MENTALIDADE GANHADORA

"Na sequência dos textos das últimas semanas, que têm procurado identificar aspectos a melhorar no futebol do Benfica, fala-se hoje aqui de força mental, combatividade e agressividade competitiva - elementos que, afinal, definem uma verdadeira mentalidade de campeão.

Entenda-se por força mental, a aptidão para extrair todo o potencial de competências inerentes ao indivíduo ou ao grupo, independentemente dos contextos exteriores. Numa equipa de futebol, isto traduz-se na capacidade de jogar constantemente ao máximo que o potencial técnico-táctico dos jogadores permita, sem quebras causadas por factores anímicos, sem excessos de confiança nem medos, sem permeabilidade a qualquer tipo de pressão exógena, e com a saudável agressividade que se exige em todos (mesmo todos) os momentos de competição. Simplificando, trata-se de tornar cada jogo numa final, e cada momento desse jogo no momento de decisão dessa final, sejam quais forem as circunstâncias que o rodeiem.

Sei que a comparação não é simpática, mas se olharmos para o FC Porto, constatamos uma particular habilidade em lidar com todo o tipo de pressões e condicionalismos, quer os positivos (enfatizando-os e explorando-os ao máximo, nunca permitindo que resvalem para a sobranceria), quer os negativos (eliminando-os, ou revertendo-os a seu favor). O que daí resulta é uma equipa confiante, motivada e agressiva, capaz de render a top em qualquer campo, e em qualquer situação, durante um ano inteiro. Imagino que não seja tarefa fácil implementar tão forte mentalidade. Mas que ela significa meio caminho andado para a obtenção de títulos, não restarão muitas dúvidas.

No caso do nosso rival, o contexto geográfico e cultural ajuda bastante. Trata-se de um clube fundado sob uma bandeira regionalista, e que tem alimentado uma cultura de conflito, e de trincheira, que contribui para o manter em constante vigília. É dessa fonte que bebe o fanatismo dos seus adeptos, que, confundindo e misturando – deliberadamente -, o FC Porto com a (sua) cidade, e com a (sua) região, sentem derrotas e vitórias num plano diferente ao da mera paixão clubista, e reagem em consonância. Isso é habilmente transportado para o interior do grupo (com lavagens cerebrais intensivas, como contam antigos jogadores), e reflecte-se num balneário ferreamente determinado em vencer (e, particularmente, em vencer-nos), onde a disciplina e o recato não deixam de desempenhar um papel vital.

Transpor uma cultura deste tipo para o Benfica é bastante mais difícil. Somos um clube universalista e cosmopolita, nascemos e vivemos numa cidade que também o é, e o conflito não está no âmago da nossa matriz identitária. Os adeptos do Benfica não têm qualquer familiaridade política, cultural, regional ou religiosa a ligá-los entre si, olham para o futebol com paixão, mas sem rancores nem complexos paralelos, o que também lhes retira militância, realidade que escorre para a estrutura e para a equipa. Há pois que encontrar mecanismos capazes de dotar o nosso clube de equivalente vitamina motivacional, e aqui, creio que o próprio adversário, as suas vitórias, e a sua arrogância, podem ser um elemento a explorar melhor.

Por outro lado, é também necessário fomentar uma relação de grande cumplicidade entre jogadores e clube, cultivando exigências, mas também afectos. Por muito genial que seja a gestão, por criteriosas que sejam as escolhas, por melhores condições materiais de trabalho que existam, são os jogadores, dentro do campo, que transportam a mística, que marcam os golos, que obtêm os resultados, que nos dão as alegrias e tristezas, e que, em suma, determinam o sucesso ou o insucesso do clube.

Sendo o futebol uma espécie de representação da guerra - embora sem vítimas -, uma equipa forte terá de se assemelhar a um exército militar, onde a disciplina e o rigor não podem permitir hiatos, cedências ou excepções. O clube tem de estar acima de tudo e de todos, e a exigência tem de ser total e quotidiana. A pressão de trabalhar nos limites deve vir, contudo, acompanhada de uma cuidada protecção contra factores, externos ou internos, que possam de alguma forma tornar-se perturbadores. Jogadores infelizes, preocupados ou ansiosos, não poderão nunca explorar o seu potencial máximo, e é ao clube que cabe protegê-los.

Só com uma simbiose perfeita entre clube e profissionais ao seu serviço, só criando uma cultura de clã, que abra espaço a um forte sentimento de exigência individual e colectiva, e seja capaz de fazer concentrar todas as energias no combate aos adversários, poderemos ver os jogadores do Benfica a superarem-se, a comerem a relva (se necessário for), e a imporem a sua capacidade em qualquer relvado, em qualquer competição, em qualquer jogo, e em qualquer momento de cada jogo. Só deste modo será possível caminhar para um espírito de conquista que leve os nossos jogadores a alcançar ainda mais vitórias e títulos do que aquelas que o seu talento permita, construindo a sua e a nossa felicidade."
LF no Jornal "O Benfica" de 17/06/2011

CARAS NOVAS






Não conheço alguns dos reforços do Benfica. Não tenho grandes dúvidas que muitos deles serão emprestados (Leo Kanu, Melgarejo, André Almeida ou Tiago Terroso, por exemplo), e poucos entrarão de caras na equipa.

Vejamos os principais, um a um:


ARTUR MORAES (ex Sp.Braga) – É, como disse, aquele que me parece com mais condições para assumir a titularidade no imediato, sobretudo se Roberto acabar por sair (como penso que seria desejável). É experiente, está adaptado ao país, conhece o campeonato, e tem qualidade. Não será o guarda-redes perfeito (esses são Casillas ou Neuer), mas é um excelente guarda-redes, perfeitamente à altura da baliza do Benfica.


DANIEL WASS (ex Brondby) – Vi-o jogar apenas alguns minutos, durante o Euro sub-21, e não me impressionou muito. O Benfica tem boas recordações de jogadores nórdicos, o que favorece as expectativas, mas, neste caso, a inexperiência não deverá permitir uma afirmação imediata. Será, na melhor das hipóteses, um bom suplente para Maxi (coisa de que o plantel carece). Na pior, mais um para a lista de cedências.


NUNO COELHO (ex Académica) – Passou-me totalmente despercebido ao longo do campeonato, pelo que não será, certamente, uma estrela de primeiro plano. É português, e como tal deverá permanecer no grupo, mesmo ocupando uma posição já lotada. Tem escola (foi internacional nas camadas jovens), e diz que é benfiquista (o que, valendo o que valendo, sempre soa bem aos ouvidos). Deverá passar o ano no banco, ou na bancada, a ver Javi Garcia, e eventualmente Matic, jogarem.


MATIC (ex Vitesse) – Foi englobado no negócio David Luíz, numa altura em que pouco se sabia sobre as necessidades do plantel neste defeso. A sua posição natural será a de Javi Garcia, onde já havia Airton, e onde também haverá Nuno Coelho. Não sei até que ponto poderá adaptar-se a outro lugar (por exemplo ao lado direito). Tem uma estatura considerável, aspecto que considero determinante, e conhece o futebol europeu, o que significa uma mais rápida integração. Tenho alguma esperança que se possa afirmar, mas não o conheço suficientemente bem para ter certezas.


BRUNO CÉSAR (ex Corinthians) – De todos os reforços é, à excepção de Artur, o que melhor conheço, pois vi-o jogar várias vezes no Campeonato Paulista, através do PFC. É um criativo, um repentista, que denota capacidade de passe longo, e de remate. Parece-me um pouco pesado, e pouco disponível na hora de defender. Mas acredito que Jesus o faça crescer competitivamente. Temo, pelo contrário, que Aimar e Carlos Martins lhe tapem a posição natural, e não sei qual será o seu rendimento numa ala. Na pior das hipóteses poderá ser um novo Roger; na melhor (com muito trabalho táctico, físico e psicológico), uma aproximação a Deco.


ENZO PEREZ (ex Estudiantes) – Nunca o vi jogar, mas as referências são boas. Trata-se de um jogador seleccionável na poderosíssima equipa argentina, o que é, à partida, um atestado de qualidade. Espero uma espécie de Nico Gaitán, mas para o flanco direito, onde a mais que certa saída de Salvio deixa um buraco por preencher. Dado o seu perfil táctico, e dadas as carências da equipa, creio que poderá entrar directamente na titularidade.


RODRIGO MORA (ex Defensor Sporting) – Quer Cardozo permaneça (o que espero, e desejo), quer saia e seja contratado alguém para o seu lugar (Piatti, Funes Mori ou outro), este uruguaio - proveniente do antigo clube de Maxi Pereira - não deverá passar do banco. Nunca o vi jogar, mas pelas referências que tenho é mais uma alternativa a Weldon ou Kardec (ambos de saída), do que a qualquer um dos titulares. Ainda é jovem, e, à semelhança de Jara, terá tempo para se afirmar. Não há certeza de que fique no plantel.


NOLITO (ex Barcelona) – Ser dispensado do Barcelona não é, necessariamente, um mau sintoma. Trata-se da melhor equipa do mundo, onde, para além de Messi, já estão Villa, Pedro, Bojan (este também de saída) e mais alguns jovens promissores de grande qualidade. Creio que se trata de um extremo, mas como nunca o vi jogar, não conheço em pormenor as suas características, nem faço ideia se terá condições de se afirmar imediatamente como titular. Conseguir um jogador jovem do Barcelona, a custo zero, não deixa, no entanto, de parecer um óptimo negócio.

