ATÉ JÁ!

Chegou a minha hora.

Este ano, um pouco mais cedo que o habitual, terei de fazer uma pausa na actividade deste espaço.

Sou apenas eu a alimentá-lo enquanto editor, e ninguém me paga para ajustar as férias ao calendário futebolístico. Como tal, esta é uma situação que não posso evitar.

Provavelmente não estarei de volta antes do final do mês de Agosto. Até lá conto, entre muitas outras coisas, concretizar o sonho de assistir ao vivo (já este domingo em Paris) à etapa final da Volta à França em Bicicleta.

Vou falhar o jogo europeu do Benfica, que nem na televisão poderei ver. Mas quando começarem as competições nacionais já poderei estar mais atento ao que então se vier a passar, pelo que, quando voltar, terei certamente muito para escrever.

Desejo umas boas férias (ou, se for caso disso, bom trabalho) a todos os prezados leitores. Desejo, particularmente aos benfiquistas, muitas alegrias nos próximos jogos, e que o primeiro objectivo da temporada (apuramento para a Champions) seja uma realidade.

FINALMENTE A ZERO


Seria necessário recuar cinco meses, mais precisamente ao dia 24 de Fevereiro, para encontrarmos um jogo, oficial ou particular, em que o Benfica não tivesse sofrido golos. Foi em Estugarda, em partida da Liga Europa, que tal sucedera pela última vez. Esta noite, na apresentação da equipa aos sócios, voltou finalmente a acontecer.


Mesmo com muitas questões por solucionar na linha defensiva, e descontando uma certa fragilidade do opositor, o facto da baliza ter permanecido inviolável não deixa de ser um bom sinal para a próxima semana, designadamente para o jogo com o Trabzonspor, onde vai ser muito importante que essa inviolabilidade se repita.


Paradoxalmente, esta partida de apresentação mostrou um Benfica ineficaz no ataque, e bem mais seguro na sua parte de trás. As incorporações de Emerson e Garay também terão ajudado, mas é bem possível que algumas movimentações colectivas tenham sido particularmente acauteladas por Jorge Jesus, acrescentando segurança, e subtraindo risco ofensivo.


Este tipo de jogo serve também para mostrar as novas caras, e atestar do estado de forma das mais antigas. Cada vez parece-me mais evidente que o grande jogador do Benfica 2011-2012 vai ser Nico Gaitán. Mesmo sem encher o olho, o argentino (que para mim é um “dez”) voltou a mostrar uma vivacidade, e uma audácia, que há um ano atrás ainda encolhia. Quanto ás novas aquisições, devo dizer que, para além dos defesas, gostei bastante de Enzo Perez e, uma vez mais, Nolito. Pelo contrário, Witsel, ainda não mostrou o que vale.



Como não pude estar na Luz, não sei qual foi a reacção dos sócios a Eduardo. Espero que, com Artur/Eduardo, não se esteja a criar um novo fenómeno Moreira/Quim ou Quim/Moretto, e que qualquer jogador que vista a camisola do Benfica, e se esforce por defendê-la, seja igualmente apoiado.


PS: Não tenho falado sobre o Sporting, mas a última contratação surpreendeu-me bastante. Tinha Capel (do qual me lembro ser a estrela das selecções jovens espanholas) como um jogador destinado a um Real Madrid ou um Barcelona. Veio para o Sporting. Ou anda metido na cocaína, e alguém se quis ver livre dele, ou então, conseguir contratá-lo a preço de saldo, foi uma verdadeira lança em África.

13+10=23, O PREÇO DE UMA OBSESSÃO

O que se diria do Benfica, e dos dirigentes do Benfica, se contratassem dois jogadores que nem são internacionais A do seu país (um não é sequer titular no seu clube), por 23 milhões de euros, sendo que nenhum deles chega no imediato (um em Setembro, ou outro talvez só em Janeiro)?

O que em Lisboa é irresponsabilidade e devaneio, no Porto (onde a crise, pelos vistos, não chega), é sábia gestão.

Aqui não há espionagens. Aqui há loucura e obsessão em erguer vaidades como se fossem peças de caça.

BASTANTES MELHORIAS, MAS...

