O DRAMA DA DECADÊNCIA

Vi integralmente o jogo Sporting-Nacional, e se aquela foi a melhor exibição do Sporting no campeonato (como já ouvi por aí), muito mal vai a equipa de Alvalade.
O golo de Saleiro foi um grande golo, Vukcevic fez um grande jogo, mas de resto…nada. Foi até o Nacional que, depois do empate, esteve mais perto do 1-2. Já contra o Benfica a exibição leonina tinha sido medíocre, e sinceramente não vejo esta equipa como candidata a coisa nenhuma.
Mas o que se passa com o Sporting está muito para além daquilo que, conjunturalmente, se vê nos relvados. Não há “um” problema do Sporting. Há vários, e muito difíceis de resolver.
Á cabeça de tudo creio que existe uma completa assimetria entre as aspirações dos adeptos e a história do clube, por um lado, e o seu potencial presente (quer económico, quer desportivo), por outro. Isto ultrapassa a própria equipa, o treinador, e os jogadores, que acabam por ser mais vítimas do que culpados de um grau de exigência para o qual não têm, nem podem ter, resposta.. Na verdade, o Sporting já não é um clube grande, já não está no mesmo plano que Benfica e FC Porto, e muitos dos sócios ainda não assimilaram essa nova e triste realidade. Qual o caminho para recuperar a grandeza? Mesmo que o soubesse, não o dizia. Mas, honestamente, não me parece fácil.
Em segundo lugar, José Eduardo Bettencourt é um homem sério, será com certeza um gestor de empresas competente, mas não tem manifestamente perfil para liderar um clube de futebol. Está a revelar-se um flop total, e desde que assumiu a presidência, o Sporting não para de cair. Consequentemente, as escolhas feitas não têm sido as melhores, ninguém compreendendo, por exemplo, o que tem Costinha de experiência directiva, ou de sportinguismo, para assumir o futebol do clube.
Entalado entre esta realidade, e um plantel sofrível (Nuno André Coelho, por exemplo, nem era convocado no FC Porto, sendo agora titular indiscutível no Sporting), e para mais afectado por algumas lesões de jogadores nucleares, Paulo Sérgio (como antes Paulo Bento, ou Carlos Carvalhal) será quem menos culpas tem neste cartório.
Desde os tempos de José Peseiro (final da Taça Uefa, e quase, quase, título nacional) que não me recordo de ver um plantel minimamente credível em Alvalade. Curiosamente, foi nessa altura também que, institucionalmente, o Sporting perdeu a oportunidade histórica de, aliando-se ao Benfica, desferir o golpe de morte no FC Porto de Pinto da Costa, então de gatas na sequência do eclodir do processo Apito Dourado. O ódio ao rival lisboeta falou mais alto, e o manifesto que Dias da Cunha assinou com Luís Filipe Vieira acabou queimado pela contestação ao próprio presidente sportinguista, e pela azia causada pelo título de Trappatoni. Daí para cá - com Pinto da Costa irradiado, com o FC Porto despromovido, com uma limpeza total no futebol português (à semelhança do que aconteceu em Itália) só possível nessa conjuntura peculiar, e utilizando a força conjunta dos dois rivais lisboetas - o Sporting até podia ter sido campeão 4 vezes, tendo o Benfica conquistado precisamente os mesmos dois títulos que conquistou. E com outra gestão desportiva podiam estar em Alvalade: Varela, Carlos Martins, João Moutinho e até…Fábio Coentrão, que como se recordam chegou a ser dado como certo no Sporting, mas alguém achou que um milhão de euros era demasiado dinheiro pelo vila-condense.
Hoje temos um FC Porto com toda a sua força renovada, quer nos relvados, quer, sobretudo, nos bastidores. Temos um Benfica forte e afirmativo, que só factores subterrâneos têm impedido de atingir a bitola da época passada. E temos um Sp.Braga emergente, presente na Champions League, a desafiar o Sporting como terceiro candidato ao título. A este último, já nem o pontinho de vantagem que tinha sobre o Benfica lhe vale de consolo.
A chamada crise de militância (resultante de tudo isto) esconde uma realidade ainda mais dura: a perda efectiva de adeptos, bastando uma visita a uma qualquer escola para perceber que Benfica (claramente maioritário) e FC Porto (muito mais expressivo que há uns anos atrás) dividem as simpatias dos mais jovens.
É esta a verdade de um clube que foi grande e deixou de o ser.
Para os adversários, há muito que o Sporting deixou de meter medo, e passou a despertar pena - sobretudo para aqueles que, como eu, ainda o tiveram, em tempos, como um grande e temível rival.

