CALDEIRÃO DE EMOÇÕES

Nem sempre as grandes exibições, ou as goleadas, garantem o efeito anímico equivalente ao de uma vitória conseguida no último segundo, após uma reviravolta sensacional e só ao alcance de jogadores hiper-confiantes. Foi o caso deste jogo com o Marítimo, em que a equipa encarnada mostrou o carácter de grande campeã, respondendo nos instantes finais, de forma esmagadora, às vicissitudes de um jogo que nem sempre lhe correu de feição.
Vencer um jogo aos 94 minutos é algo que, para além de lançar o grupo de trabalho e os adeptos num clima de total euforia, enerva e fere profundamente os rivais. A esta hora, André Villas-Boas e o seu adjunto devem estar frustrados (utilizando as suas próprias palavras), ao ver que as jornadas passam e não conseguem libertar-se do fantasma que os persegue. Quando Djalma marcou o golo madeirense terão pensado que era desta. Debalde. O Benfica está fortíssimo, resiste a tudo, e com 55 mil pessoas nas bancadas a apoiar incessantemente ainda encontrou forças nas pernas e na alma para chegar à 17ª vitória consecutiva, mantendo um registo cem por cento vitorioso no ano de 2011.
Sabemos que não há campeões morais. Mas deveriam existir campeões da seriedade, e ao recordarmos as origens da desvantagem pontual que a classificação do campeonato ainda reflecte, não podemos deixar de atribuir essa menção ao conjunto de Jorge Jesus. Tal não irá contar para as estatísticas oficiais, mas deve ao menos servir para reforçar o orgulho que esta equipa merece da parte dos benfiquistas, que nunca poderão esquecer porque motivo ela está apenas em segundo lugar numa competição que deveria, com justiça, liderar. Ganhar jogos sucessivamente, encher estádios, deslumbrar adeptos, impressionar críticos, mostrar um carácter ímpar, também é, de algum modo, ser campeão, e se forças externas conseguirem tirar este título ao Benfica (como parece poder vir a acontecer), ninguém poderá acusá-lo de não o saber defender. O Benfica tem sabido manter o seu título, tem sabido jogar e ganhar como um campeão, e se continuar nesta senda até ao fim, o campeonato 2010-2011 entrará para a história do futebol português como um dos mais injustos de sempre.
Uma vez mais não me apetece destacar individualmente qualquer jogador do Benfica. Diria mesmo que nem me apetece destacar a equipa de futebol do Benfica de todos os 55 mil adeptos que se deslocaram à Luz. Como Jesus bem disse, foi a simbiose entre relvado e bancadas que permitiu o suplemento de alma necessário a uma vitória sofrida, mas muito, muito, saborosa.
O árbitro esteve bem ao anular o golo a Luisão (Cardozo parece efectivamente carregar o guarda-redes adversário), mas esteve mal ao não conceder o penálti naquele corte com a mão ainda na primeira parte. O jogo poderia ter sido mais fácil, mas, já tranquilamente em casa, confesso que gostei mais assim.

ISTO NÃO MERECE PALMAS. MERECE MÚSICA!

Exibição de gala, triunfo incontestável, eliminatória tranquilamente ultrapassada, ponto final na malapata germânica, 16ª vitória consecutiva, prestígio reforçado. O que mais poderia desejar o Benfica desta quinta-feira europeia?
Na verdade, começam a escassear adjectivos para qualificar a extraordinária equipa de Jorge Jesus. Mesmo depois de encaixar quase 80 milhões de euros nas vendas de três dos seus principais activos, o Benfica continua, impávido e sereno, a deslumbrar plateias com um futebol maravilhoso e terrivelmente eficaz. Neste jogo mostrou uma vez mais todas as suas virtudes, vulgarizando um adversário forte (a Bundesliga não é a Liga Sagres, e à excepção de Benfica e FC Porto, não vejo equipa portuguesa superior a esta), resolvendo, com distinção, uma eliminatória que há uma semana atrás chegara a parecer ameaçada.
Dá gosto ver jogar este Benfica. Sobretudo quando veste o fato de macaco e parte de uma atitude humilde para desde aí atingir o esplendor de todo o seu brilhantismo. Em Estugarda, a equipa da Luz começou a ganhar o jogo justamente na atitude competitiva com que o iniciou, lutando por cada posse bola como se fosse a última, enfrentando cada duelo individual como se fosse o único.
A história do Benfica é uma história de trabalho, de querer e de raça. Trata-se, afinal, de um clube que veste da cor do sangue e da cor da gente. É esse o seu ADN, e quando os seus profissionais o interpretam em campo da forma exuberante que se viu, o futebol transforma-se em muito mais do que um simples jogo. Será disto que falamos quando falamos de “Mística”?
Que dizer mais do talento de Gaitán ou Sálvio? Que dizer mais da perseverança de Jara, da classe de Aimar, da eficácia de Cardozo, da generosidade de Maxi ou da segurança de Luisão? Este Benfica supera largamente a capacidade do analista para o qualificar, e, mais do que escrever sobre ele, deixa-me vontade de simplesmente o contemplar, e me deleitar com o aroma do seu inigualável perfume.Esta vitória e esta exibição (porventura a melhor da época, e uma das melhores a nível internacional nos últimos anos) enchem de alegria a nação benfiquista, e reforçam a confiança numa temporada que pode ainda vir a ser histórica. A jogar assim todos os sonhos são possíveis, inclusivamente o de voltar, quase cinquenta anos depois, a erguer uma taça europeia.
Destaques individuais? Numa equipa que joga colectivamente tão bem, será quase um sacrilégio fazê-los. Não deixo todavia de notar o impressionante jogo de Franco Jara, a quem só faltou um golo para tornar perfeita uma noite em elevadíssima rotação.
Arbitragem? Um jogo como este nem merecia árbitro. E com tanto com que regalar o olho, confesso que nem dei pela sua presença em campo.

LUTA PARALELA

Portugal tem fortes hipóteses de voltar a colocar duas equipas directamente na Champions League a partir de 2012/2013. Para isso terá de manter até ao fim da presente temporada o sexto lugar que actualmente ocupa no ranking da UEFA.
Como se percebe pelo quadro abaixo, o nosso grande adversário é a Rússia, se bem que a Ucrânia também ameace intrometer-se na luta.

Interessará por isso dar particular atenção aos jogos envolvendo equipas desses dois países, e naturalmente torcer para que pontuem o menos possível. São eles:
Zenit S.Petersburgo–Young Boys (1-2 na primeira mão)
Twente-Rubin Kazan (2-0)
Spartak Moscovo-Basileia (3-2)
Dínamo Kiev-Besiktas (4-1)
B.Leverkusen-Metalist (4-0)
Entretanto, na edição corrente da Liga dos Campeões, apenas teremos de nos preocupar com o Shakhtar Donetsk, que ganhou em Roma (2-3) na primeira mão dos oitavos-de-final.
Já será mais difícil pedir aos adeptos para que desejem as vitórias de todas as equipas portuguesas em prova. Mas lá que é importante para todas elas que este sexto lugar se mantenha, lá isso é. E tomara que valesse já para este ano...

