DECIDIDO AO CENTÍMETRO
Num Mundial pautado pelo equilíbrio e pelo rigor defensivo, e particularmente numa final entre dois intervenientes que se haviam evidenciado justamente pela forma como souberam interpretar essa nova tendência do futebol actual, não era de esperar um espectáculo de jogo ofensivo, com muito espaço e oportunidades de marcar.
Não surpreende por isso, que o título mundial tenha sido decidido por uns centímetros de barra a mais, que impediram o tiro de Trezeguet de entrar na baliza do extraordinário Buffon no sempre dramático desempate por pontapés da marca de grande penalidade.
Nos primeiros vinte minutos da final de Berlim, até se pensou vir a ser possível assistirmos a uma final empolgante de futebol de ataque e golos. O prematuro golo de Zidane, na transformação de uma grande penalidade discutível, obrigou os italianos a abrirem as portas do seu jogo e, sobretudo através do aventureirismo atacante dos seus laterais, procurarem o golo que lhes desse a tranquilidade do empate. Conseguiram-no num lance de bola parada, deixando a nu as fragilidades da França quando posta perante altos cabeceadores no coração da sua defesa – algo que Portugal não tem, e muita falta lhe fez nas meias-finais.
Até final da primeira parte o jogo foi repartido, embora a Itália parecesse sempre mais empenhada em arriscar acções ofensivas com vários elementos e, mormente em lances de jogo aéreo, acabasse por estar mais próxima de marcar.
Na segunda parte o jogo mudou de feição. Com a subida dos laterais franceses, Grosso e Zambrotta foram obrigados a recuar no terreno (ou terão sido ordens de Lippi ?), e a bola passou a circular mais tempo pelo meio campo transalpino. Os gauleses forçaram então o ataque, sobretudo através de acções de Zidane e Henry, mas a intratável defesa italiana foi resolvendo todos os problemas que se lhe depararam. Todos sabemos como a Itália se sente confortável a jogar sem bola e remetida a um feroz e rigoroso posicionamento defensivo, mas como se isso não bastasse, conta na sua excelente linha defensiva com um Cannavaro em super-forma e, atrás de si, tem o melhor guarda-redes do mundo.
Assim sendo, o jogo perdeu audácia - nunca intensidade - e o espectáculo foi-se transformando naquilo que a sua natureza anunciava: um típico jogo de Mundial, disputado como se o relvado se transformasse numa folha de papel quadriculado, com cada centímetro rigorosamente vigiado e disputado como se disso dependesse uma vida, sobretudo os situados perto das balizas, e consequentemente uma quase total ausência de lances de perigo.
Sem querer precipitar-me numa análise mais global daquilo que nos legou este Mundial 2006 – que fica desde já prometida para os próximos dias -, diria apenas que divido cada vez mais os jogos de futebol entre aqueles que me prendem e os que não o conseguem fazer. Este pertenceu ao grupo dos primeiros – à semelhança aliás da generalidade dos jogos deste torneio -, pelo que considero ter-se tratado de uma boa final (e de um bom Mundial). Foi um jogo intenso, disputado, equilibrado, com bons momentos de futebol, e onde as duas equipas tentaram, com grande categoria e disponibilidade, tudo o que lhes foi possível para se tornarem campeãs do mundo, e a verdade é que, ainda assim, no global dos cento e vinte minutos, até acabou por ter oportunidades, bolas na trave, grandes defesas e golos. Por o que ontem se passou, qualquer vencedor seria justo, mas atendendo ao que foi todo o campeonato, desde a primeira fase, talvez possamos concluir que este título assenta melhor à Itália.
Em termos individuais gostaria de destacar nos transalpinos o já falado Cannavaro, o também já referido Buffon, para além dos incansáveis Zambrotta e Gattuso. Pirlo esteve bem, como sempre, e Materazzi marcou o golo, “expulsou” Zidane e esteve muito seguro ao longo de toda a partida. Na França gostei bastante da actuação de Malouda, e Makelele também esteve ao seu nível. Zidane estava a fazer um jogo de grande classe, a garantir com tranquilidade o trofeu para o melhor jogador do campeonato, quando de súbito lhe terá passado algo pela cabeça que ainda não consegui compreender, sobretudo tratando-se de um jogador calmo e de grande experiência, que disputava ali os últimos minutos de uma brilhante carreira.
Choram os franceses, rejubilam os italianos. É assim o futebol.
7 comentários:
Ganhou aquela que eu queria, mas só quem não sabe ver futebol é que pode achar que a Itália o mereceu. A França, após a 1ª parte, foi de longe a melhor equipa...
Esta do Zidane após uma agressaõ brutal ser consideado pela FIFA o melhor jogador do torneio não dá para entender... onde é que fica o fair play?
Eu, ao contrário da maioria dos portugueses, preferia ver a França campeã do mundo.
Um dos motivos era Zidane, pelo que a decepção foi dupla, não lhe perdoando, enquanto admirador seu, a forma estúpida como se despediu do futebol.
Não gosto do técnico francês (quem gosta ?), mas parece-me um erro confundi-lo com o povo francês e com a nação francesa, que é, a muitos títulos, admirável.
No jogo de ontem a França atacou mais, é verdade. Mas no Mundial inteiro, a Itália mostrou um futebol de grande qualidade desde o início, enquanto os franceses só apareceram nalguns momentos.
Nesse sentido disse que a Itália seria talvez um mais justo campeão.
De qualquer modo, o equilíbrio foi grande, e entre as seis ou sete melhores equipas, as diferenças foram meros detalhes de jogo. Ontem foi uma bola na barra...
Realmente é absurda a nomeação de Zidane depois de uma atitude daquelas numa final.
A mesma Fifa que retirou a Cristiano Ronaldo o prémio de jogador jovem em nome do fair-play, por ele, alegadamente, ter simulado um penálti ou pedido um cartão vermelho para um agressor, dá agora mostras de um critério diametralmente oposto nesta nomeação.
Conforme já disse neste espaço, estou-me absolutamente borrifando para as noemações da Fifa, às quais não reconheço qualquer valor desportivo.
Aliás neste Mundial, o presidente da Fifa deixou cair a sua máscara de hipocrisia aquando do Portugal-Holanda, ao dizer num dia o que desdisse no dia seguinte.
O futebol para mim são jogadores e técnicos. O resto...
Esse tipo de futebol sem pressão, honesto e do jogo pelo jogo, só quando arranja um grupo de amigos e vai jogar, para um campo qualquer, pelado e sem marcações e no fim todos juntos, bebem uns copos e falam das jogadas e dos golos, marcados e falhados, este é o verdadeiro futebol, quando começa a haver dinheiro, está tudo estragado
SAUDAÇÕES DESPORTIVAS
Eu também gosto da componente estratégica do jogo.
Nos jogos entre amigos também há estratégia e táctica, não é necessário ser todos ao molho e fé em Deus
O LF estava a falar da FIFA e dos seus feitos, a favor de uns e em prejuízo de outros,é lógico que Itália foi vencedora, logo o melhor tinha de ser Francês, para ficarem ambos contentes, e quem tinha de ser ? só podia ser o Zidane mesmo com cartão vermelho resultante de uma agressão
Não é só em Portugal, que se fazem falcatruas
SAUDAÇÕES DESPORTIVAS
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