Cumpriu-se a tradição. O Benfica venceu o Torneio Guadiana, e, com ele, elevou as expectativas relativamente à sua época. Só faltou ser Nuno Gomes a levantar a taça para se repetir um quadro já visto e revisto em temporadas anteriores.

A vitória no torneio foi justa, e traduz claras melhorias competitivas face ao estágio na Suíça. Outra coisa não seria de esperar.

Embora o principal problema persista (na defesa), do meio campo para a frente já se sentiu algum perfume no futebol encarnado. Há reforços que são mesmo reforços, e alguns já da casa também parecem caminhar para a melhor forma. Falo, no primeiro caso, de Witsel, Matic, Nolito, Perez e Bruno César (todos centro-campistas), e no segundo de Gaitán e Saviola.

Também na baliza a situação estabilizou. Artur tem mostrado os atributos que fizeram dele um dos melhores guarda-redes da temporada passada, pelo que não creio que seja oportuna (e muito menos necessária) a contratação de Eduardo – que me parece condenado a passar uma época no banco, e a perder a titularidade na selecção nacional.

Mas, se o excesso não é um problema grave, já a escassez o pode ser. É o que se passa com o sector defensivo, onde a Copa América (nos casos de Maxi, Luisão e Garay), e não sei bem o quê (no caso do lateral-esquerdo), têm certamente tirado o sono a Jorge Jesus. É este o ponto de preocupação face ao plantel encarnado, até porque as segundas linhas (algumas delas perdidas em adaptações necessárias ao colectivo, mas prejudiciais à sua afirmação individual) não têm, genericamente, dado provas de estar à altura das exigências. Acresce que Roderick está no Mundial sub-20, Ruben Amorim e Jardel estão lesionados, e Miguel Vítor lesionou-se agora. Pior era impossível.

Maxi, Garay, Luisão e Capdevilla (a confirmar-se a contratação) asseguram um quarteto de qualidade indiscutível. O problema é que dificilmente poderão jogar todos a eliminatória europeia, e caso o façam, fá-lo-ão sem qualquer trabalho de mecanização prévio. Mas mesmo numa perspectiva de médio prazo – falo do campeonato -, não me parece que fosse má ideia adquirir mais um bom central.

Enfim. Veremos o que o jogo de apresentação reserva. Será a última oportunidade para fazer testes. A seguir, será a Europa que irá estar em causa.

POUCA SORTE

O adversário é o... Trabzonspor.

Das cinco possibilidades, era, no meu ponto de vista, a segunda pior. Pela viagem longa, pelo ambiente, e por uma equipa que terminou o campeonato com os mesmos pontos do campeão, sofrendo menos 11 golos que ele.

UMA PIADA DE MAU GOSTO

Um jornal desportivo dá hoje como provável a saída de Luisão do Benfica. Trata-se, como é óbvio, de uma piada de mau gosto.



Luisão é o capitão , é um jogador fundamental (o mais fundamental de todos) na estratégia da equipa, e a sua eventual saída não significaria outra coisa que não entregar ao FC Porto, em bandeja de prata, mais um título nacional.



Há jogadores cuja cotação de mercado suplanta o peso desportivo que têm nas suas equipas. Esses, são de vender. Por muito que gostasse de Di Maria, David Luíz ou Fábio Coentrão, e por maior que fosse a sua importância no colectivo encarnado, verbas de 30 milhões não se podem recusar. Ninguém me ouviu uma palavra a condenar essas saídas - pelo contrário, aplaudi cada um desses negócios, que tomo como naturais e fruto das vicissitudes do futebol moderno.



Já os jogadores cuja cotação é, por via da idade, ou por qualquer outro motivo, inferior ao peso que têm no conjunto, não se podem deixar partir em circunstância alguma. Luisão (como, por exemplo, também Maxi Pereira) é o paradigma desse tipo de jogador, pelo que se torna inaceitável que o Benfica pondere, sequer, a sua negociação.



Não se trata de sentimentalismos. Não os tive para com Nuno Gomes, por muita simpatia que o avançado me despertasse, até sob o ponto de vista pessoal. Entendi a sua dispensa como uma opção técnica, perante alguém cuja utilização em campo era pouco mais que residual.



