DOLOROSO

A expectativa era baixa. Uma derrota seria o mais normal. Mas como decorreu o jogo, essa derrota tornou-se dolorosa.

O Benfica chegou a ter o pássaro na mão. O golo de Rafa deixava o Arsenal a dois de distância, com 27 minutos por jogar. Cheguei a acreditar.

Penso que Jesus mexeu mal na equipa. Everton não trouxe nada, e até esteve ligado ao golo de Thierney. Nuno Tavares ficaria ligado ao último de Aubameyang. E talvez Gilberto tivesse travado Willian, no flanco esquerdo do ataque arsenalista - que trouxe grande perigo para a área encarnada.

Ficou também demonstrado que Lucas Veríssimo ainda não tem o ritmo do futebol europeu, e que Helton Leite não acrescenta nada na baliza face a Odysseas. 

Enfim, assim doeu mais. É preciso também dizer que este Benfica dificilmente chegaria longe nesta prova. Resta a taça e tentar ainda o segundo lugar no campeonato.

A crise continua. Parece maldição. Ou é falta de categoria ou é falta de sorte. Neste jogo foram ambas, mas ninguém acuse os jogadores de falta de entrega. 

A PROPÓSITO DE PIZZI

 Goleadores do Benfica em provas internacionais de sempre:


Goleadores do Benfica nesta temporada em todas as competições:

Goleadores do Benfica na temporada passada em todas as competições:


Rei das Assistências no campeonato 2019-20 : 14

Rei das Assistências no campeonato 2018-19 : 19

314 jogos (22º da história), 88 golos (24º da história, à frente de Magnusson, Diamantino, Simões, Isaías, Chalana, Paneira, Saviola, Rui Costa, Valdo, Aimar, Di Maria, Miccoli, João Alves, Filipovic etc).

4 campeonatos, 1 taça, 2 taças da liga e 4 supertaças

São factos.

