ANO DE OURO


Campeão de Futebol, Hóquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, Futsal e Atletismo, vencedor das Taças de Portugal de Hóquei, Basquetebol, Voleibol e Futsal, vencedor das Supertaças de Futebol, Basquetebol e Voleibol, das Taças da Liga de Futebol e Basquetebol, entre outros troféus, no sector masculino e feminino (e aqui, destaque para as meninas do Hóquei e o seu magnífico “penta”, com título europeu incluído), nos seniores ou nas camadas jovens, pode dizer-se que nunca o Benfica ganhou tanto.

Por exemplo, se atendermos apenas a campeonatos, e às sete principais modalidades (as já referidas, mais o Andebol), o máximo histórico de títulos numa só temporada era de quatro. Esta época vencemos seis!

Enquanto outros afirmam, sem se rir, ser a maior potência desportiva do país, nós conquistamos os campeonatos, os bi-campeonatos, os tri-campeonatos, os tetra-campeonatos, os penta-campeonatos, as dobradinhas e os tripletes, nos relvados, nos pavilhões ou nas pistas, numa sequência impressionante, e a uma cadência que quase nos baralha. E, entre jogadores, técnicos e dirigentes, ninguém dá sinais de querer abrandar o ritmo.

Para aqueles que temem que o nosso Clube esteja dependente deste ou daquele treinador, deste ou daquele jogador, este conjunto de triunfos é também uma resposta, pois demonstra que a competência, a qualidade, o talento, o trabalho e a vontade de ganhar são, hoje, uma marca bem vincada em todo o universo benfiquista.

Benfica voltou a ser sinónimo de títulos. O escudo voltou a ser peça comum nas nossas camisolas. Hoje, não ganhar é excepção.

Que grande Benfica nós temos!

APAGADOS


Há uma diferença óbvia entre a legalidade e a ética. Não é à toa que existem códigos de conduta para muitas profissões, por vezes de cumprimento obrigatório.

Treinadores e jogadores de futebol têm o direito legal de mudar directamente para um clube rival. Mas se me perguntam se isso é saudável, respondo categoricamente que não.

Embora estejamos perante um universo altamente volátil e mercantilizado, por onde rodam muitos milhões de euros, entendo que os agentes de uma indústria que desperta tão intensas paixões jamais devem perder de vista um facto muito simples: são essas paixões que lhes sustentam o estatuto e lhes permitem vidas milionárias. Respeitar os adeptos que os idolatram não é um favor, nem um acto de altruísmo. É uma exigência.

Paulo Sousa, Pacheco ou Rui Águas (Figo, lá fora), ignoraram essa exigência no passado. Nenhum deles mereceria ver aberta a porta por onde um dia fugiu. Mais do que um clube, trataram mal o próprio futebol – subvertendo a sua natureza enquanto fenómeno identitário de agregação e de emoções.

Perante a lei, fizeram aquilo a que achavam ter direito. Não podem é esperar, depois, qualquer tipo de compreensão, carinho, admiração ou respeito por parte daqueles que choram com as derrotas, que não dormem na véspera dos grandes jogos, e que, directa ou indirectamente, pagam do seu bolso (muitas vezes com grande sacrifício) todo o futebol.

O agora treinador do Sporting entendeu seguir este caminho, quando podia deixar o seu nome escrito a ouro na nossa história. Apagou-se a si próprio nas fotografias. Não as da loja, mas, sobretudo, as da nossa memória.

PARADIGMAS


O tema é recorrente. Será que o Benfica aposta na formação? Será que o faz da forma mais adequada?

A resposta só pode ser afirmativa. Com um forte investimento em infraestruturas de ponta, munidas da necessária competência técnica, essa aposta é insofismável. As milionárias vendas de André Gomes, Bernardo Silva e Cancelo são, para já, o resultado desse investimento. Que grande resultado, diga-se. E se também para outros houver mercado, venham mais milhões, que o tempo não está para desperdícios.

Não estou seguro é de que a formação encarnada esteja preparada para, no imediato, alimentar a equipa principal – sabendo-se que o objectivo desta é a conquista de títulos, e não qualquer outro romantismo purista.

Excepção feita ao Barcelona, não há registo de clubes predominantemente formadores com grande sucesso desportivo. E em Portugal não me parece que estejamos perante uma geração particularmente dotada. Hoje, a ambição começa na infância. O sonho dos jovens das academias já não é, simplesmente, entrar no plantel principal. Os mais talentosos são desde cedo aliciados com os milhões de outras paragens, pelo que se torna impossível segurá-los muito tempo. Sobram…os restantes.

Podemos então avançar para um paradigma competitivo alicerçado na formação? O Benfica quebrou a hegemonia portista recorrendo a jogadores experientes, capazes de não vacilar perante as adversidades. Há, aqui por perto, quem abuse da juventude imberbe. Mas não são campeões desde os tempos de João Pinto, Jardel ou Schmeichel.

A formação é útil como instrumento, como meio. Num clube como o nosso, não pode ser um fim.