Luisão é um caso totalmente diferente. Trata-se da trave mestra da equipa, e do seu jogador mais importante, fora, mas também dentro do campo. Trata-se de alguém que, com a sua capacidade, com a sua experiência, com a sua integração na equipa e no clube, o Benfica nunca iria conseguir substituir, a menos que gastasse ainda mais do que os 20 milhões da sua cláusula de rescisão.



Se Luisão quer sair, se faz pressão para sair, reflicta-se sobre as causas dessa intenção, e sobre os motivos pelos quais Falcão acaba de renovar com o FC Porto. Trata-se de um aumento de salário? Aumente-se! Não se pode aumentar? Vendam-se aqueles que, no plantel, auferem mais do que ele!



Luisão e Maxi Pereira são os únicos – leram bem, únicos! – jogadores do Benfica que considero absolutamente inegociáveis. Neste momento, a saída de qualquer um deles não comprometerá apenas uma época. Poderá comprometer… uma década.



E quem não perceber isto, percebe seguramente ainda menos de futebol do que eu.




PS: Falei aqui de Falcão. A renovação do seu contrato, num momento em que é pretendido por Chelsea, Manchester United e Real Madrid, é algo que me deixa de boca aberta. Ou a nova cláusula já prevê a irreversibilidade da venda, ou há aqui uma forma de negociar que, obrigando-me a tirar o meu chapéu, deveria ser bem estudada e analisada pelos responsáveis do Benfica e de todos os grandes clubes.




PS2: Ainda a propósito de Falcão, tenho de dizer que não vi Jorge Mendes a negociar o aumento da cláusula de Fábio Coentrão, para o Benfica lucrar mais com a venda do vila-condense. Pelo contrário, vi-o precipitar o negócio, perturbando a capacidade negocial dos encarnados. Outro motivo para reflexão, sobretudo para quem ainda tenha dúvidas sobre o carácter e os interesses que movem aquele empresário. E não é certamente por amor clubista a qualquer emblema.

A CHAMPIONS COMEÇA AQUI

ODENSE B. (Dinamarca)



FC ZURIQUE (Suíça)FC VASLUI (Roménia)







TRABZONSPOR (Turquia)




RUBIN KAZAN (Rússia)



A ordem é a da minha preferência.

A NOVA CORRELAÇÃO DE FORÇAS

...obviamente, apenas com os dados que o momento disponibiliza.

O ONZE IDEAL


SEGURANÇA E SOLIDEZ

"Ao longo das últimas semanas este espaço tem sido dedicado ao futebol benfiquista, e àquilo que, na minha perspectiva, mais poderia contribuir para o seu crescimento competitivo. Nunca será demais repetir que o exercício resulta ferido de superficialidade, pois só do lado de dentro se poderão, com rigor, identificar os eventuais problemas, e a melhor forma de os solucionar. Para mim reservo, apenas, o mero olhar do adepto despretensioso, que mais do que fornecer respostas procura levantar questões para reflexão comum.

Fecho hoje a série entrando - se me é permitido - no domínio táctico, para abordar um aspecto que, creio, esteve na base de algumas das mais importantes derrotas sofridas pelo Benfica ao longo da temporada passada: a falta de solidez defensiva.

Pode dizer-se que em 2011-12 o Benfica sofreu dois tipos de derrotas: as causadas por protagonismos alheios, e aquelas que não nos deixam espaço a quaisquer razões de queixa.

As primeiras tiveram origem em arbitragens absolutamente grotescas, às quais não havia táctica que pudesse fazer frente. Foi o caso das primeiras jornadas da Liga (Académica, Nacional e V.Guimarães), que nos condicionaram desde logo na luta pelo título, ou da derrota de Braga, que nos colocou definitivamente fora dela. Fui lembrando estes episódios ao longo do ano, e por agora apenas desejo (ainda que com alguma dose de desconfiança) que o próximo início de temporada não nos traga novos motivos de indignação.

Se quanto a esse tipo de derrotas pouco poderíamos fazer, já para as restantes teremos de encontrar explicações dentro da nossa casa, dentro da nossa equipa, e na forma como ela jogou. Recordo, por exemplo, a cinzenta passagem pela Liga dos Campeões, onde, se exceptuarmos setenta minutos de um jogo frente ao Lyon, tudo o resto foi medíocre. Recordo também os jogos com o FC Porto, da Supertaça aos cinco-a-zero, culminando com duas amargas derrotas caseiras.

