De forma tão sucinta quanto possível, deixo aqui alguns tópicos sobre os temas que as férias deixaram para trás.
FUTEBOL: De um modo geral, vivi o início de época futebolística com bastante distanciamento, para não dizer indiferença. Os efeitos de uma temporada excepcionalmente traumática, o cepticismo resultante da verificação de que muita coisa continua na mesma (dentro e fora dos campos), e algum cansaço pessoal, fizeram com que visse muito pouco futebol durante estas semanas, pelo menos face àquilo que era hábito no passado.
Para que se saiba do que estou a falar, direi que, no último mês, vi, na televisão, o Gil Vicente-Benfica, o Twente-Benfica, o Benfica-Twente, dois terços do Benfica-Feirense, parte da meia-final e uma gravação da final dos sub-20, e resumos avulso das primeiras jornadas do campeonato. Ao vivo, vi o Benfica-Arsenal (única vez que entrei num estádio desde o Sp.Braga-Benfica da Liga Europa), e apenas porque fui convidado pela Benfica TV para uma emissão relativa a essa partida. De resto, mais nada, nem jogos de FC Porto ou Sporting, nem Selecção, nem supertaças, nem particulares, nem a eliminatória com o Trabzonspor, nem ligas estrangeiras, nem Liga Europa, nem Brasileirão, nem Copa América, nem nada.
Devo dizer, no entanto, que a categórica vitória do Benfica frente à equipa holandesa me devolveu ao futebol, e a minha motivação para a nova temporada voltou a índices aceitáveis, ainda que sem atingir os valores normais para esta altura do ano.
CICLISMO: Como não posso passar sem competição desportiva (é mesmo uma doença…), o Ciclismo fez as vezes do futebol, e foi ele que, com a Volta a França - que tive oportunidade de ver ao vivo, nos Campos Elísios -, com a Volta a Portugal, e já nos últimos dias, com a Volta à Espanha, preencheu intensamente este período.
"Vedeta da Bola" é dedicado ao futebol, e não penso transformá-lo. Mas com o passar dos anos, e apesar dos sucessivos casos de doping, e do crescente tacticismo das corridas, devo confessar que o Ciclismo tem crescido cá em casa, quase ao ponto de rivalizar com a paixão futebolística. No Verão, tem mesmo levado vantagem. No Inverno hibernará, como é hábito.
SUB20: Sem esperar, e quase sem me aperceber (como, creio, muitos portugueses), dei com a selecção nacional de sub-20 nas meias-finais do Mundial. Vi, como disse acima, parte do Portugal-França, e depois a gravação da final - pois isso de ficar acordado entre as 2.00 e as 5.00 da manhã já não é coisa para a minha idade, e só se faz em circunstâncias particularmente justificativas.
Do que vi, realço uma selecção muito rigorosa tacticamente, com maturidade apreciável, bem orientada, mas sem prometer muitos craques para o futuro próximo do futebol português (leia-se, Selecção A, e clubes grandes). À excepção de Mika (contratação muito feliz do Benfica), mais nenhum jogador me encheu as medidas, nem mesmo o Nelson Oliveira, que, apesar de talentoso, e da margem de progressão que (como os restantes) obviamente tem, está ainda muito longe do patamar físico que um avançado de uma equipa grande tem necessariamente de ostentar. É um jogador que sigo com simpatia desde os Juvenis, mas devo dizer que já me impressionou mais. Se a sua evolução atlética acompanhar o amadurecimento técnico e táctico, podemos, de facto, ter ali um grande ponta-de-lança. Se assim não for, a habilidade não chegará para fazer carreira no Benfica, numa posição onde a força e a resistência são fundamentais. Bem sei que tem 20 anos, mas digo isto olhando, por exemplo, para jogadores de outras equipas presentes na prova, ou para os índices atléticos de um Rui Costa ou de um Luís Figo há vinte anos atrás.