PISTAS PARA PERCEBER A CRISE

Comecemos com um Benfica campeão nacional, batendo recordes de golos e vitórias com uma equipa assente na formação do Seixal, depois de 5-0 ao Sporting na Supertaça, e de, já em 2019-20, ter entrado de rompante na Liga com uma série de 18 vitórias nos primeiros 19 jogos. Chegamos então a Janeiro de 2020.
- A contratação de Weigl, por 20M, e certamente com salário chorudo, pode não ter caído bem no balneário, num momento em que ainda havia, para a posição, Fejsa, Florentino e Samaris. Na altura chegou também, por empréstimo, Dyego Souza. Chego a pensar se os prémios relativos à “Reconquista” já haviam sido liquidados integralmente. A verdade é que, coincidência ou não, após aquele mercado de Janeiro o Benfica não mais foi o mesmo;
- A seguir ao empate com o Tondela em casa, e antes do autocarro ser apedrejado (coisa que ajudou imenso, como se viu…), Vieira terá gritado no balneário, chamando ingratos aos jogadores. Constou que, ao contrário do FC Porto, o Benfica tinha mantido os salários integralmente, e daí a acusação;
- A prestação de André Almeida nos jogos com Santa Clara e Marítimo foi inquietante (veja-se o 4º golo do Santa Clara e o 1º do Marítimo). Tal como havia sido a de Pizzi, primeiro no Dragão, com uma exibição miserável, depois com três penáltis falhados nos jogos com Moreirense e Setúbal. Almeida disse que não percebia o que estava a acontecer, e que os jogadores faziam o que se lhes pedia;
- Bruno Lage, mesmo perante uma intrigante sequência de apenas 2 vitórias em 13 jogos (isto depois de, com praticamente a mesma equipa, ter batido recordes de pontos, vitórias e golos) afirmou que os jogadores estavam com ele. Mas quando saiu, a equipa soltou-se um pouco, realizando um final de campeonato, digamos, normal;
- Na final da Taça o Benfica volta a baquear, mesmo jogando toda a segunda parte com mais um jogador;
- Para a nova época, o Benfica voltou a investir forte, e a contratar atletas internacionais de vários países com salários elevadíssimos. Recorde-se que chegaram a ser oferecidos a Cavani qualquer coisa como 6M por ano. É provável que os capitães do plantel não tenham visto com bons olhos tanto desafogo para quem acabava de (ou estaria para) chegar;
- Em sentido oposto, Jorge Jesus logo na apresentação falou de construir uma grande equipa, e de arrasar. Na altura dizia-se que o Benfica, para além de Cavani (e daí ter recusado… Taremi), pretendia também Gerson, Arão e Bruno Henrique do Flamengo, mais um guarda-redes, Garay, William Carvalho, João Mário, Enzo Perez e até James Rodriguez, entre outros possíveis reforços. Ruben Dias parecia de pedra e cal na Luz. A verdade é que, com a eliminação em Salónica, essas ideias parecerem ficar a meio caminho, e por exemplo o meio-campo, como as laterais, não saíram reforçados. Quem saiu foi Ruben, tal como Vinicius – melhor marcador do campeonato anterior. A equipa ficou algo desequilibrada (no valor desportivo, e presumivelmente também nos salários);
- No Bessa, poucos dias depois das eleições, e após uma sequência de sete vitórias, o Benfica perde estrepitosamente. Foi o primeiro jogo em que Rafa foi suplente. Grimaldo estava indisponível, assim se mantendo na derrota seguinte, com o Braga na Luz. Pelo meio um empate milagroso com o Rangers, obtido no último segundo. Numa semana, nove golos sofridos. Era tempo de se questionar Otamendi;
- Otamendi, esse mesmo, tornado capitão do Benfica ao terceiro jogo de águia ao peito. Na altura, em Poznan, não estava nenhum dos capitães em campo. Mas depois, em Liége, até Vertonghen chegou a usar a braçadeira, aí com Jardel a seu lado no onze;
- Na Supertaça, e na ausência de Tiago Pinto, Luisão senta-se no banco. No fim, manifesta veementemente o seu descontentamento com alguns jogadores, desautorizando Jesus – que na conferência de imprensa desvaloriza o sucedido. No jogo em Alvalade volta a passar-se algo idêntico. O que é certo é que em Roma, antes do jogo com o Arsenal, Luisão é o único membro do staff que não cumprimenta Jesus à saída do balneário, talvez porque não calhou, talvez por qualquer outro motivo;
- Quem também não cumprimentou Jesus, mas no jogo com o Standard na Luz, foi Gabriel, após ser substituído, ocasião em que não escondeu total desagrado, ignorando a abordagem do treinador. A situação foi desvalorizada, e o brasileiro foi titular no Bessa. Mas desde então, em 14 jogos de campeonato só entrou de início em três deles;
- Jesus não é um hábil comunicador. Mas terá passado as marcas quando comparou Pizzi com Taarabt, dizendo que a atacar eram iguais (Pizzi havia marcado 30 golos na época anterior, e era rei das assistências), e que a defender o marroquino era superior. De resto, o transmontano tem perdido influência no onze, sendo suplente nos últimos jogos.
- O técnico substituiu com frequência também Rafa, por vezes sem razão aparente, e chegou a criticá-lo numa conferência de imprensa. Culpou Vlachodimos por golos sofridos, quando tal nem acontecera nos dois jogos anteriores à perda da sua titularidade. Acusou os centrais de lentidão. E também responsabilizou os avançados pelo zero no último jogo;
- Darwin é o jogador mais caro da história do clube. Mas o rendimento tem sido intermitente: começou bem, mas a pouco e pouco tem vindo a apagar-se, evidenciando enorme ansiedade em frente das balizas. Em Faro foi substituído bem cedo, mesmo com o nulo no marcador, e não escondeu a frustração ao chegar ao banco. Manifestou insatisfação também nas redes sociais;
- Darwin, como Everton, chegaram a eliminar as suas páginas pessoais, dado o nível de críticas, acusações e ameaças que alguns pseudo-adeptos entenderam fazer-lhes, como se isso servisse para algo mais do que desestabilizar ainda mais os jogadores e a equipa;
- Rui Costa falou após a derrota de Alvalade, e não escondeu as críticas aos jogadores a quem, segundo ele não bastava fazer um carrinho ou um malabarismo em campo, sendo preciso também treinar no duro todos os dias. A reacção da equipa foi absolutamente inexistente, e seguiu-se um tristonho empate com o Guimarães na Luz;
- João de Deus, quando confrontado com essas declarações, e questionado sobre quais seriam os jogadores em causa, respondeu “perguntem ao Rui Costa”, como que desautorizando o vice-presidente, em mais um episódio desta saga.
Agora, como num filme de David Lynch, cabe ao leitor filtrar o que interessa, e tirar as suas conclusões.
Fica também, para aquilo que se entender por útil, um quadro com a utilização dos jogadores do plantel actual nos jogos mais negros das últimas três temporadas

