CLASSIFICAÇÃO REAL

Como já é tradição, VEDETA DA BOLA vai analisar semanalmente os casos de arbitragem dos três principais clubes na Liga Portuguesa.

Decorridas três jornadas, há que ser preciso e conciso. Vamos a isto:


1ª Jornada

GIL VICENTE-BENFICA – Muito se reclamou de um fora-de-jogo no golo de Nolito, mas, sinceramente, não acho que nenhum dos ângulos de repetição o tenha provado. Para mim, no momento do passe, o espanhol está em linha com um dos defesas centrais gilistas, tão em linha como Evaldo no jogo do Sporting deste último fim-de-semana.

Uma mentira contada muitas vezes transforma-se rapidamente em verdade, e em termos de arbitragem, sobretudo quando toca a pretensos benefícios ao Benfica, essa é uma situação bastante comum.

Resultado real: 2-2


SPORTING-OLHANENSE – Se há jogos em que o Sporting tem razões de queixa, este é certamente um deles. Ficou por marcar um penálti por corte com a mão, e o golo de Postiga foi mal anulado. No outro prato da balança terá de se colocar a expulsão poupada a Jeffren, mas em termos de classificação real, os pontos seriam para os leões.

Resultado real: 3-1


V.GUIMARÃES-FC PORTO – Parece haver na Liga, e até no futebol internacional, uma directiva no sentido de só se assinalarem grandes penalidades quando elas são evidentes, e não deixam dúvidas a ninguém. É isso que se tem visto nas provas europeias, nas competições de selecções; e em Portugal, nos jogos do Benfica, do Sporting, e da maioria das restantes equipas, com prejuízos e benefícios aleatoriamente distribuídos (e neste mesmo texto temos exemplos de vários casos que se enquadram nessa linha).

Direi até que concordo com a ideia (e irei tentar seguí-la aqui), uma vez que é humanamente impossível decidir com rigor em todos os lances reclamados, e, por vezes, altamente duvidosos. Até eu, que ao fazer esta rubrica não tenho qualquer responsabilidade acrescida, e posso fazê-la recorrendo às imagens da televisão, hesito em muitos lances – que na verdade podem ser uma coisa ou outra conforme o critério que se estabelecer.

Ora tudo isto estaria correcto, caso não houvesse uma excepção: os lances a favorecer o FC Porto.

Aqui, neste tipo de casos, a regra tem sido exactamente a contrária: na dúvida, marca-se. São os factos que o determinam, pois lances como os de Sapunaru em Guimarães, e Hulk frente ao Gil Vicente, não são sancionados em nenhum estádio do mundo.

Não os poderei, por isso mesmo, considerar como penáltis bem assinalados. São, na verdade, excessos de zelo de personagens reverentes, cujos critérios mudam de acordo com as camisolas que evoluem à sua volta. Olegário Benquerença é, de resto, o mesmo árbitro que, no mesmo estádio, há um ano atrás, não viu dois penáltis flagrantes sobre Aimar e Carlos Martins, abrindo caminho à época desastrosa do Benfica, isto para não recuar mais no tempo, e não esmiuçar ainda mais o pantanoso palmarés deste “herói” do apito.

Resultado real: 0-0


2ª Jornada

FC PORTO-GIL VICENTE – Um condenado no âmbito do Apito Dourado decidiu brindar o país com uma arbitragem fantasmagórica, onde não faltou quase nada.

Começou logo aos dois minutos, quando deixou ficar em campo Otamendi, após este ter cometido uma falta clara de penálti e expulsão. Pode até questionar-se a regra, mas ela existe, e enquanto existir é, como todas as outras, para ser aplicada.

Depois, com medo, ouvindo fantasmas no sótão, apitou para penálti num lance em que Hulk se deixa apenas cair. Aliás, dá até a sensação que os jogadores portistas já sabem que à mínima queda os árbitros vão considerar falta, o que é uma ajuda notável em jogos complicados.

Ou seja, em poucos minutos, o juiz transformou um 0-1 com o FC Porto a jogar em inferioridade numérica, num 1-1 com onze de cada lado. Não sendo aqui a Unicef, o que será que adultera as coisas desta forma?

Nos restantes casos reclamados irei manter o critério. Nem o lance sobre Varela, nem o agarrão de Sapunaru são inequívocos, pelo que nada assinalaria em qualquer deles.

