OLHE QUE NÃO ! OLHE QUE NÃO !

Enquanto várias vozes se ouvem clamando contra o acompanhamento, no seu entender excessivo, que a comunicação social do nosso país e os portugueses em geral têm dispensado ao mundial de futebol, eis que surge um estudo de um organismo internacional, de que o “Público” faz eco no passado sábado, que demonstra serem justamente os portugueses, de entre o extenso lote de países investigados, aqueles que menos acompanham os jogos do mundial, nomeadamente aqueles em que não intervém a selecção nacional (nesses, os números aproximam-se mais da “normalidade”). Portugal figura inclusivamente atrás de países como a Roménia, Grécia ou Hungria, que nem sequer têm as suas selecções envolvidas na competição.
À partida, estes dados – mesmo tendo em conta que alguns dos países dispõem dos jogos em sinal aberto - podem parecer surpreendentes, mas uma observação mais atenta permite identificar alguns aspectos capazes de, de algum modo, os justificar.
Em primeiro lugar, não me parece que sejam exclusivamente os chamados intelectuais a aviltar o futebol. É claro que também existe no meio intelectual (mais precisamente em seu redor) algum snobismo, que despreza tudo o que envolva manifestações de massas, quer se trate de futebol ou de outra coisa qualquer, não entendendo que uma correcta percepção do mundo e da humanidade passa também por esses aspectos, sobretudo tratando-se de um dos mais significativos fenómenos lúdicos universais da história da humanidade, como é inquestionavelmente o futebol. Esse intelectualismo snob e elitista faz, diga-se, muito pouca falta ao país e ao mundo.
Grande parte das opiniões, a que chamaria por simplificação "anti-futebol", ouvem-se contudo na rua, no café, no emprego, e provêm de pessoas cuja perspectiva demasiado utilitarista da vida não lhes permite interpretar quaisquer signos que não representem, de forma imediata ou não, directa ou indirecta, a entrada ou saída de dinheiro das suas carteiras. Tudo o que não permite ganhar dinheiro, ou não custe dinheiro, não é importante, e como tal, o futebol, ainda que capaz de edificar à sua volta todo um manancial de identidades e representatividades paralelas, não passa de um fenómeno menor. Estes “críticos” são em muitos casos os mesmos que acham que ler um livro, ver um bom filme, ou ouvir boa música, não passa de uma perda de tempo (ao fim e ao cabo ninguém nos paga para isso, não é ?). Serão também pessoas cujo pouco interesse por fenómenos de carácter internacional, ou fora do âmbito do seu quotidiano mais próximo, nem permite provavelmente saber quem é a chanceler alemã, ou o primeiro ministro de Itália, pelo que para eles também o Mundial de futebol, selecção nacional à parte, surge como algo longínquo e desinteressante, que importa acompanhar minimamente, mas ao qual não se deve dar muita importância.
Mas perante estes números, certamente que também de entre universo dos ditos adeptos do desporto-rei, se encontram muitos dos portugueses que deixam os jogos do Mundial de fora do seu quotidiano. Como é isso possível ?
A resposta é simples: os portugueses adoram os seus clubes, vivem-nos com paixão, gostam de criticar as arbitragens, de discutir os casos polémicos, de dizer mal da equipa rival quando ganham, de dizer mal da sua quando perdem, até são capazes de pendurar a bandeirinha na janela, mas no fundo, lá bem no fundo, acham o futebol, enquanto espectáculo, uma chatice.
Não é de agora que tenho esta opinião, e basta verificar o nível de assistências nos estádios portugueses para confirmar o que digo. Seria curioso até que alguém investigasse quantas pessoas se deslocam a um estádio para ver um jogo que não seja do seu clube, e apenas motivado pelo espectáculo.
Outro dado curioso do estudo revelado pelo “Público” é o número crescente de mulheres que se interessa pelo jogo (nos jogos de Portugal, 48,1 % da audiência é feminina), o que pode aliás ser facilmente confirmado por qualquer pessoa que frequente regularmente os estádios (pelo menos na Luz, onde eu naturalmente mais vou, o numero de mulheres tem crescido, a olhos vistos, sensivelmente de há uns cinco anos para cá, mas sobretudo depois do Euro-2004), e não deixa de ser um sinal claramente positivo para o espectáculo do futebol.
Longe vão pois os tempos em que o futebol era entendido como um espaço exclusivo dos homens. A este propósito, e para terminar, não resisto a partilhar uma de entre as muitas recordações proporcionadas pelos três anos que tive oportunidade de trabalhar na pequena aldeia alentejana de Álcáçovas, e bem elucidativo de como o futebol era entendido. Diziam-me então as raparigas da terra, quando se referiam a alguém cuja masculinidade elas não apreciavam “Fulano? Hum..., nan gosta de bola nen nada...”.

PS 1: Ainda sobre a comunicação social e o impacto do Mundial na mesma, por vezes tão criticado em Portugal - mau grado o espaço ocupado não ser propriamente retirado à ópera, à pintura ou à literatura, mas sim a outros campos do entretenimento, por vezes bastante pobres -, tenho tido o cuidado de espreitar as primeiras páginas de vários jornais europeus (ingleses, alemães, espanhóis ou italianos) e tenho verificado que o destaque dado ao futebol é similar. Portanto, ou os outros são tão “subdesenvolvidos” como nós, ou o “subdesenvolvimento” está na cabeça de alguns bem pensantes cidadãos desta pátria.

5 comentários:

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