RECORDAR CLÁSSICOS DA LUZ

Recorde aqui os clássicos disputados na Luz, a partir de 1974

PRESSÃO? QUAL PRESSÃO?

Somos os Tri-Campeões nacionais; estamos no primeiro lugar do campeonato há meses a fio; dispomos do plantel mais forte, mais vasto e mais equilibrado; temos um treinador que já ganhou tudo; jogamos em nossa casa, num estádio repleto de fervor e mística benfiquista, ao som do grito incessante de sessenta mil.
Já lá vai o tempo em que sentíamos medo destes confrontos, e destes rivais. Hoje, esse medo está do lado de lá. São eles que se sentem pressionados, e que têm um cutelo sobre o pescoço. São eles que não podem errar nem vacilar. São eles que nada ganham há largos anos, e, afastados de todas as outras provas, jogam aqui a vida. Jogam aqui, na verdade, não uma, mas quatro temporadas. Aqui mesmo, no nosso “Inferno da Luz”.
Dois resultados permitem-nos manter a liderança, e nenhum nos coloca fora de combate. Pelo contrário, ao nosso adversário só mesmo a vitória fará passar adiante. Não iremos deixar!
Nos últimos anos, de 181 jornadas do campeonato, comandámos a classificação em 127, ou seja, em 70% das mesmas. É já um hábito estar na frente. É o nosso lugar. Para manter até ao fim.
É este o jogo que todos esperávamos. O jogo em que, com humildade, de fato-macaco vestido, mas com absoluta confiança, podemos cavar diferenças, e mostrar definitivamente que somos melhores. Em que podemos calar todos os que nos querem mal - os de cima, e os de baixo, cujo empenho em ver-nos perder é idêntico ou ainda maior, e com cuja hostilidade mais vil temos de contar até ao fim.

Vamos, pois, cumprir o nosso destino: vencer e continuar seguros na caminhada rumo ao Tetra. Rumo à história.

INSTRUMENTALIZAÇÃO, MÁ GESTÃO, LESÕES: o balanço da semana das selecções

Todas as tentativas de instrumentalização da Selecção a que temos assistido (uma pseudo-claque provocatória, um número de circo de um dirigente do Sporting, comunicados para cá e para lá, etc) partem do problema identificado no texto anterior: não faz qualquer sentido inserir jogos internacionais no meio das competições clubistas, e num momento em que estas estão particularmente acesas.
A poucos dias de um "Clássico" que pode resolver o campeonato, esperavam o quê? Paz e concórdia? Que se passasse uma borracha sobre tudo o que move o adepto comum? Uma lobotomia colectiva?
É verdade que a FPF não tem culpa dos calendários estapafúrdios que a FIFA impõe. Mas também não sei se faz alguma coisa para os denunciar. Além de que este amigável Portugal-Suécia poderia muito bem ter sido evitado.

É também espantoso como Fernando Santos, mesmo com um título de Campeão Europeu no bolso (obtido com a sorte de um Euromilhões), consegue fazer uma gestão da equipa tão...antipática.
A poucos dias do Benfica-FC Porto, eis que coloca em campo Nelson Semedo, Pizzi e Eliseu, quando nenhum deles foi utilizado (se exceptuarmos 5 minutos de Pizzi) no jogo que verdadeiramente interessava, e que, por acaso, se disputava na Luz. 
Sr. Seleccionador: todos somos portugueses, e gostamos de ver a Selecção vencer, mas ninguém (a começar, espero, pelos próprios) comparará a importância do jogo do próximo sábado com a do de ontem. Não acredito que faça a sua gestão olhando a clubes. Mas se calhar, e se quiser mesmo ter o povo atrás de si, e da equipa, devia também pensar um pouco neles, e não os tratar desta forma ostensivamente negligente.
Nélson Semedo é incomparavelmente melhor que Cedric. Mas se não joga os encontros oficiais, a motivação para homenagens a Ronaldo não será grande. Passeou-se pelo campo, como teria feito o jogador do Southampton, e como fizeram quase todos os restantes.
Pizzi é o médio português em melhor forma, e com a melhor época, mas praticamente não jogou com a Hungria. A quatro dias do "Clássico", é colocado em campo para esta homenagem ou lá o que foi. Se o estado de espírito do médio benfiquista fosse igual ao meu, nem sequer tinha voado para a Madeira.
Eliseu dificilmente tiraria o lugar a Guerreiro. Mas Pizzi e Semedo eram titulares de caras na equipa. Como português, gostava de os ter visto no sábado. Como benfiquista, preferia não os ter visto ontem.

