SUBLIME


Ainda tenho de esfregar os olhos para confirmar que é verdade: o Benfica goleou mesmo o Barcelona por 3-0!
Antes da partida, confesso que um empate já me satisfaria. Saí do estádio regalado, após uma noite que entra directamente para a história do clube encarnado.
Este Barcelona não é o de Messi, Xavi e Iniesta. Esse, treinado por Guardiola, foi uma das melhores equipas de todos os tempos. Este é apenas...um Barcelona. Já não é a melhor equipa do mundo, mas é uma grande equipa, repleta de estrelas (Ter Stegen, Piqué, Busquets, De Jong, Pedri, Depay, Coutinho, Fati etc etc), que mais tarde ou mais cedo (previsivelmente com um treinador melhor, com a recuperação dos lesionados e com mais serenidade e confiança) encontrará o seu rumo, e discutirá o título espanhol como sempre. Foi este Barcelona que, mesmo depois de uma primeira parte em que, por largos momentos, encostou o adversário à sua área, e em que desperdiçou golos cantados, acabou vergado a um enorme Benfica.
Foi isso mesmo que aconteceu: um enorme Benfica, ao nível dos melhores que vimos este século. Uma equipa coesa, solidária, combativa, ultra-confiante, e com momentos de magia. Que ainda se viu penalizada pela arbitragem, sobretudo no lance em que ficou por mostrar o segundo cartão amarelo a Piqué.
Tal como Jorge Jesus (esta época a fazer aquilo que sempre esperei dele), também não consigo destacar um jogador em exibição colectiva tão brilhante. Darwin fez dois golos, mas que dizer da exibição de Rafa, e da segunda parte de João Mário, e da primeira de Lucas Veríssimo, e de Weigl, etc, etc.
A qualificação está longe de estar garantida. Uma dupla derrota com o Bayern e uma dupla vitória do Barça ao Dínamo poderá virar tudo do avesso. Todavia, esta é uma vitória com valor próprio, que já ninguém tira ao Benfica. Sessenta anos depois voltámos a vencer o Barcelona, e de goleada. 
É mesmo verdade?

ONZE PARA O BARÇA


HISTÓRICO DE CONFRONTOS

1961
1991
1992

2006
2006
2012
2012
 
RESUMO:

COM CLASSE


Uma primeira parte muito bem conseguida garantiu a sétima vitória consecutiva ao Benfica, mantendo distâncias para os rivais - numa jornada que, à partida, poderia considerar-se ameaçadora.
Dois golos de Yaremchuk fizeram então a diferença. E se o primeiro período durasse mais uns minutos, é quase certo que os números aumentariam, dado o domínio total encarnado na altura em que se foi para intervalo.
A segunda parte trouxe um Vitória diferente, e um Benfica mais expectante - quiçá confiante de que os três pontos já não fugiam. Foi no contra-ataque que os encarnados criaram então os seus lances de maior perigo, embora o golo da tranquilidade apenas surgisse à entrada do último quarto de hora.
Um penálti indiscutível ainda reduziu distâncias, mas era tarde para o Vitória alimentar veleidades. 
Sete jogos, sete vitórias. Com este registo de entrada, nunca o Benfica perdeu um campeonato (apenas o Sporting cometeu essa "proeza", em 1991). Vale o que vale, mas é óbvio para toda a gente que esta equipa nada tem a ver com os tons cinzentos e tristonhos da época passada. 
Foi-se a pandemia (assim o esperamos), voltou um grande Benfica (idem, idem). Quarta-feira há espaço para sonhar.

SEIS EM SEIS

Desde 1982 que o Benfica não começava um campeonato ganhando os primeiros seis jogos.
As estatísticas valem o que valem, mas estes números dão confiança, e mostram um Benfica muito diferente, para melhor, do que o da época passada.
Darwin parece ter encontrado a posição onde mais rende: a partir do flanco esquerdo, onde tem mais espaço para aplicar a sua velocidade e capacidade de explosão. E o meio-campo, com Weigl e João Mário, está finalmente estabilizado. Por seu lado, Rafa aparece nesta alura em grande forma, afirmando-se como o melhor jogador do campeonato português.
O que ainda falta é Yaremchuk mostrar a veia goleadora que o seu potencial deixa adivinhar, e Everton Cebolinha render, enfim, aquilo que se espera de um jogador da selecção brasileira. Já agora, também Pizzi atingir o seu melhor, pois é jogador para mais do que tem mostrado ultimamente. Na lateral-direita veremos como é Lazaro - parece talentoso, veremos se é consistente.
Segue-se Guimarães, e depois Barcelona na Luz. Semana determinante para se perceber se este Benfica é mesmo um caso sério, tal como começamos a pensar. 

ONZE PARA O BOAVISTA


 

GRANDE?