O MEU PLANTEL

Roberto, Oblak, Leo Kanu, Carole, Sidnei, Shaffer, Patric, Fábio Faria, Airton, Felipe Menezes, Miguel Rosa, Fernandez, Ruben Pinto, David Simão, Balboa, Elvis, Alípio, André Carvalhas, Yebda, Fellipe Bastos, Eder Luís, Urreta, André Almeida, Tiago Terroso, Rodrigo, Alan Kardec e mais uns quantos, seriam (ou continuariam) emprestados.

Fábio Coentrão seria vendido (25 milhões + Garay).

BYE-BYE!

Não entendo aqueles que continuam a ignorar que jogadores e treinadores são profissionais, que a sua vida, e a das suas famílias, está dependente do dinheiro que conseguirem ganhar no futebol, e que, obviamente, não podem perder-se muito em sentimentalismos, perante aquilo que lhes é essencial.

Uma coisa é sair de um Benfica para um FC Porto, de um Barcelona para um Real Madrid, ou vice-versa. Aí, concedo, há uma questão de respeito pelos adeptos, e pela própria dignidade. Desejar ir para um país estrangeiro à procura de melhores condições é, pelo contrário, perfeitamente natural, e só um idiota quereria ficar no FC Porto a ganhar 100 mil (se é que lá chegava), quando podia ganhar 400 mil (ou mais) noutro lugar.

Isto vale para Villas-Boas. Isto vale para Coentrão. Isto valeria para qualquer um de nós que se visse em semelhante situação.

De resto, vendo a parte que me toca, creio que este negócio é aquilo que o Benfica precisava para sair do sentimento depressivo em que tem vivido. Ao contrário do que eu próprio temia, com este inesperado golpe de estado portista, volta a ser possível sonhar alto. O super-FC Porto de Villas-Boas morreu. Tudo volta á estaca zero. De ultra-favorito ao título, o FC Porto passa, num dia, a mero candidato ao título. E vamos ver se segura Falcão, Moutinho, Rolando, Fernando…

Treinador para o FC Porto? Eu escolheria o Professor Neca. Mas, já que falo em Professores, e como Pinto da Costa aprecia bastante o Professor Carlos Queiroz, deixem-me sonhar, uns dias que seja, com essa possibilidade tão…azul.

E APESAR DE TUDO...

RESUMO: Benfica e FC Porto 9 troféus; Sporting 3 troféus; Oliveirense, CAB e Fonte Bastardo 1 troféu.

NEM DADO!

Pode até ter algum talento, mas as referências que tenho lido apontam para um péssimo profissional.

Ao que se sabe, gosta mais da noite do que de treinar, é um mau colega, chega constantemente atrasado aos compromissos, e inventa problemas para faltar a treinos. Até no cabelo é parecido com Balboa, e por alguma coisa nem o Hércules o pretende manter no plantel.

Ultimamente o Benfica tem tido o cuidado de contratar bons profissionais, e homens sérios. É esse o perfil da generalidade dos jogadores do seu plantel. Acredito que tal premissa não vá ser agora beliscada.

Garay sim. Drenthe, nunca!

ATÉ JÁ, NUNO!

Nuno Gomes tem o seu lugar reservado na história do Benfica. Foi um dos melhores goleadores de sempre do clube, foi capitão durante várias temporadas, foi um dos grandes ídolos dos adeptos, foi referência de balneário para muitos recém-chegados à Luz. Foi um jogador respeitado, porque sempre se soube dar ao respeito – pelo profissionalismo, pela dedicação, pelo fair-play demonstrado inúmeras vezes dentro e fora dos campos, e até pela simpatia e simplicidade pessoais que nunca deixou de cultivar.


Estando à beira de completar 35 anos, o treinador optou – no regular exercício das suas competências - por prescindir dos serviços do atleta. O Nuno Gomes de há cinco ou seis anos atrás teria lugar no plantel de qualquer grande equipa europeia. O Nuno Gomes de 2011-2012 seria, no entender de Jorge Jesus (que o conhece melhor que qualquer adepto, e que trabalha com ele diariamente), fundamentalmente um nome e um símbolo, que dificilmente se poderia tornar opção de relevo na luta pela titularidade.


Por muito que isso custe a aceitar àqueles que (como eu) mais o admiravam, o plantel do Benfica não pode absorver jogadores por aquilo que fizeram no passado, mas apenas por aquilo que se espera poderem vir a fazer no futuro. E não creio que alguém esteja melhor colocado do que Jorge Jesus para proceder a esse tipo de avaliação.


Tratando-se de quem se trata, o Benfica propôs-lhe (e bem) um lugar na sua estrutura profissional. Nuno decidiu não aceitar, privilegiando a possibilidade de jogar futebol durante mais uma época, previsivelmente num clube com menores exigências competitivas. Está no seu pleno direito.


Podemos discutir a opção de Jesus. Podemos também discutir se o assunto poderia, ou não, ter sido conduzido de forma mais célere. Mas não creio que se deva fazer um drama à volta disto. Recordo que Eusébio terminou a sua carreira no Beira-Mar, depois do Benfica ter recusado o seu regresso. Infelizmente para ele, e para nós, aquele já não era o seu tempo, e esse episódio não impediu que hoje o Pantera Negra tenha uma estátua em frente ao Estádio da Luz.


Nuno Gomes não foi Eusébio, mas nem por isso deixará de ter um lugar muito especial no afecto de todos os benfiquistas. Pela minha parte, só posso agradecer, enquanto adepto, tudo aquilo que o Nuno Gomes fez pelo Benfica, desejando-lhe as maiores felicidades para esta ponta final da sua carreira, e esperando que em breve possa voltar a fazer parte do clube que tão bem serviu como jogador, e que também ele aprendeu a amar.

INQUIETAÇÃO

Artur Morais, Daniel Wass, Leo Kanu, Enzo Perez, Nemanja Matic, Bruno César, Nuno Coelho, Nolito, Rodrigo Mora, Tiago Terroso, André Almeida, e ainda Urretavizcaya, Miguel Rosa, Nelson Oliveira, David Simão, Rodrigo, e possivelmente mais Garay, Dedé, Ansaldi, etc, etc.

Não será gente demais?

Quantos destes nomes terão efectivamente qualidade para se afirmar? Dois? Três?

Não seria preferível optar por duas ou três contratações cirúrgicas de reconhecida classe?

A LEI DO MAIS FORTE

"Identifiquei aqui, na passada semana, cinco aspectos específicos em que, na minha modesta opinião, o futebol do Benfica podia melhorar. O primeiro que referi, e, porventura, o mais notório de todos eles, prende-se com o perfil físico-atlético do plantel – que, quanto à sua robustez, fica claramente a dever ao do principal rival.

A situação não é nova, e já em 2008, num artigo intitulado “Gladiadores e Artesãos”, eu a trouxe a estas páginas. De facto, há muitos anos que vemos equipas portistas invariavelmente constituídas por verdadeiros “armários”, face a um Benfica de perfil quase sempre mais artístico, mais perfumado, mais requintado, mas também muito mais macio. Tal facto é, de resto, extensível às restantes modalidades, sendo patente uma superioridade física azul-e-branca em quase todas as principais frentes de batalha do desporto português, do Futebol ao Hóquei em Patins, do Andebol aos vários escalões de formação. Este crónico défice atlético, que salta à vista do mais desatento, explica, quanto a mim, muitos dos desaires sofridos ao longo dos anos ante o grande rival. No caso do Futebol (aqui em análise), acresce ainda que, num campeonato como o português, onde predominam equipas fechadas e agressivas, e se joga em campos pequenos e com relvados miseráveis, essa vertente física assume relevância acrescida, estabelecendo diferenças, e determinando campeões.

Há que dizer que, quando se fala de robustez física, não se fala apenas de jogadores com um metro e noventa e cinco de altura, ou noventa quilos de peso. Estamos também a falar de atletas cujo fulgor, cuja resistência, cuja agressividade, cuja combatividade, cuja força, os tornam mais poderosos em campo. Se também forem altos (e pelo menos metade da equipa convém que o seja), tanto melhor. Mas há jogadores fortes, resistentes e agressivos, que, não sendo gigantes em altura, são-no em combatividade. Temos, de resto, dois bons exemplos no plantel da época finda: Maxi Pereira e Fábio Coentrão.

Não é só no plano estritamente desportivo que a importância de uma equipa mais volumosa e mais viril se coloca. O mercado diz-nos que o talento se faz pagar melhor que o músculo, de onde inferimos que uma equipa eventualmente menos empolgante do ponto de vista plástico, mas mais robusta na hora de conquistar a bola, no momento de correr com ela, ou atrás dela, na forma de ocupar espaços em campo, ou de ganhar duelos individuais, poderia também ficar mais em conta para a nossa bolsa. Poderíamos pois, com ela, vencer em dois tabuleiros: o desportivo, e o económico. E se não encantássemos as plateias com arte (o que não é totalmente líquido, pois a beleza do futebol está, sobretudo, nas movimentações colectivas), encantaríamos com resultados, trazendo com eles maiores valorizações marginais a cada jogador. Eu, pela minha parte, não tenho dúvidas sobre aquilo que preferia.