JOVENS REFORÇOS = 22 GOLOS

FRANCO JARA, 22 anos
Campeonato: Académica, Nacional e V.Setúbal
Liga Europa: Estugarda
Taça da Liga: Olhanense e Desp.Aves
Particulares: Aris, V.Guimarães e Selecção de Angola
NICOLAS GAITÁN, 22 anos
Campeonato: Naval (2), U.Leiria, Nacional, V.Setúbal e Sporting
Taça de Portugal: Arouca

EDUARDO SÁLVIO, 20 anos
Campeonato: Rio Ave (2) e Sporting
Taça de Portugal: Olhanense
Taça da Liga: Marítimo e Olhanense
Se juntarmos as prestações de Roberto na baliza, verificamos como os reforços de Verão do Benfica são, sem excepção, mais-valias para a equipa e para o futebol português.

GUIÃO ANUNCIADO

Com um resultado natural, e uma diferença de capacidades eloquentemente expressa ao longo dos noventa minutos, pode dizer-se que o dérbi de Alvalade seguiu à risca o guião previamente anunciado.
Não foi necessário que o Benfica realizasse uma grande performance artística para que ficasse bem demonstrada a sua gritante superioridade sobre o velho rival, coisa que aconteceu, quer enquanto as equipas estiveram numericamente equilibradas, quer após a injusta expulsão de Sidnei.
Como eu tinha dito na antevisão ao jogo, o grande adversário do Benfica nesta partida estava no interior de si mesmo, que é como quem diz, na cabeça dos seus jogadores. Triunfalismo, excesso de confiança, ou sobranceria, poderiam ser factores suficientes para alterar a correlação de forças, e trair a melhor equipa. Desde cedo ficou patente que isso não iria acontecer, vendo-se um Benfica humilde e empenhado em sair desta jornada com o sonho do título ainda vivo.
Poucas vezes na história do futebol português se terá estado perante um diferencial de poderes e capacidades tão profundo entre estes dois clubes como o que se assiste neste momento. Mas é preciso também dizer que o Sporting não teve a sorte do seu lado, nem pôde preparar este jogo da forma que certamente gostaria. Vendo-se, por diferentes razões, sem Valdés, sem Carriço, sem Evaldo, e sem Vukcevic (já nem falo em Izmailov, e muito menos em Liedson), não dispondo da voz de comando do seu treinador desde o banco, a equipa leonina dificilmente teria argumentos para se bater com o melhor Benfica da temporada. Foram de facto azares a mais para quem já vive no sobressalto de uma crise directiva sem precedentes, e na angústia de um presente muito pouco promissor. Também por tudo isso, a vitória do Benfica não surpreendeu ninguém - nem terá feito os benfiquistas rejubilar de alegria (ao fim ao cabo, a equipa encarnada quase se limitou a cumprir a sua obrigação), e muito menos deverá ter humilhado qualquer sportinguista, pois poucos acreditariam num destino diferente, e alguns até talvez temessem números mais expressivos.Não se viu, como disse, uma grande exibição do Benfica. A equipa teve apontamentos de classe, mostrou-se eficaz no processo defensivo e nas transições ofensivas, mas a espaços evidenciou algumas dificuldades nas transições defensivas (aqueles dois contra-ataques após pontapés de canto a favor, e já em vantagem no marcador, não se poderão repetir, por exemplo, na Alemanha). É impossível especular sobre que segunda parte teríamos visto se estivessem em campo os onze jogadores encarnados. A que se viu mostrou um bloco mais retraído, e suficientemente eficaz face a um adversário que não tinha argumentos técnicos nem físicos para importunar a baliza de Roberto. Este Sporting é totalmente inexistente no jogo aéreo, e grande parte dos seus jogadores executa de forma lenta e denunciada, o que favorece qualquer linha defensiva. Frente ao Estugarda o Benfica terá outro tipo de problemas pela frente. Esperemos que lhes saiba dar, também, diferentes respostas.
Em termos individuais há que destacar a grande exibição de Nico Gaitán (um caso sério de talento, como sempre tenho defendido), mas também do quarteto defensivo (quer com Sidnei, quer com Jardel). No Sporting, só Djaló e João Pereira tentaram remar contra a maré.
A arbitragem esteve perfeita no plano técnico. Já quanto ao aspecto disciplinar, abusou dos cartões, equivocou-se nos critérios, e quase estragou um jogo correcto e leal.
Na próxima semana haverá novo dérbi. E se o Benfica souber respeitar o seu rival como o fez na partida desta noite, haverá seguramente nova vitória daquela que é, incontestavelmente, a melhor das duas equipas.

