Só entre eles estão 40M, e até agora, salvo a assistência do turco na Supertaça, pode dizer-se que a equipa passava muito bem sem eles.

As opções de Schmidt, cuja teimosia e personalidade cada vez me irritam mais

A Vlachodimos bastou uma exibição negativa para merecer estúpidos reparos publicos e perder logo o lugar para um jovem da equipa B (para mais, com o ucraniano de 10M no banco).

quanto a Ristic, também ainda não entendi a resistência em utilizá-lo, quando me parece o menos mau lateral do Benfica

Florentino também não tem suplente no plantel, mas nem assim joga de início. Nem assim se acautelou a posição seis no mercado

Quanto a Arthur Cabral, vamos ver quantos golos marca. 

Enfim, mais coisa haveria para dizer sobre tudo isto. O resultado, hoje, foi uma vitória de aflitos contra um adversário de segunda divisão, com o risco, que chegou a ser real, de ficar já a cinco ou seis pontos da liderança.

Veremos os próximos capítulos. Mas há muita coisa a rever. A Supertaça disfarçou erros e insuficiências, que começam na abordagem ao mercado, e continuam na teimosia de um treinador demasiado obstinado para o meu gosto, e no receio que tenho de ver comprometer tudo o que se alcançou na época passada em termos de coesão de grupo e consequente dinâmica de vitória. Oxalá o tempo desminta o meu pessimismo. Para já, não estou a gostar muito. E duvido da renovação do titulo - que só acontecerá por eventual inépcia dos rivais. 

Não contratava Trubin por 10 milhões. O Benfica precisava de um suplente para Vlachodimos, e não de um guarda-redes tão caro que, até agora, mesmo sem ter jogado, mesmo sem qualquer culpa, parece ter já causado problemas. Os guarda-redes de Arouca, Famalicão ou Gil Vicente eram boas opções para servir de "Heltons Leites", dando espaço e tempo a Samuel Soares para amadurecer. Odysseas não é Courtois, como Rafa não é Mbappé. Infelizmente, o Benfica só pode ter jogadores de nível mundial, ou no início das carreiras (antes de explodirem), ou no fim (como é agora o caso de Di Maria). O grego pagou sempre o preço de ter sucedido a Ederson e Oblak que, esses sim, foram a excepção. Além de que o grau de exigência que alguns adeptos e analistas hoje em dia colocam nos guarda-redes raia o absurdo. Fossem Costa Pereira, José Henrique ou Bento (como Damas ou Vítor Baía, como Yachine Maier ou Zoff)) avaliados pelos mesmos critérios, e nenhum passava da mediocridade.

Um guarda-redes, no campeonato português, numa equipa grande, nem sequer é assim tão importante. Até com Bruno Varela o Benfica ia sendo campeão, como aliás foi com Quim. No Sporting já vi Adán fazer exibições miseráveis, e quanto ao tão idolatrado Diogo Costa, basta recordar o Mundial, onde enterrou a selecção portuguesa (algo que, diga-se, tem sido silenciado como se não tivesse realmente acontecido). Para o Benfica ser campeão e fazer uma boa Champions, Vlachodimos é mais do que suficiente. Temo que já tenha sido queimado - a começar pelo próprio treinador.

Tinha mantido Gilberto no plantel. O titular é Bah, e Gilberto era o suplente perfeito, tratando-se de um jogador aguerrido, comprometido, identificado com o clube e com o país. Um campeão. Não sei se se encontrará muito melhor para o banco, e sem gastar mais dinheiro.

 Partindo do princípio que não era mesmo possível segurar Grimaldo (nem oferecendo-lhe os 14 milhões gastos em Jurasek),para discutir o lugar com Ristic contratava um lateral-esquerdo verdadeiramente bom. Não sei se o checo o é, ou vai ser. Até agora não gostei nada. Mesmo nada. Além de que estou farto de defesas que não são assim tão fortes a...defender.

Jamais gastaria 25 milhões em Kokçu. Parece bom jogador, mas não era, de todo, aquilo que o Benfica, a meu ver, precisava para o meio-campo. O verdadeiro substituto de Enzo Fernandez emergiu na fase final da época passada, e chama-se João Neves. A alternativa era Chiquinho, que também cumpriu aquando da sua comissão de serviço. A posição estava mais do que acautelada, e o turco acaba por ser, pelo menos por enquanto, mais problema do que solução. O salário (bem como as respectivas consequências no balneário), prefiro nem saber

Contratava, sim, um trinco para competir com Florentino pela posição "seis". De preferência um "gorila", forte, alto e agressivo. Em jogos grandes, e na Champions, o Benfica vai precisar de músculo. E este plantel carece bastante de altura e de largura.

