A minha admiração por Cristiano Ronaldo sempre foi meramente
futebolística. Acho-o (quem não acha?) um dos melhores jogadores de todos os
tempos, e sinto-me privilegiado por ter podido vê-lo jogar muitas vezes – ao contrário
de Pelé, Di Stefano ou Eusébio. Agradeço-lhe, também, tudo o que tem feito na
Selecção Nacional, onde construiu um palmarés único. As opiniões de quem com
ele já trabalhou convergem em tratar-se de um excelente profissional, empenhado
e determinado.
Como figura pública (pessoalmente não o conheço) nunca morri de amores
por ele. Não esqueço o Benfica-Manchester United de 2005, e também não gosto de
ver alguém exibir 14 automóveis num documentário sobre si próprio. Acho-o
superficial, materialista, imaturo e pouco polido para alguém com a sua
experiência de vida. As origens não explicam tudo, sobretudo para quem leva
mais de uma década a viver em diferentes países, a conviver com as mais altas
figuras, e a frequentar os locais mais requintados. Gostava de lhe ver, por
exemplo, uma maior preocupação social. Gostava de lhe ouvir qualquer coisa
quando fala. Gostava que assumisse a condição de grande figura nacional que
inegavelmente é – há pouco tempo estive na Índia, e mesmo sem se tratar de um
país de futebol, era o único português que conheciam. Enfim, acho-o demasiado “pop-star” para quem tem o seu estatuto, para quem carrega todo um país às suas costas, para quem tem tanta responsabilidade social, até pelo exemplo que dá a crianças
e jovens do mundo inteiro.
Esta menor simpatia, digamos assim, deixa-me à vontade para o apoiar
nesta manobra mediática e oportunista de que está a ser vítima.
Antes de mais, porque entendo que comparar violações como as de
Telheiras há uns anos atrás (infelizmente, o que não falta são outros exemplos)
a esta ocorrência, será como comparar um homicídio a uma bofetada. E comparar
as situações acaba por relativizar as que, a meu ver, são manifestamente mais
graves, absolutamente intoleráveis, e que devem ser impiedosamente punidas.
O movimento “#Me Too” enquadra-se num puritanismo radical que está a
tomar conta da sociedade norte-americana, e, por arrasto, do mundo ocidental (e em Portugal, paradoxalmente, encontra eco numa certa elite "bairro-altista").
Tenho muitas dúvidas sobre tudo o que lhe deu origem, e acho que o feminismo
tem hoje muito trabalho a fazer, mas em países como a Arábia Saudita, o Irão, o
Afeganistão, a própria Índia, ou, por exemplo, no seio da comunidade cigana, e
não em sociedades onde as mulheres já têm todos os seus direitos e ainda alguns
privilégios (como o de um sistema de ensino que até as favorece, e que com
elas enche as universidades).
Sempre respeitei (em muitos dos casos com admiração e afecto), e respeitarei, todas as mulheres que familiar,
profissional ou pessoalmente se cruzaram comigo ao longo da vida. Tenho uma
filha. Mas entendo que muito do feminismo dos dias de hoje não pretende
igualdade de direitos, mas sim igualdade de comportamentos. Pretende
homogeneizar homens e mulheres, e diluí-los numa amálgama hermafrodita que tende
a acabar com a sedução e com o sexo. E para isso não estou virado.
Não me comovo com mulheres que aproveitaram várias camas para subir na
vida, e agora, do alto da sua fortuna, se vingam daqueles de quem se serviram.
Creio ser o caso de algumas das actrizes de Hollywood envolvidas no dito movimento. E acho espantoso que a mesma sociedade americana que demonstra uma total indiferença face às desigualdades sociais ou aos problemas ambientais, quer nos EUA, quer no resto do mundo, se curve tanto perante estes assuntos de... vagina.
O caso Cristiano Ronaldo encaixa nesta conjuntura e neste movimento, capaz
de crucificar como perigoso criminoso alguém que em 1988, com 16 ou 17 anos, no fim de uma noite de
copos apalpou o rabo de uma senhora, e capaz de arrasar figuras como Kevin
Spacey ou Woody Allen.
Se Ronaldo vai ter problemas, vai. Se merece, não creio.
Não estava no quarto daquele hotel, nem há, felizmente, vídeos sobre o
acontecimento. Mas uma senhora que se despe e se mete na cama com um indivíduo,
não tendo obviamente que se sujeitar a todos os seus caprichos, deverá estar preparada para gostar, ou não gostar, do que se venha a passar a
seguir. Lamentavelmente (como toda a gente sabe) nem todas as relações sexuais são igualmente gratificantes. A avaliar pelos relatos do "Der
Spiegel", CR7 terá sido inconveniente, terá sido inábil, terá sido bruto, terá
sido... uma besta. Mas não me parece que seja um criminoso. Se a senhora não gostou, paciência, não repita, procure alguém que a saiba tratar mais a seu gosto. Tendo diante de si uma oportunidade de explorar o caso, terá
aproveitado para exigir dinheiro, muito dinheiro, pelo seu silêncio. Ronaldo,
talvez até para evitar o escândalo, pagou.
Agora, empurrada pelo impacto do referido movimento, e por um advogado
oportunista, achou que podia cobrar mais. Também não me comove.
Neste caso, estou a 100% com Ronaldo.