Esta mudança de paradigma, que implica um olhar diferente sobre o próprio perfil do negócio – valorizando as individualidades a partir do todo, e evitando a compra avulsa de talento -, não pode ser efectuada de forma repentina, nem de ânimo leve. Temos grandes jogadores, que não correspondem ao perfil que aqui defendo (o que não diminui a minha admiração por eles), e cujo contributo não seria avisado desperdiçar. Existe uma base, que foi campeã há pouco mais de um ano, e é a partir dela que, pouco a pouco, devemos proceder aos acertos que se justifiquem. Não podemos perder-lhe totalmente o rasto, tendo sempre presente que foi de revolução em revolução que chegámos ao ponto em que estávamos quando, in-extremis, Manuel Vilarinho resgatou o clube do abismo. Seria suicidário entrarmos novamente numa espiral desse tipo, pelo que a estabilidade é também um valor a preservar na nossa casa.

Seria todavia interessante que, em decisões futuras, esta preocupação fosse tomada em conta, de modo a que cada jogo entre FC Porto e Benfica não tivesse de se assemelhar, no plano físico, uma repetida reedição do lendário combate entre David e Golias. É verdade que David ganhou uma vez, e foi essa excepção que deu corpo à lenda. Mas quantos Golias triunfantes não terá a história deixado cair para as suas notas de rodapé?

O futebol é um jogo, onde interessa ganhar. E é um desporto, em que os mais robustos, os mais rápidos, e os mais ágeis, levam franca, e decisiva, vantagem. É a correr e a lutar que se ganha, e para o conseguir, há que ser mais forte que o adversário. Um artista, bem integrado num colectivo forte, combativo e musculado, pode fazer a diferença. Uma equipa de artistas, sobretudo em Portugal, acabará sempre ingloriamente derrotada."

LF no Jornal "O Benfica" de 10/06/2011

UMA NOVELA OU UM NOVELO?

O Real Madrid quer Fábio Coentrão. Fábio Coentrão quer ir para o Real Madrid. O Benfica precisa do dinheiro da transferência.



À partida, o cenário não deveria trazer complicações, e mais milhão menos milhão, o jogador estaria em breve às ordens de Mourinho, com o Benfica a encaixar uma verba compensadora.



O que terá perturbado tudo isto, de modo a termos de assistir, entristecidos, a declarações precipitadas, processos disciplinares, e contra-comunicados?



Não sei, mas tenho as minhas suspeitas. Não gosto de Jorge Mendes, assim como não gosto (nada mesmo) de qualquer empresário de jogadores, agora pomposamente chamados de “agentes-Fifa”, e que mais não são do que aves de rapina num universo de espectáculo para o qual nada contribuem – não jogam, não treinam, não dirigem, não apoiam, mas enriquecem, e muito. São a face negra do futebol. Neste caso, por exemplo, ninguém me vai conseguir explicar qual a utilidade de um intermediário: Mourinho conhece o jogador, o jogador conhece Mourinho, Benfica e Real conhecem-se, e têm boas relações.



Não é a primeira vez que este tipo de novela sucede, nem decerto será a última. Enquanto existirem estes parasitas a viver do constante corrupio de transferências, clubes e jogadores não terão tranquilidade, e o futebol, mais do que um desporto, mais do que um jogo, mais do que um espectáculo, será um negócio, e dos escuros.



Neste caso particular, ao Fábio aconselharia calma, fazendo-lhe ver que o seu sonho não está em causa, que o Benfica apenas quer, de forma legítima, esticar a corda até ao valor da cláusula, e que qualquer declaração precipitada pode prejudicar a negociação, afectando também a imagem que construiu junto dos adeptos. Ao Benfica aconselharia habilidade e precaução no tratamento do caso, sabendo-se que o jogador, perante a possibilidade Real, jamais quererá ficará na Luz (ou seja, a transferência será, a bem ou a mal, consumada), sendo também de evitar uma atitude de hostilidade, quer para com um ídolo das bancadas (e Fábio Coentrão é, certamente, o jogador mais querido do plantel actual), quer para com um clube gigante, de expressão mundial, com o qual existem portas abertas que interessam preservar.




PS: Como qualquer português que se preze, tenho alguma simpatia pela Académica. Nunca percebi como mantinha à frente dos seus destinos uma figura sinistra e rasteira como José Eduardo Simões. Por maioria de razão, ainda estranho mais que o tenha agora reeleito. Há algo na fantástica cidade de Coimbra (juntamente com Évora e Guimarães, as melhores e mais belas do país), que eu não conheço, ou não compreendo.

VOLTAR A GANHAR

"Antes de ser um espectáculo, o futebol é um jogo, que vive de resultados. Quando se ganha, tudo está bem, quando se perde, tudo se transforma subitamente. Procuram-se então as razões para a derrota, mas essa busca nem sempre é conclusiva. Na verdade, uma importante fatia do êxito ou inêxito desportivo reside na natureza aleatória do próprio jogo, e procurar causas para certas derrotas (sobretudo quando ocorrem entre equipas da mesma igualha) é como tentar perceber porque não acertamos no Euromilhões. Havendo que vender jornais, e que subir audiências televisivas, somos frequentemente confrontados com análises que, a partir do resultado, constroem uma retórica de vazio, por vezes divertida, por vezes interessante, mas raramente esclarecedora. Estamos a falar de futebol, que não sendo propriamente uma ciência oculta, também não aceita prognósticos antes dos jogos – como uma voz sábia um dia nos ensinou.

Existe uma outra fatia deste bolo, que pode, essa sim, ajudar a explicar sucessos e fracassos com alguma objectividade. Arbitragens, lesões, ou o simples mérito dos adversários, são aspectos que interferem nas performances competitivas, desenhando-lhes o rosto, e traçando-lhes o rumo. Todos eles condicionaram, directa ou indirectamente, a temporada do Benfica: Benquerença em Guimarães e Xistra em Braga (não esquecendo muitos outros), lesões de Sálvio e Gaitán em altura de decisões (sem falar de Ruben Amorim), e, “last but not least”, um super-FC Porto (provavelmente o melhor do todos os tempos), marcaram inegavelmente o nosso destino, não permitindo que o sucesso de 2009-2010 pudesse ser repetido.

Nestes dois parágrafos está espremido muito do sumo das nossas frustrações. Creio, honestamente, que neles se situa a maior parte dos fundamentos para os pobres resultados conseguidos. Basta imaginarmos uma época com arbitragens perfeitas, sem lesões, com alguma sorte (por exemplo em bolas que bateram nos postes) e com o FC Porto do ano anterior, para percebermos o quanto poderíamos ter sido felizes com o mesmo plantel, com o mesmo treinador, e com a mesma metodologia de trabalho.

Azar, arbitragens, lesões e um opositor fortíssimo são, de facto, factores suficientes para explicar uma época de desilusões. Mas seria errado, e até contraproducente, concluir então que, para além deles, nada de mais ou de melhor poderíamos ter feito. Esconder a cabeça na areia não é política de campeões, e o Benfica – que melhorou bastante nos últimos anos - tem de saber aprender com os erros, aprendendo também a evitá-los, aumentando as possibilidades de sucesso, e reduzindo o campo de acção aos desígnios da fortuna. É justamente dessa componente interna (a única, afinal, em que podemos interferir) que nos devemos ocupar agora, de modo a que 2011-2012 possa ser uma temporada bastante mais feliz.

O FC Porto preparou-se convenientemente, no Verão passado, para enfrentar um grande e temível Benfica, acabando a época a ganhar-lhe em toda a linha. Cabe-nos a nós, agora, prepararmo-nos meticulosamente para o combate com um grande e temível FC Porto, de modo a que, dentro de poucos meses, lhe possamos ganhar também. O desafio não é fácil, mas um clube com a dimensão do nosso tem de saber estar à altura. A alternativa seria o assumir de um estatuto de inferioridade, que nenhum de nós está disposto a aceitar.

Numa análise necessariamente superficial, e com as limitações próprias de quem está do lado de fora, eu identificaria cinco itens, em face dos quais o futebol benfiquista pode, e deve, melhorar, aproximando-se da concorrência mais directa - que é como quem diz, daquele que foi o grande triunfador da temporada. Nesse sentido, haveria que:

1) Dotar a equipa de um perfil atlético bastante mais robusto;

2) Incutir-lhe agressividade, combatividade, e mentalidade ganhadora;

3) Manter humildade na acção e no discurso;

4) Aperfeiçoar os timings da definição do plantel;

5) Privilegiar a solidez defensiva.

Na minha modesta opinião, parecem-me ser estes os vectores em que, no campo e fora dele, o Benfica tem mais espaço para crescer competitivamente.

Alguns deles podem subdividir-se. Por exemplo, o ponto 1) prende-se, por um lado, com a política de aquisições, por outro, com o planeamento físico, e até, porventura, médico. O ponto 2) pode ter a ver com disciplina e rigor, com cultura, mas também com protecção, acompanhamento e afecto. O item 3) refere-se aos dirigentes, aos profissionais, mas também aos sócios e adeptos. E todos eles estão, de alguma forma, interrelacionados: uma equipa mais robusta, e com maior agressividade, garantirá maior solidez defensiva, um plantel definido atempadamente, pode facilitar a implementação de um registo ganhador, e assim sucessivamente.