Resultado real: 2-1


BENFICA-FEIRENSE – A arbitragem de Hugo Pacheco foi, de facto, desastrada. Se o Benfica foi muito beneficiado, isso já são outros quinhentos. Vejamos:

Ficaram três penáltis por marcar, um por cotovelo de Maxi Pereira, outro por agarrão a Nolito, e, já na ponta final do jogo, outro ainda por empurrão de Javi Garcia a um avançado contrário.

Foi também assinalado um fora-de-jogo inacreditável a Saviola, que ficaria isolado, e em posição frontal, para a baliza adversária. Tenho dúvidas se um lance destes não deveria também figurar na classificação real, pois era praticamente um penálti. Mas as regras têm de ser objectivas, e se nesta situação a coisa era óbvia, outras haverá em que seria muito mais difícil decidir.

Quanto às reclamadas expulsões, creio que ficou bem patente na Choupana aquilo que é uma agressão com o cotovelo. Os casos do jogo com o Feirense são disputas de bola, em que um jogador abre os braços para conquistar o espaço, com intenção de barrar o caminho ao adversário - é certo -, mas não de o agredir. No caso da Choupana o vermelho seria indiscutível, nos lances do Benfica-Feirense (Javi e Maxi, também), creio que se trata de faltas, até admito, no limite, cartões amarelos, mas nunca expulsões. É este o meu critério, sempre o foi, sejam quais forem as equipas em causa.

Em termos de resultado real, com dois penáltis por marcar para os forasteiros, e um para o Benfica, a coisa ficaria em 4-3. Podem argumentar com o timing do último penálti por marcar, e eu poderei dizer que também o agarrão a Nolito, e o lance de Saviola foram em momentos chave, que poderiam ter alterado todo o rumo do jogo.

Resultado real: 4-3


BEIRA MAR-SPORTING – De todas as arbitragens em análise, a do ilustre desconhecido Fernando Martins terá sido a que menos errou, o que não deixa de ser curioso.

Há de facto um penálti por marcar a favor do Sporting (rasteira a João Pereira), mas o posterior teatro do lateral induziu em erro, quer o árbitro, quer os espectadores, até porque só à terceira repetição (tirada desde a linha de fundo) se vê a falta.

O outro caso reclamado é uma disputa legal de bola, em que o jogador mais fraco cai sem qualquer infracção.

De resto, apenas mais uns foras-de-jogo mal assinalados, sendo aí a responsabilidade do juiz de linha.

Resultado real: 0-1


3ª Jornada

SPORTING-MARÍTIMO – Se nos primeiros dois jogos o Sporting teve razões de queixa efectivas (sobretudo, como vimos, no primeiro), nesta terceira partida os erros equivaleram-se, e a derrota leonina tem de procurar razões noutros lados.

O golo de Evaldo é limpo, ainda que Nolito, contra o Gil, me pareça ainda mais em jogo (se é que se pode utilizar a expressão) que o lateral sportinguista neste lance – o que ninguém diria a avaliar pelos protestos face a uma e outra situações.

Mas há que dizer que o segundo golo do Sporting nasce de uma falta assinalada ao contrário, naquele que é, quanto a mim, o erro mais evidente de toda a partida.

O penálti reclamado sobre o holandês é um lance de difícil decisão. Há um toque, mas não sei se em grau suficiente para se considerar faltoso. Neste caso darei o benefício da dúvida a Pedro Proença.

Resultado real: 2-3


NACIONAL-BENFICA – Uma expulsão poupada a Felipe Lopes (a quem já havia ficado por mostrar um cartão amarelo), foi o erro mais clamoroso de Artur Soares Dias. Já um dos seus auxiliares assinalou o fora-de-jogo a Witsel (ficaria isolado, ainda que não em posição frontal) que só o nevoeiro pode explicar, mas que na televisão se vê ser totalmente inexistente.

Não gostaria de deixar de dizer que este árbitro – como também, por exemplo, Bruno Paixão – irrita pelas constantes pausas que impõe ao jogo, não dando leis da vantagem, apitando à mínima queda, mostrando cartões por tudo e por nada, e criando problemas a si próprio, pois os critérios extremados quase sempre trazem incongruências. Foi o que acabou por acontecer.

