VEDETA DA JORNADA

RUI COSTA: Não deslumbrou mas não deixou mesmo assim de autografar com classe a vitória do Benfica no Restelo participando directamente nos dois golos. Para quem regressava à titularidade depois de meses de ausência, melhor era quase impossível.
Temos homem !

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Foi com grande polémica que se iniciou a segunda volta da Liga Portuguesa. O jogo de Leiria teve muitos casos e hoje no Bessa também houve influência arbitral no resultado.
Em Leiria, das muitas situações reclamadas pelos portistas, parece-me que apenas um corte com a mão de um jogador leiriense dentro da área se tratou de facto de um erro grave de Elmano Santos. Motivo suficiente portanto para a atribuição de um ponto aos Dragões.
No Restelo não houve casos de maior, mas no Boavista-Sporting desta noite, logo nos primeiros minutos ficou por assinalar uma grande penalidade contra o Sporting por derrube de Tello (que teria que ver amarelo) a Linz. Benquerença estava bem colocado, mas possivelmente lembrado da fantasmagórica actuação que teve na meia-final da Taça de Portugal da época passada, talvez tenha decidido fazer as pazes com os leões.
A classificação fica então assim ordenada:
F.C.Porto 39
Benfica 37
Sporting 34

FRIOS COMO A NOITE

A difícil vitória do Benfica no Restelo relança o clube da Águia na luta pelo título. Foi um triunfo inteiramente justo, e favorece bastante o campeonato, tão carecido ele andava de emoções fortes.
Não deixaria de ser um golpe de teatro se, depois de tudo o que se tem dito nas últimas semanas, o F.C.Porto viesse a desperdiçar a enorme vantagem que acumulou e não conseguisse revalidar o título. Mais ainda se fosse o Benfica do tão contestado Fernando Santos – lembram-se do início da época – a reconquistar o ceptro. O futebol está cheio de surpresas, e não seria a primeira nem a última vez que um campeonato se consumaria de modo surpreendente.
Será este certamente o sonho de milhões de benfiquistas por estas próximas noites, mas a verdade é que ainda há cinco pontos por recuperar, e as exibições da equipa encarnada nos últimos jogos foram tudo menos convincentes.
O Benfica mereceu ganhar, isso é uma verdade insofismável. Mas também será forçoso admitir que a deusa fortuna vestiu mais uma vez de vermelho, fazendo com que o conjunto encarnado concretizasse em golo os seus praticamente primeiros dois ataques no jogo, e evitando que o Belenenses conseguisse marcar em momentos chave nos quais dispôs de oportunidades, acabando por apenas o fazer quando o relógio já deixava pouco espaço para uma recuperação, que ainda assim chegou a ser ameaçadora.
Os homens da Cruz de Cristo começaram em grande estilo, empurrando nos primeiros instantes o Benfica para a sua zona defensiva. Esse período de grande fulgor só se dissipou quando, na sequência de um magistral passe de Rui Costa, Simão desviou a bola de um infeliz Costinha, abrindo assim o activo no primeiro verdadeiro lance de ataque da equipa de Fernando Santos.
Depois de alguns momentos de choque, o Belenenses voltou à carga, mas foi novamente o cinismo benfiquista a revelar-se na sua faceta mais cruel. Num lance de bola parada, mais uma vez Rui Costa colocou a bola milimetricamente na cabeça de Luisão, que já perto do intervalo fez um golo que marcaria quase definitivamente o resto da partida.
De facto a segunda parte não teve tantos motivos de interesse e foi-se arrastando entre um Benfica expectante, aguardando uma oportunidade de matar definitivamente o jogo – que até surgiu e Nuno Gomes desperdiçou de forma escandalosa -, e um Belenenses pouco crente na hipótese de dar a volta a um jogo onde a sorte lhe parecia virar as costas.
O golo de Silas animou um pouco a ponta final do desafio, mas aí foi o Benfica a puxar os galões da sua maior experiência, conseguindo limitar ao mínimo o tempo útil de jogo, e afastar a bola das imediações da sua área, garantindo um triunfo que o desenrolar do campeonato poderá, ou não, vir a classificar de enorme significado.
Em termos individuais é com enorme prazer que destaco Rui Costa como homem do jogo. Obviamente que já se lhe viram exibições muito mais empolgantes, mas para quem vem de tão prolongada ausência, o mínimo que se poderá dizer é que muito prometeu no jogo de hoje. Duas assistências, passes teleguiados e até recuperações de bola, são notas suficientes para o destacar.
Também Luisão, Simão e Petit estiveram muito bem, enquanto Quim teve uma intervenção de grande nível. Pela negativa as exibições dos laterais não foram nada convincentes (foi por eles que passaram os períodos de maior fervor do Belenenses), Nuno Gomes também esteve bastante infeliz, e Karagounis só nos momentos finais, com algum espaço, despertou de uma letargia que lhe tolheu os movimentos durante grande parte da partida.
O árbitro Pedro Proença, de que os benfiquistas têm péssimas recordações, embora com um ou outro erro, não comprometeu o espectáculo nem interferiu no resultado.
Pontuações: Quim 4, Nélson 2, Luisão 4, Anderson 3, Léo 2, Petit 4, Katsouranis 3, Karagounis 3, Rui Costa 4, Simão 4, Nuno Gomes 2, Manú 2, Mantorras - e Beto –
Melhor em campo: Rui Costa.

