UM DÉRBI, DUAS DÚVIDAS

Domingo é dia de “Dérbi” lisboeta, e, à tradicional interrogação que a ocasião sempre colocou – quem irá vencer? -, os últimos anos têm trazido uma outra, capaz de despertar quase tanta curiosidade como o próprio resultado do jogo: que queixas irá o Sporting trazer em caso de derrota? Na verdade, nos tempos mais recentes, sendo difícil encontrarmos uma vitória do Sporting sobre o Benfica, é quase tão difícil recordarmos uma derrota leonina sem um consequente desfilar de acusações relativas à arbitragem, e a todos os aspectos paralelos que possam de algum modo servir de cortina de fumo, e impedir a atribuição de qualquer dose de mérito ao odiado rival. Por mais insignificante que seja, lá encontram sempre um motivo. De uma gota de água (que tanto pode ser um lançamento lateral com um piton milimetricamente acima da relva, como um relógio dois minutos atrasado, ou um alegado penálti que nem à sétima repetição televisiva parece claro), fazem uma tempestade, contando para isso com um alinhado exército de comentadores televisivos, e com a complacência de redacções simpáticas – que conferem ao Sporting um peso mediático que vai muito para além da sua real dimensão social. Não sei o que sucederia no país desportivo se, um dia, o Sporting perdesse um campeonato com um golo tão irregular como o que Maicon apontou na Luz há dois anos atrás. Ou sofresse, em jogo decisivo, um pénalti em lance idêntico ao de Yebda e Lisandro Lopez, em 2009 - ambas as situações tendo Pedro Proença como protagonista. Por muito menos, já vimos reacções absolutamente esquizofrénicas vindas dos lados de Alvalade. Bom seria que tão ruidoso folclore voltasse a animar jornais e televisões, pois seria sinal de estarmos perante mais uma vitória do Benfica, e correspondente azia sportinguista. O fim-de-semana passado foi muito duro. Mas nada como o velho “Dérbi” (e, já agora, com uma arbitragem melhorzinha que a da primeira volta) para resgatar o orgulho ferido por um maldito penálti desperdiçado aos 94 minutos.

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