Resultado real: 0-2


CLASSIFICAÇÃO REAL

BENFICA 7

Sporting 6

FC Porto 4 (- 1 jogo)

LUZES, SOMBRAS E NEVOEIRO


Num estádio tradicionalmente difícil, perante um adversário extremamente agressivo, e em condições meteorológicas deficientes, o Benfica obteve uma importante vitória, que o coloca, à condição, na liderança do campeonato.





Não se viu uma grande exibição. Melhor dizendo, na primeira parte não se viu praticamente nada, no sentido literal do termo. Já era tempo da Liga encontrar solução para um problema que se repete, ano após ano, com demasiada frequência. Há que admitir sem rodeios que o Estádio da Choupana tem muitas condicionantes, e encontrar alternativas para este tipo de jogos, como já aconteceu no passado. E a mim, que já lá estive, ninguém me tira da cabeça que aquele local, aquele clima e aquela altitude, influenciam os resultados, prejudicando as equipas que lá se deslocam.





Não posso, pois, dizer muito sobre uma primeira parte que ninguém viu. Apenas que, qual Dom Sebastião, o suspeito do costume conseguiu fazer-se notar, marcando o golo que viria a valer a vitória encarnada, avolumada apenas nos últimos segundos da partida.





O segundo período trouxe-nos um Benfica à imagem e semelhança daquilo que têm sido os seus últimos jogos. Uma equipa ofensiva, a espaços empolgante, sempre em busca do golo, expondo-se no entanto a contra-ataques perigosos que, enquanto os resultados se mantém tangenciais, põem os cabelos em pé aos adeptos mais sofredores.





A expulsão de João Aurélio ajudou bastante a tranquilizar o jogo encarnado. Mas mesmo contra dez, ao terceiro minuto de compensação estava toda a equipa do Nacional na área de Artur em busca do empate, justamente no lance que antecedeu o contra-golpe mortífero conduzido e concluído por Bruno César.





A coisa desta vez correu bem, mas um desfecho idêntico ao de Barcelos chegou a passar-me pela cabeça, à medida que o tempo passava, que as oportunidades iam sendo desperdiçadas, e o Nacional acreditava que era possível tirar alguma coisa deste jogo.





Jorge Jesus terá pois de trabalhar bastante mais a solidez do seu bloco, ensinando os seus jogadores a gerir a bola, o tempo e os ritmos de jogo, pondo-os a salvo de surpresas desagradáveis em partidas que parecem controladas. Se conseguir fazer isso, o Benfica terá uma grande equipa. Até lá, será um conjunto incompleto e sofredor, capaz de surprender positiva e negativamente. Até lá, ganhará muitos jogos, alguns deles com bastante brilhantismo, mas duvido que ganhe campeonatos.





Soares Dias pecou por apitar em demasia, e, sobretudo, por poupar Felipe Lopes a uma expulsão inequívoca. Acompanho, aliás, este jogador há alguns anos, tal como acompanhei Rolando nos tempos do Belenenses. Um, como outro, sempre souberam perante quem deviam ser simpáticos. Coincidências.

A PRAZO?

Domingos culpa os jogadores, Godinho Lopes culpa as arbitragens. O que é certo é que o Sporting não ganha, e vai deitando por terra os sonhos dos seus adeptos mais optimistas.

O plantel é muito mais forte que o da temporada passada. Embora nem todos os reforços sejam aquilo que os sportinguistas idealizavam, nomes como Capel, Jeffren, Rodriguez, Luís Aguiar, ou agora, Ínsua e Elias, estão acima de qualquer suspeita. Mas por um ou outro motivo, a maior parte deles não tem jogado, e a equipa parece revelar demasiadas semelhanças com as dos negros anos-Bettencourt.

O discurso do treinador, para além de cheirar bastante a sacudidela de aba de capote, e de contradizer a postura institucional do clube, revela uma coisa muito simples: o plantel não está com ele. “E quando assim é” (recorrendo a um termo que ele utiliza até à exaustão), não há argumentos tácticos que resistam. Mais três ou quatro maus resultados (coisa que não me espantaria nem um pouco), e lá teremos os tradicionais lenços brancos de volta a Alvalade. Até porque – é ele próprio que o diz – a arbitragem não explica tudo. Por exemplo, ainda neste último jogo, o segundo golo do Sporting nasceu de uma falta inexistente.

Domingos Paciência é um excelente treinador sob o ponto de vista técnico e táctico. Mas começo a ter dúvidas de que tenha o perfil de liderança adequado aos problemas do Sporting. Cá estaremos para confirmar, ou desmentir, essa ideia.