Lindelof, Eliseu e Jimenez. Mais três lesionados, é o balanço desta estúpida semana.

ANTI-CLIMAX

Não sei porque existe, nem a quem interessa. A paragem das competições futebolísticas de clubes nesta altura do ano é uma aberração, que não serve a modalidade, nem os seus intervenientes ou seguidores.
Tenho para mim que todo o futebol de selecções deveria jogar-se em Junho. Além das fases finais, também (nos anos precedentes) as respectivas qualificações. Protegiam-se os clubes e os jogadores, estimulavam-se os adeptos, e lucravam as próprias federações – com entusiamo redobrado em redor das equipas nacionais, logo maior relevo mediático e desportivo, traduzido em audiências e patrocínios.
As paragens de Outono já são nefastas. A de Março, é um completo absurdo.
Num dos momentos mais quentes da temporada, eis que, de repente, se subtrai toda a emoção que o futebol oferece, em troca de quase nada. Com competições europeias a decorrer, com os campeonatos ao rubro, é torturante, e quase insultuoso, pedir a quem ama o futebol que coloque o seu clube na algibeira, e rejubile com uma equipa onde irão actuar alguns dos seus adversários directos. Para os atletas, desviar o foco dos objectivos que os alimentam, e encontrar metodologias de treino diversas (nalguns casos, até contraditórias), também não deve ser fácil, nem produtivo. Os pobres treinadores dizem mal da vida, sem armas para preparar os compromissos seguintes. Do risco de lesões até tenho medo de falar, sobretudo quando me recordo de Bento, Humberto, Simão, e, mais recentemente, Nélson Semedo.

Que Portugal ganhe à Hungria. Mas que este fim-de-semana estúpido e acinzentado passe depressa. Queremos a nossa paixão de volta!

...E OS OUTROS?

Gostava de ver as mesmas contas para o Marítimo-Benfica, para o Benfica-V.Setúbal  e para o V.Setubal-Benfica. Em todos eles os árbitros deram um total de 6 minutos de tempo-extra, somando as duas partes. Ou seja, metade dos descontos concedidos no FC Porto-V.Setúbal. Será que as pausas também foram metade?

OS MAL-AMADOS

Se, num estádio com 60 mil pessoas, 200 assobiarem freneticamente, e 59800 permanecerem em silêncio, o barulho da minoria ecoará no relvado com um nível de decibéis muito para além da sua representatividade. É assim que se estabelecem equívocos, rapidamente usados pelos rivais, e pela comunicação social, para derramar o sangue de que se alimentam.
Alguns benfiquistas não entendem que, ao vaiar um dos nossos, estão a dar armas ao adversário. Os jogadores são seres humanos, têm sistema nervoso, sentem emoções, e no futebol, como no desporto em geral, como na vida, a auto-confiança é determinante para um bom desempenho. Ao ser apupado, o jogador executará pior, pois a pressão e o medo de errar irão tolher a sua vontade. Perde ele, perde a equipa, e perdem os adeptos, num ciclo que nem sempre é fácil inverter.
A exigência faz parte do ADN encarnado, e é hoje, felizmente, marca de todo o universo do Clube. Só os melhores podem estar no Benfica. Mas, no que toca aos atletas, cabe ao treinador materializar essa exigência nos treinos e nos jogos, com base em informação de que os adeptos nem sempre dispõem.
Quem entra em campo vestido com o “Manto Sagrado”, é automaticamente credor da nossa vénia, e do nosso apoio incessante. Só assim faz sentido enchermos as bancadas da Luz. Só assim nos realizamos como verdadeiros benfiquistas.
No passado, nomes como Cavém, Nené, Vítor Paneira, Nuno Gomes ou Óscar Cardozo, foram vítimas de facções de assobio fácil. É quase revoltante lembrá-lo.