No âmbito deste segundo tipo de desaires (provas internacionais e FC Porto), é possível, desde logo, identificar um traço comum: sempre que defrontou adversários fortes, a equipa de Jorge Jesus revelou uma chocante falta de segurança defensiva, aspecto que acabou por determinar os resultados. Concluímos a participação na Champions com um goal-average de 0-7 nos jogos fora; sofremos a maior goleada da história no estádio do principal rival; e vimos a bola entrar na nossa baliza em todas as últimas 19 partidas oficiais da temporada. Demasiado golo para tantas ambições.

Não falo aqui de Roberto – guarda-redes com qualidades, a quem faltará maturidade -, nem sequer dos elementos que constituíram a linha defensiva, e que, individualmente, não tiveram maus desempenhos (veja-se Maxi Pereira, veja-se Luisão, veja-se, sobretudo, Fábio Coentrão, veja-se, até, David Luiz, que fez toda a primeira metade da temporada).

Falo sim de um modelo de jogo que, a espaços, se mostrou excessivamente audaz, e com pouca base de sustentação, sobretudo se atendermos às características de um meio-campo muito macio (particularmente nos corredores), e pouco dado a tarefas defensivas. Nas partidas da Liga dos Campeões essa mácula foi gritante, e notou-se principalmente no terreno dos adversários. De Gelsenkirchen e, também, do Gerland, poderíamos ter trazido empates a zero, de Israel talvez estivéssemos obrigados a trazer uma vitória, e com esses resultados o apuramento teria sido uma realidade. Em todos esses jogos o Benfica partiu para cima do adversário, tentando desesperadamente - e desordenadamente - o golo, praticando um futebol demasiado ousado, quando (não tenhamos medo das palavras) não tinha equipa para tal. Atirar onze jogadores para cima de um Naval ou de um Rio Ave não é o mesmo do que fazê-lo na Liga dos Campeões, ou mesmo diante de um adversário forte como foi o FC Porto de Villas-Boas. Aparentemente, foi isso que o Benfica sempre tentou, com os resultados que se conhecem. Faltou consistência à nossa equipa, que nessas alturas não soube temperar a sua ânsia ofensiva, nem defender-se das suas próprias fragilidades.

Creio que um Benfica ganhador terá como grande desafio manter a chama atacante de que Jorge Jesus inegavelmente o dotou, e paralelamente ser capaz de apoiar o seu futebol numa muito maior consistência defensiva. Isso passa por saber gerir os ritmos de jogo de forma mais calculista, percebendo que ganhar 1-0 será sempre melhor do que empatar 3-3, e empatar 0-0 será sempre melhor do que perder 2-3. Passa por entrar em certos campos (nomeadamente na Liga dos Campeões) admitindo que o adversário é superior, e que sem primeiro o conseguir manietar restarão poucas hipóteses de vencer. E passa por jogar com onze jogadores que defendam (e bem) sempre que não tenham a bola nos pés, tudo isto sacrificando, se necessário for, alguma espectacularidade plástica – reluzente aos olhos, mas quase sempre inconsequente na hora de apurar os verdadeiros campeões."

LF no jornal "O Benfica" de 01/07/2011

A TEMPO?

Desta vez não foi por opção. Afazeres profissionais impediram-me mesmo de ver os primeiros 60 minutos de jogo, pelo que quando liguei a televisão já o Benfica perdia, a meia-hora do fim, por 1-0, sofrendo pouco depois o segundo golo.


Não terei perdido grande coisa, e, daquilo que vi, não tenho muito a acrescentar ao que aqui já disse.


Lamentavelmente, no momento em que o Benfica devia estar a preparar uma equipa para garantir o acesso à Champions, está ainda a escolher um plantel. Pior que isso, está a escolhê-lo de entre uma manta de retalhos composta por jogadores avulso – vários para as mesmas posições, nenhuns para outras posições -, entre os quais, pelo que se está a ver, nem sempre a qualidade é inquestionável.


Não compreendo esta pré-época, nem a abordagem que tem sido feita ao mercado. Não sei quem é responsável pelas aquisições, pelo que não estou a criticar ninguém em particular. Simplesmente não entendo, e desejo firmemente que tal se deva a limitação minha. Faltam 13 dias para a Liga dos Campeões, mas quem não soubesse, nem desconfiaria, tais as indefinições que grassam no plantel e na equipa.