Nas próximas semanas desenvolverei cada um destes temas."


LF no Jornal "O Benfica" de 3/06/2011

SERVIÇOS MÍNIMOS

Longe de deslumbrar os quase 50 mil que estiveram na Luz, a Selecção Nacional conseguiu a vitória de que necessitava para encarar de frente os últimos jogos da qualificação.

O jogo foi pouco interessante, a exibição descolorida, e Cristiano Ronaldo (naturalmente a grande atracção individual da partida), passou uma vez mais ao lado da “Equipa das Quinas”, acabando inclusivamente por ser assobiado pela impiedosa plateia. Em fim de época, com alguns jogadores a arrastarem-se penosamente pelo relvado, seria difícil pedir muito mais. Mas do craque do Real Madrid, e após uma das suas mais produtivas temporadas de sempre, esperava-se outro protagonismo. A carreira de Ronaldo na Selecção está a tornar-se um “case-study”, e os adeptos começam a perder a paciência perante uma ineficácia que é, de facto, difícil de explicar.

No plano oposto esteve João Moutinho, quanto a mim o melhor em campo. Foi dele que partiram os mais exuberantes momentos de futebol colectivo da equipa, e foram dele os equilíbrios que a dada altura deixaram a Noruega longe da área portuguesa. Realce também para Postiga, que, tratando-se um jogador pouco mais que mediano, parece ter o condão de aparecer nos grandes momentos.

Em termos globais, a Selecção fez o que lhe competia, mas com um registo exibicional mínimo, expondo-se a uma grande desilusão na ponta final do jogo (tenho a sensação que, com Carlos Queiroz no banco, aquele pontapé de canto no último minuto tinha dado o golo do empate). Exibições à parte, o mais importante era a vitória. Estes eram três pontos imprescindíveis, que não garantem absolutamente nada, mas sem os quais a presença no Euro 2012 se tornaria numa miragem.

Termino falando do público. É sociologicamente interessante observarmos a diferença entre o público de selecção, e o dos clubes. É outra coisa. É outro mundo. E traz vantagens e desvantagens. Entre as primeiras estão o clima de festa generalizado (comparável aos jogos de apresentação do Benfica), a quase total ausência de stress e carga dramática, e o fortíssimo contingente feminino nas bancadas – coisa que torna o espectáculo incomparavelmente mais belo e aprazível. As desvantagens são a falta dos cânticos das claques, e um ambiente, a espaços, um tanto adormecido; o parco conhecimento futebolístico de grande fatia dos adeptos (não falo só, nem particularmente, das mulheres), coisa que origina comentários absolutamente despropositados, e por vezes até irritantes; bem como o constante entra e sai, levanta e senta, que dura quase todo o jogo.

TUDO OU NADA

Não tenho tido muito tempo para escrever sobre a Selecção. Não significa isso que não esteja a cem por cento com ela (conto ir à Luz), no momento em que se pode decidir grande parte da qualificação para o Euro 2012.

AS NOSSAS CULPAS

"Quando o Benfica ganha, nós ganhámos. Quando o Benfica perde, eles perderam.

Esta parece ser a matriz de pensamento de muitos benfiquistas, que na hora da derrota se apressam a procurar culpados, esquecendo que o problema também pode passar por si próprios.

A época não foi feliz, e ninguém deve fugir às responsabilidades. O presidente foi o primeiro a assumi-las, num exercício de humildade que dignifica e engrandece o cargo que ocupa. Também o treinador já confessou ter errado em diversas situações ao longo da temporada, o que não lhe diminui a competência. Obviamente que os jogadores não escapam ao escrutínio, pois muitos deles não renderam aquilo que se esperava. Mas os adeptos também não podem colocar-se à margem do processo.

Se a força das bancadas foi uma das armas com que o Benfica conquistou o campeonato de 2009-2010, é preciso dizer que, nesta temporada, esse apoio nem sempre se fez notar.

Não consigo entender, por exemplo, como ficaram 8 mil bilhetes por vender numa meia-final europeia. Não consigo entender como, no jogo da Taça de Portugal com o FC Porto – que tanta importância viria a ter – apenas estavam presentes cerca de 35 mil espectadores. Não consigo entender como um clube com milhões de adeptos não consegue esgotar o estádio, uma só vez, em tantos meses de competição. A crise económica dói, mas não explica tudo.

Pior ainda foram as incompreensíveis manifestações de hostilidade para com os jogadores. A mais chocante terá ocorrido após a final da Taça da Liga. Mas outras houve, desde invasão de treinos, a esperas nos parques de estacionamento, que trouxeram para nossa casa o que de pior se tem visto nos rivais. Se somarmos os assobios que se dirigiram a Óscar Cardozo (marcando 100 golos, como é possível?), a César Peixoto, a Roberto, e a outros jogadores, teremos matéria suficiente para não deixar quase ninguém inocente.

Antes de atirarmos pedras, pensemos naquilo que fizemos, e naquilo que poderíamos ter feito. Talvez comece aí um Benfica mais forte."

LF no jornal "O Benfica" de 20/05/2011

10 RAZÕES PARA UM INÊXITO

"Face às expectativas criadas, face ao brilhantismo que a equipa, a dada altura, chegou a exibir, nada fazia prever o penoso final de época que o futebol benfiquista protagonizou, e que nos entristeceu profundamente.

Importa agora reflectir sobre o que contribuiu para tão ingrato desfecho, de modo a que os escombros desta temporada não venham condicionar também a próxima. Limitado, naturalmente, àquilo que se vê de fora, passo a identificar dez aspectos passíveis de explicar este insucesso:

1) Efeitos do Mundial - O Benfica foi a equipa portuguesa mais representada em África, e isso perturbou gravemente a preparação da época, que não contou com elementos preponderantes durante o primeiro mês de trabalho. Alguns desses jogadores (Cardozo, Luisão, Maxi) demoraram a regressar ao rendimento normal, condicionando desse modo os equilíbrios colectivos.

2) Estruturação do Plantel – Tem-nos sido difícil saber conciliar os timings de mercado (ajustados às ligas que se iniciam em Setembro), com os timings necessários à planificação de uma época vitoriosa. Ramires e Di Maria foram vendidos (e bem), mas o espaço que deixaram não estava devidamente acautelado. Sálvio veio muito tarde, e só em Dezembro se afirmou como titular, quando Campeonato e Liga dos Campeões eram já causas perdidas. Gaitán também demorou a adaptar-se a uma posição da qual não trazia rotinas.

3) Optimismo excessivo - Antes do início da época, não conseguimos evitar um discurso triunfalista, que além de alimentar a motivação dos adversários, fez crescer inutilmente as expectativas, com paralelismo no posterior desencanto dos adeptos. Subvalorizando o principal rival, o Benfica pareceu preparar-se para uma festa, quando tinha de se preparar para uma guerra.

4) Más arbitragens - Não me recordo de Campeonato tão adulterado pelas arbitragens quanto este. Seria fastidioso voltar a enumerar, um a um, todos os lances que nos lesaram. Mas até na Taça (golo em fora-de-jogo), e na Europa (golo do Sp.Braga após empurrão na área), fomos prejudicados, sem que a comunicação social o tenha relevado.

5) Permeabilidade defensiva - Com o Campeonato quase perdido, e fora da Champions, a venda de David Luíz foi, naquele contexto, uma boa decisão. Mas o certo é que, daí em diante, o Benfica revelou uma fragilidade defensiva que dificilmente se coadunaria com a obtenção de títulos. As responsabilidades não se esgotam, porém, no quarteto defensivo: meio-campo e ataque são sectores onde os golos dos adversários começam a ser construídos, e o Benfica desta época pressionou pouco, desposicionou-se muito, e defendeu globalmente mal.

6) Lesões – A praga começou com Cardozo, continuou com Ruben Amorim, terminou com Gaitán e Sálvio. Em fases decisivas da temporada, o Benfica viu-se subtraído de peças chave, com efeitos iniludíveis nas exibições e nos resultados. No lado direito, a dada altura, vimo-nos sem Sálvio, nem Amorim, nem mesmo Luís Filipe. Não há plantel que dê para tanto.

7) Falta de sorte - O futebol é um jogo, e, como tal, contempla uma componente aleatória que não podemos desprezar. As três bolas no poste nas meias-finais europeias, a carambola que deu o 3º golo ao FC Porto na Taça, as oportunidades desperdiçadas nas primeiras partidas do Campeonato (2ª parte com a Académica, 1ª parte na Choupana), foram momentos de infelicidade capazes de dizimar campeões.

8) Quebra física - Não entendo nada de preparação física, mas na fase mais crítica da temporada saltou à vista a dificuldade de certos jogadores em aguentar o ritmo e a intensidade dos jogos. Meses antes, os mesmos atletas revelavam enorme fulgor, e mantinham uma série recorde de vitórias consecutivas, abrilhantadas com exibições de luxo. Se a quebra se deveu a factores de treino, ou apenas a factores anímicos, é questão para especialistas. Interessa sobretudo que tal não se repita, pois as épocas terminam em Maio e não em Fevereiro.

