ELECTRIZANTE

A Taça da Liga tem destas coisas. Ora acontecem jogos desinteressantes com bancadas vazias e segundas linhas em campo, ora nos oferece partidas espectaculares, com futebol de ataque e muitos golos.
O Vitória de Guimarães-Benfica foi uma destas.
Pode olhar-se para o copo meio cheio (grande jogo, de parte a parte), ou para o copo meio vazio (uma equipa que ganha por 3-1 aos 28 minutos, não pode, ou não deve, permitir o empate). A verdade é que o Benfica chegou a ser empolgante, mas raramente foi consistente - o que não será surpresa se tivermos em conta as profundas, e necessárias, mexidas realizadas no onze. O resultado é justo, deixando tudo em aberto para a última jornada.
Individualmente gostava de destacar a exibição de Pizzi (enquanto teve forças), e mais um ou outro pormenor de Radonjic. 
Pela negativa, realço que Morato, pese embora a estampa física, ainda está algo verde, e tem lances verdadeiramente comprometedores. E sobretudo, custa-me a entender a insistência em Gonçalo Ramos, que nesta temporada já participou em 14 jogos, e não marcou um único golo (e poucos remates à baliza terá feito). São jovens, prometem futuro, mas revelam-se ainda bastante curtos para o presente. A equipa principal do Benfica não pode ser uma plataforma de crescimento competitivo de jovens jogadores, para isso existem a equipa B e a de sub-23, e Gonçalo Ramos parece-me ter nestas o seu lugar - ou então, em alternativa talvez melhor, ser emprestado a um clube onde tenha mais espaço para o seu futebol.
Agora, há que pensar no Estoril. A Taça da Liga segue em Dezembro, com uma Benfica-Sp.Covilhã, no qual os encarnados terão de anotar pelo menos três golos (3-1, 3-0, 4-2, 4-1, 4-0 etc).

FORA DE HORAS

Já sabemos que os jogos imediatamente antes e depois da Champions são sempre difíceis. Mais a mais após uma derrota bastante ácida, e jogando num campo difícil (em Vizela joga-se efectivamente fora de casa) contra um adversário de valor.
Mas tudo está bem quando acaba bem, e o golo de Rafa chegou para manter a liderança e tornar a noite de domingo bem mais agradável para os benfiquistas.
Isto não isenta de críticas o treinador Jorge Jesus, que à semelhança do que acontecera com o Portimonense, voltou a cometer o mesmo erro: com um plantel vasto e soluções credíveis (viu-se, por exemplo, Radonijc), insiste em manter um onze exausto e permeável ao efeito pós-europeu. Com os algarvios correu mal, em Vizela podia ter corrido. Valeu aquele golpe de sorte (e de arte) aos 98 minutos de um jogo em que o Benfica teve grandes dificuldades para se impor. Não por acaso foram dois suplentes (o sérvio e Pizzi) a construir o lance do golo.
Na quarta-feira joga-se para a Taça da Liga. É altura para rodar a equipa e descansar alguns elementos claramente cansados (Grimaldo, João Mário, Darwin entre outros). Depois, mais um difícil compromisso no terreno do quarto classificado, o Estoril.
Como diria um antigo treinador, isto é jogo a jogo e treino a treino. Para já o Benfica mantém o primeiro lugar no campeonato, segue nas Taças e em lugar de acesso na Champions.

20 MINUTOS DEMASIADO CRUÉIS

Até aos 70 minutos de jogo, o Benfica estava a realizar uma exibição na senda da realizada diante do Barcelona. Não conseguira concretizar as oportunidades de que dispusera, e o adversário, pelo seu poderio, também não permitira um amplo domínio do jogo que chegara a ter, em alguns períodos, diante dos catalães. Mas a situação estava  controlada, e se não fosse possível a vitória, um saboroso empate aparecia no horizonte como uma possibilidade bem real.
O primeiro golo, algo consentido por uma má colocação de Vlachodimos (defendo-o quando é justo, critico-o quando é necessário), deixou mais longe a hipótese de pontuar neste jogo - objectivo que o próprio Jorge Jesus colocara na antevisão. Mas o espectro de uma goleada parecia então já totalmente afastado.
Creio que o segundo golo, aos 80 minutos, tendo em conta a forma como ocorreu, deitou abaixo toda a equipa, e desorientou-a o tempo suficiente para que os bávaros, com a sua rudeza, aproveitassem sem piedade e elevassem os números do placard. 0-4 antes do jogo não surpreenderia ninguém. 0-4 depois daqueles 70 minutos foram um choque, e acima de tudo uma enorme crueldade para com uma equipa que se tinha batido tão bem até esses dramáticos momentos.
Nada está perdido em termos de apuramento. Porém, a alavanca alcançada no jogo com o Barcelona diluiu-se nesta noite, e agora há que voltar à estaca de partida. O grupo é extremamente difícil, o mais provável é que o Benfica caia para a Liga Europa. O próximo jogo é pouco menos que impossível, e só um bom resultado em Camp Nou permitirá aos encarnados chegar aos oitavos-de-final. Tudo, enfim,  o que se antecipava na altura do sorteio.
Desta noite na Luz fica apenas o justo aplauso final para os jogadores do Benfica, e a mágoa de se pensar que, com um pouco de sorte, tudo poderia ter sido diferente.