A esperança é a última a morrer, e embora tema o pior, o meu benfiquismo obriga-me a calar os medos. Creio que ainda há tempo de inflectir caminho, e espero que os próximos dias o comprovem.


Não baterei mais no ceguinho, confiando que, com Witsel (diz-se ser um grande jogador), com Danilo (também de qualidade insofismável), e sobretudo com Ansaldi (ou outro lateral-esquerdo acima de suspeita), bem como com o rápido regresso de Maxi e Luisão, e com a incorporação de Garay, o Benfica ainda possa estar a tempo de formar uma grande equipa.

COLECÇÃO DE MÉDIOS

Meio-campo 1: Javi Garcia, Enzo Perez, Aimar e Gaitan





Meio-campo 2: Matic, Ruben Amorim, Carlos Martins e Urreta





Meio-campo 3: Nuno Coelho, Ruben Pinto, Bruno César e Nolito





Meio-campo 4: Witsel(?), Danilo(?), David Simão e César Peixoto





Meio-campo 5: Yebda, Balboa, Miguel Rosa e Fernandez










Cinco vezes quatro, vinte. Vinte! Vinte médios (a grande maioria do corredor central), que davam para encher todo um plantel. E nem se contam os que já estão colocados, como Airton, Fellipe Bastos, Felipe Menezes, e mais alguns jovens.




Olho para este quadro, e penso na falta que fazem um defesa-central (ou dois), um lateralzinho esquerdo (ou dois), e, já agora, também um ponta-de-lança para concorrer com Cardozo.

PARA JÁ...NADA

Apesar de ter feito, para a Benfica TV, a antevisão do jogo com os amadores de Friburgo, não fiquei lá para ver mais do que os dez minutos iniciais.



Eram horas de jantar, mas a verdade é que não me recordo de uma pré-temporada que me despertasse tão pouco entusiasmo como esta. Se pudesse escolher, estava mais dois ou três mesitos sem futebol, reservando o tempo livre para livros e, neste mês de Julho, também para o Tour de France – particularmente emotivo, e do qual conto, cumprindo um sonho de muitos anos, assistir à última etapa ao vivo, dentro de duas semanas em Paris.



Confesso que, depois do trauma de Braga (que ainda não ultrapassei totalmente), depois de uma época tão complicada, não tenho muitas saudades do Benfica, e preciso de um empurrão (um apuramento para a Champions, por exemplo) para retomar os níveis de entusiasmo próprios de um início de temporada. Até lá, até esse eventual click, irei arrastar-me, entre a quase obrigação moral de ver os jogos, e a tristeza de deles não esperar grande coisa, agravada pela inquietação de temer mais uma época decepcionante.



Vi, no entanto, o resumo da partida de sábado, e, acabei por ver cerca de dois terços do jogo de domingo.



Se um jogo contra os empregados do hotel nunca daria para tirar quaisquer conclusões, já o confronto com o Servette (equipa modesta, mas, profissional) evidenciou alguns aspectos de relevo, embora quase todos negativos.



Com a defesa titular toda de fora (Maxi Pereira, Luisão, Garay e lateral a contratar), as segundas linhas deixaram uma péssima imagem da sua capacidade para aguentar o barco, designadamente nos jogos da pré-eliminatória europeia, cuja primeira mão tem lugar já dentro de quinze dias. Jardel confirmou não ser opção a ter em conta para a titularidade (e porventura nem para o banco), e nem Roderick, nem André Almeida, nem Wass, nem Fábio Faria, deixaram garantias de ser casos muito diferentes. Só Miguel Vítor terá ganho alguns (poucos…) pontos, mas uma defesa assim quase faz suspirar por nomes como…Luís Filipe, Sidnei ou César Peixoto.

Por falar em defesa, começa a não se entender, nem desculpar, a não contratação de um lateral-esquerdo. O tempo vai passando, a pré-eliminatória está à porta, e se a Copa América é uma fatalidade com a qual o Benfica tem de lidar, os sucessivos adiamentos na questão do lateral têm apenas a ver com a SAD. Neste momento já não está em causa fazer um bom ou mau negócio, mas sim responder a uma necessidade absolutamente urgente. É preciso entender isso, sob pena de comprometer toda uma época, e lá para Maio de 2012 estarmo-nos todos a queixar da má sorte.