HUMILDADE E CONCENTRAÇÃO

"Poucas vezes na história do futebol português terá existido uma tão grande diferença de atributos, capacidades e expectativas entre os tradicionais rivais lisboetas como a que nos é dada a observar neste momento. Enquanto o Benfica caminha sobre os carris da esperança, o Sporting navega nos mares da depressão; enquanto o Benfica alardeia a glória resgatada, o Sporting afunda-se no poço do desengano; enquanto o Benfica empolga as suas gentes, o Sporting carrega o fardo do abandono. É neste contexto que os dois clubes se vão defrontar uma vez mais na próxima segunda-feira, e é, paradoxalmente, esse mesmo contexto que nos deve fazer desconfiar da ocasião.
Seria quase uma piada de mau gosto vermos a nossa grande equipa sair derrotada de Alvalade, onde, em nove jogos, o Sporting só ganhou três, todos eles de forma tangencial e sofrida. Provavelmente também não serão muitos os sportinguistas que, perante tamanha disparidade de valores, acreditam honestamente no êxito do seu clube perante o velho rival. Nenhum adepto do futebol com algum bom senso apostará um pau de fósforo queimado em como um grupo de jogadores moribundo, com a sua alma destroçada, enleado em equívocos, sem ambições nem rumo, seja capaz de se superiorizar a um conjunto fortíssimo que, além de ostentar o escudo de campeão nacional nos seus ombros, vem de um período de sucessivas e reluzentes vitórias, e parece definitivamente reencontrado com o vasto potencial do seu extraordinário plantel.
Porém, em futebol – e é justamente essa a sua magia -, este tipo de horizonte repleto de facilidades acaba frequentemente por tomar a forma de precipício. Os fracos puxam pelo orgulho ferido, os fortes afrouxam as suas guardas, e a correlação de forças fica virada do avesso. Desde os tempos em que o pequeno soldado israelita David derrotou um gigante filisteu chamado Golias, sabemos que este tipo de combate (à partida muito desigual) é sempre passível de reservar desfechos inesperados. Do casamento entre a humildade de uns e a sobranceria de outros nasce a surpresa, e rapidamente se torna tarde demais para inverter o rumo iniciado.
Pese embora todas as insuficiências que têm manifestado ultimamente, os jogadores do Sporting irão fazer das tripas coração para vencer este jogo, proporcionar uma grande alegria aos seus apaniguados – a maior de todas elas, como se sabe -, e mostrar a si próprios que não são afinal tão débeis como os pintam. Esta será uma oportunidade única para o nosso adversário inverter o seu ciclo de maus resultados, lançando assim uma pincelada de cor viva na época a preto e branco que tem vindo a realizar. Longe dos dois primeiros lugares, ganhar ao Benfica será, ainda mais vincadamente do que é comum, a forma do Sporting salvar o que resta da época, que mais não seja pela perspectiva de poder ser ele a puxar os pés do grande rival, colocando-o igualmente fora da carroça do título. Não duvidemos que é este o raciocínio que por lá se faz. Não duvidemos que o grande objectivo do Sporting no campeonato 2010-2011 será agora, fundamentalmente, o de complicar a nossa vida. Interrompendo a sequência de triunfos do Benfica, vendo-o definitivamente afastado do bi-campeonato, muitos sportinguistas poderão então suspirar de alívio, aliviando com esses suspiros a própria atmosfera em redor da sua equipa.
O optimismo e a auto-confiança não nos põem em perigo. A sobranceria sim, sobretudo se passar das bancadas para o balneário - coisa que, deve dizer-se, Jorge Jesus não costuma permitir.
Há que preparar este jogo com toda a cautela, percebendo que vamos defrontar uma equipa motivadíssima para nos derrubar. Se o Benfica for igual a si próprio, se fizer da humildade uma das suas armas, estou certo e seguro de que irá superiorizar-se com naturalidade, pois tem melhor equipa, melhores jogadores, melhor treinador, e transpira confiança por todos os seus poros. Se, pelo contrário, entrar em campo convencido de que, mais cedo ou mais tarde, o golo acabará por surgir, se esperar encontrar um adversário dócil e resignado, se pretender passear pelo relvado trajado de gala e de ar altivo, é muito provável que as coisas acabem por correr bastante pior do que todos esperamos, e que seja então o nosso pobre rival a viver o seu dia de glória.
Dérbi é dérbi, e por definição não aceita grandes favoritismos. Há até quem pense que a equipa momentaneamente mais fragilizada sai mais vezes vencedora deste tipo de batalha. As estatísticas históricas não permitem confirmar a tese, mas o que constitui verdade insofismável é que os dérbis não se ganham por decreto, e exigem um investimento anímico suplementar. É precisamente esse suplemento anímico que o Benfica necessita para garantir os três pontos em disputa, e manter de pé o seu sonho.
O Benfica terá pois diante de si, nesta segunda-feira, dois adversários: um Sporting que lhe é claramente inferior, e o fantasma da sobranceria que, esse sim, o pode derrotar. Conseguindo vencer o segundo, o primeiro fatalmente tombará."
LF no jornal "O Benfica" de 18/02/2011

A MALDIÇÃO ALEMÃ

Estes foram os jogos do Benfica em casa de equipas alemãs:
Podemos ainda acrescentar a derrota por penáltis na final da Taça dos Campeões Europeus de 1988, precisamente em Estugarda, mas frente ao PSV da Holanda.
Em vinte jogos oficiais disputados em territória germânico, nem uma só vitória para amostra.
Desta vez, até nem será preciso matar o borrego. Um empate basta, e mesmo uma derrota por 3-2 garante a passagem.

SABE A POUCO...

As últimas impressões são as que perduram. Ao desperdiçar três ocasiões flagrantes de golo só no período de descontos, ao virar um resultado negativo nos últimos vinte minutos, ao empolgar os adeptos com uma segunda parte muito bem conseguida, o Benfica sai desta primeira mão de alguma forma aliviado, e com a sensação de, ainda que minimamente, ter cumprido o seu dever.
Todavia, os jogos começam logo ao apito inicial do árbitro, e são compostos por duas partes. Devo confessar que não percebo suficientemente de futebol para entender porque motivo uma equipa joga tão bem após o intervalo, depois de jogar tão mal até aí e com isso quase comprometer a carreira europeia de toda uma temporada.
No final da primeira parte estava firmemente convencido que o problema era físico, e que o desgaste da última sequência de jogos estaria a fazer-se sentir. A frescura da equipa na ponta final do jogo faz cair pela base essa hipótese, pelo que sobra o plano mental. E, neste particular, há que confessar que o Benfica ainda está distante, por exemplo, do FC Porto.
É verdade que o Estugarda está em penúltimo lugar da Bundesliga. Mas a Bundesliga não é a Liga Sagres, e onde a diferença se fará sentir de forma mais pronunciada é justamente ao nível mais baixo das respectivas tabelas classificativas. Este Estugarda, pelo que mostrou na Luz, seria equipa para integrar os lugares europeus do nosso campeonato, o que vale por dizer que não se poderiam esperar grandes facilidades desta partida. Infelizmente, ao que parece, o Benfica entrou em campo de forma demasiado altiva, acreditando que, com suavidade e sem grande esforço, os golos acabariam por surgir. Com essa atitude algo sobranceira, quase deitou por terra todas as suas aspirações na prova, e veremos na próxima semana se ainda acordou a tempo. Com uma primeira parte ao nível da segunda, os encarnados teriam a eliminatória resolvida (3-0? 4-0?) e, então sim, poderiam descansar na Alemanha. Assim, espera-os uma noite de grande sofrimento, de intensa pressão, e de alto grau de exigência – e, esperam os adeptos, com final feliz.
Passaram algumas horas desde o fim do desafio, e ainda estou um pouco nervoso. Aqueles primeiros 45 minutos foram um pesadelo difícil de suportar, sobretudo para aqueles que, como eu, tanta esperança depositavam (e depositam) nesta competição.
Independentemente dos aspectos mentais, e posta de lado a hipótese de desgaste físico que acima mencionei, creio que houve, isso sim, um problema atlético do Benfica – ou pelo menos de parte significativa dos seus jogadores, em particular os argentinos – face a uma equipa tecnicamente mediana, mas com uma planta física muito apreciável. A pressão que o Benfica tem feito sobre os seus adversários no campeonato português, cortando-lhes todas as iniciativas logo na primeira fase de construção, virou-se aqui contra o feiticeiro, e às unidades mais criativas do onze encarnado não foi dado um milímetro durante todo o primeiro período, em larga medida face à diferença de pesos e alturas nos duelos individuais. Mesmo na melhor fase do Benfica, não foram os artistas a aparecer, mas sim a raça de Maxi Pereira (grande exibição!), a capacidade de choque de Javi Garcia (que pena aquele amarelo…), a generosidade e velocidade de Fábio Coentrão, e os centímetros de Óscar Cardozo (com o seu golo tornou-se o melhor marcador de sempre do clube na Taça Uefa/Liga Europa) – bem como a entrada de três elementos atleticamente fortes, como Kardec, Martins e Menezes, em substituição dos pesos plumas Sálvio, Aimar e Jara, o que demonstra que Jorge Jesus terá feito um raciocínio idêntico. Foi conseguindo disputar a dimensão física do jogo aos alemães que o Benfica encontrou as soluções para dar a volta aos acontecimentos.
Diga-se também, em nome da justiça, que não fosse um fantástico guarda-redes germânico, e não fosse um árbitro holandês, o resultado teria sido mais amplo. O que o Benfica fez na segunda parte chegaria, em condições normais, para marcar mais do que dois golos, e mesmo no final da primeira poderia (e deveria) ter, desde logo, empatado a partida. Na segunda parte, Ulreich abriu o livro, mostrando todos os atributos da fantástica escola alemã de guarda-redes. Na primeira, Eric Bramaar não quis ver uma falta sobre Fábio Coentrão, que poderia ter aberto a porta a uma recuperação mais precoce, e, consequentemente, mais completa.
Isto leva-me a falar da arbitragem, para dizer que há já alguns anos desconfio dos juízes holandeses. Desde um célebre Portugal-Holanda para o Mundial 2006, tenho reparado numa certa animosidade por parte dos árbitros daquele país contra as equipas portuguesas, vendo uma simulação em cada queda, vendo uma provocação em cada protesto. Já revi o lance de Fábio Coentrão na televisão, e parece-me penálti claro. Já em 2007 este mesmo árbitro escamoteara uma grande penalidade ao Benfica, então frente ao Espanhol de Barcelona (sobre Simão Sabrosa), a qual custou uma presença nas meias-finais da Taça UEFA. Espero não me voltar a lembrar do lance de Fábio com a mágoa com que ainda recordo o de Simão.
Para concluir direi que o Benfica não perdeu ainda o seu favoritismo na eliminatória. Afinal de contas basta-lhe um empate no terreno de um adversário que, não sendo tão frágil como alguns pensavam, também está longe de constituir um papão. Mas não posso esconder o meu lamento pelo desperdício (em parte por culpas próprias) da oportunidade de sentenciar desde já este combate.
Se for necessário aligeirar a preparação do jogo com o Sporting, pois que assim seja. Ficar já fora da Europa é que não será aceitável.