DE MAL A PIOR

A verdade é que já quase nem dói. Este Benfica 2020-21 é um caso perdido, e, ou me engano muito, ou na próxima quinta-feira ficará reduzido a uma muito improvável  possibilidade de vencer a Taça de Portugal.
Se no início da época o problema era a defesa, agora é o ataque: cinco golos marcados nas últimas sete jornadas, e a pior média de golos em mais de uma década, ainda assim inflacionada pela goleada ao Famalicão (5-1) na primeira ronda. O jogo de Faro foi bem elucidativo, pois a equipa até entrou bem, com alguma velocidade, com alguma vontade, mas sempre com total inoperância dentro da área, onde Seferovic e Darwin têm sido dois pesos mortos. Naturalmente zero golos a uma equipa que até nem defende particularmente bem, e que sofrera golos em todos os jogos até aqui.
O investimento para esta temporada centrou-se precisamente no sector ofensivo. Só Darwin, Waldschmidt, Pedrinho e Everton custaram no conjunto quase 80 milhões de euros. Até ver, em termos de rendimento, nenhum justificou sequer metade do preço de custo, embora todos eles, num ou noutro momento, tenham demonstrado qualidades. Por qualquer motivo que desconheço, não rendem, nem evoluem. Aliás, há jogadores neste Benfica que parecem até regredir.
Urge fazer uma reflexão profunda sobre o que está a acontecer, reflexão essa que não pode deixar de parte o que aconteceu na segunda volta do campeonato passado. Jorge Jesus é o melhor treinador português, mas, tal como Bruno Lage antes, e até talvez Rui Vitória num passado mais distante, não está a conseguir tirar rendimento de um plantel que, no papel, é substancialmente superior ao dos rivais.

É altura de Luís Filipe Vieira falar. Recordo que quando ganhou as eleições a equipa estava numa série de sete vitórias consecutivas, e embora tivesse ficado fora da Champions, tudo se compunha para uma temporada interna ao nível daquilo que foi comum na última década. Na semana seguinte perdeu estrondosamente no Bessa, e a partir daí caiu a pique. Porquê? Os benfiquistas precisam de saber, precisam de justificações. Há que admitir erros, e inflectir caminho. Houve opções erradas que é preciso corrigir. Pode e deve pedir-se união, mas também é preciso saber a verdade. Porque motivo uma equipa que ganha quase 40 jogos seguidos de repente perde ou empata 10, como sucedeu com Lage? Porque motivo um plantel é reforçado em quase 100 milhões, e não só as aquisições não rendem, como os que já lá estavam deixam de render? Há algum compromisso por cumprir? Há falta de profissionalismo de alguém? Há focos de conflito? Quais e porquê? O tempo passa e as respostas tardam.

PODIA TER SIDO PIOR

Um empate em casa (?!) com golos numa primeira mão europeia é sempre um mau resultado. Porém, atendendo ao momento do Benfica, e à expectativa negativa criada para este jogo, pode dizer-se que o simples facto de ter deixado a eliminatória em aberto, já não é mau de todo. Até porque os ingleses tiveram mais e mais flagrantes oportunidades de golo.
Note-se que a exibição teve momentos agradáveis, embora sem consistência que permita alimentar sonhos muito altos nesta competição. E diga-se que o Arsenal tem algumas super-estrelas, mas também está longe de ser uma super-equipa – por exemplo no plano defensivo, deixou espaços que o Benfica podia ter aproveitado de outra forma.
A opção de três centrais não resultou mal, embora não tenha disfarçado alguns dos problemas crónicos dos encarnados (espaço nas costas entre laterais e centrais, sobretudo no flanco esquerdo). Gostei, por exemplo, da forma como deixou sistematicamente os avançados do Arsenal em off-side. E da prestação de Lucas Veríssimo, que parece trazer coisas que nenhum dos outros centrais dão à equipa.
Enfim, na próxima semana se saberá se este foi ou não um momento positivo.