Agora, há também um ou dois “eleitos” que padecem da mesma sorte. É tempo de acabar com esta triste tradição.

VENHAM MAIS DEZ!

No rescaldo da conquista do Tri-Campeonato, e após as doze vitórias consecutivas que, por fim, permitiram garanti-lo – sempre com o segundo classificado a reboque -, Eliseu afirmou que, se necessário fosse, o Benfica ainda ganharia mais dez jogos.
Passados alguns meses, ora aí os temos. Exactamente dez jogos, com pressão extrema, e sem qualquer margem de erro. É o que está diante de nós, desta vez com vista para o Tetra. É o prato que temos novamente sobre a mesa. Um mar de dificuldades, como este campeonato já amplamente demonstrou. Um desafio à coragem, quer de profissionais, quer da estrutura que os envolve, quer dos adeptos que, por fora, sofrem e apoiam.
É preciso transpor o espírito subjacente àquela afirmação de Eliseu para toda a equipa, e para toda a nação benfiquista, de modo a que, em Maio, possamos voltar a ser felizes.
Há dois meses atrás, o pássaro quase parecia vir poisar nas nossas mãos. O desenrolar da prova mostrou-nos, porém, que teremos de lutar mais do que, nessa altura, chegámos a supor. É esta a marca da nossa história. Nunca ninguém nos deu nada. Na época transacta partimos de trás, e soubemos recuperar. Desta vez partimos na frente, temos agora de saber resistir.
Continuamos em primeiro lugar. Firmes. Com uma sequência de cinco vitórias e apenas um golo sofrido. Não dependemos de ninguém. “Basta” ganhar, ganhar e ganhar, dez vezes seguidas, uma a uma, para cumprir o nosso destino.
Vamos a isso! Venha daí o Belenenses!


PS: No Benfica aprende-se a respeitar os adversários, não a insultá-los. Mas, como dizia um meu tio-avô, vozes de burro não chegam ao céu.

DOIS PESOS

Não me interessa nada a vida interna de outros clubes, e muito menos as figuras, figurinhas ou figurões que escolhem para os dirigir. Nós cá estaremos para continuar a ganhar-lhes, seja com A, seja com B.
O que incomoda é o tratamento diferenciado dado aos vários emblemas, quer quando se trata de arbitragem, quer em casos de disciplina, quer nos perdões bancários, quer na comunicação social.
Neste último aspecto, o que se tem visto relativamente ao nosso vizinho e rival é espantoso. Um clube que investiu milhões no mais caro treinador de sempre do futebol português (e um dos mais caros da Europa), que fez inúmeras contratações milionárias, que se candidatava a ganhar provas internacionais, que ameaçava conquistar este mundo e o outro, e que em Janeiro já estava sumariamente afastado de todos os objectivos a que se propôs, tem sido obsequiado com uma espécie de tratamento VIP (ou tratamento médico, sendo mais preciso), que nada discute, nada coloca em causa, e nada questiona. Ao que parece, por lá está tudo bem, e a preparação da nova época corre lindamente, dentro do que era previsto.
Estivessem numa qualquer pré-época, e tivessem sido campeões (façamos o difícil esforço de imaginação), as notícias e comentários na imprensa desportiva não seriam muito diferentes. “Trabalho”, “pequenos ajustamentos”, “integração de atletas”, tudo na paz dos anjos, como se uma borracha tivesse apagado toda a temporada de 2016-17.

Se um dia tivermos a infelicidade de viver tempos assim, duvido que tenhamos direito aos mesmos cuidados paliativos prestados por este jornalismo decrépito e reverente.