DESTINO:DUBLIN

Se tivesse de escolher a realização de um único desejo desportivo para 2011, escolheria ver o Benfica a jogar neste estádio no dia 18 de Maio. Não sei qual é a prioridade de Jorge Jesus, nem da SAD, nem da maioria dos benfiquistas. A minha é esta!

DE CHORAR POR MAIS

Se não há certezas absolutas de qual seja a segunda melhor equipa do actual panorama europeu, não subsistem muitas dúvidas de que, pelo menos, o mais bonito futebol do velho continente tem sido protagonizado pelos dois conjuntos que esta noite se defrontaram no Emirates de Londres. Arsenal de Wenger e Barcelona de Guardiola, são efectivamente, pela beleza do seu jogo, as equipas mais vistosas dos últimos anos, e um frente a frente entre elas só poderia resultar num espectáculo divinal.
Devo dizer que, pessoalmente, aprecio mais o estilo prático, rápido e incisivo do Arsenal, do que o rendilhado suave e repetitivo do Barça, reconhecendo todavia a este uma eficácia superior, sobretudo pela capacidade de pressão que coloca na reconquista da bola. Neste jogo, a primeira parte foi uma demonstração de poderio catalão, à qual faltaram golos suficientes para resolver desde logo a contenda. Algum adormecimento, e uma substituição falhada (a saída de Villa), viraram as agulhas da partida, fazendo ressurgir um Arsenal empolgante e capaz de, em poucos minutos, dar a volta ao marcador - ganhando o jogo, e partindo para Camp Nou com uma ligeira vantagem na eliminatória.
De tudo isto ficou uma noite de gala, ao nível do melhor que a modalidade pode proporcionar. Aliás, tenho para mim que é justamente na fase eliminatória da Liga dos Campeões que se vê o melhor futebol do mundo (superior a Campeonatos da Europa, Campeonatos do Mundo, e às próprias finais europeias, onde o calculismo por vezes impera).
Creio que o favoritismo continua do lado do Barcelona. Mas Arshavin, Nasri, Fabregas e companhia terão uma palavra a dizer na segunda mão. Pela minha parte, torcerei por eles, pois, além de se tratar de uma das equipas cujo futebol mais me tem apaixonado, os clubes regionalistas trazem-me sempre um odor muito pouco agradável.

POUPANÇAS? SÓ NO CAMPEONATO!

Este seria o meu plano de gestão do plantel benfiquista para os próximos seis jogos, salvaguardando eventuais alterações por lesão ou castigo.
As prioridades devem ser claramente a Liga Europa, a Taça de Portugal e a Taça da Liga, por esta ordem. Quanto ao Campeonato, um bom resultado em Alvalade garante o segundo lugar, ao passo que o primeiro está demasiado distante para com ele gastar muitas fichas.
Assim, optaria por privilegiar os jogos com o Estugarda, e com o Sporting em casa para a Bwin Cup, fazendo descansar alguns elementos em Alvalade, em Braga, e, sobretudo, no jogo com o Marítimo na Luz. Luisão e Fábio Coentrão poderiam, por isso, aproveitar para ver um amarelinho nos últimos minutos da partida de segunda-feira, juntando o útil ao agradável.

A ANGÚSTIA DE CARDOZO NO MOMENTO DO PENÁLTI

Contrariando Peter Handke, quem parece sentir alguma angústia no momento dos penáltis a favor do Benfica é o avançado, neste caso, Óscar Cardozo.
Depois de duas épocas de eficácia total, o paraguaio desatou a falhar grandes penalidades, algumas das quais com sérios danos em termos de resultado final – como por exemplo a do último minuto de um jogo no Bonfim, ou a da partida da sua selecção no Mundial frente à Espanha.
Com cinco penalidades falhadas nas últimas onze, os benfiquistas não podem deixar de revelar alguma apreensão nas poucas ocasiões em que os árbitros têm apontado para a marca dos onze metros. Aquilo que, antes com Simão Sabrosa, e depois, durante dois anos, já com Cardozo, era quase golo cantado, agora tornou-se num enorme ponto de interrogação.
Os números globais das últimas quatro temporadas são, ainda assim, bastante positivos: em 32 penalidades máximas, Tacuára converteu 24, o que talvez seja suficiente para Jorge Jesus lhe continuar a conceder total confiança. Aliás, só o técnico e o próprio jogador poderão conhecer os mecanismos psicológicos que estão na base destes últimos desperdícios, pelo que só eles poderão interpretar a situação de modo apropriado.
Eu, pela minha parte, e apesar da profunda admiração que tenho pelo jogador, confesso que não deixarei de sentir um arrepio na espinha se um destes dias, em situação decisiva, Cardozo for novamente chamado a converter um penálti.
Vejamos então o histórico do ponta-de-lança benfiquista quanto a grandes penalidades:

CLASSIFICAÇÃO REAL

Haveria muito que escrever sobre as arbitragens deste fim-de-semana. Como tempo livre é coisa que não abunda neste momento aqui por casa, vou ter de ser sucinto:

OLHANENSE-SPORTING
Primeiro golo de Postiga em fora-de-jogo; penálti por marcar a favor do Sporting por mão de Fernando Alexandre; penálti por marcar a favor da Olhanense por agarrão a Carlos Fernandes na sequência de um canto; segundo cartão amarelo por mostrar ao mesmo jogador; fora-de-jogo mal tirado a Postiga.
Resultado Real: 3-2

BENFICA-V.GUIMARÃES
Golo limpo anulado a Saviola; golo bem invalidado a Cardozo (está ligeiramente fora-de-jogo); penálti bem assinalado; cartão amarelo por mostrar a Javi Garcia.
Resultado Real: 4-0

SP.BRAGA-FC PORTO
Um penálti por assinalar para cada lado (mão de Alan, e toque no pé de Mossoró); segundo golo do FC Porto em fora-de-jogo (Otamendi está tão deslocado como Cardozo no jogo da Luz); expulsão perdoada a Belluschi.
Resultado Real: 1-2

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 52
FC Porto 50 (+1)
Sporting 27

O top-erro também segue sem alterações:
1º SPORTING-V.GUIMARÃES (11ª jornada) Golo fantasma concedido pelo árbitro auxiliar, num lance em que a bola bate apenas na trave, e em que o guarda-redes vimaranense é empurrado, ele sim, para dentro da baliza. Resultado na altura: 1-0 Resultado final: 2-3
2º RIO-AVE-FC PORTO (3ª jornada) Rasteira clara de Álvaro Pereira a um avançado do Rio Ave dentro da área, a que Jorge Sousa fez vista grossa. Resultado na altura: 0-1 Resultado final: 0-2
3º FC PORTO-V.SETÚBAL (13ª jornada) Falcão mergulha para a relva no interior da área, e o diligente Elmano Santos aponta para a marca de penálti, a um minuto do intervalo. Resultado na altura: 0-0 Resultado final: 1-0

DEUSES NA RELVA, FUTEBOL DOS DIABOS

Olhando para o quadro publicado aqui abaixo, não me recordo nesta temporada, nas tais 21 vitórias, de nenhuma exibição simultaneamente tão brilhante e tão constante como a realizada pelo Benfica este fim de tarde na Luz.
O jogo do Dragão foi fantástico, mas puxou mais pela solidez do que pela nota artística. O jogo com o Lyon proporcionou bons momentos, mas a equipa claudicou no final. Contra Rio Ave e Nacional viu-se um grande espectáculo, mas também algumas falhas defensivas. Neste jogo, frente a uma das melhores equipas do campeonato português, assistiu-se a uma exibição de gala do primeiro ao último instante, perfeita em quase todos os parâmetros que possamos utilizar para a analisar.
Digo quase todos porque em termos de eficácia diante da baliza o Benfica ficou a dever a si próprio um resultado histórico. O caudal de futebol produzido justificaria cinco, seis ou mesmo sete golos, e só algum desacerto na concretização poupou Manuel Machado a mais um resultado humilhante diante do seu inimigo de estimação.
É um regalo ver jogar assim. Quando dos pés de artistas como Aimar, Saviola, Salvio e Gaitán (depois também Carlos Martins) sai todo o esplendor de um futebol mágico, fluente e vibrante, os espectadores só têm de agradecer o privilégio de poder presenciar tais momentos. Estavam 55 mil nas bancadas da Luz, e se a equipa continuar nesta senda, os lugares irão rapidamente voltar a esgotar, à semelhança do que ocorria na temporada passada, e mesmo que a distância para o primeiro lugar do campeonato se mantenha teimosa e injustamente ampla.
Com meia-hora decorrida já o resultado poderia estar sentenciado. O poste, a barra, Nilson e alguma infelicidade impediram que os golos se fossem acumulando. Na segunda parte foi a vez do fiscal-de-linha e de Óscar Cardozo obstarem à goleada. No fim, os 3-0 sabem a pouco para tanto, tanto, futebol. Numa tarde de deuses é-me difícil escolher o melhor em campo. Todos os argentinos, bem como Sidnei, Javi e Maxi, brilharam a grande altura. Talvez optasse por Pablo Aimar, embora Saviola ficasse muito próximo – até porque ambos marcaram, ainda que só um dos golos valesse.
João Ferreira falhou precisamente ao invalidar o golo de El Conejo, lance no qual não se vislumbra nenhuma infracção. Creio, todavia, que a responsabilidade tenha sido do assistente. À excepção desse lance, a arbitragem esteve em bom plano, deixando fluir um espectáculo de grande nível.
Acabei de ouvir as declarações de André Villas-Boas após a vitória do FC Porto em Braga. Não deixei de me rir quando, ainda a deleitar-me com o chapéu de Carlos Martins, a rabona de Aimar, o calcanhar de Gaitán, os dribles de Saviola, o técnico portista disse que os benfiquistas deveriam estar …frustrados (!?!). Eu há muito que não acredito no título, mas nunca me esqueço porque motivo a diferença pontual é a que se verifica. Há troféus para conquistar, uma Europa para encantar, e a jogar assim todos os sonhos são possíveis. Depois de uma exibição deste nível, a frustração só poderá estar do lado daqueles que têm obrigação de saber porque motivos vão ingloriamente na liderança da tabela classificativa. Ganhar a qualquer preço serve bem á vaidade (como se vê), mas nunca à satisfação e à auto-realização (como também se vê). E se as coisas continuarem assim até final, creio que o vencedor moral deste campeonato será o Benfica, ainda que outros possam, pelas ruas, dar largas aos seus sentimentos de ódio, de vingança e de inferioridade.

MÁXIMA FORÇA

O onze de gala para uma jornada que pode representar a última esperança de sonhar com o título.

OS (QUASE) INVENCÍVEIS

Eis a sequência do Benfica em provas nacionais desde o dia 9 de Setembro de 2010, dia em que Olegário Benquerença o impediu de vencer em Guimarães: 21 vitórias em 22 jogos, registo que não encontra paralelo há muitas décadas.

O RESISTENTE SOLITÁRIO

Como é possível que Paulo Sérgio ainda se ache com condições para continuar à frente da equipa do Sporting?
Por mim, enquanto benfiquista, devo dizer que lamento todas estas demissões, pois um Sporting com esta gente não faria cócegas a ninguém. Mas enquanto simples observador, estranho bastante ainda haver alguém que não se demita, que mais não seja por pudor.

DERROTA INJUSTA

Tal como tantas vezes acontece neste tipo de partidas, as múltiplas substituições, servindo os intuitos de observação dos técnicos, acabam por destruir a qualidade do futebol jogado. Foi isso que aconteceu na segunda parte do Portugal-Argentina, após um primeiro período bastante vivo e agradável.
Há que dizer que a derrota portuguesa não espelha aquilo que se passou em campo. As equipas equivaleram-se, e o empate a uma bola que se registava a um minutos do final fazia honras à justiça. A haver um vencedor, talvez até a equipa de Paulo Bento – mesmo desfalcada de três quartos da sua defesa titular (Bosingwa, Ricardo Carvalho e Pepe) - estivesse mais perto de o ser, mas em futebol só os golos contam, e a Argentina marcou dois.
No despique entre os dois melhores jogadores do mundo, Messi, com um golo e uma assistência primorosa, levou ligeiramente a melhor.