SUSTER

Devo dizer que sairei satisfeitíssimo com um pontinho, pois o normal, diante desde Bayern, será o Benfica perder por dois ou três golos de diferença em casa, e quatro ou cinco fora.
 

UMA HISTÓRIA ATERRADORA

De Gerd Muller a Lewandowski, de Klinsmann a Robben, o historial dos jogos entre Benfica e Bayern de Munique é negro. Nenhuma vitória, três empates caseiros, sete derrotas, quatro delas por goleada. 7 golos marcados, 26 sofridos. Naturalmente, nenhuma eliminatória passada.
Magra consolação é o facto de FC Porto (1-6) e Sporting (1-7) terem sido vergados a castigos ainda mais duros. 
Recordemos alguns dos momentos de terror vividos diante do colosso germânico, que, por sinal, e pelo que vi no domingo passado no jogo de Leverkusen, está mais ameaçador do que nunca.

NOTA DE CURIOSIDADE: O jogo de 1976, derrota por 5-1, é a primeira partida do Benfica que a minha memória alcança. Tinha seis anos, e recordo-me do meu pai ouvir o relato angustiado com os golos do Bayern, todos na segunda parte, enquanto eu, pouco menos que indiferente, jogava à bola no corredor. É este o primeiro dos vídeos que se seguem.
 








HORAS EXTRA

Nem Jorge Jesus nem os adeptos esperavam tantas dificuldades na partida da Trofa.
Os primeiros minutos até davam a entender que, mais tarde ou mais cedo, a coisa ia resolver-se com naturalidade. O que é certo é que o Benfica foi obrigado a um inoportuno prolongamento, com o desgaste que isso acarreta em vésperas de enfrentar um touro.
Pior do que isso: os encarnados puseram-se a jeito de um golpe de infelicidade, que seria também de escândalo e vergonha. Quer nos minutos finais do tempo regulamentar, quer no próprio prolongamento com o espectro do desempate por penáltis a pairar.
Valeu o golo salvador de André Almeida. Agora há que esquecer tudo o que se passou neste jogo e preparar a Champions o melhor possível.

RODAR


RUI SANTOS: O SENHOR ESGOTO

Como já sei o que a casa gasta, quase nunca assisto à missa de Rui Santos na “SICN”.
É curioso como certos órgãos de comunicação social gostam de clamar a sua independência face ao poder político, mas omitem a sua total dependência face a interesses privados (quer de accionistas, quer de anunciantes, ou outros) muito menos escrutinados. É assim que as redes sociais vão tomando o seu lugar, o que também não é motivo para festejos do pobre e incauto consumidor de informação.
Toda a estação de Carnaxide (ou Paço de Arcos) se pauta por muito pouca imparcialidade, no desporto e não só. No desporto, o dono e a família são sportinguistas, o diretor de informação também, bem como quase todos os comentadores residentes (Joaquim Rita, Ribeiro Cristóvão, David Borges, etc). E o Benfica, excepção feita ao período de Vale e Azevedo, tem sido sempre ali destratado (assim como no semanário “Expresso”, bastando recordar algumas tristes primeiras páginas da época dos e-mails). Tal como o futebol português em geral, desde os tempos em que programas como “Os Donos da Bola” chafurdavam semanalmente no esgoto, tentando descredibilizar os jogos que então passavam nos ecrãs da concorrente RTP.
Rui Santos é produto desta cultura.
Além de anti-benfiquista primário, vive como um autêntico rato de esgoto, alimentando-se do que cai no caixote do lixo do futebol. Vive de polémicas e de escândalos. Quando não existem, arranja-os.
Na última terça-feira, num descuidado zapping, passei pelo seu púlpito.
A tese era a seguinte: Rui Costa não vai ter paz, pois é um homem acossado (!?!). E achava (lá está) escandaloso que na campanha eleitoral do Benfica não se tivesse falado mais de Luís Filipe Vieira.
Ou seja, Rui Santos queria que os benfiquistas abordassem, não os temas que interessam ao clube e aos sócios, mas os que lhe interessam a ele e à sua retórica. Queria que se autoflagelassem numa espécie de suicídio assistido, para que o seu programa ganhasse audiências, e o seu clube ganhasse títulos.
Tenho uma má notícia para ele: o Benfica está unido, Rui Costa teve muito mais votos do que Vieira (inclusivamente vindos de muita gente que votou Noronha no ano passado), a transicção foi extremamente pacífica e, até ver, bem-sucedida, e nem o novo presidente, nem qualquer membro da sua equipa directiva, têm sobre si qualquer suspeita sobre qualquer assunto.
Quer Rui Santos queira, quer não, o Benfica e os benfiquistas olham para a frente e não para trás. E tenho a certeza de que a esmagadora maioria ignora o seu lamentável programa.
Pela minha parte, prometo ser mais cuidadoso nos zappings televisivos, de modo a não voltar a cruzar-me tão cedo com tão triste personagem. A purificação do futebol português podia começar, aliás, por acabar com este programa.