ONZE PARA ROMA

 

...e sobretudo não sofrer golos.

PORQUÊ?


Odysseas Vlachodimos é, para mim, a par de Rafa, um dos dois melhores jogadores do Benfica. E dos poucos com dimensão internacional - isto é, capaz de brilhar, por exemplo, numa Champions.
Nos últimos cinco jogos de campeonato havia sofrido apenas dois golos (um no Dragão, sem qualquer culpa, e outro em Alvalade, com culpas residuais - tantas como as de Helton Leite no Estoril, e muito menos do que as de Svilar com o Nacional). 
Salvo ter ocorrido qualquer situação de âmbito disciplinar, não vejo o menor motivo para o afastar de uma equipa onde é dos poucos valores seguros. Aliás, sem ele na baliza, as duas épocas anteriores teriam sido bem piores. A crise benfiquista era hoje bem mais grave. 
Acresce que não vejo Helton Leite como nenhum Ederson ou Oblak. É um bom guarda-redes, e suplente ideal para o grego. Podia jogar nas Taças, e até talvez na Liga Europa. Mas a titularidade não me oferece quaisquer dúvidas.
A baliza é certamente o sector menos problemático do Benfica. Quem olha para os laterais, para o meio-campo e para os pontas-de-lança, só tem de abrir a boca de espanto por ver que é o guarda-redes o primeiro a ser posto em causa. Enfim, uma das muitas coisas que não percebo no actual Benfica.

BENFICA NA TAÇA UEFA/LIGA EUROPA

 


OS NÚMEROS DA VERGONHA

 Penáltis assinalados em 19 jornadas:

AS PROVAS DO CRIME


Só não vê quem não quer. E as repetições televisivas são óbvias: ficaram duas grandes penalidades por marcar a favor do Benfica. Já outras tinham ficado por assinalar nos jogos com Nacional e Guimarães. Assim se compreende porque chegamos à 19ª jornada sem um único penálti marcado a favor dos encarnados, e com onze (!!) a favor do FC Porto.

FRAUDE!

Ponto prévio: o Benfica jogou mal, e sobretudo na segunda parte esteve muito aquém daquilo que pode e deve fazer, e talvez nem merecesse ganhar.
Dito isto, o que se passou em Moreira de Cónegos foi uma farsa. E ficou a perceber-se porque motivo a equipa de Jorge Jesus ainda não tem qualquer grande penalidade assinalada a seu favor, e com arbitragens destas é provável que nem venha a ter. O segundo lugar vale ouro, e o FC Porto está aflito. Esta espécie de regresso aos anos noventa não acontece por acaso.
O jogo foi fértil em casos, em erros e manipulações. Um nome deve ser retido: Fábio Melo, VAR do Porto, que veio do nada para roubar dois pontos ao Benfica. Tinha obrigação de sinalizar o penálti de Vertonghen, e de ver o toque na perna esquerda de Weigl (suficiente para nenhum VAR alterar a primeira decisão do árbitro de campo). Não sei quem coloca as linhas de fora-de-jogo, mas se as mesmas nunca me convenceram, desta vez fiquei com a certeza de que são colocadas onde dá mais jeito. Tão ou mais grave é a omissão de imagens no lance de Weigl: se o árbitro vê o mesmo que nós, percebe-se que o ângulo em que é visível a falta foi omitido. Por quem? Confesso que não sei. 
Dois penáltis por assinalar, um deles óbvio para quem tem acesso a imagens televisivas, e uma linha de fora-de-jogo adulterada a validar o golo do Moreirense. Foi demais para uma equipa ainda em convalescença.
Na véspera, de penálti em penálti o FC Porto foi empurrado para a vitória que ainda assim não conseguiu.
Depois de tudo o que se viu e ouviu na semana passada, ficou uma vez mais demonstrado que, no futebol português, o crime compensa.