A BEM DO FUTEBOL

A derrota do F.C.Porto ontem em Leiria deixa-me triplamente feliz. Por ser benfiquista naturalmente, mas também por ela poder permitir animar um enfadonho campeonato – veremos o que se passa hoje e amanhã -, e sobretudo por desmentir categoricamente os meus receios de que a verdade desportiva pudesse estar ameaçada, receios esses fundamentados em acontecimentos de épocas passadas e sedimentados por declarações produzidas na última semana. Felizmente tudo correu com normalidade e as duas equipas procuraram, cada um com as suas armas, ganhar o jogo.
A derrota do F.C.Porto foi muito mal digerida pelos seus jogadores, responsáveis e adeptos, mas analisando friamente os lances mais polémicos do jogo apenas uma grande penalidade por assinalar constitui legítima razão de queixa para os portistas (suficiente para a atribuição de um ponto na classificação “real”), que pelo contrário ainda viram o juiz madeirense poupar a expulsão a Pepe e Bruno Alves, o primeiro por protestar veementemente já depois de advertido com uma cartolina amarela e o segundo por uma vistosa entrada de karaté sobre um jogador leiriense. O cartão vermelho mostrado a Quaresma não pode ser entendido senão como justíssimo, e tomara-mos nós que todas as semanas em todos os estádios os árbitros aplicassem as leis com o mesmo rigor naquele tipo de lances, que constituem um verdadeiro atentado à integridade física dos adversários sendo susceptíveis de causar danos bem graves - quem tanto protestou por uma entrada de Katsouranis na disputa de uma bola com Anderson, não me parece que tenha agora autoridade moral para minimamente questionar esta expulsão.
Em termos de futebol propriamente dito, o jogo ficou também claramente marcado pela inferioridade numérica com que o F.C.Porto teve de jogar em toda a segunda parte, depois de ter dominado amplamente os primeiros 45 minutos. Os Dragões nunca se adaptaram à ausência de Quaresma e as substituições operadas por Jesualdo também não terão sido as mais felizes, fazendo sair mais dois elementos chave da manobra da equipa como Postiga e Meireles quando ela já se encontrava demasiado descaracterizada - perto do final da partida, com o Porto já a perder, entretive-me a contar os presumíveis titulares portistas que não se encontravam em campo e não vi Ricardo Quaresma, Anderson, Hélder Postiga, Bosingwa, Pedro Emanuel, Marek Cech nem Raul Meireles .
O União fez o seu jogo esperando pacientemente por uma oportunidade que acabou por surgir. Talvez não merecesse a vitória (0-0 seria um resultado mais justo) mas o futebol não se compadece com exercícios meramente especulativos.
Conforme disse no início, este resultado terá o condão de estimular um campeonato moribundo mas se e só se Benfica e/ou Sporting vencerem os difíceis compromissos que têm hoje e amanhã pela frente no Restelo e no Bessa respectivamente. Se ambos triunfarem ficarão a 4 e 5 pontos de distância do líder (e a apenas um simples empate da auto-suficiência) quando faltam 14 jornadas para o final da prova.

M - MERCADO

O Benfica está a ser mais uma vez o grande animador do mercado de inverno no futebol português.
À hora que escrevo está a ser negociada a transferência de Derlei, e em breve poderão ser apresentados também o central argentino Pellegrino e o jovem ponta-de-lança montenegrino Purovic. No sentido oposto, tudo leva a crer que Karyaka, Beto e Moretto saiam nos próximos dias do clube da Luz, depois de Alcides, Diego Souza, Kikin Fonseca e Ricardo Rocha já o terem feito. Marco Ferreira e Pedro Correia são também candidatos a uma cedência, estando para já afastada a hipótese de venda de Manu para o futebol francês.
Purovic e Pellegrino são dois ilustres desconhecidos no nosso país, se bem que de escolas futebolísticas recomendáveis. Quanto a Derlei, a grande dúvida prende-se com a sua actual condição física, pois caso os seus problemas no joelho tenham sido devidamente ultrapassados não tenhamos dúvidas tratar-se de um excelente reforço para o grupo de Fernando Santos. É um jogador experiente, polivalente e com um passado profissional imaculado - tem menos 4 anos que Rui Costa e praticamente a mesma idade de Léo ou Nuno Gomes.

A norte também é o mercado sul-americano a falar bem alto. O F.C.Porto já contratou o argentino Mareque, o colombiano Renteria e prepara-se para acertar o central do Cruzeiro Eliézio. Quanto a saídas, depois de Ezequias e Diogo Valente, também Adriano e possivelmente Marek Cech (com boas propostas de França), Sokota e Tarik Sektioui são fortes candidatos a deixar o Dragão.

Pelos lados de Alvalade o ambiente parece calmo. Confirmada está apenas a entrada do jovem Bruno Pereirinha, enquanto Rochenback parece cada vez mais longe de regressar ao Sporting. Quanto a saídas, entre Bueno e Alecsandro um deverá deixar Alvalade, e nos próximos dias poder-se-á assistir à venda de Tonel para Espanha, o que a confirmar-se será um rude golpe nas contas de Paulo Bento face ao que resta de temporada. Farnerud também poderá sair, enquanto Carlos Martins deverá permanecer no clube.

NUNCA TE ESQUECEREMOS !

Guimarães, 25 de Janeiro de 2004.
O momento mais triste que o futebol alguma vez me fez viver.

PASSO EM FRENTE

Michel Platini é o novo presidente da UEFA, destronando por poucos votos o sueco Lennart Johansson.

Trata-se de uma figura extremamente respeitada, sobretudo pelo seu brilhante passado de futebolista. Enquanto dirigente tem tudo por provar, mas se confirmar aquilo que foram as traves mestras da sua campanha, bem se pode dizer que a sua eleição constitui um passo em frente no futebol europeu, hoje demasiado mercantilizado e industrializado, quase esquecendo por vezes a sua matriz essencialmente lúdica e desportiva.
G14, market pool e outras aberrações podem ter pela frente um adversário capaz de pugnar pela devolução da modalidade à sua condição popular e interclassista.
Assim o esperemos.

NÃO HÁ PACIÊNCIA !

