OLHAR EM FRENTE

A inócua derrota de Portugal no terceiro jogo da fase de grupos diante da anfitriã Suiça, provou uma vez mais que as equipas de Scolari, com uma extraordinária força mental sempre que postas sob pressão, vacilam quando o que está em jogo não se lhes afigura suficientemente estimulante – veja-se toda a fase de preparação para o Euro 2004, veja-se o jogo de terceiro e quarto lugar do Mundial da Alemanha, veja-se por fim os últimos jogos particulares antes deste Europeu.
Situando-se no plano psicológico - nomeadamente na capacidade de fazer a equipa reagir perante situações adversas - reconhecidamente a principal virtude do técnico brasileiro, quando o jogo é a feijões parece haver algo que não funciona, quer da parte dos receptores, quer talvez também da parte do emissor. Preparados para, de faca nos dentes, enfrentar jogos de vida ou de morte, os jogadores de Scolari parecem não conseguir baixar os índices de intensidade de forma equilibrada, acabando vergados a prestações fracas e resultados negativos quando lhes falta o suplemento de dramatismo de que necessitam para expandir todas as suas capacidades. Esta é provavelmente uma das razões para o decepcionante desempenho da equipa nacional na noite de ontem, que culminou com uma derrota justa e inapelável, por mais motivos de queixa que tenham existido – e existiram - quanto à arbitragem.
Mas não só no plano motivacional se encontram os motivos desta derrota. Na verdade, é quase impossível ser bem sucedido no futebol de alta competição colocando em campo onze jogadores que nunca haviam jogado juntos, e cujas linguagens futebolísticas careçam de compatibilização. Sem automatismos, sem rotinas colectivas, o conjunto torna-se claramente inferior à soma das onze individualidades, que nesse contexto acabam por ser levadas a procurar em si próprias soluções que o colectivo não é capaz de oferecer.
Não quer isto dizer que não concorde com a poupança de esforços implementada por Scolari. Pelo contrário, aceito perfeitamente que se aposte tudo nos momentos verdadeiramente decisivos, e num fim de época desgastante se permita aos principais trunfos um descanso retemperador. Não entendi até foi porque motivo jogou Paulo Ferreira – que ia acabando expulso -, Pepe e mesmo Ricardo. Mas também não poderei deixar de questionar, se era mesmo necessária a colocação de alguns titulares, porque não manter a dupla de centrais conferindo-lhe mais minutos de mecanização ?
Com todos estes aspectos a pesar no desempenho português, foram ainda assim da selecção nacional as melhores oportunidades de golo durante os primeiros dois terços da partida. Pepe desviou para a barra um poderoso remate de meia-distância, Nani sofreu um penálti e mais tarde atirou uma bola ao poste, Postiga marcou um golo mal anulado e falhou outro de baliza aberta, Quaresma optou por cruzar quando tinha tudo para procurar o golo, entre outros lances de maior ou menor perigo junto da baliza helvética.~
Na ponta final do desafio, Portugal não conseguiu todavia suster o maior ímpeto de uma selecção Suiça fortemente determinada em limpar a imagem deixada nos dois primeiros jogos. Um erro defensivo proporcionou o primeiro golo a Yakin, e pouco depois uma grande penalidade (bem assinalada) fechou as contas da partida.
Se este jogo servia também para aquilatar de que elementos Scolari se poderá socorrer na (s) próxima (s) ronda (s), resultou claro, antes de mais, que o onze base das jornadas anteriores está muito bem formado. Quaresma, com uma bela oportunidade para brilhar, mostrou não estar no seu melhor, Miguel Veloso não se adaptou às funções de médio de transição, Raul Meireles pouco se viu, Postiga foi demasiado perdulário, Miguel foi uma unidade a menos. Salvou-se Nani, no meu ponto de vista o melhor português em campo, mostrando merecer talvez mais algum tempo de utilização nos jogos a doer.
Foi pena, sobretudo para os milhares de emigrantes portugueses na Suiça, que a selecção nacional não tenha podido dar-lhes mais uma alegria, esta seguramente de paladar muito especial. Mas as circunstâncias são o que são, Portugal perdeu e deve apontar todas as suas baterias para o combate da próxima quinta-feira, ao que tudo indica, com a poderosa Alemanha. Aí sim se verá se este Europeu fica ou não a marcar a história do futebol português – uma presença nas meias-finais será um êxito, uma derrota nos quartos nem por isso.

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