DOIS HOMENS, DUAS ENTREVISTAS, DUAS ATITUDES

Ontem à mesma hora, RTPN e SIC Notícias em mais uma absurda manifestação de contra-programação (com responsabilidades totais para a segunda, pois aquele é o horário de sempre do “Trio d’Ataque”), levaram à antena entrevistas de fundo com Paulo Bento e Jesualdo Ferreira respectivamente.
Recorrendo ao vídeo não deixei de ver as duas, e o contraste foi total.
Enquanto o jovem técnico Paulo Bento dissecou a época dos leões com uma clareza de discurso notável, sem lamentos nem evasivas, com firmeza mas também com educação e elevação, o veterano treinador portista aproveitou a ocasião para se queixar de tudo e todos, disparar em várias direcções (adversários, árbitros, imprensa), mais parecendo necessitar de ajustar contas com um mundo que julga ver persegui-lo. Quem não soubesse, nunca diria tratar-se do campeão nacional.
Esta triste aparição de Jesualdo Ferreira leva-me àquilo que tem sido o discurso portista desta e doutras épocas, e que o técnico parece ter interiorizado na totalidade, não se apercebendo do ridículo da sua figura de “cristão novo” em território de almas fanatizadas.
O F.C.Porto de Pinto da Costa sempre procurou fazer a sua afirmação de poder encontrando inimigos externos que, como qualquer tratado militar indica, contribuíssem para a unidade interna. A matriz identitária do povo do norte – de sangue na guelra, facilmente fanatizável, sempre disposto a combater por qualquer coisa, algo que não é possível encontrar, por exemplo, em Lisboa – era a parceira ideal para esta estratégia. A “lavagem cerebral” a jogadores e técnicos induziria neles esta atitude guerreira, hostil e arrogante que se traduzia numa extrema combatividade no relvado, e daí em vitórias e títulos, isto sem chamar para aqui outros aspectos paralelos e de não menos importante contribuição para o percurso portista das últimas décadas.
Esta estratégia, na mesma medida em que contribuiu para uma enorme força interna, originou também uma generalizada hostilidade no país desportivo e no país, eu diria, civil. Só assim se compreende que um clube com as conquistas nacionais e internacionais do F.C.Porto continue cingido a uma base de adeptos bastante limitada em termos geográficos – pois ainda que a sua representatividade tenha crescido no sul do país, esta continua a ser globalmente a realidade, sobretudo se comparada com Benfica e Sporting,
Ora não se pode pretender ter “sol na eira e chuva no nabal”. Se o F.C.Porto pretende unir às suas forças à custa do confronto e do conflito, não pode depois esperar que adversários, comunicação social e outros agentes lhe devotem qualquer espécie de simpatia, e que se regozijem com os seus êxitos, depois de passarem uma, duas, e muitas épocas a serem constantemente atacados e ofendidos de forma cínica e arrogante, ainda que por vezes apenas reflectora de uma mentalidade profundamente provinciana e menor.
Pinto da Costa entende perfeitamente essa realidade, e nunca se incomodou nada com ela até ver o seu nome ligado à corrupção desportiva. Jesualdo talvez ainda não a tenha percebido em todos os seus contornos, e daí a sua pretensa indignação – faço ao professor a justiça de não o considerar hipócrita na sua análise.
Foi assim penoso ver o técnico queixar-se da imprensa – que não dava o mesmo realce às vitórias portistas, o que é perfeitamente natural pois afinal é a voz do país, e este não se revê manifestamente nos métodos portistas -, da arbitragem – que não beneficiou tanto o F.C.Porto como todos estávamos habituados, mas também não se pode dizer que o tenha prejudicado – e de sei lá mais quem, num discurso redondo, triste, rancoroso e antipático, que em nada contribuiu para melhorar a (fraca) imagem de Jesualdo como profissional de topo.
Jesualdo não percebeu também ainda que foi campeão à boleia de um plantel riquíssimo e com um cultura de vitória perfeitamente assimilada, à qual ele pouco ou nada acrescentou até chegar a um título que, mesmo assim, acabou por ser bastante sofrido, e para alguns até imerecido.
Não sei qual é a ideia que os portistas têm deste treinador, mas suponho que também não seja isenta de grandes reservas. Se há casos em que não se pode agradar a todos, outros há em que se parece não agradar a ninguém. Assim se chega aos 60 anos sem nada ganhar.

2 comentários:

Anónimo disse...

LF

É claro que a maioria dos adeptos do fcp, não gostam do Prof. Jesualdo Ferreira, pois este foi durante muito tempo, treinador do Benfica

É claro também, que alguns portistas, têm a suficiente clareza de ideias, para ver que o fcp, tinha um orçamento muito elevado, quase o dobro dos outros grandes e um ponto para o SCP e dois para o Benfica, era muito pouco para o desnivel orçamental dos três grandes

Da-me a ideia, que estão a aparecer dentro do fcp, vozes discordantes da gerencia do pinto da costa, o Miguel Sousa Tavares, um portista ferrenho, deixou no ar a preocupação de muitos acionistas, com as dividas da SAD do fcp, o Rui Moreira, também já tinha falado disso

Aceito que alguns estão neste momento a afastar-se do pinto da costa, por causa do apito dourado, fazendo crer que estão contra este tipo de falcatruas

O fcp, por muito que ganhe, titulos nacionais e internacionais, será sempre um clube de uma região ( Porto ), porque no restante norte, o Benfica e o Sporting têm mais adeptos

Em relação ao Paulo Bento, gostei da entrevista, demonstrou que é um grande profissional, preparando muito bem o que deveria dizer, depois demonstrou a sua força como responsavel técnico, quando se falou do Carlos Martins e finalmente deixou marcado a sua humildade quando falou, que trabalha com os jogadores que a SAD do sporting lhe dá e que não tem problemas de treinar um clube de menor dimenção, depois de treinar um grande

Anónimo disse...

"figura de “cristão novo” em território de almas fanatizadas"

muito bem.
eles transformam-se assim que lá chegam!