Por mim, vão muito bem assim…

FORÇA CAMPEÃO!


A SUPERTAÇA EUROPEIA



QUATRO SEMANAS EM REVISTA

De forma tão sucinta quanto possível, deixo aqui alguns tópicos sobre os temas que as férias deixaram para trás.



FUTEBOL: De um modo geral, vivi o início de época futebolística com bastante distanciamento, para não dizer indiferença. Os efeitos de uma temporada excepcionalmente traumática, o cepticismo resultante da verificação de que muita coisa continua na mesma (dentro e fora dos campos), e algum cansaço pessoal, fizeram com que visse muito pouco futebol durante estas semanas, pelo menos face àquilo que era hábito no passado.



Para que se saiba do que estou a falar, direi que, no último mês, vi, na televisão, o Gil Vicente-Benfica, o Twente-Benfica, o Benfica-Twente, dois terços do Benfica-Feirense, parte da meia-final e uma gravação da final dos sub-20, e resumos avulso das primeiras jornadas do campeonato. Ao vivo, vi o Benfica-Arsenal (única vez que entrei num estádio desde o Sp.Braga-Benfica da Liga Europa), e apenas porque fui convidado pela Benfica TV para uma emissão relativa a essa partida. De resto, mais nada, nem jogos de FC Porto ou Sporting, nem Selecção, nem supertaças, nem particulares, nem a eliminatória com o Trabzonspor, nem ligas estrangeiras, nem Liga Europa, nem Brasileirão, nem Copa América, nem nada.



Devo dizer, no entanto, que a categórica vitória do Benfica frente à equipa holandesa me devolveu ao futebol, e a minha motivação para a nova temporada voltou a índices aceitáveis, ainda que sem atingir os valores normais para esta altura do ano.




CICLISMO: Como não posso passar sem competição desportiva (é mesmo uma doença…), o Ciclismo fez as vezes do futebol, e foi ele que, com a Volta a França - que tive oportunidade de ver ao vivo, nos Campos Elísios -, com a Volta a Portugal, e já nos últimos dias, com a Volta à Espanha, preencheu intensamente este período.



"Vedeta da Bola" é dedicado ao futebol, e não penso transformá-lo. Mas com o passar dos anos, e apesar dos sucessivos casos de doping, e do crescente tacticismo das corridas, devo confessar que o Ciclismo tem crescido cá em casa, quase ao ponto de rivalizar com a paixão futebolística. No Verão, tem mesmo levado vantagem. No Inverno hibernará, como é hábito.




SUB20: Sem esperar, e quase sem me aperceber (como, creio, muitos portugueses), dei com a selecção nacional de sub-20 nas meias-finais do Mundial. Vi, como disse acima, parte do Portugal-França, e depois a gravação da final - pois isso de ficar acordado entre as 2.00 e as 5.00 da manhã já não é coisa para a minha idade, e só se faz em circunstâncias particularmente justificativas.



Do que vi, realço uma selecção muito rigorosa tacticamente, com maturidade apreciável, bem orientada, mas sem prometer muitos craques para o futuro próximo do futebol português (leia-se, Selecção A, e clubes grandes). À excepção de Mika (contratação muito feliz do Benfica), mais nenhum jogador me encheu as medidas, nem mesmo o Nelson Oliveira, que, apesar de talentoso, e da margem de progressão que (como os restantes) obviamente tem, está ainda muito longe do patamar físico que um avançado de uma equipa grande tem necessariamente de ostentar. É um jogador que sigo com simpatia desde os Juvenis, mas devo dizer que já me impressionou mais. Se a sua evolução atlética acompanhar o amadurecimento técnico e táctico, podemos, de facto, ter ali um grande ponta-de-lança. Se assim não for, a habilidade não chegará para fazer carreira no Benfica, numa posição onde a força e a resistência são fundamentais. Bem sei que tem 20 anos, mas digo isto olhando, por exemplo, para jogadores de outras equipas presentes na prova, ou para os índices atléticos de um Rui Costa ou de um Luís Figo há vinte anos atrás.