9) Fragilidade anímica - A luta inglória por um Campeonato perdido acabou por minar a confiança dos atletas, e os efeitos notaram-se na Liga Europa e na Taça de Portugal. Nos momentos de decisão, esperava-se outro estofo mental da equipa, que não viria a conseguir libertar-se das suas angústias. Alguns adeptos também não ajudaram, pois quando se exigia apoio, responderam com mais pressão, com assobios, e até tentativas de agressão.

10) Super-FC Porto – Por muitas voltas que dêmos ao texto, a razão principal para não termos sido campeões, para não conquistarmos a Supertaça, e para não chegarmos á final da Taça, foi a soberba temporada que o FC Porto realizou. Omitir esta realidade seria esconder a cabeça na areia. Eles foram melhores, e ali, entre muitos aspectos negativos que conhecemos, há também muita coisa que podemos aprender. Desde logo que o futebol, antes de ser uma arte, é um desporto, onde os mais fortes, mais atléticos e mais vigorosos normalmente vencem."

LF no Jornal "O Benfica" de 27/05/2011

A MINHA HOMENAGEM

TERRORISMO MEDIÁTICO

Acho natural, e até saudável, que as autoridades judiciais estejam atentas a um fenómeno como o futebol, que movimenta tantos milhões. As investigações aos clubes são de saudar, e só é pena que não se possam estender a todos eles.


O problema não reside pois nas investigações feitas ao Benfica (que, estou certo e seguro, serão concluídas com um arquivamento), mas antes no aproveitamento mediático que a morosidade deste tipo de processos permite, e até incentiva. Há grupos de comunicação social com interesses directos no Benfica (nomeadamente ao nível dos direitos televisivos, ou, no passado, da Benfica TV), e que não hesitam em utilizar pequenas fugas de informação, para com elas especular, empolar, mistificar, e assim denegrir a imagem de quem se recusa a fazer-lhes favores.


Os dirigentes do Benfica são pessoas de bem, e têm um passado atrás de si que fala por eles. Haverá quem lhes questione a maior ou menor competência, mas creio que ninguém (nem mesmo adversários) porá em causa a honorabilidade institucional que trouxeram ao clube, a qual nunca seria alcançável com práticas desonestas. Infelizmente já houve no Benfica um tempo em que assim não era. Precisamente por isso, é agora talvez mais fácil descobrir as diferenças.


Também Jorge Jesus anda nas páginas dos jornais, e também a ele toda esta onda de mistificação não cola. Quem imagina um treinador recém-chegado a um clube grande, com ambição de ser campeão e de entrar para a história do futebol, começar logo por receber comissões obscuras pela compra de um guarda-redes suplente? Num contexto de algumas confusões relacionadas com o Belenenses (vendas de capital, mudanças directivas, etc), a transferência de Júlio César tornou-se suspeita. O advogado de Jorge Jesus explicou tudo, deixando claro, ponto por ponto, aquilo que realmente se passou. A mim não me deixou dúvidas.


Tenho pois a certeza que os dirigentes e o treinador do Benfica estão absolutamente inocentes daquilo que certos jornais os acusam. Infelizmente, não posso ter a certeza de que todo este conjunto de especulações, de mistificações e de mentiras, não venha a afectar a preparação da próxima época. Esse é o meu único receio.

AQUELA MÁQUINA...

Já aqui disse noutras ocasiões que o futebol do Barcelona, demasiado rentilhado, demasiado circular, não faz muito o meu género. Mas já disse também, e tenho de o repetir agora, que não há no Mundo máquina de futebol mais eficaz que a de Pep Guardiola.

Na final de Londres ficou provada a superioridade catalã, e não fosse Van der Sar, estaríamos provavelmente a falar de uma goleada à antiga.

Este é o terceiro título do Barcelona em seis anos, o que indicia já um ciclo de supremacia continental, do qual Messi, Xavi, Iniesta e Puyol são o denominador comum.



PS: Como facilmente se percebe, o problema de Mourinho não está no Bernabéu. Tal como, por analogia, o problema do Benfica não estará na Luz. À distância é mais fácil observar, mas o que se passa com o Real Madrid, é o mesmo que se passa com o Benfica.

O LATIM DOS OUTROS





Um alegado funcionário da FIFA terá dito (?) a um alegado funcionário da Lusa que a Taça Latina não era uma competição oficial. Logo houve quem entrasse em histeria, vitoriando o facto de o FC Porto ser já, afinal, o clube português com mais troféus conquistados.






O tema não é do meu particular interesse – o Benfica nunca viveu, nem viverá em função dos títulos de outrem -, e constituindo ele um declarado instrumento para a motivação dos rivais, prefiro vê-lo utilizado já, do que no início da próxima temporada.






Mas como não gosto de mistificações, tenho a dizer o seguinte:






- Em primeiro lugar, tal como já havia escrito, acho de discutível sensatez considerar, nesta contabilidade, a Supertaça, que não é mais do que um simples jogo de pré-época, que durante anos não tinha a chancela oficial, e servia para rodar jogadores suplentes. Muitas vezes foi difícil encontrar datas para a disputar (tendo inclusivamente de passar para épocas seguintes) justamente devido ao desinteresse que os clubes (pelo menos o Benfica) manifestavam por ela. Chegou até a estar, mais de uma vez, à beira da extinção.






- A Taça Latina pode não ter sido uma competição oficial (não havia, na altura, quaisquer competições oficiais de clubes a nível internacional, e creio que nem sequer existia Uefa), mas foi indiscutivelmente a antecessora da Taça dos Campeões Europeus e da Liga dos Campeões. Recordo que todas as primeiras onze edições da Taça dos Campeões foram ganhas por equipas latinas, e em todas elas, só por duas vezes o finalista vencido não foi também latino. Ou seja, nas décadas de cinquenta e sessenta, ser campeão latino era, objectivamente, ser campeão europeu.






- A vitória do Benfica nessa prova foi o primeiro triunfo internacional da história do futebol português, tanto a nível de clubes, como de selecções. Como tal, foi amplamente festejado por quem o viveu, quer os benfiquistas, quer os restantes portugueses orgulhosos da equipa que ali os representava. Conta quem se lembra que foi uma vitória épica, e de grande alcance desportivo e social, comparável aos títulos europeus conseguidos na década seguinte.






- O quadro de vencedores da Taça Latina fala por si. Se descontarmos o Stade Reims (na altura uma potência do futebol, e duas vezes vice-campeão europeu), restam Real Madrid, Milan, Barcelona e…Benfica.






- Olhemos para a Taça Intercontinental (mais tarde Toyota Cup). Também ela não tinha carácter oficial, nunca foi reconhecida pela FIFA (que só organizou o Mundial de clubes a partir de 2006), envolveu equipas que nem sequer tinham sido campeãs da Europa (A.Madrid, Panathinaikos e Malmoe, por exemplo), precisamente por os campeões não mostrarem interesse em participar (nomeadamente Ajax, Bayern e Liverpool), e teve inclusivamente dois hiatos (1975 e 1978) por ninguém a querer disputar (nem campeões, nem finalistas, nem semi-finalistas). Foi, alias, na sequência desse desinteresse generalizado que surgiu o patrocínio da Toyota, levando o jogo para Tóquio, e conferindo-lhe regularidade de datas, e alguma dignidade. O FC Porto venceu duas, uma diante do Peñarol por 2-1 (num campo completamente impraticável), e outra perante os desconhecidos do Onze Caldas (que, honestamente, sem pesquisar, nem sei de que país vinham), no desempate por penáltis. Serão esses troféus de considerar? Se retirarmos o significado de lá estar (conseguido noutros palcos, com outros adversários e outras dificuldades), não sobra quase nada. Ao contrário da Taça Latina, que era a grande competição internacional da sua altura, a Toyota Cup nunca teve qualquer relevância desportiva ou mediática, pelo menos na Europa.







- O Benfica tem mais Campeonatos Nacionais que o FC Porto, tem mais Taças de Portugal que o FC Porto, tem mais Taças da Liga que o FC Porto, tem tantas Taças dos Campeões como o FC Porto (tendo, no entanto, disputado muito mais finais, meias-finais, quartos-de-final), e se existe alguma competição importante em que o FC Porto leva vantagem, essa é unicamente a Liga Europa (com duas vitórias, contra nenhuma do Benfica, aí sim, com muita pena minha).

FÁBIO AGRADECE AOS LEITORES

Acabei de receber um SMS do Fábio Coentrão, que passo a citar:


"É uma honra muito grande para mim ser eleito o melhor jogador da Liga Portuguesa pelos adeptos e leitores desse blogue. É por vocês que treino diariamente, e vou lutar sempre para vos dar alegrias e provar ser merecedor desta distinção.
Muito obrigado a todos. Um abraço amigo,
Fábio Coentrão"


Como comentário, direi apenas que honrado sinto-me eu em poder trazer a este espaço uma mensagem de uma das maiores estrelas do futebol europeu da actualidade.

O PREÇO CERTO

Estes são os jogadores que, creio, maior encaixe podem permitir. E os preços considerados seriam aqueles pelos quais o Benfica não ficaria a perder - no caso de Coentrão, trata-se do valor da cláusula de rescisão.


As situações de Aimar e Saviola são mais difíceis de analisar, dada a idade dos atletas, dado o salário que auferem, e sem se conhecer em pormenor a sua situação física (o Saviola de 2009-10 seria imprescindível, o de 2010-11 não faz falta nenhuma).