Em toda a sua história, só em quatro ocasiões o Sporting passou a primeira eliminatória ou fase na Taça/Liga dos Campeões. A saber:

62-63: Eliminou o Shelbourne da Irlanda (foi eliminado logo a seguir pelo Dundee da Escócia);

70-71: Eliminou o Floriana de Malta (foi eliminado logo a seguir pelo Carl Zeiss da RDA);

82-83: Eliminou o Dinamo Zagreb, e a seguir o CSKA Sofia (foi eliminado depois pela Real Sociedad);

08-09: Passou em 2º no grupo de Barcelona, Shakhtar e Basileia (foi eliminado nos oitavos pelo Bayern por 0-5 e 1-7).

É este o registo do Sporting na principal prova de clubes da UEFA. Prova que Benfica e FC Porto venceram duas vezes, em que, além dessas, o Benfica foi a mais cinco finais, e em que, mesmo na última década, várias vezes estiveram nos Quartos-de-Final (FC Porto 3 e Benfica 2 respectivamente).

VAR ACORDOU AOS 93

Por definição, um empate fora de casa na primeira jornada da fase de grupos da Champions nunca é um mau resultado. E se colocarmos a fasquia apenas no terceiro lugar, e consequente apuramento para a Liga Europa (talvez a mais realista das opções), este foi mesmo um excelente resultado, diante de uma equipa que tem sete jogadores na selecção ucraniana - que chegou mais longe do que Portugal no último Europeu.
Porém, cada jogo é um jogo. E se olharmos para o copo meio vazio, concluímos que o Benfica terá perdido uma soberana oportunidade de voltar a triunfar em Kiev, e de se colocar diante do Barcelona (deste Barcelona) como um verdadeiro candidato à passagem aos oitavos.
Na verdade, os encarnados dominaram toda a partida, pelo menos até ao quarto árbitro exibir a placa de descontos. Até aí, praticamente só deu Benfica, a bola poucas vezes chegou à área encarnada, e, pelo contrário, junto da baliza do Dínamo foram várias as ocasiões de perigo - algumas desperdiçadas de forma escandalosa por Rafa, Yaremchuk ou Everton.
Após as substituições (porquê trocar logo três jogadores quando se está por cima?), o gás perdeu-se um pouco. A equipa ucraniana foi equilibrando a partida. Até àqueles momentos finais.
Em face de tudo o que se passou, é-me difícil entender os últimos três minutos. Quem visse apenas esses, pensaria que teria havido ali um massacre. Uma equipa experiente, que quer ter ambições, tem de saber controlar melhor um jogo em que, não podendo ganhar, também não podia perder. Valeu o VAR, mas valeu também, e uma vez mais, Vlachodimos.
É um case study a forma como alguns benfiquistas desconfiam do guarda-redes grego, que é talvez, a par de Rafa, o melhor elemento do plantel encarnado, e dos poucos com verdadeira dimensão internacional. No meu ponto de vista, tal deve-se ao "mau" hábito criado por anos de Oblak e Ederson (poderia também acrescentar o melhor Júlio César), que estão seguramente no top-5 mundial. Ora em nenhuma posição de campo o Benfica tem hoje jogadores dessa dimensão. Comparar Vlachodimos com eles é despropositado e injusto. Seria como comparar Weigl com Canté, ou pretender que Rafa fosse um Mbappé, e exigir-lhe tal. Dentro do panorama dos guarda-redes que o clube encarnado pode ter, o grego é o melhor, e uma garantia de segurança para jogos como este, e como o de...Eindhoven. Aliás, leva três deslocações europeias consecutivas sem sofrer qualquer golo, muito por mérito dele próprio.
A par de Odysseas, também Rafa, e sobretudo Weigl (não por acaso, os dois atrás citados) estiveram em grande plano. Pela negativa destacaria Everton, que tarda em afirmar-se no futebol europeu, com um ritmo e uma intensidade a que não estava (e manifestamente ainda não está) habituado. Não foi por coincidência que no meu onze para este jogo ele era o único que não entrava.
Se no lance final o Benfica tem de agradecer ao VAR, antes, em dois momentos cruciais, este mostrou-se tristemente ausente: num penálti evidente por mão de um jogador ucraniano na área ainda na primeira parte, e no lance da lesão de Rafa, em que o cartão exibido teria de ser de outra cor. Afinal os árbitros portugueses não são assim tão maus, ou pelo menos não são piores do que se vê na UEFA.