MERCADO: Sobre este tema nunca será demais repetir que acho totalmente absurda a data limite para transferências de jogadores. Não sei a quem serve, nem quem defende esta calendarização, pois aparentemente todos os clubes a criticam. Mas no caso de não ser possível alterá-la, creio que seria pertinente que a nossa Liga ponderasse a ideia de apontar o início do campeonato para o primeiro fim-de-semana de Setembro, de modo a evitar toda esta nefasta indecisão. Há equipas que já realizaram seis jogos oficiais, e os plantéis ainda não estão fechados. Se isto cabe na cabeça de alguém, na minha certamente que não.
Quanto às transferências propriamente ditas, o mercado trouxe, nestes dias, duas notícias de relevo: a venda de Falcão, e o empréstimo de Carlos Martins.
No primeiro caso trata-se de um negócio excepcional para o FC Porto. Vender um jogador, nos dias que correm, por mais de 40 milhões de euros, já é algo assinalável. Fazê-lo depois de renovar um contrato que tinha como cláusula de rescisão 30 milhões, é de mestre.
Para mim, enquanto benfiquista, também foi bom. Vejo-me livre de um excepcional jogador de um clube rival, e quanto ao dinheiro, nunca se sabe muito bem aos bolsos de quem irá ele parar, pelo que acredito que o FC Porto dele não beneficie tanto quanto à primeira vista possa parecer.
Sem quase se dar por isso, e em parâmetros totalmente diferentes, o Benfica cedeu, também para a Liga Espanhola, o número dez da selecção nacional. Tapado por Aimar e Witsel no onze, com perspectivas de ver diminuir o seu tempo de utilização, Martins terá pretendido sair, de modo a garantir presença na equipa das quinas para o Euro 2012. Se foi esse o caso, duvido que tenha feito bem, pois a visibilidade do Granada é diminuta. Se foi o Benfica que se quis livrar de um jogador representado por Paulo Barbosa, aceito a decisão, e remeto-a para o campo dos assuntos que não domino, e por isso não comento. Se foi somente uma decisão técnica, já terei mais dúvidas em concordar.
Não deixa de ser curioso que Jorge Jesus, em pouco tempo, se tenha livrado de Quim, Moreira, Luís Filipe, Fábio Coentrão (este, naturalmente, um caso diferente), Jorge Ribeiro, Carlos Martins e Nuno Gomes, jogadores com muita coisa em comum. Limpeza de balneário?
LUISÃO: Tenho uma visão cada vez mais pragmática dos jogadores de futebol, e dos seus confessados (mais do que sentidos) amores pelas respectivas entidades patronais.
Cada um deles, no âmbito da profissão que desempenha, faz por governar a sua vida (como eu, ou a maioria dos caríssimos leitores, fazemos quotidianamente), e não é por isso que deixo de os respeitar, ou de achar que eles ainda são o melhor que o mundo do futebol nos oferece (e disso tenho poucas dúvidas). O que deles espero é somente que cumpram o seu dia a dia profissional com respeito pelo dinheiro que ganham, e deixem tudo em campo na defesa do emblema que, mesmo conjunturalmente, representam. Espero trabalho, rigor, profissionalismo, disciplina e entrega. O amor é coisa para os adeptos.
Luisão é um profissional como todos os outros, e perante uma proposta aliciante pensará da mesma forma que qualquer pessoa comum, em qualquer ramo de actividade. Sabendo-se a importância do seu desempenho, cabe à entidade patronal encontrar formas de o motivar a ficar, extraindo dele o máximo rendimento, sem romantismos, ou pruridos morais.
O futebol profissional é uma indústria, e temos de perceber que, por muito que os idolatremos, os jogadores são homens, que têm famílias, e sabem que terão apenas alguns anos para preparar todo o resto das suas vidas. Não me choca, pois, qualquer declaração que, sem hipocrisias, vá de encontro a esta realidade. O que espero de Luisão, como de todos os outros jogadores, são bons desempenhos em campo, uma atitude profissional irrepreensível, e não declarações de amor eterno que sabemos serem sempre, necessariamente, superficiais.