Já Maxi Pereira e Luisão, embora com mercado, são inegociáveis. Tanto um como outro nunca iriam render um valor compatível com o seu peso desportivo na equipa. Por mim, seriam eles os dois capitães para a próxima época.


E há ainda Roberto, que, apesar da temporada pouco feliz, talvez tenha algum mercado em Espanha.


Quanto a aquisições, creio ser de privilegiar, para já, a contratação de um central e de um lateral-esquerdo.


Ao longo das próximas semanas, voltaremos naturalmente a este tema.

VEDETA DA LIGA

Encerrada a votação (com a participação de quase dois mil votantes), Fábio Coentrão foi distinguido como Vedeta da Liga 2010-11, à frente de Hulk e Aimar.

Parabéns ao Fábio, que não deu hipóteses à concorrência.

AS VERDADEIRAS CONTAS

Devo dizer que nunca me preocupei muito com este tipo de estatísticas. E compreendo o interesse que o FC Porto tem nelas, como forma de se auto-motivar.

Veja-se, no entanto, como fica o quadro de vitórias, se lhes retirarmos todas as provas de um jogo só (Supertaças e afins), as quais, na verdade, não faz sentido comparar com as restantes. Uma coisa são taças, outra são competições, e a Supertaça não é uma competição – tão só um jogo ao qual é atribuído um troféu (que durante alguns anos nem sequer era oficial).

Cada um faz as contas que quer. Mas estas são, para mim, aquelas que melhor definem a grandiosidade histórica de cada clube.

O COPO MEIO CHEIO

Em cinco anos, só no Campeonato, e só uma vez, o Benfica fez melhor que esta temporada.



Isto confirma aquilo que há dias escrevi: esta foi uma época de emoções muito negativas, mas não foi uma época muito negativa.



Dentro da linha daquilo que tem sido o passado recente do clube, um troféu (Taça da Liga), uma qualificação para a Champions, e uma meia-final europeia, não são de desprezar.



Acresce que das cinco competições em causa, à excepção da Taça da Liga conquistada, todas as restantes foram ganhas pelo melhor FC Porto de todos os tempos. Se isso não consola, pelo menos creio que explica.

BREVES SOBRE A FINAL

- Confirmaram-se as previsões, e venceram os favoritos.


- Depois de ver a final, e perceber que o FC Porto não esteve no seu melhor, ainda mais lamentei a ausência do Benfica. E mesmo perdendo, hoje gostava de trocar de posição com o Braga, e ter podido desfrutar de um jogo histórico.


- Um remate à baliza, um golo, um título europeu. Há gente que tem sorte.


- A inqualificável arbitragem espanhola (golo fora-de-jogo, expulsão perdoada, livre frontal ignorado) mostrou a quem tinha dúvidas que, estrangeiros ou portugueses, mais jantar menos prostituta, a diferença não é substancial.


- Aos benfiquistas que insistem em comparar, injustamente, Cardozo a Falcão, eu sugeria que comparassem antes Saviola a Messi.


- Respeito muito, e até admiro, alguns jogadores do FC Porto (Helton, Moutinho, Falcão…), mas ninguém me tira uma inabalável curiosidade de saber o que poderiam revelar análises ao sangue de alguns outros. Já nem falo de Hulk, mas Varela, Sapunaru, Rolando, Fernando, Guarin, que me parecem, todos eles, jogadores banais, fazem-se valer de uma potência física que se assemelha à de cavalos a correr pelo campo. E nos grandes jogos, essa sensação acentua-se. É estranho, mas o FC Porto é a equipa europeia que maior e mais constante pressão consegue fazer.


- Por outro lado, não posso deixar de elogiar a força anímica com que o FC Porto encara os momentos de decisão. Aquela gente nunca treme, nunca falha, nunca erra, nunca facilita. E é assim há 30 anos. Será muito difícil descobrir-lhes o segredo?


- Por fim, espero que Jorge Jesus tenha visto esta final, e a festa portista que se lhe seguiu, para que nunca mais diga que uma Liga Europa não salva uma época. Por mim, invejo mais este troféu, que todos os títulos juntos que o FC Porto conquistou nos últimos 5 anos.


PS: Acentuei a impressão que tinha de Artur. É um excelente guarda-redes, e a custo zero não é de desperdiçar.

TRISTEZAS QUE PAGAM DÍVIDAS

Estes são dias difíceis para os benfiquistas. Liga-se a televisão, vêm-se directos de Dublin. Compra-se o jornal, e lêem-se manchetes sobre a final portuguesa. Não há como fugir deste cerco, que recorda, e acentua, a frustração de Braga. E o pior ainda está para vir, com as comemorações da vitória, mais do que provavelmente centradas no Porto. Depois virá a Taça de Portugal, e só lá para meados da próxima semana poderemos ter algum sossego.









Como forma de contornar tudo isto, em jeito de catarse, talvez seja apropriado lembrar aqui outros momentos de grande frustração desportiva. Jogos em que as lágrimas ficaram presas aos olhos, noites em que o sono teimava em não chegar, manhãs acordadas com a angústia da derrota a torturar a alma.









É difícil hierarquizar estas situações, e mais ainda explicá-las. Não tenho, efectivamente, razões objectivas para ter sofrido mais com uma eliminação normal ante o Dukla de Praga, do que por uma derrota de 0-7 ocorrida em Vigo, mas a verdade é que assim foi.









Estranharão certamente as ausências dessa, como de outras goleadas (7-1 em Alvalade, 5-0 no Dragão). Na verdade, nunca foram esse tipo de jogos os que mais me custaram a digerir. Sempre vivi o futebol com paixão, e não com ódio pelos rivais. Talvez por isso nunca me senti humilhado por eles. Talvez por isso, outros momentos, com outras expectativas, com outras consequências, me tenham afligido muito mais do que esses episódios - que eu classificaria quase como burlescos.









Resta acrescentar que só considero aqui jogos do Benfica. Houve também momentos da Selecção Nacional (a final com a Grécia, a meia-final com a França em 1984), e do Juventude de Évora (jogo com o Estoril em 1981, que impediu a subida à 1ª divisão) que poderiam caber neste balanço de tristezas.









Eis o top-10:










1º SP.BRAGA-BENFICA, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Liga Europa 2010-11)









Não adianta dizer muito mais sobre este jogo. Nem creio, honestamente, que o tempo, ou o distanciamento histórico, o façam sair tão depressa desta liderança.









Foi uma derrota duríssima, que ainda não digeri, e nem sei quando o conseguirei fazer.










2º BENFICA-PSV EINDHOVEN, 0-0 (Final da Taça dos Campeões Europeus1987-88)









Até Braga, parecia-me impossível suplantar o desencanto de uma final da Taça dos Campeões Europeus perdida nos penáltis.









A situação em si é o que de pior as emoções do futebol nos podem reservar. Durante anos não hesitei quanto a isso, ao recordar a forma como o mundo me caiu em cima após o falhanço de Veloso. Até há uns dias atrás…











3º BENFICA-SPORTING, 1-2 (Penútima jornada do Campeonato Nacional 1985-86)










Um drama. O Benfica preparava-se para festejar o título, bastando-lhe um empate para tal. O Sporting estava em crise, e não parecia poder incomodar aquele desígnio. Mas o inesperado aconteceu, lançando o Estádio da Luz num mar de lágrimas.










Saí a chorar, pelas escadas do terceiro-anel, naquele que foi o primeiro derby a que assisti ao vivo.










O FC Porto, à mesma hora, ganhou em Setúbal (golo de Paulo Futre), e esse título possibilitar-lhe-ia sagrar-se campeão europeu no ano seguinte.











4º BENFICA-DUKLA DE PRAGA, 2-1 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça das Taças 1985-86)










No meu quarto, a chorar convulsivamente, com os meus pais agarrados a mim dizendo-me que era apenas um jogo de futebol. Eis o que me recordo, com grande precisão, dessa noite de Março de 1986.










O Benfica tinha perdido por 0-1 em Praga, e na Luz rapidamente fez dois golos, colocando-se em vantagem. Eu ouvia atentamente o relato, numa altura em que o futebol não era ainda um fenómeno televisivo.










A poucos minutos do fim, quando a presença nas meias-finais parecia ser uma realidade, um remate fortuito deu a eliminatória aos checos. Não queria acreditar naquilo que ia ouvindo. Afinal o Benfica ia ficar fora da prova, aos pés de um adversário acessível.
Até então, nunca uma derrota me tinha caído tão mal.











5º BENFICA-FC PORTO, 1-3 (2ª mão da Meia-Final da Taça de Portugal 2010-11)


Outro de que não vale a pena falar muito.










Foi a mais dolorosa derrota de sempre sofrida face ao FC Porto, num jogo em que as expectativas de êxito eram totais, dada a vantagem lograda na 1ª mão.










Um autêntico pesadelo, vivido nas bancadas da Luz.










6º PENAFIEL-BENFICA, 1-0 (Antepenúltima jornada do Campeonato Nacional 2004-05)










Na idade adulta, as lágrimas da infância transformam-se em insónias.