O ainda imberbe técnico da União de Leiria Domingos Paciência demonstrou um zelo totalmente inédito na contestação à arbitragem de Lucílio Baptista no jogo com o Benfica do passado domingo. Para além da conferência de imprensa habitual, o técnico promoveu no dia seguinte uma estranha e original “sessão de esclarecimento” acompanhada de meios audiovisuais sobre os alegados erros do árbitro naquele jogo.
Quem não tenha visto o jogo será levado a pensar que se tratou de uma escandalosa arbitragem e que o União de Leiria foi eliminado devido a graves erros de julgamento do árbitro setubalense. Mas aqueles que assistiam ao jogo com um mínimo de discernimento, só podem achar absurdas as queixas do técnico portista… perdão, leiriense. De facto Lucílio Baptista não é um bom árbitro, é um arguido do processo Apito Dourado – e assim sendo deveria estar pelo menos suspenso, tal como os restantes – e não fez uma arbitragem isenta de erros. Daí a dizer-se que a equipa leiriense foi a mais prejudicada vai uma distância considerável, pois se a expulsão de Harison é de facto exagerada, o caso mais discutível em todo o jogo até terá sido um lance na área leiriense quando o Benfica ainda se encontrava em desvantagem.
Mas Domingos Paciência esquece isso, lembrando-se por exemplo de analisar a forma como o árbitro falava com os jogadores da sua equipa e com os benfiquistas, descontextualizando as imagens numa confrangedora estratégia de manipulação, arquitectada de forma bem mais sofisticada do que seria de esperar de um individuo a quem nunca se conheceram especiais dotes de raciocínio ou comunicação.
Paciência, vociferando que na Luz era frequente acontecer semelhante “situação”, não se esqueceu também de deixar vincado que já em Alvalade fora gravemente lesado, não se recordando todavia que nas primeiras jornadas da Liga foi simplesmente a equipa mais favorecida de entre as dezasseis – lembremos por exemplo o jogo com o Beira Mar, de que Inácio seguramente se não esquece -, sabe Deus porque motivo ou com que contrapartidas, e omitindo que a expulsão do seu jogador, já com o resultado em 2-1 e a um minuto do final, não beneficiou mais ninguém a não ser o seu clube do coração, próximo adversário, que implícita ou tacitamente não pode deixar de ser o principal suspeito desta encomenda tão bem entregue.
Tem sido recorrente encontrarmos na principal Liga, de há duas décadas para cá, técnicos cujo passado portista não é digerido com a naturalidade dos profissionais (como Mourinho ou Fernando Santos), mas antes se assume como uma espécie de pecado original através do qual conduzem a sua carreira e alicerçam o seu comportamento desportivo e mediático, naquilo que julgo ser uma verdadeira originalidade do futebol português. Tenho para mim que um verdadeiro processo Apito Dourado teria de entrar em campos como a corrupção de técnicos e/ou jogadores (para além do doping), algo que já se falou em tempos por baixo de várias mesas, mas que nunca foi verdadeiramente explorado em termos públicos. O facilitismo de certos resultados, auto-golos, falhanços, e pressões sobre árbitros, para quem esteja atento, sugere uma suspeição a que se não consegue fugir. E a comunicação social, ao invés de se preocupar com os delírios de um qualquer afilhado do poder, deveria era interessar-se por aprofundar questões como as suscitadas por autênticas equipas B dentro do mesmo escalão (com vários jogadores, técnicos e mesmo dirigentes emprestados), ou descobrir, por exemplo, porque e como é que o F.C.Porto provavelmente já garantiu os três pontos no jogo de amanhã em Leiria mesmo antes de entrar em campo.