CARDOZO: Já aqui trouxe várias vezes o tema. Não sei como alguem assobia um jogador que marca mais de 100 golos em 4 anos, e que é, inegavelmente, o melhor ponta-de-lança que passou pelo Benfica nos últimos 15 anos. Aqueles que o fazem (na minha perspectiva, uma sonora minoria), não percebem qual o papel de um ponta-de-lança no futebol, não percebem os principais fundamentos do jogo, não ajudam o seu clube, nem creio que sejam bons benfiquistas. Tenho dito.
SPORTING: Já confessei não ter visto qualquer jogo do Sporting, mas de uma equipa reforçada com nomes como Jeffren, Schaars, Capel ou Rodriguez, seria natural que se esperassem outros resultados. Acontece que no futebol não existem milagres, e não é possível reconstruir, de um dia para outro, toda uma equipa – para mais vinda de uma depressão profunda, e submersa numa cultura perdedora.
Domingos Paciência notabilizou-se no Sp.Braga com um futebol extremamente calculista, defensivo, por vezes enfadonho, mas cinicamente eficaz. Neste sentido, terá já trazido ao Sporting um maior rigor nas movimentações defensivas, atestado pelos poucos golos sofridos. Faltará trabalhar a construção ofensiva, plano onde a matéria-prima (designadamente na frente de ataque) não é tão abundante.
A propósito. O quanto eles não dariam para ter um Cardozito…
ÁRBITRAGEM: A classificação real está de volta (os dados das primeiras jornadas estão devidamente recolhidos), e merecerá um texto específico, provavelmente na próxima semana, e após a terceira jornada. Aqui refiro-me sobretudo ao caso Sporting-João Ferreira.
É tradicional a particular animosidade do Sporting perante os árbitros. Quem vá com frequência a Alvalade, e compare com o que se passa noutros estádios (por exemplo na Luz) notará uma diferença substancial. Os adeptos do Sporting, ao mínimo lance dividido, à mínima queda a meio-campo, à mais pequena suspeita de erro, protestam de forma extremamente enérgica, como se só eles fossem vítimas de erros, e como se todos os erros fossem no sentido de os penalizar.
Tenho para mim algo muito simples: todos os clubes portugueses são prejudicados e beneficiados, conforme as ocasiões, conforme as temporadas, havendo um, e apenas um, que - esse sim - nunca é prejudicado. Falo naturalmente do FC Porto, cujos erros em desfavor, nos últimos anos, se contam pelos dedos de uma mão, e cujos lances de dúvida são invariavelmente decididos a favor – sobretudo nas provas, e nos momentos, mais relevantes das temporadas.
Ora o grande equívoco do Sporting tem sido precisamente ignorar esta realidade, não a percebendo, ou não a querendo perceber. Levado por uma doentia rivalidade com o Benfica, tem disparado as suas críticas, as suas contestações, e as suas lamentações, sistematicamente de forma desfocada face ao alvo certo. Assim, o clube de Alvalade passou ao lado do Apito Dourado, desperdiçando, com o seu silêncio, com a sua inacção (que deixou o Benfica muitas vezes sozinho perante um combate inglório), as oportunidades de realmente mudar alguma coisa no futebol português. Tal como eu na altura previ, acabou por ser justamente o Sporting (para além, naturalmente, do próprio futebol) o principal prejudicado por essa atitude negligente, de que a direcção de Filipe Soares Franco terá sido o maior paradigma.
Quero acreditar que Godinho Lopes e Luís Duque tenham trazido outro tipo de postura, e nessa medida julgo que seria de aproveitar a ocasião para estabelecer pontes com o Benfica, e com outros clubes (V.Guimarães, Marítimo, P.Ferreira, Rio Ave, Beira Mar, Olhanense, etc) no sentido de varrer de vez os podres que a arbitragem portuguesa carrega. Há que eliminar os Benquerenças e os Xistras (e uma série de fiscais-de-linha anónimos, mas não menos influentes), que, mais do que qualquer presidente de Liga, qualquer comissão de arbitragem, ou qualquer poder federativo, agem a seu bel-prazer dentro dos campos, com as consequências que todos podemos ver semana a semana. Pelo que acabei de dizer, não seria coerente se não expressasse alguma solidariedade para com os leões, mesmo tendo em conta que João Ferreira será, porventura, dos árbitros menos conotados com a máfia reinante.