Diga-se também que a primeira impressão sobre os reforços não foi inteiramente favorável. Matic deixou um ou outro apontamento, mas tem o lugar tapado, e não sei como possa ser útil noutra posição que não a de Javi Garcia. Bruno César é bom com a bola no pé, mas, ou me engano muito ou não tem, para já, consistência táctica para o modelo de jogo que se exige ao Benfica. Wass e Rodrigo são, na melhor das hipóteses, esperanças para o futuro. Enzo Perez andou bastante escondido, e só Nolito terá sido a excepção, mostrando alguns atributos interessantes.



Enfim. Como nota positiva percebe-se que do meio-campo para a frente o onze-base já vai estando alinhavado. Se Aimar, Gaitán, Cardozo e Saviola engrenarem cedo, os aspectos ofensivos da equipa poderão estar relativamente acautelados. Mas se no ataque as coisas podem, com o tempo de treino, e com este tipo de jogos, ir melhorando, na defesa só com outros jogadores seria possível dormir descansado. E se aparece um qualquer Panathinaikos no sorteio de sexta-feira, lá se vai o regresso à Europa dos grandes.

Amanhã há mais. Desta vez com o Dijon.

QUEBRA-CABEÇAS

Se a UEFA admite a inscrição de 25 jogadores, e se oito dos quais têm de ser portugueses (ou, em alternativa, deixar as vagas por preencher), a matemática aponta para um máximo de 17 jogadores estrangeiros por clube.




No plantel encarnado, os guarda-redes ocupam, pelo menos, duas vagas (Artur mais Roberto ou Júlio César), pelo que, em termos de jogadores de campo, passa a haver lugar para um máximo de 15 estrangeiros em 22 atletas.




Ora bem… Maxi Pereira, Luisão, Garay, um lateral-esquerdo a contratar, Javi Garcia, Enzo Perez, Aimar, Gaitán, Cardozo e Saviola são certezas no plantel (e mesmo que algum possa eventualmente ainda ser vendido, não vejo muitos substitutos à altura no mercado nacional). Citei dez nomes, o que deixa apenas margem para outros cinco não portugueses.




Shaffer não deve ter espaço no plantel, e diz-se que Kardec deverá ser emprestado. Restam assim: Wass, Jardel, Carole, Matic, Bruno César, Urreta, Jara, Nolito, Rodrigo Mora e Rodrigo. Dez nomes ao todo, dos quais cinco terão obrigatoriamente de ser riscados por Jorge Jesus.




Quais? Esse é o exercício que vos proponho, e que resulta particularmente difícil se atendermos aos necessários equilíbrios do plantel, e às posições em que o mesmo está mais carenciado.

PONTO DE SITUAÇÃO

Bolas amarelas, portugueses (pelo menos 8); bolas castanhas, jogadores da formação (pelo menos 4).



Se César Peixoto sair, terá de sair também o Jardel, entrando Carole e Fábio Faria (ou o Nuno Coelho), de modo a manter os rácios.

Ruben Pinto precisa de um ano de rodagem, e não o estou a ver ainda no plantel principal..



Parece haver demasiados médios (e já estou a retirar o Ruben Pinto, o Nuno Coelho e o Urreta), e pouco peso no centro da defesa (apenas dois jogadores aptos à titularidade), bem como no centro do ataque (onde Mora é para mim uma incógnita, e Nélson ainda me parece um pouco verde).


Rodrigo e Urreta, sendo estrangeiros, não devem ter muitas hipóteses de ficar.



Mas a prioridade é, claro, o lado esquerdo da defesa.

TRÊS INQUIETAÇÕES

1- Necessitando (segundo as regras da UEFA) de 8 portugueses no plantel, 4 deles oriundos da formação, porque motivo o Benfica dispensa Moreira (que preenchia ambos os requisitos), mantendo Júlio César e Roberto?


2- Sabendo-se há vários meses que Fábio Coentrão iria sair (e não era preciso ser vidente), porque motivo não está ainda contratado um substituto? Eu estava convencido que apenas se esperava o anúncio oficial da transferência do português para Madrid, para anunciar o novo reforço. Pelos vistos, e sem que se perceba porquê, ele ainda não existe. E faltam 18 dias para o primeiro, e decisivo, embate europeu.