SEIS MILHÕES DE EUROS DE MÍSTICA

A milionária transferência do central Ricardo Rocha para o Tottenham da Premier League, sendo inegavelmente um excelente negócio sob o ponto de vista económico financeiro – um defesa de 28 anos por quase seis milhões de euros é sempre bem vendido -, levanta ao Benfica algumas questões do âmbito desportivo, quer a nível conjuntural, quer estrutural, leia-se, em termos de estratégia desportiva de fundo.
No curto prazo a equipa de Fernando Santos fica, depois da saída de Alcides e a seis dias do encerramento do mercado, com o exíguo número de dois defesas centrais, não tendo sequer no plantel médios ou laterais com capacidade e experiência para desempenhar a função, situação absolutamente insustentável para quem tenha o mínimo de ambições no competitivo futebol actual. Será difícil ao Benfica contratar um central de qualidade neste timing e com esta pressão, pelo que a alternativa mais sensata passaria por reaver os emprestados José Fonte e André Luíz (caso ainda tenha contrato com o clube da Luz), levando em consideração que Luisão e Anderson garantem, em condições normais, a titularidade. O problema não passa só pelo centro da defesa pois do seu lado direito a única opção de momento é Nelson. Aliás, quando o técnico do Benfica dizia que trabalhava com um plantel demasiado longo, dificilmente imaginaria que a sua diminuição fosse à custa de elementos como Moretto, Alcides, Ricardo Rocha, Beto, Nuno Assis ou Kikin Fonseca, que por esta ou aquela razão, de forma confirmada ou não, estarão ou deverão estar fora das suas opções para o que resta de temporada.
Mas o mais preocupante de mais esta (s) saída (s) passa pela autêntica sangria que se tem verificado no Benfica desde que, há cerca de ano e meio conquistou o título nacional, depois de onze anos de jejum. De todo o plantel encarnado dessa temporada apenas restam os guarda-redes Moreira e Quim, e os jogadores de campo Luisão, Petit, Nuno Gomes, Mantorras e, por enquanto, Simão. Parece impossível mas foi apenas há 20 meses !
É verdade que se tratava de um plantel com bastantes limitações, que foi campeão com mais suor que classe e à custa de muito sofrimento. Mas também é verdade que se tratava de uma equipa profundamente disciplinada,coesa e unida, com um balneário amplamente fortalecido na sequência da trágica morte de Miki Fehér, alicerçado depois nas conquistas da Taça de Portugal de 2004 e da Liga de 2005, força essa que provavelmente terá sido menorizada pelos responsáveis benfiquistas na hora de planear um futuro que se esperava de reencontro com a glória perdida.
Se a venda de Tiago, ainda antes do título, foi uma boa oportunidade de negócio - ainda que precipitada e condicionada pela guerra entre o jogador e José Veiga - e se à saída de Miguel a direcção encarnada terá sido praticamente alheia, já os abandonos de Manuel Fernandes, Geovanni, Karadas, João Pereira, Bruno Aguiar, Fyssas, Dos Santos, Armando (Quim, Nuno Assis, Mantorras e Simão por pouco não saíram) entre outros, nunca pareceram devidamente equacionados, parecendo sempre haver uma subliminar tentação de encher o plantel de nomes sonantes (Karyaka, Karagounis, Fonseca, Laurent Robert etc) ou outros que nem tanto (Marco Ferreira, Manduca, Marcel, Diego Souza, Paulo Jorge etc) que pouco ou nada trouxeram ao clube, e acabaram por representar, mesmo se de modo involuntário, o desmantelar do extremamente saudável espírito que conduziu ao título.
Há que dizer que nem tudo foi mau daí para cá, e nomes como Miccoli, Léo, Anderson, Nelson e mais recentemente Katsouranis, constituíram de facto mais valias para a equipa encarnada. Todavia no balanço entre as boas e as más opções, depois de um período (2001 a 2005) em que a política desportiva do Benfica fora quase perfeita à luz da reconstituição de uma mística capaz de levar o clube do volta aos títulos, não houve discernimento nem capacidade para dar o passo seguinte, com o qual o Benfica, mesmo sem gastar mais dinheiro do que aquele que gastou, teria hoje inquestionavelmente assumido a hegemonia do futebol português, e apresentar-se-ia à Europa como uma potência emergente, capaz de ombrear com o lote de equipas que pululam nas costas dos grandes potentados de Espanha e Inglaterra.
Faltou essa visão, a contratação de Koeman também não ajudou pois tratou-se de alguém que friamente ignorou todos os aspectos identitários que o clube tanto trabalho havia tido em recuperar, e chegou-se a um ponto em que o Benfica se voltou a distanciar do F.C.Porto no panorama futebolístico luso (depois de o ter tido à mercê), voltou a despedir-se cedo dos títulos, voltou a vacilar com regularidade, gastando dinheiro em reforços aburguesados e opulentos que nada mais voltaram a conquistar para o clube e, pelo andar da carruagem, dificilmente o voltarão a fazer esta temporada.
Recorde-se a propósito que o Benfica desde Julho de 2004 (saída de Camacho da Luz) fez entrar no seu plantel os seguintes jogadores: Yannick, Amoreirinha, Everson, Paulo Almeida, Karadas, Dos Santos, Alcides, Bruno Aguiar, Carlitos, André Luíz, Delibasic, Nuno Assis, Alex, Hélio Roque, Tiago Gomes, João Vilela, Léo, Nelson, Rui Neréu, Bruno Costa, Anderson, Beto, Karyaka, Karagounis, Miccoli, Moretto, Marcel, Manduca, Marco Ferreira, José Fonte, Laurent Robert, José Rui, Ricardo Janota, Inzaghi, Pedro Correia, Diego Souza, Canales, Patafta, Rui Costa, Miguelito, Katsouranis, Paulo Jorge, Manu, João Coimbra e Kikin Fonseca. Quarenta e cinco (!!!) ao todo.
Por seu lado no mesmo período (apenas dois anos e meio) saíram: Tiago, Armando, Hélder, Fernando Aguiar, Bossio, Ednilson, Carlitos I, Argel, Zahovic, Yannick, Sokota, Amoreirinha, Paulo Almeida, Karadas, Dos Santos, Fehér, Roger, Cristiano, Alcides, Bruno Aguiar, Carlitos II, André Luíz, Delibasic, Alex, Hélio Roque, Tiago Gomes, João Vilela, João Pereira, Fernando Alexandre, Rui Neréu, Bruno Costa, Marcel, Manduca, José Fonte, Laurent Robert, José Rui, Ricardo Janota, Inzaghi, Diego Souza, Canales, Kikin Fonseca, Geovanni, Miguel, Manuel Fernandes, Fyssas e Ricardo Rocha. Quarenta e seis portanto, caso não me tenha esquecido de nenhum, e fora o que aí vem (Moretto ?, Beto ?, Karyaka ? Marco Ferreira ?)
Se observarmos ambas as listas com atenção, verificamos que grande parte dos nomes coincide, ou seja, grande parte dos jogadores que entraram voltaram a sair pouco tempo depois. A maioria dos jogadores entrados não acrescentou portanto nada ao Benfica. Nem chegará a 20 % a percentagem daqueles que revelaram efectivamente qualidades para triunfar na Luz.
Esta análise conduz-nos por sua vez a um olhar mais denso sobre o Benfica actual, trazendo à memória exemplos de realizações anunciadas mas que permanecem na gaveta do esquecimento. Nunca mais se falou do naming do estádio, nunca mais se falou do canal de televisão, as modalidades amadoras, ainda que com fortes investimentos, permanecem fora da órbita dos principais títulos, episódios como os dos bilhetes para o jogo com o F.C.Porto vão acontecendo com a maior naturalidade, o departamento médico continua dentro dos mais estranhos parâmetros da mediocridade, a mal calculada intervenção da direcção no caso Nuno Assis apenas serviu para aumentar a pena de seis meses para um ano, o negócio de Manuel Fernandes foi de uma ingenuidade extrema afastando um activo de grande potencial sem receber praticamente nada em troca, Geovanni foi oferecido, a contratação de jogadores continua envolta em enormes e constantes especulações com dezenas de nomes enchendo as páginas dos jornais, etc etc. Parece que toda aquela força que emanava dos anos iniciais de Luís Filipe Vieira à frente do clube se está a desvanecer. Cansaço ? Talvez. Mas num clube com a dimensão e as ambições do Benfica parar é morrer. E a verdade é que o Benfica parece momentaneamente parado.
Sempre defendi esta direcção, chegando a considerá-la como uma das melhores de sempre no clube. Espero bem que os próximos tempos não me façam arrepender das minhas palavras, e sejam capazes de recolocar o clube no rumo em que se encontrava no dia 22 de Maio de 2005, quando se sagrou no Estádio do Bessa, campeão nacional.
Parece ter sido há já tanto tempo…