REGRESSO À NORMALIDADE

Apesar de ter pela frente uma equipa do escalão secundário, tem de se dizer que o Benfica realizou um bom jogo. Boa dinâmica, bons movimentos, oportunidades e três golos que ficaram aquém da produção da equipa - sobretudo na primeira parte, quando o resultado de 1-1 era completamente falso face ao amplo domínio encarnado.
A porta para o Jamor (?) ficou aberta. E uma vantagem de dois golos e meio permitirá, até, fazer alguma gestão de plantel na partida da segunda mão, pois na verdade ninguém acredita que o Estoril possa vencer 0-3 ou 2-4 na Luz.
Em termos individuais, além dos dois golos de Darwin (vamos ver se com eles arrebita), há a salientar o bom regresso de Rafa. 
Agora, segue-se Moreira de Cónegos. Sem olhar para a classificação, o Benfica terá de vencer, jogo a jogo, até ao fim do campeonato. Há que garantir a Champions, e estar preparado para um possível colapso do Sporting (não é provável, mas pode acontecer).

OLHA BEM, VARANDAS

Varandas mete tudo no mesmo saco. Desde logo devia preocupar-se mais com quem está mais perto na classificação. E atendendo ao que se tem visto no pós jogo da meia-final em Braga (cuja arbitragem foi bastante razoável e o resultado nem foi mau para os portistas) devia perceber o que é de facto jogar fora do campo. 

O HOMEM ESTÁ DE VOLTA!

E com a força toda: discurso notável, não de desculpabilização, mas sim de motivação e descompressão da equipa e dos seus jogadores. À líder!
Nem todos perceberam, mas o que aconteceu foi uma lição de liderança.
Lembro-me quando estava no Sporting, e já no pós-Alcochete, como quase que sozinho unia e galvanizava todo o clube. Não conseguiu. Era impossível. Mas já aí dera mostras de que, mais do que de táctica, percebe de jogadores, de homens. Ou como alguém uma vez disse, por vezes atrapalha-se com as palavras, mas nunca se atrapalha com as ideias.

ENFIM 3 PONTOS


Havia um mês que o Benfica não ganhava um jogo para o Campeonato, e como tal, uma vitória, qualquer que ela fosse, já era motivo de alguma descompressão.
A exibição foi boa nos primeiros 10 minutos (o que mostra vontade), razoável até final da primeira parte, e medíocre em toda a segunda. Sentiu-se, aliás, que se o Famalicão fizesse o 2-1 (que esteve várias vezes para acontecer), o mais certo era o Benfica voltar a colapsar e perder ainda mais pontos. Não aconteceu, ainda bem.
No início da época os encarnados demoraram até estabilizar o processo defensivo. O que é certo é que, mesmo longe da perfeição, a defesa é hoje, ainda assim, o sector mais consistente da equipa. O meio-campo não foi reforçado e tem um enorme défice de qualidade (Weigl, Gabriel e Taarabt são, todos eles, jogadores de menos). E o ataque, mesmo com fortíssimo investimento, está a revelar-se um fiasco, fiasco esse que tem nome próprio: Darwin.
É decerto injusto crucificar um jovem com 21 anos, que tem talento, e está pela primeira vez num clube com tamanho grau de exigência. Mas a verdade tem de ser dita: o uruguaio tem futuro, mas ainda não terá grande presente, à semelhança de um qualquer Gonçalo Ramos da vida. Sobretudo, não tem estofo para assegurar nas suas espaldas o ataque do Benfica, faltando-lhe inúmeras coisas, das quais a mais visível é a ineficácia em frente da baliza, mas que se estendem à incapacidade de segurar a bola, de jogar de costas para a área, de definir o último passe ou o remate, de ganhar bolas de cabeça, de pressionar a saída de jogo contrária, etc, etc. Mostra disponibilidade, força física e talento, mas tem tudo a aprender sobre o jogo - o que naturalmente não deveria ser feito à custa de maus resultados. E recordo que havia quatro jogos consecutivos do campeonato em que nenhum avançado do Benfica marcava qualquer golo...
Mas a grande nota da noite vai para o regresso de Jorge Jesus. Ao banco e à sala de imprensa, onde o seu discurso foi notável.
Não interessa agora distinguir o que foi Covid e o que foram outras coisas que já se notavam antes. O que interessa é que o treinador encontrou forma de fazer deste jogo um ponto de inflexão, de mexer com a confiança dos jogadores, e de lhes limpar a cabeça. Os próximos jogos vão ditar se valeu a pena, e se se justificava.
Enfim, eu sou do Benfica e quero que o Benfica ganhe sempre. Quero acreditar que este seja, de facto um ponto de inflexão na época (pode não dar para o título, mas há mais objectivos). O que é certo é que o mercado está fechado e não adiantará muito chorar pelo que quer que seja. A equipa é esta, a situação é esta, e quem quer que o Benfica ganhe deve fazer agora um esforço para não contribuir para uma maior desestabilização. Há de facto muitas atenuantes (covid, calendário, integração de reforços, arbitragens, algum azar). Vamos acreditar que tenham tido um peso maior do que os erros cometidos. 