3- Como é possível que Falcão, pretendido por vários clubes de grandes campeonatos europeus, ainda admita renovar com o FC Porto, e aumentar a sua própria cláusula de rescisão? O que faz, promete ou oferece o FC Porto aos seus jogadores, e/ou aos seus empresários? Seria interessante percebermos isso.

FACES OCULTAS

"O ciclismo é uma das modalidades que mais me apaixona, e é ele que me preenche o vazio dos meses de defeso, sobretudo quando o maravilhoso “Tour de France” sai para as estradas.

Desde que me lembro, o desporto velocipédico é também aquele que, aparentemente, mais propenso se mostra ao fenómeno do doping. Está em andamento um processo que pode vir a suspender Alberto Contador (indiscutivelmente o melhor da actualidade), há denúncias comprometedoras para Lance Armstrong (outro grande campeão), e todo o espaço desta coluna não daria para enumerar os ciclistas castigados por práticas de dopagem – sobretudo após o eclodir dos casos “Festina”, em 1998, e “Operação Porto” (que nome?!), alguns anos mais tarde.

Por vezes interrogo-me se o ciclismo será mesmo a modalidade onde o doping mais prolifera, ou apenas a mais controlada, e, como tal, aquela em que mais casos dão à costa. É possível que a resposta esteja algures a meio, mas o que é indesmentível é que o tipo de controlo feito no ciclismo nada tem a ver, por exemplo, com o do futebol.

Actualmente, cada ciclista está obrigado a uma espécie de passaporte biológico, constituído por análises sanguíneas regulares, onde ficam registadas todas as suas variações hematológicas. À mais pequena anomalia, segue-se uma bateria de exames complementares, e as correspondentes explicações médicas.

Esta evolução surgiu porque as novas formas de dopagem já não eram detectáveis através das tradicionais análises à urina. O tempo das anfetaminas já lá vai. Hoje existem a EPO, a CERA, as hormonas de crescimento, as auto-transfusões, e já se fala de doping genético.Neste contexto, que motivos temos nós para acreditar que o futebol - que movimenta muito maiores interesses, e muito mais milhões - permaneça imune a estas práticas? E sem um rigoroso despiste sanguíneo, que garantias podemos ter de que grandes vitórias de certos clubes (sobretudo os que já se mostraram capazes de recorrer a outros meios ilícitos) não escondam tenebrosos esqueletos nos seus armários?"

LF no jornal "O Benfica" de 17/06/2011

5 ANOS EM CIFRAS





NOTA: Os dados apresentados não são oficiais, mas sim fruto de recolha na comunicação social. Eventuais pequenas diferenças, não alteram o essencial.

EIS QUANTO VALE UMA GRANDE EQUIPA

FUMO BRANCO

Era o desfecho anunciado.

Lamenta-se a saída de um grande jogador. Saúda-se a entrada de 30 milhões de euros fresquinhos.

É provável que parte deles estejam já destinados a Garay (eventualmente 5 milhões relativos ao passe, e outros 5 correspondentes à compensação salarial). Mas ainda assim, no contexto actual, não deixa de ser um grande negócio.

Parabéns ao Fábio, parabéns a Luís Filipe Vieira.

O TEMPO CERTO

"Façamos um pouco de história. Em 2003-2004 Luisão chegou ao plantel benfiquista com três rondas já decorridas, demorando algum tempo (e alguns pontos) a adaptar-se. Em 2005-2006 chegaram Miccoli e Karagounis sobre o fecho do mercado, já o Benfica tinha perdido cinco pontos. No ano seguinte foi o “fica-não fica” de Simão Sabrosa até ao último dia de inscrições, com consequências no modelo de jogo adoptado por Fernando Santos, e com cinco pontos perdidos nos primeiros quatro jogos. Em 2007-2008 saíram Simão e Manuel Fernandes às portas da primeira jornada, entrando Cristian Rodriguez e Maxi Pereira, com o Campeonato em andamento, e já com quatro pontos desperdiçados. Em 2008-2009 saiu Petit e entrou Reyes em pleno Agosto, e mais tarde ainda chegaria David Suazo, quando já tinham voado quatro pontos. Em 2010-2011, chegou tardiamente Sálvio para colmatar a também tardia saída de Ramires, e no dia em que o argentino se estreou estávamos já a seis pontos de distância do primeiro lugar.