MAGIA NEGRA

Ao contrário do que acontecera há quinze dias atrás, a eliminatória da Taça de Portugal deste fim-de-semana não trouxe grandes surpresas. Apenas a derrota do Desportivo das Aves no terreno do Maia da 2ª B pode ser considerado um resultado incomum, se bem que a vitória do Atlético, carrasco do F.C.Porto, perante o Santa Clara do escalão acima, também mereça algum realce.
No jogo mais importante da eliminatória, o Benfica encontrou grandes dificuldades para se desembaraçar do União de Leiria, apenas conseguindo garantir a vitória dos últimos dez minutos de jogo, depois dos leirienses se terem colocado em vantagem já em plena segunda parte.
Os encarnados fizeram uma exibição muito acinzentada, sobretudo até ao momento em que se viram a perder. Até aí o Benfica pareceu sentir algumas dificuldades em assimilar o futebol de um Rui Costa ainda muito longe da sua melhor condição física, fazendo-se também sentir a ausência de Miccoli – elemento chave dos melhores momentos da equipa nesta temporada.
Com a substituição do apagado Manú por Mantorras, o Benfica ganhou alguma vivacidade e criatividade nas acções ofensivas. A pressão da equipa encarnada foi-se intensificando e começou a cheirar a golo. Seria na sequência de um livre batido por Simão, que Nuno Gomes penteou a bola para a baliza restabelecendo a igualdade e tranquilizando as cerca de 22 mil almas presentes na Luz.
O mais difícil estava feito, mas ainda assim o Benfica quis, e bem, aproveitar a embalagem para tentar evitar um desagradável prolongamento. Acabou por ser Mantorras, renascido para os golos, a ser novamente o talismã da equipa, anotando o golo da vitória num excelente movimento.Lucílio Baptista apenas terá exagerado na expulsão de Harison.

A ARTE E O SOFRIMENTO DE UMA VITÓRIA JUSTA MAS MUITO INSEGURA

Quando se analisa um jogo de futebol, pode-se fazê-lo segundo dois olhares distintos: ou privilegiar a análise do espectáculo na sua emotividade e plasticidade, ou em alternativa, atentar mais à segurança e solidez com que os conjuntos se exibem, em particular aqueles que, pelo seu favoritismo, mais responsabilidades enfrentam na abordagem ao jogo.
Segundo a primeira das possibilidades considerada, o Académica-Benfica foi um excelente espectáculo, mormente durante a primeira parte, com duas equipas de tracção à frente, empenhadas atacar o reduto contrário e em tentar constantemente o golo. Os primeiros quarenta e cinco minutos de Coimbra terão sido mesmo, deste ponto de vista, do que de melhor se assistiu esta temporada na nossa Liga.
Todavia, se nos cingirmos à análise da equipa do Benfica e da estratégia que desenvolveu em campo, levando em conta as exigências que se lhe colocam, e em face da sua necessidade imperiosa de vencer, teremos de concluir não haver muitos motivos para regozijo.
De facto, os encarnados voltaram a exibir algumas fragilidades nas transições defensivas, voltaram a apresentar-se demasiado estendidos no campo, com uma linha defensiva demasiado recuada e um meio campo pouco coeso e pressionante, e deixaram em muitos momentos o adversário jogar a seu bel-prazer e assim criar oportunidades em série, que por vezes de forma milagrosa Quim foi detendo, o que até parece estranho numa equipa que não sofre qualquer golo há sete (7 !) jogos – curiosamente foi a partir do momento em que Fernando Santos abandonou o losango do meio-campo fazendo entrar Manu para o lugar de Miccoli, que o Benfica assentou mais o seu jogo e tranquilizou um pouco mais os seus apaniguados.
No plano ofensivo, ou seja, sempre que tinha a posse de bola, o Benfica fez um jogo bastante aceitável, pois dispôs ao longo da partida varias situações de perigo, marcando dois golos, vendo outros dois anulados (um bem outro mal), atirando uma bola à trave, e obrigando Pedro Roma também a brilhar. Muitas das vezes ficou a sensação de que estes lances foram mais consequência das fragilidades defensivas dos estudantes do que resultado do brilhantismo das acções encarnadas, mas de um ou outro modo, o Benfica construiu um caudal ofensivo mais do que suficiente para justificar os três pontos. Foi o empenho ofensivo de benfiquistas e conibricenses, a par com a muita delicadeza dos dois conjuntos sempre que perdiam a bola, que fez com que o espectáculo resultasse tão agradável de seguir, levando Fernando Santos a dizer no final que o resultado justo seria 4-3 ou algo parecido.
Foi ao invés a insegurança do Benfica acabou por manter alguma incerteza no resultado até ao golo de Léo, e se olharmos à solidez do jogo do F.C.Porto na Vila das Aves - com um adversário e uma marcha do resultado em tudo semelhante, mesmo que num espectáculo globalmente mais pobre para o espectador -, talvez percebamos porque motivo leva oito pontos de avanço.
No plano individual há que destacar as exibições de Simão e Ricardo Rocha, mas sobretudo de Quim, o melhor benfiquista em campo. Pela negativa parece-me que Karagounis apenas se salvou ao fazer a assistência para o segundo golo, Miccoli mostrou-se claramente longe da condição física ideal, enquanto Nelson também esteve longe do seu melhor, quer a defender quer a atacar – incrível aquela perdida já perto do fim, com Rui Costa completamente sozinho a seu lado. Já agora, há que saudar o regresso do “maestro”, se bem que ainda e naturalmente a meio gás.
Na Académica deu nas vistas o criativo Filipe Teixeira, uma espécie de Nuno Assis um pouco mais forte fisicamente, como que a querer mostrar que talvez tivesse lugar no plantel encarnado, para onde se disse há dias que se poderia encaminhar.
Pontuações: Quim 5, Nelson 2, Luisão 3, Ricardo Rocha 4, Léo 3, Petit 3, Katsouranis 3, Karagounis 2, Simão 4, Nuno Gomes 3, Miccoli 2, Manu 2, Rui Costa 2, João Coimbra -.
Falta apenas falar da equipa de arbitragem dirigida por Paulo Pereira – o mesmo que assinalou o penálti contra o Atlético no Dragão -, e não há quase nada de bem para dizer. Sobretudo o assistente que acompanhou o Benfica na primeira parte esteve pouco menos que desastrado. Errou logo aos dois minutos ao validar o golo de Ricardo Rocha em claro fora-de-jogo, voltando a errar com gravidade anulando um golo limpo a Katsouranis, já depois de ter ajuizado bem o outro golo anulado ao grego. Também o árbitro principal leva que contar, pois deixou passar em claro duas grandes penalidades, uma para cada lado, ambas por mão na bola dentro da área, e ambas na segunda parte. Vale-lhe apenas que, por portas e travessas, acabou por, erro de um lado, erro do outro, não interferir com a justiça do resultado.