Após este jogo (em que Pedro Proença impediu o Benfica de lutar pela vitória), não consegui adormecer. Depois de uma temporada quase inteira na liderança do campeonato, o Benfica perdia o 1º lugar a duas jornadas do fim, tendo ainda de defrontar o Sporting e o Boavista. O título parecia perdido, e os onze anos de jejum iam prolongar-se por tempo indeterminado.
Tudo correria bem, mas naquela noite o desencanto foi total.











7º BENFICA-ESPANYOL, 0-0 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça UEFA 2006-07)










Mais uma eliminatória europeia mal perdida, após um prometedor 2-3 na Catalunha.










O jogo foi de sentido único, com inúmeras oportunidades claras para o Benfica. Mas a bola não entrou, e a decepção foi profunda.






















8º BENFICA-CARL ZEISS, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Taça das Taças 1980-81)



Recordei esta eliminatória, antes da meia-final deste ano.



O Benfica perdera 0-2 na RDA, e na Luz, depois de Reinaldo marcar (aos 59 minutos), esteve várias vezes perto de igualar a eliminatória.



Ouvi o relato, e cheguei a andar aos saltos pela casa a festejar um golo que afinal não aconteceu (anulado? evitado?).



Poderia ter sido a primeira final europeia da minha vida. Teria de esperar mais dois anos.








9º SPORTING-BENFICA, 5-3 (Meia-Final da Taça de Portugal 2001-08)



Estive no estádio, e saí arrasado.



O Benfica e o Sporting haviam perdido tudo, e esta meia-final (a uma só mão) representava a salvação da época.



A equipa então orientada por Chalana chegou ao intervalo a vencer por 0-2, e a menos de meia-hora do fim o resultado mantinha-se inalterado. A final do Jamor estava bem perto.



Cinco golos sofridos em 20 minutos (a lembrar os 7-1), deitariam por terra as ilusões encarnadas, devastando a alma dos adeptos.








10ºBENFICA-FC PORTO, 0-1 (6ª jornada do Campeonato Nacional 2004-05)



Hesitei entre esta derrota, e uma outra, também com o FC Porto, sofrida no último minuto de um jogo no Dragão (com golo de Bruno Moraes), após recuperar de 2-0 para 2-2.



Optei por esta, que significou um anti-climax total após uma entrada amplamente vitoriosa nesse campeonato – que, recorde-se, viria a ser ganho, com Trappatoni ao leme.



O jogo foi marcado pelo golo anulado por Olegário Benquerença, que daria o empate, a poucos minutos do fim. Antes houvera uma rábula em torno dos bilhetes, que gerou muita confusão. Cabeças partidas, polémica, ambiente escaldante, roubos, uma vitória à Porto.



Mais do que triste, saí do estádio revoltado como nunca.

FACADA NA ALMA

Para recomeço, parece-me pertinente trazer aqui o texto que escrevi para o jornal do Benfica na passada semana:


"Digo-o a frio, e sem hesitações: a derrota de Braga significou a maior desilusão desportiva de toda a minha vida.

Nem os 7-1 de Alvalade, nem os 7-0 de Vigo, nem mesmo os penáltis de Estugarda, me feriram mais fundo que a dramática oportunidade perdida que esta maldita meia-final representou. Perante a ocasião histórica de, 21 anos depois, voltar a um grande palco europeu, o Benfica soçobrou diante de uma equipa valiosa, mas que, sobretudo atendendo ao contexto internacional em que a eliminatória se realizava, não deixava de ser um adversário relativamente acessível – mais ainda depois da vantagem, ainda que curta, lograda na partida da primeira-mão.

Há derrotas e derrotas. Algumas esgotam-se em si mesmas, ou, no máximo, na temporada em que decorrem. Outras entram, como uma seta, para a eternidade da dor e das lágrimas. Esta meia-final fará doer a alma sempre que vier a ser evocada, e nem daqui a décadas nos esqueceremos dela. Por isso, por se ter passado precisamente numa esquina da história, ela se tornou tão cruel, e tão difícil de digerir. Por isso, os momentos vividos no estádio, no fim do jogo, e perante a festa bracarense no relvado, foram os mais angustiantes que o futebol alguma vez me proporcionou.

Faltou apenas um golo. Com um simples golo (uma bola dentro de uma baliza), estaríamos agora a preparar-nos para discutir o segundo troféu mais importante da Europa, e prontos para tocar nos céus. Esse golo poderia ter acontecido num dos remates aos postes (Cardozo em Lisboa, Saviola no Minho), podia ter ocorrido no cabeçeamento de Kardec tirado sobre a linha, poderia ter resultado do tiro de Gaitán a que o guarda-redes contrário se opôs com brilho, ou do remate em arco de Jara, que saiu muito perto do poste. Em cada uma dessas situações, uns centímetros mais para um lado, ou mais para o outro, dariam um rumo totalmente diferente à história, e desenhariam as cores da nossa felicidade. Como é ténue a linha que separa a felicidade da tragédia…

É necessário, pois, não desprezarmos o grau de aleatoriedade que o fenómeno desportivo sempre incorpora, e que tantas vezes é incorrectamente negligenciado. É necessário, pois, perceber que com os mesmos jogadores, com o mesmo treinador, com o mesmo sistema táctico, com as mesmas substituições, com o mesmo fulgor físico, poderíamos ter sido bastante mais felizes, e poderíamos estar agora a festejar ardentemente. É assim, afinal, o futebol: ora mágico, ora verdadeiramente bárbaro na forma como, a partir de pequenos detalhes, devasta as nossas emoções até aos limites da mais profunda angústia.

Vamos ter muito tempo para chorar. Não devemos, portanto, precipitar atitudes e comportamentos, nem deixar que sejam as emoções a falar por nós. É preciso não esquecermos que o Benfica perdeu numa meia-final europeia, à qual só chegaram 4 dos 200 clubes que participaram na prova. Não há muitos anos atrás estávamos no 91º lugar do ranking da UEFA, terminávamos o Campeonato Nacional em 6º lugar, e éramos eliminados da Taça de Portugal, em nossa casa, aos pés do modesto Gondomar. Não podemos confundir a tristeza de uma oportunidade desperdiçada (por mais difícil que ela seja de suportar), com qualquer sentimento de humilhação, vergonha ou desonra, palavras que não devem, sequer, ser aqui chamadas.

2010-2011 será, inquestionavelmente, uma temporada traumática para os benfiquistas. Mas é preciso manter a lucidez suficiente para perceber que esse trauma se deveu mais ao modo como se foram desenrolando, e aniquilando, as expectativas de vitória nas várias competições, do que propriamente aos resultados finais em si mesmos – pobres, é certo, mas muito longe de serem os piores dos últimos 15 anos.

Esta época trouxe-nos emoções extremamente negativas, mas não foi uma época extremamente negativa. A nossa angústia provém mais dessas emoções, do que dos resultados que lhes deram origem. Provém mais da forma, do que do conteúdo.

Foi, de facto, a forma como nos vimos afastados do Campeonato (vendo o principal rival festejá-lo em nossa casa), da Taça de Portugal (deitando para o lixo uma vantagem de 2-0 obtida fora), e da Liga Europa (com uma equipa portuguesa, teoricamente mais modesta, e depois de um triunfo na primeira-mão), que nos deixou destroçados, pois Campeonatos perdidos houve, infelizmente, muitos nas duas últimas décadas, finais de Taça já não as temos há seis anos, e meias-finais europeias não as disputávamos desde 1994. Sobrou ainda assim uma Taça da Liga, uma qualificação para a Champions, uma subida no ranking da UEFA, um recorde de vitórias consecutivas, e momentos de futebol espectáculo que as últimas semanas não podem fazer esquecer.

Qualquer análise objectiva à presente temporada terá de contemplar todos estes aspectos, e relativizar os estados de alma decorrentes de elevadas expectativas que não se puderam concretizar."


LF jornal "O Benfica" 13/05/2011

REGRESSO

Passaram 10 dias sobre a maldita meia-final de Braga.


Não é tempo suficiente para a esquecer (isso, provavelmente, nunca acontecerá), nem o que se tem passado desde então é particularmente estimulante para a ultrapassar. Mais do que eu, o Benfica precisa de férias (pelos vistos não só o Futebol, mas também o Basquetebol e o Futsal), e de força para dar a volta a uma situação de depressão generalizada em que se deixou cair, e que, caso não seja cuidadosamente gerida, pode tornar-se difícil de solucionar - veja-se o que aconteceu ao Sporting nos últimos anos.


A vontade de regressar não tem sido muito alimentada pelas circunstâncias. Mas há algo que não posso ignorar: as inúmeras manifestações de simpatia por parte dos leitores (muitas delas verdadeiramente tocantes), quer aqui nos comentários, quer por e-mail, ou mesmo por telefone, as quais agradeço de forma sentida e calorosa. São vocês que não posso deixar de lado, é por vocês que regresso a este espaço.


Está assim reaberto o VEDETA DA BOLA, depois de dias difíceis em que só o Giro de Itália e a NBA me foram ajudando a matar o vício da paixão desportiva.

Uma das diferenças que existe entre o futebol e os verdadeiros problemas da vida, é que, ao contrário do que sucede com estes, com aquele é sempre possível, nos momentos de maior angústia, apagar a luz, fechar a porta e sair.



Pois é isso mesmo que eu vou fazer, após ter sofrido aquele que considero, desde já, o maior desgosto desportivo de toda a minha vida.