MERCADO: Sobre este tema nunca será demais repetir que acho totalmente absurda a data limite para transferências de jogadores. Não sei a quem serve, nem quem defende esta calendarização, pois aparentemente todos os clubes a criticam. Mas no caso de não ser possível alterá-la, creio que seria pertinente que a nossa Liga ponderasse a ideia de apontar o início do campeonato para o primeiro fim-de-semana de Setembro, de modo a evitar toda esta nefasta indecisão. Há equipas que já realizaram seis jogos oficiais, e os plantéis ainda não estão fechados. Se isto cabe na cabeça de alguém, na minha certamente que não.



Quanto às transferências propriamente ditas, o mercado trouxe, nestes dias, duas notícias de relevo: a venda de Falcão, e o empréstimo de Carlos Martins.



No primeiro caso trata-se de um negócio excepcional para o FC Porto. Vender um jogador, nos dias que correm, por mais de 40 milhões de euros, já é algo assinalável. Fazê-lo depois de renovar um contrato que tinha como cláusula de rescisão 30 milhões, é de mestre.



Para mim, enquanto benfiquista, também foi bom. Vejo-me livre de um excepcional jogador de um clube rival, e quanto ao dinheiro, nunca se sabe muito bem aos bolsos de quem irá ele parar, pelo que acredito que o FC Porto dele não beneficie tanto quanto à primeira vista possa parecer.



Sem quase se dar por isso, e em parâmetros totalmente diferentes, o Benfica cedeu, também para a Liga Espanhola, o número dez da selecção nacional. Tapado por Aimar e Witsel no onze, com perspectivas de ver diminuir o seu tempo de utilização, Martins terá pretendido sair, de modo a garantir presença na equipa das quinas para o Euro 2012. Se foi esse o caso, duvido que tenha feito bem, pois a visibilidade do Granada é diminuta. Se foi o Benfica que se quis livrar de um jogador representado por Paulo Barbosa, aceito a decisão, e remeto-a para o campo dos assuntos que não domino, e por isso não comento. Se foi somente uma decisão técnica, já terei mais dúvidas em concordar.



Não deixa de ser curioso que Jorge Jesus, em pouco tempo, se tenha livrado de Quim, Moreira, Luís Filipe, Fábio Coentrão (este, naturalmente, um caso diferente), Jorge Ribeiro, Carlos Martins e Nuno Gomes, jogadores com muita coisa em comum. Limpeza de balneário?




LUISÃO: Tenho uma visão cada vez mais pragmática dos jogadores de futebol, e dos seus confessados (mais do que sentidos) amores pelas respectivas entidades patronais.



Cada um deles, no âmbito da profissão que desempenha, faz por governar a sua vida (como eu, ou a maioria dos caríssimos leitores, fazemos quotidianamente), e não é por isso que deixo de os respeitar, ou de achar que eles ainda são o melhor que o mundo do futebol nos oferece (e disso tenho poucas dúvidas). O que deles espero é somente que cumpram o seu dia a dia profissional com respeito pelo dinheiro que ganham, e deixem tudo em campo na defesa do emblema que, mesmo conjunturalmente, representam. Espero trabalho, rigor, profissionalismo, disciplina e entrega. O amor é coisa para os adeptos.



Luisão é um profissional como todos os outros, e perante uma proposta aliciante pensará da mesma forma que qualquer pessoa comum, em qualquer ramo de actividade. Sabendo-se a importância do seu desempenho, cabe à entidade patronal encontrar formas de o motivar a ficar, extraindo dele o máximo rendimento, sem romantismos, ou pruridos morais.



O futebol profissional é uma indústria, e temos de perceber que, por muito que os idolatremos, os jogadores são homens, que têm famílias, e sabem que terão apenas alguns anos para preparar todo o resto das suas vidas. Não me choca, pois, qualquer declaração que, sem hipocrisias, vá de encontro a esta realidade. O que espero de Luisão, como de todos os outros jogadores, são bons desempenhos em campo, uma atitude profissional irrepreensível, e não declarações de amor eterno que sabemos serem sempre, necessariamente, superficiais.




CARDOZO: Já aqui trouxe várias vezes o tema. Não sei como alguem assobia um jogador que marca mais de 100 golos em 4 anos, e que é, inegavelmente, o melhor ponta-de-lança que passou pelo Benfica nos últimos 15 anos. Aqueles que o fazem (na minha perspectiva, uma sonora minoria), não percebem qual o papel de um ponta-de-lança no futebol, não percebem os principais fundamentos do jogo, não ajudam o seu clube, nem creio que sejam bons benfiquistas. Tenho dito.