Schjelderup, até ver, não tem nada a mais do que jovens que o Benfica tem emprestado ou mesmo dispensado. A diferença é que custou muito dinheiro. Aliás, ele e Tengstedt, terão sido precipitações do último mercado de Inverno - que é um mercado particularmente propício a enfiar barretes. Apostava em Tiago Gouveia, e.. confesso que não sei o que se passa com Henrique Araújo (em quem, há pouco mais de um ano atrás, depositava infinita confiança).

resta-me acreditar que Arthur Cabral (suplente da Fiorentina) seja, no mínimo, melhor que Musa. Se assim for, já fico consolado.

Enfim, estão aqui descritas algumas das razões pelas quais não estou particularmente optimista. 

vejo muita coisa com potencial para correr mal. Obviamente que seguirei atentamente todas estas situações ao longo da temporada. Se pelo menos em metade delas tiver de dar o braço a torcer, já ficarei bastante feliz. Fazer o Totobola à segunda-feira é fácil. Estou a fazê-lo antes, tal como o teve de fazer a estrutura da SAD benfiquista. Há muita coisa que não domino (personalidades dos jogadores, relacionamentos entre eles, relações com empresários, etc), mas por norma gosto de seguir a velha máxima segundo a qual "em equipa que ganha, não se mexe". Ora parece-me que neste Benfica, que foi campeão há três meses, e fez uma belíssima carreira europeia, ter-se-á já mexido porventura demasiado.

continuo a não entender os critérios de escolha dos onzes, nem das substituições. Como disse atrás, só quero que o Benfica ganhe. E não tenho sombra de dúvidas de que Roger Schmidt percebe infinitamente mais de futebol do que eu. Desejo, ardentemente que tudo isto tenha uma lógica, e que no fim seja ele a ter razão. Entretanto vou dizendo e escrevendo o que penso, que é para isto que serve um blogue. Por vezes também para desabafar, mesmo correndo riscos de cair em exageros ou mesmo divagações, mas sempre de acordo com o que a cada momento vou sentindo. Nada me move contra o treinador benfiquista (pelo contrário, já lhe devemos um campeonato e uma supertaça), até parece simpático, é inteligente e educado. Por vezes não o entendo, e, com quase cinquenta anos que levo a ver futebol, tenho algum receio que isso seja um sinal de perigo.

Será normal um treinador que se sagrou campeão nacional logo na primeira época em Portugal, atingiu os Quartos-de-Final da Liga dos Campeões depois de uma carreira com momentos notáveis, e ainda adicionou uma Supertaça logo a abrir a nova temporada, ser tão questionado como tem sido Roger Schmidt nas últimas semanas? A resposta óbvia é: não! Mas permanece uma pergunta: então porque motivo é isso mesmo que está a acontecer?
Há que puxar o filme atrás. 
De facto, o Benfica fez uma primeira metade da temporada 2022-23 esplendorosa. Apurou-se brilhantemente no 1º lugar de um grupo da Champions onde estavam PSG e Juventus, venceu praticamente todos os jogos do Campeonato (apenas um empate, em Guimarães), e cavou desde logo uma distância considerável para os principais rivais que, por contraponto, entraram mal na temporada, escorregando sucessivamente em terrenos inesperados. À 7ª jornada o Benfica já tinha 5 pontos de vantagem para o FC Porto e 11 para o Sporting. À 11ª, levava 8 para os portistas e 12 para os rivais lisboetas. Como se sabe, isso veio a revelar-se determinante.
Se, por outro lado, isolarmos o que se passou desde a pausa para o Mundial do Catar, verificamos que o Benfica, daí em diante, perdeu 13 pontos, o Sporting 14, o Braga 11, e o FC Porto apenas 7. Não se superiorizou a nenhum deles no confronto directo. Com isso, colocou em risco um Campeonato em que chegou a ter, virtualmente, 13 pontos de vantagem (a meio da primeira parte do "clássico" da Luz, onde, diga-se, acabou por ser claramente manietado pela equipa de Sérgio Conceição, como o foi em alguns momentos dos dois "dérbis" lisboetas, nenhum deles ganho, em nenhum deles tendo estado, um minuto sequer, em vantagem). Não fosse uma surpreendente vitória do Gil Vicente no Estádio do Dragão, e não se sabe (mas calcula-se) o que teria acontecido. E seria catastrófico. Ainda no plano nacional, os encarnados foram eliminados da Taça da Liga por uma equipa que então militava no segundo escalão (Moreirense), e da Taça de Portugal pelo SC Braga. Os dragões venceram ambas as competições.
No plano internacional, depois de uma fase de grupos impressionante, o Benfica beneficiou de um sorteio extremamente simpático, que lhe pôs por diante um Club Brugge mergulhado numa crise gravíssima. Passou facilmente, mas caiu de seguida, dando menos luta ao Inter de Milão do que havia dado o FC Porto na ronda anterior.