Lamento desapontar os poucos que eventualmente se interessariam por saber o que penso do jogo de Braga. Mas, na verdade, não penso nada. Desejo apenas que os dias passem depressa, e que todo este pesadelo (no qual ainda tenho alguma dificuldade em acreditar) possa enfim dissipar-se.



Cheguei bem tarde a casa, mas nem assim consegui adormecer. O futebol não pode servir para isto, e, como tal, a única coisa a fazer é abandoná-lo como quem rejeita um amor infiel. Custa, mas tem de ser, em nome de uma vida tranquila e compensadora, que, felizmente, posso lograr de muitas outras formas.



Tenho ponderado, nas últimas horas, deixar também a colaboração com o jornal do clube. Decidi não o fazer apenas por respeito a quem me convidou, e a quem lá trabalha, pois, dado que o jornal tem de continuar a sua vida, sair numa altura destas far-me-ia sentir um rato em fuga do navio. Embora vontade de fugir seja coisa que não me falte.



Já o blogue, sendo uma criação exclusivamente minha, é objecto que posso perfeitamente encostar, sem prejuízo para terceiros.



Voltarei, quando, e se, sentir vontade de ver futebol, e de escrever sobre ele. Para já entendo que, algo que me tortura assim, não merece o meu esforço, nem a minha atenção, mas tão só a minha indiferença e o meu afastamento.

Que me perdoem os leitores, mas não posso fazer outra coisa que não esta.





PS: A minha tomada de posição prende-se apenas com questões de carácter pessoal, e não envolve qualquer juízo de valor sobre o clube, sobre a equipa, ou sobre a temporada desportiva – que, embora absolutamente traumática, deverá ser analisada de forma fria e objectiva, estando, quanto a mim, muito longe de ser das piores nos últimos 15 anos.

O PALCO DE UM SONHO

O dia D, o momento M, a hora H.

Este é, porventura, o jogo mais importante das história recente do Benfica.

Um empate basta. Até uma derrota por 3-2 (ou 4-3) poderá ser suficiente.

Qualquer resultado que garanta a passagem, garantirá também uma das noites mais felizes da minha vida de benfiquista. Outra coisa que aconteça, causará um sentimento profundo de frustração. Não há meio termo.

Estarei em Braga. De corpo e alma. Carregado de fé e de esperança.

Espero trazer de volta um sonho.

Mais do que nunca, acredito.

Mais do que nunca, FORÇA BENFICA!

UM PASSO PARA A GLÓRIA

21 anos! Foi há 21 anos que o Benfica disputou a sua última final europeia, na altura em Viena, com o Milan.


Jogavam Valdo, Ricardo, Thern, Magnusson e Vítor Paneira. Do outro lado estavam Rijkaard, Van Basten, Gullit, Baresi e Ancelotti. O Milan era uma espécie de Barcelona da altura, e ganhou por 1-0, depois de um jogo inesperadamente equilibrado. Acabei em lágrimas, mas com o orgulho benfiquista lá bem no alto.


Ninguém imaginava então que, tanto tempo depois, o Benfica não tivesse voltado a marcar presença numa grande decisão internacional. Ninguém imaginava então que, apenas uma década decorrida (1999, 2000…), eu próprio temesse que o Benfica não mais voltasse a sonhar, sequer, com tal coisa, e não mais vencesse qualquer campeonato, despedindo-se, definitivamente, do seu palmarés glorioso – pensei-o, muitas vezes, nos tempos do valeeazevedismo.


Passados 21 anos, passadas muitas convulsões, passados dois títulos nacionais, a oportunidade está aí. O Benfica está a noventa minutos, está a um empate, a um simples empate (e tão difícil ele parece…), de voltar a entrar em campo ladeando uma taça europeia, perante os holofotes do mundo. Para quem tenha menos de 25 anos, esta será a oportunidade para verem, pela primeira vez, o Benfica numa grande final. Para quem não tenha mais de 55, o desafio maior será o de ver erguer a taça – coisa que, em 1961 e 1962, já não chegaram a tempo de saborear. Para todos, este poderá ser um momento histórico, daqueles que fica inscrito na eternidade, daqueles que figura em qualquer livro evocativo do benfiquismo.


Juntamente com o Bessa, em 2005, e com o Rio Ave, na Luz, em 2010, o jogo de amanhã em Braga será um dos três mais importantes dos últimos 15 anos. Como aqui disse, não se trata de salvar coisa nenhuma. Trata-se de buscar a glória. A maior glória das últimas décadas.


Seja o diabo cego, mas, uma eventual eliminação nas meias-finais de uma liga europeia, onde participaram mais de 200 clubes, onde estiveram equipas como Liverpool, Juventus, M.City, PSV, A.Madrid, Leverkusen, Dortmund, D.Kiev, Zenit, Ajax ou Nápoles, não pode ser vergonha para ninguém. A conjugação de uma eliminação aos pés do Sp.Braga, da perda do Campeonato, e do falhanço nas meias-finais da Taça de Portugal, representará, porém, um sentimento depressivo, que não podendo ser confundido com qualquer desastre - desastre seria perder em casa com o Gondomar, ficar em sexto lugar, ou não estar nas competições europeias, o que, de resto, já aconteceu -, não deixará de trazer consequências para a estabilidade imediata do próprio clube, sabendo-se como funciona a arquitectura comunicacional do futebol português, e a forma exacerbada, e pouco lúcida, como tantas vezes se manifesta a paixão dos adeptos.


Estamos pois perante o cruzamento entre uma frustração das grandes, e uma epopeia histórica. Estamos entre o quase tudo, e o quase nada. Estamos, em sentido figurado, entre a vida e a morte. Ou ainda mais do que isso, como dizia Shankly.


Acredito no Benfica. Acredito neste Benfica, com Roberto e tudo. Acho que tem melhor equipa que o seu adversário, é mais experiente, tem mais soluções, e só uma conjuntura particularmente desfavorável (lesões, cansaço, taça) equilibrou a balança da eliminatória.


O que é facto é que ela está mesmo equilibrada, e tudo pode acontecer. Temo o ambiente da “Pedreira” (não em termos pessoais, mas sim na influência que pode ter nos jogadores), temo o jogo subterrâneo em que a equipa minhota se especializou, temo que um qualquer incidente (falha de marcação, erro de arbitragem, expulsão) possa, de um momento para o outro, virar o rumo dos acontecimentos. Mas, como disse na passada semana, creio que o Benfica leva para Braga uma pequeníssima dose de favoritismo.


Palpites? Como em Paris acertei, vou repetir o mesmo resultado: 1-1, golos de Alan e Cardozo.


Deixo também o meu onze:

Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Fábio Coentrão, Javi Garcia, Gaitán, Carlos Martins, César Peixoto, Saviola e Cardozo.

Que Deus os ajude...

QUE CONVERSA É ESSA?

Acabei de escrever um texto para o jornal “O Benfica” - será publicado na próxima sexta-feira, e depois poderei reproduzi-lo aqui - a elogiar o trabalho de Jorge Jesus, defendendo que a sua continuidade no clube não deverá estar dependente de qualquer resultado que possa acontecer até final da época, e que a sua eventual saída seria um suicídio desportivo para o clube. Jesus é um fantástico treinador, que conseguiu, em pouco tempo, reacender a chama do futebol benfiquista, que valorizou jogadores antes desacreditados, e que, nesta temporada, foi vítima de um conjunto de circunstâncias (mundial, arbitragens, venda de jogadores, super-Porto, etc) que o impediram de chegar ao título nacional.

Sendo pois seu admirador, estou à vontade para discordar em absoluto das declarações mais recentes do técnico encarnado a propósito da Liga Europa.

Disse Jesus que nem uma vitória na Liga Europa salvará a época. Digo eu que, não só salva (termo que nem gosto de utilizar), como fará de 2010-11 um ano histórico para o clube da Luz. E vou mais longe: para mim, pessoalmente, enquanto benfiquista, até uma simples presença na final será motivo de grande orgulho, e de registo no caderno dos grandes acontecimentos do meu benfiquismo.

Acredito que possa existir algum “mind-game” escondido nesta estranha declaração, até porque Jorge Jesus é um homem com cultura desportiva suficiente para perceber o que significa o triunfo numa prova europeia. Se o objectivo for, por exemplo, retirar pressão de cima dos jogadores, pois muito bem. Mas se se trata de uma sincera manifestação de opinião, então, não só não concordo, como nem sequer entendo.

Para mim, uma Liga Europa vale por três Campeonatos (assim como uma Champions valeria por dez), independentemente de quem seja o adversário da final. Assim como um Campeonato Nacional valerá, mais coisa menos coisa, por três Taças de Portugal, por cinco Taças da Liga, ou por dez Supertaças.

Uma Taça de Portugal, ou até uma Taça da Liga, sim, podem, em determinadas circunstâncias, salvar uma época. Uma Liga Europa não se coloca nesses termos.

Neste caso, não se trata de salvação. Trata-se de glória!

NUNCA MAIS ACABA ISTO...

Lamento, mas não me sinto motivado para escrever sobre jogos a feijões, sobretudo em vésperas de um dos momentos mais importantes dos últimos anos.

Quem quiser que o faça. Na minha cabeça só há Liga Europa.

Aliás, se os jogadores tivessem a mesma motivação que eu, nem o empate teriam conseguido.