CUMPRIU-SE O DESTINO
Esta poderia ser a hora do acerto de contas, a hora de questionar tudo, o momento de deitar mais achas para uma fogueira em que Carlos Queiroz já arde. Não o irei fazer.
Não gosto de ver sangue, e muito menos de bater em quem já está no chão. Ao contrário de outros críticos, a mim nada me move pessoalmente contra Carlos Queiroz, com quem nunca falei, e que, assim de repente, nem me lembro de ver a uma distância menor do que a que vai das bancadas ao banco de suplentes. Nunca me pareceu que tivesse condições para ocupar o cargo (por incapacidade técnico-táctica, e, sobretudo, por questões de carácter psico-motivacional), não mudei de opinião quanto a isso, mas não foi por estar lá ele que Portugal não chegou mais longe num Mundial, onde só na cabeça de alguns sonhadores poderia aspirar aos primeiros lugares.
Portugal perdeu com a Espanha porque a Espanha tem melhor equipa. Muito melhor equipa. Tivesse Queiroz mantido Hugo Almeida em campo, tivesse optado por Pedro Mendes de início, tivesse lançado mão de Deco quando se viu em desvantagem, provavelmente teríamos perdido também. Acresce que o golo sofrido – o único em todo o campeonato – ficou manchado pela ilegalidade, quer a FIFA autorize as repetições, quer não.
Queiroz cometeu erros, manifestou a falta de liderança que lhe tem sido comum em toda a sua carreira, mas a selecção nacional, depois de um apuramento, esse sim, aquém das expectativas, chegou, nesta fase final, até onde era suposto chegar. Cumpriu as exigências mínimas, e pedir-lhe mais seria não ter a noção das suas capacidades actuais.
Particularmente neste jogo, e mau grado um ou dois equívocos na constituição do onze (Ricardo Costa e Pepe talvez não devessem ter alinhado), a estratégia utilizada até às substituições foi aquela que se aconselhava: defender bem, e explorar o contra-ataque. Não era possível jogar de outra forma com a Espanha, e para vencer necessitávamos de um grande Cristiano Ronaldo, capaz de fazer a diferença nas poucas ocasiões que podíamos esperar junto da baliza de Casillas. As substituições são efectivamente difíceis de compreender, mas ninguém pode dizer com honestidade que David Villa tenha marcado o seu golo por Hugo Almeida já não estar em campo.Cristiano Ronaldo queixa-se do seleccionador, Deco também. Independentemente das razões que lhes possam assistir, devem queixar-se primeiro de si próprios, ou melhor, devemos ser nós, portugueses, a queixarmo-nos deles, pois o seu desempenho em campo foi uma nulidade absoluta. Eram justamente os elementos de quem mais se esperava, eram eles, com o seu talento, que poderiam elevar a equipa a uma dimensão superior, mas tanto um como outro passaram ao lado do Mundial – um remetido, com justiça, para o banco de suplentes, outro a passear o seu individualismo e soberba dentro do campo, atitude que, a manter, coloca seriamente em causa a sua utilidade em futuras convocatórias.
Já sem Figo, Rui Costa, Costinha ou Pauleta, com Simão Sabrosa longe da sua melhor forma, com Nani e Bosingwa lesionados, com Pepe em recuperação, com Deco fora-de-jogo, e com um Cristiano Ronaldo a nível quase degradante, exigir que Portugal ultrapassasse o campeão da Europa era exigir o impossível. E em nenhum destes aspectos podemos pedir responsabilidades a Queiroz.
Deste Mundial fica o extraordinário rendimento de Fábio Coentrão e Eduardo (este, para mim, de forma surpreendente), a regularidade dos dois centrais, e as boas prestações de Raul Meireles e Tiago. Ficou também o momento mágico de uma das maiores goleadas da história da competição, um empate com o Brasil, e um único golo sofrido (e em off-side). Como resultado final, ficámos nos melhores 16 do mundo, o que me parece perfeitamente normal, e até lisonjeiro face ao real poderio do nosso futebol. O ranking da FIFA? Esse é que eu não compreendo.