EM TONS DE AZUL E BRANCO

Com o empate de sábado do Sporting no Restelo - num jogo que até podia muito bem ter perdido - o F.C.Porto sai desta jornada com a sua liderança reforçada, aconteça o que acontecer hoje em Coimbra, dando assim sinais de que o acidente Atlético está definitivamente ultrapassado.
O Desportivo das Aves foi um adversário demasiado dócil para um Porto sedento de vingança, e o golo aos nove minutos – que bela jogada – foi o tónico de que os dragões necessitavam para fazer as pazes consigo próprios. Depois, quase bastou deixar correr o tempo até que Quaresma se lembrou de tirar mais um coelho da sua inesgotável cartola, passando assim a certidão de óbito num jogo que há muito já tinha a sua sorte bem definida.
Sobre o Belenenses-Sporting já ficou dito o essencial: os leões estiveram mais perto da derrota que da vitória, e deixaram uma vez mais a ideia de uma equipa algo esgotada física e animicamente.
Em tons de azul e branco também decorreu o derby eborense da 3ª divisão, que VEDETA DA BOLA teve oportunidade de presenciar, no regresso ao novo estádio do Lusitano, onde em Maio passado seguira a preparação da selecção nacional para o Mundial da Alemanha.
O Juventude venceu, e venceu bem (0-1 com um golo da contratação de Inverno Hélder Monteiro perto do intervalo), recuperando também da alma perdida na Taça, perante uma equipa do Lusitano estranhamente indolente e afundada nos últimos lugares da tabela mesmo dispondo de um plantel que apontaria para a luta pela subida.
Com um dos candidatos em greve e os seus jogadores em debandada sem receber salários (o Amora), o Juventude tem novamente uma fortíssima oportunidade de lutar pela subida de divisão.

FOTOS: www.record.pt e www.juventudesportclube.blogspot.com

ADEUS KIKIN

Chegou ao fim a ligação entre o Benfica e Kikin Fonseca.
Há já algumas semanas que era este o desfecho esperado para um jogador com muitas e boas propostas do seu país, e que nunca se fixou como titular no onze de Fernando Santos.
Fica a sensação de que o mexicano, com mais algum tempo de adaptação, podia ter tido outro tipo de preponderância no Benfica. Mas entende-se a impossibilidade de ter um dos jogadores mais bem pagos do plantel remetido ao banco de suplentes, sobretudo quando havia propostas capazes de permitir aos cofres encarnados recuperarem a totalidade do valor investido.
Fica também a simpatia do jogador, que todos os benfiquistas decerto desejam que seja muito feliz na nova etapa da sua carreira.

SOLTAS

DUBAI – É muito discutível a oportunidade da presença do Benfica neste torneio, mas a verdade é que veio de lá com os bolsos carregados de petro-dolares, com um troféu e a moral levantada, particularmente entre muitos dos jogadores menos utilizados do plantel. Se ganhar à Académica, fica justificada a bondade da opção.
MERCADO – Talvez seja devido à crise económica mas a verdade é que as movimentações de mercado nada têm que ver com a loucura de há uns anos atrás por estas alturas. Até agora o F.C.Porto contratou o desconhecido Lucas Mareque e entre os três grandes nada mais aconteceu de relevante. Esperemos pelo final do mês para confirmar ou desmentir esta tendência.
LIGA – Depois de uma longa e inexplicável pausa regressa finalmente a nossa Liga. A grande curiosidade é saber como reagiram as equipas a tão grande período de inacção, e em particular como se irá comportar o F.C.Porto depois da derrocada frente ao Atlético.
BEIRA MAR – Com alterações como a verificada agora, com a entrega dos destinos do clube a investidores particulares, trocas de treinador e jogadores, ou me engano muito ou tem a certidão de óbito (leia-se descida de divisão) em vias de ser assinada.
MOURINHO – Está a atravessar talvez o pior período da sua exuberante carreira. Terá cometido um erro de avaliação ao sustentar as contratações de Ballack e Schevchenko, que nada trouxeram ao plantel, parecendo ao invés ter minado o ambiente da equipa. Tem tido algum azar com as lesões, é certo, mas o Chelsea está longe de se mostrar a máquina trituradora das épocas anteriores, e muito dificilmente vai conseguir apear um super Manchester United, de um super Cristiano Ronaldo, da liderança do futebol inglês. Deverá ser esta a última época de Mourinho em Inglaterra. Onde prosseguirá a sua carreira ? Não sei porquê, palpita-me o A C Milan.
RELVADOS – Já que o Sporting aproveitou a pausa competitiva para substituir o relvado do Alvalade XXI, o Benfica bem que podia ter feito o mesmo. O relvado da Luz há muito que não corresponde a um clube com a grandeza do Benfica, nem a um estádio de tamanha sumptuosidade. Observo semanalmente com inveja como os relvados ingleses (onde a meteorologia nada ajuda) se mantêm impecavelmente tratados. As próprias transmissões televisivas ganham beleza com isso.
LUISÃO – Não se pode crucificar ninguém por cometer um erro, mas custa a aceitar que profissionais tão bem pagos, com vidas tão doces, cuja única limitação é precisamente evitarem alguns excessos próprios da juventude, não sejam capazes de cumprir com as suas obrigações mais básicas. 1, 33 gramas no sangue não dá propriamente para entrar em coma alcoólico, mas é manifestamente demais para um profissional que ganha muitos milhares de euros por mês para praticar desporto e tem treino na manhã seguinte. Além do mais, ao pegar no volante criou um problema bem chato para si e para o clube. Oh Luisão…
DERBY – Este domingo disputa-se um jogo com história: o derby de Évora (cidade onde LF aprendeu muito do que sabe) entre Juventude e Lusitano. Trata-se do primeiro confronto entre os dois rivais no novo estádio do Lusitano, que como se lembram foi a oficina da selecção nacional na sua preparação para o Mundial da Alemanha. VEDETA DA BOLA vai tentar estar presente.
NUNO ASSIS – Laurentino Dias deu mostras de um estranho zelo em penalizar, junto de uma instância internacional, um atleta português, o que prova a ideia já alicerçada aquando do caso-Mateus de que temos um verdadeiro buraco negro na secretaria de estado do desporto. Contudo, também a direcção benfiquista não ficou bem na fotografia, partidarizando e politizando um caso de mera incompetência e fanfarronice de um membro do governo. Aliás, é de questionar como foi possível o Benfica e o seu departamento jurídico não precaverem uma situação deste tipo, quando apenas faltavam cerca de vinte dias para Assis cumprir a totalidade da pena inicialmente instaurada. As suspeitas sobre o CNAD entretanto mantêm-se, o que já não é novo tendo em conta aquilo que se dizia dessa entidade, do F.C.Porto, da forma como os jogadores azuis e brancos eram controlados e da influência do Dr. Domingos Gomes nos anos oitenta e noventa.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (5) - Benfica-Altay Izmir / 1980