SPORTING: Já confessei não ter visto qualquer jogo do Sporting, mas de uma equipa reforçada com nomes como Jeffren, Schaars, Capel ou Rodriguez, seria natural que se esperassem outros resultados. Acontece que no futebol não existem milagres, e não é possível reconstruir, de um dia para outro, toda uma equipa – para mais vinda de uma depressão profunda, e submersa numa cultura perdedora.



Domingos Paciência notabilizou-se no Sp.Braga com um futebol extremamente calculista, defensivo, por vezes enfadonho, mas cinicamente eficaz. Neste sentido, terá já trazido ao Sporting um maior rigor nas movimentações defensivas, atestado pelos poucos golos sofridos. Faltará trabalhar a construção ofensiva, plano onde a matéria-prima (designadamente na frente de ataque) não é tão abundante.



A propósito. O quanto eles não dariam para ter um Cardozito…




ÁRBITRAGEM: A classificação real está de volta (os dados das primeiras jornadas estão devidamente recolhidos), e merecerá um texto específico, provavelmente na próxima semana, e após a terceira jornada. Aqui refiro-me sobretudo ao caso Sporting-João Ferreira.



É tradicional a particular animosidade do Sporting perante os árbitros. Quem vá com frequência a Alvalade, e compare com o que se passa noutros estádios (por exemplo na Luz) notará uma diferença substancial. Os adeptos do Sporting, ao mínimo lance dividido, à mínima queda a meio-campo, à mais pequena suspeita de erro, protestam de forma extremamente enérgica, como se só eles fossem vítimas de erros, e como se todos os erros fossem no sentido de os penalizar.



Tenho para mim algo muito simples: todos os clubes portugueses são prejudicados e beneficiados, conforme as ocasiões, conforme as temporadas, havendo um, e apenas um, que - esse sim - nunca é prejudicado. Falo naturalmente do FC Porto, cujos erros em desfavor, nos últimos anos, se contam pelos dedos de uma mão, e cujos lances de dúvida são invariavelmente decididos a favor – sobretudo nas provas, e nos momentos, mais relevantes das temporadas.



Ora o grande equívoco do Sporting tem sido precisamente ignorar esta realidade, não a percebendo, ou não a querendo perceber. Levado por uma doentia rivalidade com o Benfica, tem disparado as suas críticas, as suas contestações, e as suas lamentações, sistematicamente de forma desfocada face ao alvo certo. Assim, o clube de Alvalade passou ao lado do Apito Dourado, desperdiçando, com o seu silêncio, com a sua inacção (que deixou o Benfica muitas vezes sozinho perante um combate inglório), as oportunidades de realmente mudar alguma coisa no futebol português. Tal como eu na altura previ, acabou por ser justamente o Sporting (para além, naturalmente, do próprio futebol) o principal prejudicado por essa atitude negligente, de que a direcção de Filipe Soares Franco terá sido o maior paradigma.



Quero acreditar que Godinho Lopes e Luís Duque tenham trazido outro tipo de postura, e nessa medida julgo que seria de aproveitar a ocasião para estabelecer pontes com o Benfica, e com outros clubes (V.Guimarães, Marítimo, P.Ferreira, Rio Ave, Beira Mar, Olhanense, etc) no sentido de varrer de vez os podres que a arbitragem portuguesa carrega. Há que eliminar os Benquerenças e os Xistras (e uma série de fiscais-de-linha anónimos, mas não menos influentes), que, mais do que qualquer presidente de Liga, qualquer comissão de arbitragem, ou qualquer poder federativo, agem a seu bel-prazer dentro dos campos, com as consequências que todos podemos ver semana a semana. Pelo que acabei de dizer, não seria coerente se não expressasse alguma solidariedade para com os leões, mesmo tendo em conta que João Ferreira será, porventura, dos árbitros menos conotados com a máfia reinante.

MELHOR ERA DIFÍCIL...



QUE BELO DIA PARA VOLTAR

Ora cá estou eu.



Depois de umas semanas de ausência (entre férias e afazeres diversos), volto hoje a este espaço, e pode dizer-se que escolhi bem a data. Com um espectáculo à medida, o Benfica entrou pela porta grande na casa dos campeões,…e dos milhões, enchendo de satisfação todos os seus associados e adeptos.