DUELO DE ESTRELAS

Será precisamente no estádio onde tive o privilégio de assistir a uma partida do Euro 2008 (na altura, Portugal-República Checa) que irá ter lugar o aguardado duelo entre os astros Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.
Noutra ocasião já disse aqui o que pensava destes jogos de selecção entalados entre os densos calendários das competições clubistas, defendendo que seria bem melhor resgaurdar um período específico – por exemplo os meses de Maio ou Junho – onde se concentrassem todas partidas (particulares e de qualificação), mediante uma só convocatória, com mais tempo de trabalho conjunto, e perante uma maior atenção da generalidade dos adeptos.
Irei certamente ver pela TV o Portugal-Argentina, mas sendo outro o adversário duvido que conseguisse encontrar entusiasmo suficiente para perder duas horas com um jogo particular a destempo. E até sou dos que gosta bastante da Selecção Nacional.
Independentemente dos meus estados de alma, há que dizer que este desafio será um bom teste para a equipa de Paulo Bento, sendo também uma oportunidade para a equipa das quinas confirmar que o cinzentismo herdado de Queiróz já passou à história. Não sei como está a Argentina pós-Maradona, mas olhando para os nomes que a compõem, não deixa seguramente de se tratar de uma grande equipa. Nico Gaitán é um dos convocados, não devendo contudo entrar no onze inicial de Batista.
Do lado de cá, não é difícil prever que a equipa portuguesa alinhe com: Eduardo, Bosingwa, Bruno Alves, Rolando, Fábio Coentrão, Raul Meireles, João Moutinho, Carlos Martins, Cristiano Ronaldo, Hugo Almeida e Nani.

O ÚLTIMO PREGO

A entrevista de Costinha à Sport Tv foi o último prego no caixão do Sporting, ou pelo menos de um certo Sporting, nascido com José Roquette, e definitivamente assassinado por José Bettencourt.
Enquanto benfiquista não posso, por vezes, deixar de me divertir um pouco com o que se passa na casa do vizinho (ainda que cada vez menos rival). Mas como adepto do futebol e do desporto vejo com apreensão o futuro próximo do clube de Alvalade, cuja presença e a força fazem falta nas principais competições desportivas do país.
A era Bettencourt superou, pela negativa, as expectativas mais pessimistas, levando o Sporting para um beco de onde lhe vai ser difícil sair. É preciso mudar radicalmente, mas essa mudança envolve elevados riscos. Está aí o dilema do Sporting, que só o pós-eleições vai permitir decifrar.
A entrevista de Costinha, em si, prova, de forma dramática, a total inabilidade do ex-médio do FC Porto para a função que desempenha, e com isso revela a qualidade que tem presidido a todas as escolhas feitas no reino do leão de há uns tempos a esta parte – de Sá Pinto a Salema Garção, de Carvalhal a Paulo Sérgio, de Costinha a Couceiro, de Torsiglieri a Pongolle. Começando no presidente e terminando no plantel, toda a estrutura está carregada de incompetência, de amadorismo, de mediocridade. O que Costinha disse é verdade, mas nunca poderia ser ele a dizê-lo, muito menos num timing completamente desadequado, o que não pode deixar de transmitir a ideia de um sacudir de culpas.
Na verdade ninguém sabe quem manda em Alvalade. O presidente demitiu-se e, pelo que se diz, desapareceu. O director-desportivo tem a ponderação que se vê. O treinador parece totalmente perdido, mas não sai a menos que o empurrem. A equipa, obviamente, não joga. Como dinheiro também não há, do Sporting resta pouco mais que a memória de um grande passado.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Como já disse na crónica do jogo, Cosme Machado demonstrou uma vez mais em Setúbal a sua total inaptidão para a função. Apita quando não deve, deixa passar faltas, não segura o jogo, mostra cartões ridículos, e por vezes parece andar perdido em campo, como que desejando que aquilo acabe depressa.
Pelo contrário, Bruno Esteves realizou em Alvalade mais uma boa arbitragem, evidenciando segurança, perspicácia e discernimento.
Do jogo do Dragão pouca coisa vi.

SPORTING-NAVAL
Já havia gostado do desempenho de este árbitro setubalense num jogo que dirigiu na Luz, e voltei a simpatizar com a sua prestação nesta jornada. O penálti assinalado não deixa dúvidas, e em quase todos os lances ajuizou bem, evitando muitas interrupções – coisa que o diferencia da maioria dos seus pares.
Resultado Real: 3-3 (após mais uma deplorável exibição do Sporting, salva uma última vez por Liedson)

FC PORTO-RIO AVE
Vi apenas um resumo, e a única coisa que posso dizer é que o segundo cartão amarelo ao jogador vilacondense foi bem mostrado (nada sei sobre o primeiro). Não me apercebi de qualquer lance duvidoso nas áreas, mas se for caso disso voltarei a falar sobre a actuação de Vasco Santos nesta partida.
Resultado Real: 1-0

V.SETÚBAL-BENFICA
Já disse o essencial sobre Cosme Machado. É um árbitro muito fraco, mais ao nível do que se vê nas segundas e terceiras divisões, onde não há televisão nem repetições.
O golo de Javi Garcia é limpíssimo – e embora já não alterasse o rumo do jogo, seria um bom prémio para a excelente exibição do médio espanhol. Foi perdoado um livre perigoso a favor do Benfica. E ninguém percebeu o seu critério disciplinar, que acabou por prejudicar sobretudo o jogo, mostrando cartões a quem não devia, e deixando passar faltas duras sem admoestação.
Resultado Real: 0-3

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 49
FC Porto 47 (+1 jogo)
Sporting 27

O top-erro também segue sem alterações:
1º SPORTING-V.GUIMARÃES (11ª jornada) Golo fantasma concedido pelo árbitro auxiliar, num lance em que a bola bate apenas na trave, e em que o guarda-redes vimaranense é empurrado, ele sim, para dentro da baliza. Resultado na altura: 1-0 Resultado final: 2-3
2º RIO-AVE-FC PORTO (3ª jornada) Rasteira clara de Álvaro Pereira a um avançado do Rio Ave dentro da área, a que Jorge Sousa fez vista grossa. Resultado na altura: 0-1 Resultado final: 0-2
3º FC PORTO-V.SETÚBAL (13ª jornada) Falcão mergulha para a relva no interior da área, e o diligente Elmano Santos aponta para a marca de penálti, a um minuto do intervalo. Resultado na altura: 0-0 Resultado final: 1-0

E VÃO 15...