Perdoem-me o pendor autobiográfico mas hoje irei falar de um jogo absolutamente banal na história do futebol e na história do Benfica, contudo deveras marcante para mim próprio e para a minha vivência clubista. Tratou-se da primeira vez que vi a equipa principal do Benfica jogar, e logo no Estádio da Luz e para as competições europeias.
Estávamos no dia 4 de Setembro de 1980, tinha LF dez anos de idade. O Benfica disputava a segunda mão de uma pré-eliminatória da já extinta Taça dos Vencedores das Taças frente à equipa turca do Altay Izmir, da qual pouco ou nada se voltou a ouvir falar. No jogo da primeira mão na Turquia dera-se uma igualdade a zero. Consegui com alguma dificuldade convencer o meu pai a levar-me ao jogo, depois de bastante insistência - o que era frequente por esses anos e estará possivelmente na causa da minha "febre" de estádios a partir do momento em que passei a depender exclusivamente da minha própria vontade. Lembro-me perfeitamente de andar nessa tarde vagueando pela Avenida Guerra Junqueiro com o meu pai, esperando a minha mãe que fazia compras, e aguardar com enorme ansiedade pela hora do jogo que para mim constituía quase o realizar de um sonho - ver aquelas camisolas vermelhas entrar em campo, à noite, em pleno Estádio da Luz, perante o clamor das bancadas cheias. As histórias que o meu pai contava de tempos remotos em que via frequentemente o Benfica – quer já na Luz, quer ainda no Campo Grande -, e que eu ouvia desde a mais tenra infância, aguçavam-me fortemente o apetite de poder também eu um dia presenciar as venturas e desventuras do clube que já então ocupava de forma avassaladora o meu coração. Chegados às imediações do estádio, o meu pai comprou-me uma pequena bandeira que ainda tenho religiosamente guardada. E entrei. Ainda iriam passar alguns anos até que Fernando Martins avançasse com o fecho do “terceiro anel”. Nessa altura o estádio levava 75 mil pessoas, e nessa noite deviam lá estar umas sessenta mil, número habitual em qualquer jogo naquela altura, sobretudo nas competições internacionais. Fiquei na bancada lateral do lado oposto ao terceiro anel, o que significa que o tinha mesmo pela frente. Estava aproximadamente no enfiamento da linha de fundo do lado sul.
Não consigo descrever por palavras o impacto visual que me causou ver o estádio praticamente cheio e todo iluminado, e os jogadores a entrarem em campo, as camisolas berrantes e a verdura da relva. São imagens que perduraram na minha memória como se de um sonho se tratasse. Eu nem acreditava que estava ali, justamente naquele local que povoava a minha imaginação, e que eu estava habituado a ver apenas em fotografias a preto e branco dos jornais. O Benfica alinhou com Bento, Bastos Lopes, Humberto, Laranjeira, Pietra, Carlos Manuel, Alves, Shéu, Chalana, Nené e César, e na segunda parte entrariam Vital e Frederico. O treinador era o já falecido húngaro Lajos Baroti, que conquistaria a dobradinha dessa temporada.
Do Altay só me lembro que equipava com camisola branca e calção preto, e tinha um avançado chamado Mustafá-qualquer-coisa. Chalana marcou o primeiro golo num remate rasteiro à entrada da área, iam decorridos vinte e dois minutos de jogo, e à beira do intervalo foi Humberto de cabeça na sequência de um canto a fazer o 2-0. Na segunda parte mais dois golos de Nené e César respectivamente, quase tirados a papel químico um do outro, ambos em remates em jeito desferidos aproximadamente da marca de penálti. Todos estes foram naturalmente momentos de grande euforia para mim, mas mesmo que tivesse sido apenas 1-0, só o facto de estar alí já me enchia de felicidade. O meu pai, para evitar o trânsito e com o resultado feito, quis sair quando ainda faltavam alguns minutos para os noventa. Saí um pouco contrariado pois era difícil desligar os meus olhos de todo aquele deslumbrante espectáculo. Resultado final : 4-0 e passagem assegurada à eliminatória seguinte. Foi uma estreia perfeita, qual guião de um filme com final feliz. Foi fantástico também ler os jornais do dia seguinte, e poder ver as mesmas fotos de sempre - hoje pouco olho para as fotografias, mas naquela altura contemplava-as avidamente e até por vezes as recortava -, mas com uma diferença extraordinariamente significativa, desta vez eu tinha lá estado! O Benfica faria uma excelente carreira na Taça das Taças desse ano, chegando às meias finais onde baqueou perante os alemães de leste do Carl Zeiss Jena, depois de eliminar Dínamo de Zagreb, Malmoe e Fortuna Dusseldorf. Três anos depois teria uma experiência ainda mais marcante quando aos 13 anos, após um treino, passei um bom bocado praticamente dentro dos balneários da Luz a recolher autógrafos e a falar com quase todos os jogadores do plantel benfiquista, de Chalana a Diamantino, de Nené a Bento, passando por Eriksson, Toni e Eusébio.
Que saudades...

