JOGOS PARA A ETERNIDADE (12) - Os meus clássicos Benfica-F.C.Porto
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Comecei a ver futebol em 1976. Desde então (nomeadamente desde um F.C.Porto-Benfica 0-1, golo de Chalana), fazendo as contas a todos os Benfica-Portos e Porto-Benficas que se sucederam, cheguei ao bonito e caprichoso número de cem. Foram precisamente cem os clássicos do meu tempo, contando com todas as competições oficiais em que os dois emblemas se encontraram (Campeonato, Taça e Supertaça), não me recordando de um só jogo amigável entre ambos, o que aliás é perfeitamente natural em face de uma rivalidade doentia, alimentada sobretudo pelo presidente portista, mas que tem perpassado para a generalidade dos adeptos de um e outro clube.
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Se a história recente vingar, neste sábado o F.C.Porto empatará na Luz, e levará para o norte os mesmos quatro pontos de vantagem que tem neste momento, dando uma machadada
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Dos jogos que presenciei ao vivo (entre 1987 e a época passada, a cinzento no quadro acima), o Benfica venceu 5, perdeu 3 e registaram-se 10 empates, a maioria dos quais com sabor a derrota. Não é portanto um palmarés muito feliz. Tenho todavia algumas recordações bastante gratas, como a do primeiro clássico a que assisti, naquela que foi a maior enchente de sempre registada em Portugal (140.000 espectadores segundo “A Bola”), e numa temporada em que o F.C.Porto conquistaria o seu primeiro título europeu. O Benfica, vindo de uma humilhante derrota em Alvalade (os célebres 7-1), superiorizou-se categoricamente, vencendo por 3-1 com um hat-trick de Rui Águas, encetando aí a caminhada para o título nacional que viria a conquistar meses depois. Foi o último jogo de futebol a que o meu pai assistiu na sua vida.
Outra das vitórias deu-se em 1993-94, quando um golo de Ailton e outro de Rui Costa, selaram um triunfo que também encaminhou o Benfica de Toni para o título, que viria a conquistar depois dos também célebres 6-3 de Alvalade. Foi o jogo da expulsão de Fernando Couto por agressão a Mozer.
Todas as restantes vitórias que presenciei não valeram títulos, ou melhor, não se verificaram em épocas nas quais o Benfica se tenha sagrado campeão. Um livre de Sabry no tempo de Jupp Heynckes e Vale e Azevedo numa tarde chuvosa de sábado, dois golos de Van Hooijdonk nos 2-1 da época seguinte (a do 6º lugar…), e finalmente o golo solitário de Laurent Robert (frango de Baía…) há duas épocas atrás.
Apesar de ter presenciado duas derrotas que quase valeram o título aos dragões (1991-92 e 2002-03), a mais dramática de todas, aquela que mais me custou a digerir, foi indubitavelmente a de 2004-05, quando a um golo de McCarthy na primeira parte, respondeu o Benfica com um de Petit na segunda, que todavia um tristemente célebre árbitro auxiliar e o seu chefe de equipa Olegário Benquerença decidiram não considerar, mantendo assim o placar em 0-1.
O que resta destas vitórias para um e outro lado, é um conjunto de empates mais ou menos frustrantes, de entre os quais ressaltaria o de 1992-93, com Futre vestido de encarnado, e o da época passada, em que, como se recordarão, caso o Benfica de Fernando Santos tivesse vencido, saltaria para o primeiro lugar da tabela e, “caeteris paribus”, sagrar-se-ia campeão. Ainda no estádio antigo assisti ao meu único Benfica-F.C.Porto para a Taça de Portugal, quando Fernando Santos estava no Porto e Maniche no Benfica. O resultado foi um empate 1-1, que remeteu a eliminatória para as Antas (onde o F.C.Porto venceria 4-0), mas a mim marcou-me principalmente a chuva diluviana que me deixou encharcado, num tempo em que não havia qualquer cobertura nos estádios.
Em redor destes clássicos –ao invés dos derbys lisboetas a que assisti, diga-se - foram surgindo quase sempre alguns episódios de violência, dentro e fora do estádio. No ano passado foram os petardos lançados para cima de adeptos benfiquistas. No ano anterior algumas escaramuças à entrada das claques, o que obrigou a uma correria
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A situação mais complicada que vivi em termos pessoais foi contudo em 1990, quando situado por baixo de uma bancada repleta de portistas, me passaram bem perto das orelhas, moedas, isqueiros e até garrafas de vidro, felizmente sem consequências nem para mim nem para quem estava por perto. Nessa mesma tarde, na zona onde anos mais tarde se ergueria o centro comercial Colombo, vi ainda um adepto do F.C.Porto ser barbaramente espancado por uns oito “benfiquistas”, o que me chocou profundamente também.
Vivi no Estádio da Luz (antigo e novo) dezoito clássicos, recheados de histórias para contar, mas devo confessar que as maiores alegrias que os Benficas-Portos me proporcionaram foram em jogos nos quais, por um ou outro motivo, não pude estar presente. As finais de Taça de 1980, 1981, 1983, 1985 e 2004, todas vencidas pelo Benfica (curiosamente não me recordo de uma final da Taça de Portugal ganha pelo F.C.Porto ao Benfica), foram momentos de grande felicidade,
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Nunca tive oportunidade de assistir a um F.C.Porto-Benfica em território “inimigo”. Guardo contudo na memória – e já aqui o lembrei – o duelo de 1991, no qual o Benfica levou a melhor com dois golos de César Brito, e praticamente conquistou, nessa tarde, o campeonato. Para além desta vitória, para o campeonato apenas recordo a de há dois anos, com dois golos de Nuno Gomes, e a tal de 1976-77, que foi, como disse no inicio, o primeiro confronto entre os
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Para além destes pontuais momentos de alegria, os Portos-Benficas disputados a norte não tiveram, neste período, um historial muito feliz. Derrotas, e mais derrotas, um empate aqui, um empate ali, alguns dos quais, no entanto, bem valiosos em termos classificativos. Mas a mais pesada derrota aconteceu, ironicamente, no Estádio da Luz, quando com Paulo Autuori no banco, um Benfica sem alma e sem talento, se viu derrotado por 0-5 (!) por um F.C.Porto emplogante. Jogava-se para a Supertaça, competição maldita para as cores encarnadas (16 derrotas em 24 jogos com o rival portuense na prova).
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