PRAGMATISMO
Não tivesse eu visto o dérbi com os meus próprios
olhos, e a julgar pelos comentários que ouvi e li – alguns dos quais, pela voz e
pela pena de distintos benfiquistas –, seria levado a pensar que o Benfica fora
massacrado, que o Sporting criara dúzias de oportunidades de golo, e que o
resultado justo teria sido uma goleada a favor dos nossos rivais.
A realidade é bem diferente. Assistiu-se a uma
partida tacticamente amarrada, na qual as defesas se superiorizaram aos ataques.
A iniciativa de jogo foi, naturalmente, da equipa que mais precisava de ganhar.
O Benfica, a quem o empate não inquietava, jogou com as cautelas que o
pragmatismo aconselha. Podia ter tido o azar de perder com um erro nos últimos
minutos, na segunda oportunidade criada pelo Sporting. Teve a sorte de empatar
nos últimos segundos, na segunda oportunidade que criou. Com tão poucos lances
de perigo junto das balizas, diria que o resultado normal teria sido 0-0. Os
golos apimentaram a noite, trazendo, eles sim, sensações de angústia e de
euforia que iludem a racionalidade, e enviesam as análises.
Teria o Benfica alguma coisa a ganhar mostrando
outra ousadia? Não sei. Na casa de um adversário altamente moralizado, não era
prudente entrar em campo com a petulância dos fanfarrões. Prefiro que outros se
queixem da nossa sorte, do que sermos nós a queixar-nos do azar.
As críticas mais simplistas à estratégia de Jesus –
que também fizeram eco na família benfiquista – ignoram dois aspectos essenciais.
O primeiro é que jogar bem, jogar bonito e jogar ao ataque não são
necessariamente sinónimos. O segundo é que o Benfica não tem hoje os argumentos
técnicos de que dispunha nas últimas temporadas.
Sim, acredito que seremos campeões. Mas com uma
banda sonora diferente da música que tocavam Aimar, Saviola e Di Maria, ou,
mais tarde, Matic, Enzo e Markovic. Agora o caminho tem de ser outro. E desde
que nos leve ao Marquês (onde, aí sim, haverá espectáculo), não vai ser um
trinco a mais que nos fará festejar a menos.