ONZE PARA A RETOMA

O primeiro lugar já vai demasiado longe. O segundo só depende do próprio Benfica, e vale milhões. Não dá para desistir. Falta meio-campeonato.

QUO VADIS

Infelizmente, já nem me surpreendo.

11 pontos não deixam margem sequer para sonhar. E a realidade é neste momento a luta com o Paços de Ferreira pelo quarto lugar.

Nesta partida o problema foi a eficácia. Noutras foi a defesa ou o meio campo. O que é certo é que não se vê um grupo, nem capacidade de reagir às adversidades. 

Importa perceber que não há um goleador no plantel, mesmo depois de 100 milhões de investimento. 

Seferovic é Seferovic. Gonçalo Ramos é um júnior. E Darwin, não sei se será um flop total ou, na melhor das hipóteses, também ele um jovem com futuro, mas sem condições para assegurar nas costas, no imediato, o ataque encarnado. Vinicius está no Tottenham, Cavani no United, Taremi no Porto e Paulinho no Sporting. 

O Benfica está a fazer o suficiente para se afundar. Não precisava do empurrão dos árbitros. Mas também isso está a acontecer. Mais um lance de dúvida na área (porque não se foi ao VAR?) e, isso é objectivo, um ridículo tempo de desconto. Em 17 jogos nem um penalti, e muitos momentos em que se sente uma vontade muito grande de derrubar a equipa do Benfica. 

Tudo mau, portanto, neste futebol sem público, sem som, sem cor, com esta equipa sem força, sem ambição e sem alma.

ISTO NÃO CHEGOU A SER EXPLICADO

No fim da época passada avisei: era necessário explicar o que tinha acontecido no futebol do Benfica a partir de Fevereiro (por coincidência ou não, imediatamente pós mercado de transferências, mas ainda antes do Covid fazer parar as competições), caso contrário poderia voltar a repetir-se com qualquer outro treinador.
Esta é a estranhíssima sequência de resultados de Bruno Lage no campeonato. Desde que assumiu funções, até que foi despedido, mesmo sendo campeão em título:
Estes são os jogadores utilizados nas oito partidas a analisar (descontando as duas vitórias e a fase Veríssimo):

Não estou a concluir nada. Apenas a exigir, uma vez mais, explicações. O que se está a passar no Benfica não é novo. Aliás, já acontecera na fase final de Rui Vitória, em finais de 2018.
Estará aqui, neste período específico (do jogo no Dragão onde o Benfica podia ficar com 10 pontos de avanço, ao jogo nos Barreiros, que ditou a chicotada), a chave para perceber o problema. É preciso que de dentro nos cheguem explicações, mas, sobretudo, soluções.
De recordar que no mercado de Janeiro do ano passado saíram Fejsa, Gedson, RDT e Caio Lucas (Florentino não saiu, mas foi como se saísse, pois nunca mais jogou), entrando Weigl e Dyego Souza.
Não sei os salários de quem entrou, de quem saiu ou de quem ficou. Não sei se havia quem quisesse sair e não saiu. Ou quem não quisesse ver chegar quem entrou, ou ver sair quem saiu. Ou se houve alguma alteração geral face à liderança de Lage. Ou se houve promessas por cumprir. Enfim, as possibilidades são muitas, e as explicações poucas ou nenhumas.
O futebol não é matemática. Mas nenhuma equipa ganha 40 jogos seguidos, alguns deles de forma brilhante, e de repente perde 10 sem que nada o justifique, até ao despedimento do treinador. Sobretudo se depois de reforçada com 100 milhões de aquisições, e orientada por um técnico experiente e ganhador, mas bastante exigente, continua sem render
Se há alguém a mais no plantel, tem de ser encostado. Se forem vários, que sejam vários. Nem que se jogue com a equipa B, quem veste a camisola do Benfica tem de dar tudo em campo, e em cada treino. E quem queima treinadores, não tem lugar no clube, nem no futebol profissional, diria eu.
Há demasiados jogadores do Benfica de quem eu não gosto. Não vou referir nomes, pois não tenho a certeza de acertar em cheio, e não quero correr o risco de ser injusto. Quem é benfiquista e escreve sobre o clube também tem de ter responsabilidade e recato. Mas espero e exijo soluções.