Estávamos no dia 9 de Setembro de 2010 quando uma arbitragem fantasmagórica de Olegário Benquerença ditou a derrota do Benfica em Guimarães. Daí para cá passaram-se já cinco meses, e nos 14 jogos do campeonato entretanto realizados os encarnados venceram 13, perdendo apenas no recinto do primeiro classificado.
Se preferirmos fazer as contas a todas as competições nacionais, desde a derrota no Dragão o Benfica soma 15 triunfos consecutivos, algo que nem na época passada (uma das melhores das últimas décadas) conseguira fazer. Outro número: no ano civil de 2011, já lá vão 10 vitórias, sem qualquer empate ou derrota pelo meio.
Ou seja, para procurarmos as razões do atraso pontual na classificação da Liga, teremos de olhar exclusivamente para o período compreendido entre os dias 15 de Agosto e 9 de Setembro, quando muita coisa estranha se passou, nomeadamente em termos de arbitragens. Daí para cá temos um Benfica fortíssimo, à imagem e semelhança do grande campeão 2009-2010.
Foi pois uma equipa confiante, e super-moralizada por uma categórica vitória a meio da semana para a Taça de Portugal, que chegou ao Estádio do Bonfim para mais uma jornada, sabendo que estava, nesse momento, a 14 pontos da liderança do campeonato. À sua espera estava um Vitória de Setúbal muito organizado, muito combativo, com algumas unidades capazes de criar desequilíbrios, e que no seu estádio tem por hábito criar grandes dificuldades aos clubes lisboetas.
Tem de dizer-se desde já que este não foi um dos melhores jogos do Benfica deste período. A equipa sadina equilibrou quase sempre a partida, criou ocasiões para marcar, e a vantagem benfiquista conseguida num esplêndido golo de Gaitán à beira do intervalo era, nessa altura, algo lisonjeira para aquilo que se tinha passado em campo até então.
Se durante a primeira parte as duas equipas se equivaleram, no início da segunda o Vitória entrou até mais forte, ameaçando seriamente o golo da igualdade. Só na ponta final do desafio – sobretudo após as substituições efectuadas de um e de outro lado – o Benfica tomou definitivamente as rédeas do jogo, deixando uma última imagem de superioridade que não correspondeu inteiramente ao futebol produzido pelos dois conjuntos ao longo de cerca de 70 minutos. Isto não significa que a vitória encarnada tenha sido imerecida – foi-o, quer pelas oportunidades criadas, quer pela qualidade de algumas acções individuais que fizeram a diferença -, mas antes que esteve longe de se traduzir em qualquer tipo de facilidade, ao contrário do que à primeira vista possa parecer.
Talvez o desgaste causado pela partida do Dragão tenha pesado no corpo e na mente dos jogadores. A verdade é que o tipo de pressão e agressividade colocadas nas disputas de bola pouco teve a ver com aquele que o Benfica conseguira desenvolver na partida da Taça com o seu rival. Durante largos minutos prevaleceu a sensação de um Benfica macio, e confiante na sorte e no talento individual das suas principais unidades – sorte e talento que, diga-lhe, acabaram efectivamente por aparecer, resolvendo todos os problemas.
O que fica é contudo mais uma vitória, e a continuação de uma sequência de resultados verdadeiramente notável. Se dará para ainda lutar pelo primeiro lugar? Sabem já a minha opinião. Seja como for, todos estes triunfos não deixam de constituir um óptimo sinal para o futuro próximo, o qual está longe de se circunscrever ao campeonato nacional.
No plano individual há a destacar os autores dos golos (sobretudo Gaitán, que esteve mais tempo em campo, e realizou uma excelente exibição), mas também Luisão e Javi Garcia, ambos em grande momento de forma.
Falta apenas falar de Cosme Machado, que num jogo sem casos demasiado complicados para analisar, acabou por se deixar enlear na sua própria incompetência, cometendo erros que prejudicaram ambas as equipas (sobretudo o Benfica, com um golo mal anulado), e utilizando um estranhíssimo critério disciplinar que penalizou muitas vezes o que não devia, ao mesmo tempo que deixava passar situações de maior gravidade. Enfim, este juiz minhoto é um caso perdido.

UMA DOCE TRADIÇÃO

Ou seja, o Benfica eliminou o FC Porto 19 vezes da Taça de Portugal (esta poderá ser a 20ª), e apenas caíu aos pés dos portistas em 5 ocasiões. De realçar também algumas goleadas (6-0, 5-0, 6-2, 6-0), e o impressionante score de 8-1 em finais conquistadas perante o rival.
Diga-se também que na jovem Taça da Liga os dois clubes apenas se encontraram uma vez, justamente na final da época passada, com a vitória clara do Benfica por 3-0.

OBRA DE MESTRE

Aquando da goleada sofrida pelo Benfica em Novembro último, muita gente crucificou Jorge Jesus, arrasando a sua estratégia e as suas opções. No balanço da importante vitória conseguida esta noite será justo que se saiba reconhecer o dedo do “mestre” na forma como o Benfica se impôs ao seu principal rival, demonstrando que, Benquerenças à parte, a melhor equipa portuguesa ainda mora na Luz.
A superioridade do Benfica foi absoluta, e cedo começou a desenhar-se. A colocação de César Peixoto em reforço do meio-campo (a que alguns poderiam chamar invenção) revelou-se uma das chaves para a capacidade de pressão nessa zona do terreno, cortando os espaços às unidades mais criativas do adversário. Foi pela conquista do meio-campo que, sobretudo nos primeiros trinta minutos, o Benfica começou a ganhar o jogo.
O orgulho ferido pela derrota de Novembro também terá mexido com os jogadores encarnados, que desde o apito inicial de Paulo Baptista denotaram um elevadíssimo grau de concentração competitiva, cometendo pouquíssimos erros individuais e colectivos (os centrais, por exemplo, estiveram perfeitos), e interpretando com rigor aquilo que deles se esperava. O golo aos seis minutos também ajudou, tal como qualquer golo ajuda sempre quem o marca e perturba quem o sofre.
Do lado do FC Porto custa a entender a insistência em Hulk na zona central, onde o brasileiro perde grande parte do fulgor e capacidade de explosão. Confesso que passei grande parte do jogo temendo pelo momento em que André Villas-Boas se decidisse a deslocar o seu melhor jogador para o lugar onde mais rende (faixa lateral), fazendo entrar um ponta-de-lança, só no fim me apercebendo que esse ponta-de-lança (Walter) afinal estava na bancada. Sem Falcão no centro do ataque, “sem” Hulk nas alas, e com Belluschi manietado por uma ardilosa teia tecida na intermediária benfiquista, o FC Porto tornou-se uma equipa vulgar, incapaz de mostrar ideias para lutar contra o seu próprio destino.
Com a injusta expulsão de Fábio Coentrão, pensava-se que o Benfica poderia tremer, esperando-se então um FC Porto revitalizado em busca do golo. Mas a forma notável como a equipa encarnada rapidamente se adaptou à situação de inferioridade numérica não permitiu que a história da partida se alterasse, pertencendo inclusivamente a Óscar Cardozo a mais gritante ocasião para marcar.
Globalmente, assistiu-se pois a uma demonstração de classe benfiquista, que resultou numa vitória cheia de justiça. A eliminatória não está resolvida, mas o passo dado no Dragão chega para atribuir ao conjunto de Jorge Jesus um claríssimo favoritismo na contenda.
No plano individual quase todos os jogadores do Benfica estiveram em bom plano. Destacaria ainda assim o rendimento da dupla de centrais (Luisão e Sidnei), da dupla de médios (Javi Garcia e César Peixoto), e da dupla da ala esquerda (Gaitán e Fábio Coentrão, enquanto esteve em campo). No FC Porto só Varela se salvou do marasmo generalizado.
Paulo Baptista teve uma arbitragem difícil, saindo-se bem da maioria dos lances, nomeadamente nos dois penáltis inexistentes reclamados pelos portistas. Equivocou-se no segundo cartão a Fábio Coentrão – talvez iludido pela teatralização de Sapunaru, que além de pontapear Stewards, também parece ter queda para o circo – e poderia ter mostrado a cartolina amarela a Belluschi, em disputa com o mesmo Coentrão junto da linha de fundo. Não creio que este último lance (como o de Cardozo, ambos normais no calor da luta) devesse ser motivo para expulsão, até porque as agressões mais graves são, quanto a mim, as entradas às pernas dos adversários, essas sim capazes de deixar consequências.
A título de curiosidade refira-se que nos últimos 14 meses estes dois clubes defrontaram-se seis vezes, com três triunfos para cada lado. Essa igualdade é, aliás, extensível a toda a história do clássico, com igual número de vitórias para encarnados e azuis-e-brancos. Até final da época o Benfica tem duas partidas em sua casa para desempatar as estatísticas.