Se repararmos bem, nestes últimos tempos, apenas em duas temporadas o plantel benfiquista ficou definido atempadamente: 2004-2005 e 2009-2010. Em ambas entramos muito bem no Campeonato (treze pontos nos primeiros cinco jogos), em ambas nos viríamos a sagrar campeões.

Devido a uma anacrónica calendarização, a Liga Portuguesa começa a jogar-se algumas semanas antes do fecho do mercado de transferências – cuja data está em sintonia com os ricos campeonatos espanhóis e italiano, que só têm início em Setembro. Esse é um problema que tem afectado de forma significativa o Benfica, que raramente tem conseguido evitar uma indefinição bem para lá dos limites do desejável.

Dizem todas as estatísticas que o campeonato português se decide, por norma, nas primeiras jornadas. Nessas, o Benfica entra muitas vezes desfalcado, indefinido e à procura de uma equipa tipo. Quando a encontra, lá para Novembro ou Dezembro, quase sempre já vai tarde. Quantas vezes não vimos nós este filme? Quantas desilusões não sofremos já com ele?

No âmbito da identificação de factores a melhorar no futebol do nosso clube, creio que um redobrado cuidado com este tipo de situação é aspecto a ter em conta. Os timings de construção de uma equipa ganhadora não são, de todo, coisa de somenos. Planear uma temporada com o plantel fechado, com todas as unidades devidamente distribuídas, é o primeiro passo para o sucesso dos meses seguintes.

Como a história recente nos tem ensinado, não basta colocar um novo jogador (por maior que seja a sua qualidade) no lugar de quem sai (e, como é óbvio, só se vendem os bons) para que a máquina colectiva continue a carburar sem falhas – é preciso tempo de adaptação, mecanização, e automatismos, coisas que não se conseguem de um dia para outro, nem de uma semana para outra, nem de um mês para outro, nem, por vezes, de um ano para outro.

É verdade que um clube de um país periférico, como o nosso, está limitado nas suas acções de mercado, dependendo muitas vezes dos ritmos e vontades de terceiros. A forma de contrariar essa dependência passa por um planeamento rigoroso de todas essas acções, de modo a diminuir, ao mínimo, o grau de incerteza com que se iniciam os trabalhos. Seria desejável que, a cada época, no máximo em finais de Julho, tudo estivesse absolutamente definido. Sei que isto é muito mais fácil de dizer, ou de escrever, do que de levar à prática, particularmente num mundo onde as pressões (para vender, para comprar, para manter) surgem de todos os lados, e com crescente vigor à medida que as janelas de mercado se aproximam do fecho. Mas é precisamente nesses tabuleiros que se joga o êxito das operações, das temporadas, e, consequentemente, dos próprios clubes. É esse um dos nossos desafios.

Sendo os mercados de destino condicionados externamente, a lógica a privilegiar deve ser a de, tanto quanto possível, decidir previamente quem vender, e encontrar antecipadamente alternativas que tornem essas saídas indolores, e inconsequentes na harmonia colectiva da equipa. É essa ideia - a de um fio condutor, a da máquina continuamente ligada a que nunca podem faltar peças - que deve presidir à nossa gestão desportiva.

Uma equipa de futebol é um todo, é um conjunto, e também uma identidade. Se lhe retiramos uma parte, e só depois tentamos substituí-la, perdemos tempo, perdemos ritmo, e damos avanço aos rivais. Se isso acontece com duas ou três partes, temos a máquina empenada, e os trabalhos fortemente condicionados. Se tal sucede tardiamente, temos as ambições de uma temporada irremediavelmente comprometidas.

Num momento em que se define o plantel encarnado, e numa pré-época complicada, que envolve Copa América, Mundial de Sub-20, e pré-eliminatória da Liga dos Campeões, seria importante que esta perspectiva não fosse de modo algum ignorada, pois os riscos que pendem sobre nós são enormes. Estando o principal adversário obrigado a reconfigurar-se, a nossa vantagem poderá residir precisamente na estabilidade. Não a podemos desperdiçar. E não podemos falhar."

LF no jornal "O Benfica" de 01/07/2011