RECEITA CONTRA A CRISE


Sem qualquer "inside information", lendo apenas nas entrelinhas tudo o que se tem ouvido, percebe-se que a causa da crise benfiquista reside, como sempre fui aqui defendendo, num balneário longe da união que se via nos tempos de Luisão, Salvio, Jonas, Fejsa, etc.
Estou convencido de que há hoje jogadores que não merecem vestir a camisola do Benfica. E alguns não será por falta de qualidade. Sim, por falta de compromisso. 
A pandemia não ajuda a criar laços, sobretudo num grupo repleto de elementos novos, oriundos de vários países. Jogadores caros, uns a ganhar muito mais do que outros, sem se encontrarem para além do local de trabalho, sem falarem as mesmas línguas, sem o carinho dos adeptos, com um treinador novo, a adoecerem em cadatupa com o vírus. Enfim, correr bem é que seria estranho.
São atenuantes, mas não desculpas. E a verdade é que já Bruno Lage fora, a dada altura, vítima de um plantel aburguesado, mimado, que foi ficando sem referências, sem vozes de comando, à deriva.
Recuperar não é tarefa fácil. Mas talvez fosse necessário proceder a uma limpeza, pelo menos no final da época.

QUANDO TUDO CORRE MAL...

A frustração de uma derrota aos 92 minutos pode levar-nos a grande angústia e a muitos desabafos. Mas há que dizer que o resultado do Dérbi foi injusto. O Benfica não merecia perder, mas sobretudo o Sporting não merecia ganhar - e no tempo de descontos já nem sequer queria ganhar.
O jogo foi fraco. A primeira parte do Benfica muito má. A segunda, assim-assim, mas o suficiente para manter o zero a zero, que seria o resultado óbvio deste jogo. Não servia, mas mantinha viva alguma esperança. O golo foi um balde de água fria, e a prova de que quando tudo corre mal, pode correr ainda pior.
Com nove pontos para Sporting, e cinco para FC Porto, penso que a luta pelo título esfumou-se. Agora o foco passará para a Liga Europa e para a Taça de Portugal, não esquecendo que o segundo lugar do Campeonato, este ano, vale ouro. Interessa sobretudo preparar desde já o futuro, e não cometer mais os erros deste passado recente.
Há atenuantes: gostaria de saber, por exemplo, o que seria deste Sporting com os casos de covid que teve o Benfica. 
Mas há também que discutir alguns dos investimentos. Por exemplo, porque motivo se deixou escapar Taremi por 4,5 milhões, Nuno Santos por 4,2 milhões, Pote por 6 milhões (está aqui um total de menos de 15 milhões de euros), e se contratou Darwin por 24, Waldschmidt por 15, Everton por 20 e Pedrinho por 18 (neste lote, quase 80 milhões!). Também porque motivo desapareceram do plantel nomes como Florentino, Gedson, Ferro, Tomás Tavares ou Jota, antes joias da coroa do Seixal, sem que se visse retorno palpável. Ainda porque ficámos sem Carlos Vinicius, o melhor marcador do último campeonato, quando não temos, hoje, nenhum avançado como ele. As vendas de João Félix e Ruben Dias percebem-se e eram inevitáveis, o resto creio que não.
Continuo a achar que Jorge Jesus é o melhor treinador português, e o presidente é o mesmo que ganhou cinco dos últimos sete campeonatos. É fácil disparar sobre toda a gente, mas isso apenas atenua frustrações, não resolve problemas. Há erros de um e de outro (quem não os comete?), mas creio que o problema do Benfica não se resolveria com demissões, e vai para além dos nomes. Acredito que possa ainda ser identificado e resolvido a tempo de podermos ter algumas alegrias na corrente época.
Viva o Benfica!

ONZE PARA ALVALADE

 

DÉRBI - 15 anos de alegrias