ONZE PARA KIEV


 

CINCO EM CINCO

O jogo dos Açores tinha tudo para correr mal: pós pausa para selecções, com jogadores ausentes, várias deslocações entre continentes, fusos horários e partidas com menos de 48 horas de diferença; vésperas de Champions com deslocação longa e desafio que pode vir a ser decisivo; deslocação a ilha para defrontar uma excelente equipa orientada por um treinador conhecido pela forma como consegue bloquear os adversários.
A primeira parte confirmou esse cenário, com um Santa Clara a dominar o meio-campo, e um Benfica sem conseguir soltar-se das amarras criadas por Daniel Ramos. Depois de dois lances de grande perigo junto da baliza de Odysseas (um dos quais resolvido com mais uma grande defesa do grego), os encarnados acabaram por chegar ao golo à beira do intervalo, totalmente contra a corrente do jogo, e praticamente no primeiro remate que fizeram à baliza. Foi um golpe de sorte, mas também de eficácia, com grande mérito para a desmarcação e finalização de Rodrigo Pinho.
Na segunda parte, com a entrada de Rafa, tudo foi diferente. Dois golos de rajada logo a abrir o segundo período catapultaram o Benfica para uma exibição solta e segura, a goleada avolumou-se, e há que dizer que poderia ter sido ainda mais expressiva. Dado o resultado do "clássico" de Alvalade, esta vitória aumentou a vantagem da equipa de Jorge Jesus para quatro pontos. Claro que ainda falta quase tudo, mas é um bom começo - sobretudo tendo em conta que tem sido alicerçado em períodos de bom futebol.
Quanto às queixas do Santa Clara relativamente à arbitragem, há que reconhecer que Daniel Ramos tem razão num ponto: em lance muito parecido, na final da última Taça de Portugal, o Benfica viu o seu guarda-redes expulso. Porém, essa decisão, então sim, foi desajustada. Nos Açores, tanto Rui Costa como o VAR decidiram bem o lance. Não pode haver cartão vermelho quando o avançado não tem a bola dominada, nem está totalmente enquadrado com a baliza. Não pode o simples facto de a falta ser cometida pelo guarda-redes ditar desde logo uma expulsão. Acresce que Vlachodimos ainda toca na bola. É, pois, jogo perigoso, livre e cartão amarelo. Tudo certo. Relativamente ao lance de Diogo Gonçalves na área, as últimas orientações da FIFA para esta temporada são claras: não marcar penaltizinhos. Aliás no jogo de Alvalade houve um lance semelhante e também nada foi assinalado. Que se mantenha o critério.

ALGUMAS NOTAS

EINDHOVEN: Foi o jogo mais importante do Benfica no ano de 2021, e foi também o resultado mais saboroso desde a conquista do último título. Um hino à entrega, à coesão e à solidariedade, que catapultou os jogadores que o interpretaram para as galerias históricas do benfiquismo. Grande momento!

SORTEIO DA FASE DE GRUPOS: Dificilmente poderia ter sido mais duro. As hipóteses de passagem são diminutas, para não dizer inexistentes. Resta lutar pelo terceiro lugar. Mas, enfim, o mais importante era mesmo garantir a presença e o dinheiro. 

LIDERANÇA DO CAMPEONATO: Vale o que vale, e exactamente o que valeu há um ano atrás quando, à quarta jornada, o Benfica também seguia isolado na frente. Nota-se agora, porém, um perfume bem diferente, onde um nome se destaca como elemento charneira do futebol encarnado: João Mário. Não é um Maradona, mas, pelas suas características enquanto jogador, era precisamente a peça que faltava ao Benfica. E com ele em campo tudo parece ser mais simples.

MERCADO: Não diria melhor que o próprio JJ. Ficou a faltar mais um central, a uma equipa que joga com três, todos eles internacionais pelas suas selecções, e dois deles já acima dos trinta. David Luiz seria uma solução demasiado cara para quarta opção, mas havia um mundo de hipóteses entre Ferro e o brasileiro, que poderia e deveria ter sido explorado. Apesar disso, creio que o Benfica continua a dispor do melhor plantel do país (o que, no meu ponto de vista, é uma realidade, ano após ano, pelo menos desde os tempos de Hulk, James e Falcão no FC Porto).

ELEIÇÕES: Rui Costa prometeu, e cumpriu. Eleições convocadas, espera-se que clarificadores e pacificadores de um clube que só tem a ganhar com a união dos seus adeptos. Aliás a transicção de Vieira para o pós-Vieira não poderia estar a correr melhor. E se Rui Costa souber aproveitar a considerável obra estrutural e económica das últimas décadas, e acrescentar-lhe paixão benfiquista e rigor de processos, será o presidente ideal para muitos anos. É altura também para se perceber quem quer de facto o bem do clube, e quem tem apenas agendas próprias mais ou menos mediatizadas.

SELECÇÃO: Cada vez é mais evidente que Portugal joga melhor futebol sem Ronaldo. É verdade que o homem é um extraordinário finalizador, e que ainda decide jogos, mas tacticamente é um estorvo que limita a acção de outras estrelas com muito menos idade e muito mais fulgor (Bernardo Silva, Bruno Fernandes etc). Como ele, CR7, não parece disposto a abandonar em breve, resta-nos esperar que vá vendo alguns cartões amarelos para podermos nós ver a equipa de Fernando Santos libertar-se das amarras e fazer boas exibições de futebol colectivo.