Ou seja, desde o Mundial (Novembro/Dezembro de 2022), e, coincidentemente ou não, desde a saída de Enzo Fernandez, e porventura desde o memento em que a equipa deixou de ser capaz de surpreender, não se pode dizer que o Benfica tenha sido brilhante, e muito menos que se tenha superiorizado a um FC Porto com muito menores recursos. E já então se falava da teimosia de Roger Schmidt em insistir no mesmo onze, em desgastar, por vezes de forma desnecessária e incompreensível, alguns jogadores nucleares (não dando oportunidades a outros), e em fazer substituições que só ele parecia entender. Como tudo fica bem quando acaba bem, e o Benfica foi campeão, Schmidt pôde passar umas férias descansadas.

Não terá sido a derrota do Bessa a mudar a perspectiva dos adeptos. Na verdade, essa derrota (com traves, postes, erros individuais de jogadores e árbitros) teve uma componente de infelicidade enorme, bastando dizer que aos 89 minutos o Benfica vencia por 1-2, tendo chegado à vantagem já em inferioridade numérica. E, há que o dizer (e eu disse-o), Vlachodimos não esteve bem nessa partida, realizando a sua pior exibição pelos encarnados.

É precisamente o guarda-redes grego, ou melhor, o modo como Schmidt lidou com o assunto (na praça pública e de uma forma totalmente inusitada numa pessoa inteligente e sempre ponderada nas declarações que faz), que trouxe inquietação ao universo benfiquista, e mais reticências na sua (nossa) identificação com o técnico germânico.

Terá sido uma espécie de gota de água num processo que, como referi, já vinha da fase final da temporada anterior, e que passou também por uma gestão do plantel e dos reforços (a acreditar que as opções foram suas) no mínimo duvidosa, de onde ressalta a insistência num caríssimo Kokçu que não era prioritário, e na renovação de um Otamendi veterano e decadente, a escolha dos duvidosos (e também caros) Jurasek e Arthur Cabral, as dispensas dos razoáveis, mas seguros, Gilberto e agora Ristic, e uma composição de onze que sacrifica desnecessariamente Aursnes (um dos pilares do último campeonato...no meio-campo), deixa de fora sistematicamente Neres, também Morato (e sempre Musa), e, por fim, sacrilégio dos sacrilégios, neste último jogo, o jovem João Neves - que salvou o campeonato passado com um punhado de extraordinárias exibições num momento de grande pressão e em que uma equipa manifestamente extenuada precisava da sua energia como de pão para a boca.

Não defendo, de forma alguma, o despedimento de Roger Schmidt. Acho que só um louco o faria neste momento. Tive dúvidas, isso sim, numa renovação porventura precipitada e que, até ver, não acrescentou nada ao Benfica a não ser uma folha salarial mais generosa. Já foi feita, feita está.

Entendo, porém, que a crítica é livre, e até saudável. Quando os adeptos não puderem criticar as opções dos treinadores, o futebol terá morrido.

Nesse sentido, tenho sido uma das vozes que se junta à daqueles que, ao contrário do que seria de supor após um ano vitorioso seguido de um investimento avultado, não olham com grande entusiasmo para a nova época. E não o fazem, eu pelo menos não o faço, exclusivamente por receio e desconfiança no caminho que está a ser seguido por Schmidt - que, é preciso lembrar, nunca tinha treinado em países latinos, e também, diga-se, aos 56 anos nunca tinha vencido grande coisa. Temo que o balneário esteja a ser minado por opções duvidosas, por simpatias (Otamendi, Di Maria, João Mário, Kokçu) e antipatias (Ody, Gilberto, Morato, Ristic, Florentino, Neres, Musa...), por diferenças salarias substantivas e não sustentadas no rendimento desportivo, e por um técnico de perfil obstinado, pouco focado nos adversários e na forma de os bloquear (ou desbloquear), e que vive muito à custa de uma excelente preparação física do plantel (aí tiro-lhe o meu chapéu). Além de que (isso acontece com todos os treinadores, eu diria mais, com todas as lideranças), o tempo vai causando desgaste: um dia zanga-se com um, na semana seguinte com outro, e se as coisas não são muito bem acauteladas, se não há uma preocupação séria com isso (não estamos na Holanda, e muito menos na China), é fácil perder o controlo total do grupo. Isto não é apenas no futebol, a aí já sei bem daquilo que falo.

O que mais desejo é estar enganado. É concluir, em Maio de 2024 (preferencialmente vivo e de boa saúde), que mesmo após quase 50 anos a ver futebol, não percebo nada disto. E que Roger Schmidt é, afinal tão bom treinador como parecia em Novembro de 2022, que o Arthur Cabral é um craque, que o balneário (depois de tantas torturas) ficou coeso e solidário, e, sobretudo, que o Benfica é campeão. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro LF,

Roger Schmidt nunca mais perdoou o SLB e os adeptos que no estádio da Luz o maltrataram e lhe atiraram objetos. Estas exibições, as derrotas e as eliminações são a vingança do alemão.
Mesquinho e arrogante.

#UmSLBnaInvicta