TAÇA DE ESCÂNDALO

Ninguém lhe passaria pela cabeça que numa aparentemente tranquila e sonolenta eliminatória da Taça de Portugal, o todo poderoso F.C.Porto, campeão nacional, detentor da taça, líder incontestado da liga, com apuramento garantido para a fase eliminatória da Champions, se deixasse incrivelmente bater em casa pelo modesto Atlético da II divisão B.
É este o fascínio de uma prova que muitos teimam em desvalorizar, mas que constitui um momento único de afirmação e de glória para equipas, jogadores e treinadores do “outro” futebol, daquele que está semanalmente longe dos grandes palcos, das televisões e dos jornais, mas que faz movimentar centenas ou milhares de atletas, em muitos dos casos por pouco mais do que amor à modalidade ou o eternamente adiado sonho de um futuro radioso.
O histórico clube de Alcântara teve ontem o seu dia, que para todos aqueles jogadores não será seguramente jamais esquecido, em particular para o ponta-de-lança brasileiro David - autor do golo solitário do jogo -, chegado a Portugal há 4 anos atrás com destino ao Juventude de Évora, onde desde logo demonstrou grandes dotes goleadores.
Mas para além de todo o mérito e esforço dos homens da Tapadinha, este resultado não pode deixar de envergonhar a equipa de Jesualdo Ferreira, que enquanto treinador principal consegue a triste “proeza” de ficar ligado a dois dos mais humilhantes resultados do historial de Benfica e F.C.Porto, pois há pouco mais de 4 anos era ele que estava no banco dos encarnados quando estes se viram eliminados em pleno Estádio da Luz pelo pequeno Gondomar, também na altura militando na II divisão B, também por 0-1, também na primeira eliminatória da Taça de Portugal, jogo que lhe valeu, como nos lembramos, o despedimento.
O experiente treinador parece não ter aprendido a lição e voltou a incorrer no erro de fazer descansar muitos dos habituais titulares num jogo a eliminar, descaracterizando assim por completo o conjunto, numa altura do ano em que até seria mais natural permitir aos principais jogadores tempo de jogo de modo a mais rapidamente poderem recuperar o ritmo competitivo perdido numas longas férias natalícias.
Ficou também provado que já não há jogos ganhos de antemão. As equipas de escalões secundários trabalham bem, têm capacidade de combate, são capazes de se organizar em campo, e com a concentração própria de um grande momento podem perfeitamente bater o pé a quem as menospreze e não dê o seu melhor para ganhar.
Não foi o caso, diga-se do Benfica, que não menosprezou o Oliveira do Bairro (também da II B), e tendo a sorte de marcar logo ao quarto minuto, pôde partir tranquilamente para uma natural goleada. Nuno Gomes e Fonseca reencontraram-se com os golos (dois cada), num jogo sem história para o clube da Luz – pois para os da Bairrada ficará certamente bem gravado na memória de quantos nele participaram ou a ele assistiram.
VEDETA DA BOLA esteve também na Taça, em Évora, onde o Juventude local (da III divisão) foi derrotado pelo Pinhalnovense (do escalão acima) por 1-4. Algumas falhas defensivas – mormente em lances de bola parada -, uma natural diferença de ritmo competitivo, e quiçá os efeitos de uma profunda remodelação da equipa eborense na sequência de saídas e entradas de jogadores em Dezembro, determinaram o rumo da eliminatória, numa bela tarde de futebol perante uma moldura humana digna de registo, sobretudo dado o frio que se fazia sentir, o preço dos bilhetes (mínimo 6 euros) e o nome das equipas em presença. Talvez a longa pausa futebolística tenha aberto o apetite aos adeptos (na Luz haviam estado mais de 30 mil no sábado à tarde).
Amanhã teremos o sorteio da próxima eliminatória, que se joga já no dia 21 (estranha calendarização esta…).
Viva a Taça !

FORAM ELES AS VEDETAS DE 2006

Os leitores escolheram, está escolhido.
Simão Sabrosa, Cristiano Ronaldo, Paulo Bento e José Mourinho são os vencedores da votação promovida por VEDETA DA BOLA para encontrar aqueles que mais se destacaram no ano que há bem pouco terminou.
Não se pode dizer que tenham existido grandes surpresas nestas preferências, mesmo tendo em conta o natural pendor patriota no caso das categorias internacionais.
A verdade é que Cristiano Ronaldo é nesta altura inegavelmente um dos melhores do mundo - senão mesmo o melhor -, enquanto que Mourinho, atravessando um período de menor fulgor em termos de resultados, não deixa de figurar também entre os maiores, sejam quais forem os critérios de avaliação.
No campo nacional, Simão acabou o ano em extraordinário momento de forma, foi sempre o elemento mais determinante do Benfica, teve excelentes prestações na Champions League e também no Mundial, e merece indiscutivelmente a distinção. Paulo Bento foi sem dúvida a maior revelação do ano entre os treinadores lusos, se bem que o trabalho de Jesualdo Ferreira no F.C.Porto faça dele uma figura em plano de destaque, a quem a eleição também ficaria bem.
Em suma, VEDETA DA BOLA subscreve as escolhas dos leitores e destaca a inteira justiça das mesmas. Este espaço agradeçe a todos os que participaram nesta iniciativa, que esperamos se repita dentro de um ano.
Eis os resultados finais:
JOGADOR LIGA PORTUGUESA: SIMÃO SABROSA 23%, João Moutinho 18% e Ricardo Quaresma 15%
TREINADOR LIGA PORTUGUESA: PAULO BENTO 36%, Jesualdo Ferreira 26% e Fernando Santos 11%
JOGADOR FUTEBOL INTERNACIONAL: CRISTIANO RONALDO 26%, Didier Drogba 11% e Ronaldinho Gaúcho 11%
TREINADOR FUTEBOL INTERNACIONAL: JOSÉ MOURINHO 33%, Marcelo Lippi 21% e Luiz Felipe Scolari 13%