DE VIDA OU DE MORTE

Se o futebol é mesmo muito mais do que uma mera questão de vida ou de morte – como dizia Bill Shankly, e como se lê no cabeçalho aqui da casa -, um jogo entre FC Porto e Benfica (como Real-Barça, Boca-River, Inter-Milan, Fla-Flu ou Celtic-Rangers) será dos que melhor exemplifica tal máxima, mais a mais tratando-se de uma eliminatória.
Estando a questão do título (pelo menos no meu ponto de vista) praticamente arrumada, estes jogos da Taça serão até os mais importantes dos próximos meses para o Benfica. Uma vitória esta noite significará, creio, um passo de gigante rumo à conquista da segunda mais importante competição do país, coisa que pode traduzir a diferença entre uma época bem conseguida e um fracasso.
O FC Porto não está tão pressionado, e, jogando em casa, terá, pelo menos nesta primeira-mão, algum favoritismo do seu lado. Conta com um inspiradíssimo Hulk, e com um estádio cheio de hostilidade para com o rival, mas desconfio que possa também contar com outras coisas a seu favor (como de resto é tradicional neste tipo de jogos).
Um bom resultado para os encarnados será naturalmente ganhar. Mas um empate, permitindo que todas as decisões sejam transportadas para a Luz, também me deixaria satisfeito. Pelo contrário, uma derrota por mais de um golo de diferença poderá significar o triste adeus ao sonho de terminar a temporada em festa.
Tomando em conta aquilo que se passou no jogo do campeonato, não acredito que Jorge Jesus vá proceder a quaisquer alterações na sua equipa-base (exceptuando naturalmente a saída de David Luíz, e, possivelmente, a substituição de guarda-redes). O Benfica não deve ter medo do FC Porto, e creio que se conseguir limitar a acção de Hulk terá tudo para sair do Dragão com um sorriso nos lábios.
A minha equipa não deverá diferir muito do onze a utilizar pelo técnico benfiquista:

RENTABILIDADE

Como se percebe pelo quadro acima, o Benfica recuperou já, amplamente, o fortíssimo e arriscado investimento que desde 2007 empreendeu no seu futebol profissional.
Deixando de lado (para simplificação de análise) as transacções inferiores a 2 milhões de euros, a SAD encarnada obtém, neste período, grosso modo, uma mais-valia superior a 40 milhões de euros entre entradas e saídas de jogadores. Entretanto conquistou o título nacional e duas taças da Liga, mantendo ainda assim um plantel forte e com múltiplas possibilidades de novos encaixes (entre os quais, por exemplo, Fábio Coentrão, que custou um milhão de euros pelo que nem figura no quadro).
Houve algumas apostas menos felizes (Balboa ou Makukula, por exemplo), mas negócios como David Luíz (adquirido por 1,5 e vendido por 25), Ramires ou Di Maria (vendidos por mais do triplo do valor de aquisição) chegam para classificar distintamente a gestão desportiva do Benfica nestes anos.

O DIA DAS DECISÕES FINAIS

aqui tinha dito praticamente tudo acerca da inevitável saída de David Luíz.
Poderei lembrar que aprecio os números do negócio (sobretudo face à actual crise, e tendo em conta que se trata de um defesa), e acrescentar que o Benfica fez o que podia para o tornar o mais proveitoso possível.
Os grandes jogadores fazem falta ao presente, mas o dinheiro faz falta ao futuro. A equipa ficará, no curto prazo, mais fraca, mas acredito que o clube fique mais forte para encarar as próximas temporadas.
Se quanto à tesouraria estamos conversados, quanto ao centro da defesa creio que esta será a hora para Sidnei se afirmar. Trata-se de um jovem com grande talento, e que tem agora o espaço para crescer. Para já, julgo ser ele o primeiro candidato à vaga em aberto, e, nas mãos de Jorge Jesus, não me admiro de dentro de dois ou três anos poder vir a ser também objecto de uma transferência milionária.
Se a transferência de David Luíz (uma das principais figuras do Benfica) rende aos encarnados uma verba considerável, já a saída de Liedson (uma das principais figuras do Sporting) apenas representa um sério problema para Paulo Sérgio.
Jogadores como Liedson (ou no Benfica, por exemplo, Luisão) não se vendem. São elementos cujo valor desportivo é ainda muito superior à cotação que já não têm no mercado, pelo que a sua falta na equipa não é compensada pela parca quantia que os outros clubes estão dispostos a pagar por eles.
Acresce que o Sporting não tem, no seu plantel, alternativas de qualidade ao “levezinho”, nem se preparou, nesta abertura de mercado, para o perder. O ataque dos leões irá agora ficar entregue ao imberbe Saleiro e aos irregulares Hélder Postiga e Yannick Djaló, o que me parece ser muito pouco para as ambições do clube.
Terá havido uma tentativa de contratar Kléber, mas a proposta feita ao Atlético Mineiro foi humilhantemente considerada ridícula pelo presidente do clube brasileiro (já há muito comprometido com o FC Porto, como aliás parece acontecer com Djalma, também ele alvo do interesse do Sporting). Cristiano é bom jogador mas, além de não ser um ponta-de-lança, tem atrás de si um passado profissional demasiado problemático, conflituoso e indisciplinado para o tomar como uma aposta segura.
Ou seja, tal como acontecera com a saída de João Moutinho no Verão, o Sporting fica agora substancialmente mais enfraquecido com o adeus do seu maior goleador dos últimos anos. E neste caso sem nada, ou quase nada, em troca.
Liedson sai do Sporting sem nunca ter sido campeão nacional, apesar dos quase duzentos golos que marcou, e de ter sustentado a equipa, quase sozinho, durante anos.