5 comentários:

José Sousa disse...

O LF diz que "ninguém compreende o que Costinha...tem de sportinguismo, para assumir o futebol do Clube".
A resposta é fácil e já foi dada pelo próprio Costinha quando afirmou, parece que com muito orgulho, ser anti-benfiquista. Queria melhor?
Saudações benfiquistas

Pedro disse...

Excelente artigo, mas eu pessoalmente não tenho pena do Sporting. Os adeptos têm aquilo que querem. Lembro-me que quando Bettencourt se candidatou a presidente, prometeu "continuidade ao trabalho que estava a ser feito no Sporting" e foi eleito com mais de 90% dos votos. Portanto os adeptos estavam satisfeitos com um clube que tinha acabado de ter uma época sem nenhum título e com uma goleada 12-1 na Europa, com 2 campeonatos conquistados nos últimos 28 anos e com o desperdício de jogadores formados no clube (Ex: Simão, Quaresma, Carlos Martins, Varela, Moutinho).

Obviamente que o Sporting já não é grande. Foi-o até ao fim dos anos 70, a partir da década de 80 até hoje, o Porto ultrapassou o Sporting em toda a linha (até a nível de sócios) e afirmou-se como o outro grande de Portugal, para além do Benfica, a única equipa que manteve a sua grandeza desde sempre. Não nos podemos esquecer que o Sporting nos últimos 30 anos ganhou 3 campeonatos, sendo que os dois mais recentes foram numa altura em que Benfica e Porto estavam em crise e até o Boavista conseguiu ser campeão. O outro título foi em 81/82 e a partir daí seguiu-se o jejum de 18 anos, com muitos 4º lugares pelo meio e lutas quase sempre reduzidas a dois (Benfica e Porto), tal e qual como vemos no presente.

Peter disse...

O problema do Sporting é a pandilha que o dirige há décadas,bettencourts,dias ferreiras e o resto dos tios todos que só lá estão para passear numa feira das vaidades e ter uma reforma antecipada choruda mexendo nem 1 palha, o que o Sporting precisa é de varrer com esta oligarquia e introduzir sangue novo com gente que seja realmente sportinguista e não apenas-benfiquista.As alianças com o fcp normalmente dão nisto.

Peter disse...

Sorry apenas anti-benfiquista

Nuno Figo disse...

Pela minha parte, tenho realmente pena do Sporting e dos Sportinguistas (excluindo, claro, os anti-benfiquistas).

Talvez tenham o que merecem, mas a opção Bettencourt foi considerada o pior dos males (lembram-se quando tivemos Vale e Azevedo? Na altura competiu com Luis Tadeu, que foi considerado demasiado próximo de Damásio... mal por mal, teríamos ficado melhor com Tadeu, não?)

A culpa do estado do Sporting não deve ser imputada aos actuais responsáveis - mas só aos que estão na sombra e se têm mantido no poder desde o tempo de Roquete.

Roquete é a explicação para o descalabro. Foi o projecto Roquete quem levou o Sporting ao descalabro financeiro. O projecto comercial do Sporting foi um flop que obrigou o clube a vender mal e porcamente todos os seus activos. Assim foi com os seus terrenos e com os seus jogadores.
Dias da Cunha era um homem sem visão, que não foi capaz de mudar o rumo do barco e apenas o manteve à tona na tempestade.
Soares Franco foi um presidente amador, que esteve no Sporting por capricho pessoal. Nada decidiu e, mais uma vez, manteve o barco a navegar no mesmo rumo.

Hoje, o Sporting precisa de se sanear as suas finanças, a sua equipa de futebol, as suas modalidades amadoras e - talvez o mais importante - a sua estrutura directiva.

São mudanças demais (e até antagónicas) para JEB realizar. Seria preciso ter um presidente a tempo inteiro e com um projecto realista, que impusesse sacrifícios.
Bettencourt não é esse homem. Sabe que o seu poder está dependente das vitórias, sabe que é uma escolha circunstancial.

Seria preciso uma direcção NOVA, sem qualquer laço com a actual estrutura e liberta da teia de interesses em que esta se encontra.
Receio que o Sporting terá que bater no fundo para se voltar a levantar.