Ainda voltarei aos temas do defeso, e a tudo o que nestas semanas ficou por dizer. Mas a actualidade manda que me centre, por agora, no jogo desta noite, e no categórico apuramento do Benfica para a principal prova de clubes do mundo.



Com o resultado obtido na Holanda, sabia-se que a equipa de Jorge Jesus partia em vantagem. Não sendo o Twente propriamente um Real Madrid, e conhecendo-se a simpática tradição que temos mantido nas últimas décadas face ao aberto, e de certa forma romântico, futebol holandês, até um céptico como eu (e ao longo destas semanas, digo desde já que vivi o futebol com algum distanciamento, e até desencantamento) acreditaria firmemente na passagem. O ritmo que os encarnados imprimiram à partida desde o apito inicial apenas confirmou esse favoritismo, e calculava-se que um primeiro golo pudesse, por arrasto, concluir a empreitada, proporcionando uma segunda parte tranquila aos quase 50 mil espectadores presentes no Estádio a Luz.




O problema é que até ao intervalo o raio do golo não apareceu. Uma, duas, três, quatro ocasiões claras, e a bola teimava em não entrar na baliza de Mihaylov. Como quem não marca sofre, como as segundas partes do Benfica têm sido pautadas por grande ansiedade e insegurança, temeu-se então que pudéssemos estar perante mais um daqueles desfechos encomendados pelo diabo, que marcaram a temporada passada, e me deixaram com tão pouca vontade de escrever durante meses.




Um golo a abrir o segundo período foi o remédio de que a situação carecia. E que golo, senhores! Axel Witsel, o melhor em campo, aquele cuja contratação eu, logo na altura, tanto saudei, com um vistoso pontapé de bicicleta pôs o Benfica em vantagem, e sossegou as almas que já então começavam a dar sinais de algum sofrimento. Era, como disse, aquilo que os encarnados necessitavam, e daí em diante nunca mais esteve em causa o apuramento benfiquista, até porque Luisão, e novamente Witsel, avolumaram o resultado até às portas de uma goleada - que, diga-se, não ficaria nada mal ao futebol que os noventa minutos evidenciaram.




Ainda houve tempo para a equipa holandesa amenizar o desaire, e para, nos instantes seguintes, pairar no relvado a versão mais preocupante do Benfica 2011-12 (…e 2010-11). Mas o tempo que restava era já muito pouco, e só uma hecatombe (como algumas que aconteceram na temporada passada) poderia retirar das mãos do Benfica aquilo que já ele, tão brilhantemente, tinha alcançado.




O destaque individual vai inteirinho para o belga Witsel, jogador cuja titularidade não pode ser, sequer, equacionada. É jovem, tem talento, tem força, tem cultura táctica. É um craque destinado a ser uma das principais figuras deste renovado Benfica. Além de que a também excelente exibição de Pablo Aimar constitui prova cabal da compatibilidade entre ambos. O onze escalado para este jogo é, de resto, aquele que me parece o ideal, pelo menos nesta fase da temporada.




Mesmo estando no lance do primeiro golo, Gaitán foi, em sentido inverso, o jogador que mais me desapontou. Até porque tinha, e tenho, a expectativa de que seja ele a próxima venda milionária do clube da Luz. Para tal, terá de juntar ao brilho que o seu enorme talento frequentemente atinge, a regularidade competitiva que se exige aos jogadores de topo. Ontem, como no sábado, como em Barcelos, esteve longe daquilo que espero dele.




Já de um sorteio nunca podemos esperar grande coisa. Sai aquilo que tiver de sair, o que não significa - de modo algum - que estes momentos não definam as possibilidades das equipas, sobretudo as de nível médio (à escala internacional, entenda-se) como o Benfica. Se eu pudesse escolher, evitaria Manchester City e Zenit no pote 3, e Borússia de Dortmund e Nápoles no pote 4. Quanto ao pote 1…,quem vier será bem vindo, sendo aqui talvez mais importante o calendário dos jogos (não será o mesmo receber um Real Madrid ou um Barcelona na última jornada, provavelmente já qualificados, do que numa situação em que necessitem de pontos), do que propriamente um adversário - que, em condições normais, será sempre favorito. Ainda assim, Arsenal, Bate Borisov e Otelul seriam aquilo que mais se poderia aproximar de um “Jackpot”. Por mim, pessoalmente, Real Madrid, Ajax e Dínamo de Zagreb deixar-me-iam satisfeito.