84% !!!

Rui Costa é o presidente do Sport Lisboa e Benfica, amplamente legitimado por uma esmagadora maioria de sócios votantes.
Agora, durante quatro anos, não quero ouvir falar de eleições, oposições ou divisões. Os benfiquistas, aqueles que querem verdadeiramente ver o clube vencer, terão de estar unidos e focados no essencial: as vitórias e os títulos.

 

OBVIAMENTE, RUI COSTA!

As entrevistas e o debate apenas confirmaram aquilo que já se sabia: de um lado está um homem experiente, que respira Benfica e respira futebol, com muitos anos de clube e alguns de dirigismo, e do outro um adepto de bancada para quem tudo são facilidades, que enumera um conjunto de boas intenções mas deixa antever uma total incapacidade para as alcançar, e nem sequer consegue explicar quem é a sua equipa. Enfim, um curioso. Tal como eu o seria se, por qualquer momento de loucura, decidisse candidatar-me à presidência do Benfica.
Rui Costa pertenceu à equipa de Vieira? Claro que pertenceu! Conquistou seis campeonatos e vários outros troféus, naquela que foi uma das décadas mais ganhadoras da história do clube.
Tem alguma coisa a ver com os casos judiciais que envolvem Vieira? Que se saiba, nada.
Não viu? Mas não viu o quê? Circuitos de dinheiro por off-shores entre intermediários de transferências de jogadores? Como poderia ter visto? Alguém veria? Temos todos o dever de ser polícias? Devemos ser culpados por algo que outros eventualmente nos tenham escondido?
Rui Costa é um homem do futebol e uma figura que prestigia o Benfica. Com o apoio de todos, será um excelente presidente. 
Não pode, nem deve, mudar tudo. Deve, sim, ir mudando, à medida que tal for possível e vantajoso para o clube. Deitar fora desde já um gestor com as capacidades financeiras e administrativas de Domingos Soares de Oliveira (que fez com a SAD batesse recordes de receitas e lucros anuais) seria deitar fora o menino com a água do banho. Acho bem que o mantenha, até porque não é suspeito de coisa nenhuma. Se vier a ser, então logo se analisa a questão.
Não podemos confundir casos que eventualmente tenham lesado o Benfica (e que a justiça deve apurar), com todo o folclore mediático, alimentado pelos rivais, que pretende destruir o clube peça por peça.
Também por isso, e por tudo o resto, eu votarei RUI COSTA.

AS ENTREVISTAS

Sobre as entrevistas:

RUI COSTA - Com a preparação que o conhecimento do clube lhe dá, respondeu a todas as questões com grande assertividade. Sublinho as apostas no desporto feminino, nas cinco modalidades de pavilhão (realçando que algumas delas podem proporcionar títulos internacionais), e sobretudo, no Ciclismo (do qual, como sabem, sou adepto apaixonado, e como tal não deixarei de cobrar a promessa). Gostei também de saber que há uma preocupação com as instalações e o seu melhoramento.
Como bem diz, houve coisas muito boas nos últimos vinte anos. O que é da justiça é da justiça, mas não se pode deitar fora o menino com a água do banho.

FRANCISCO BENITEZ - Parece tratar-se, sem dúvida, de um benfiquista, que deseja o melhor para o clube. Porém, em questões fundamentais, revela uma ingenuidade pouco compatível com a função a que se candidata. Naturalmente não está dentro do fenómeno futebolístico, e vê muitas rosas onde existem espinhos. A manutenção dos jogadores da formação depende de inúmeros factores, assim como o relacionamento com intermediários e empresários, pois o futebol real não é o "Football Manager".
Ao contrário de Noronha Lopes (que na altura, embora sem merecer o meu voto, me pareceu uma boa reserva para o futuro), não creio que a candidatura de Benitez represente grande coisa após estas eleições.

BALDE DE ÁGUA FRIA

PSG, Real Madrid, Ajax, Bayern, Barcelona, Liverpool, M.City, M.United, Sevilha, Atalanta, Zenit, Malmo, D.Kiev, Shakhtar e Brugge. Tal como o Benfica, nenhuma destas equipas, todas elas presentes na fase de grupos da Liga dos Campeões, ganhou os jogos para os seus campeonatos. Algumas delas perderam surpreendentemente em casa contra adversários muito mais fracos (Bayern e Ajax, por exemplo). Outras perderam pela primeira vez (R.Madrid e PSG, por exemplo), havendo também alguns empates.
É o que se chama o vírus-champions, e que se traduz numa humana descompressão após momentos de altíssima intensidade. Não é falta de vontade, mas sim fadiga, física e, sobretudo, mental.
Quando vi o onze escalado por Jorge Jesus, quase igual ao de quarta-feira (só Lázaro, lesionado, não jogou), pensei nisso. Pensei também, por outro lado, nos altos índices de confiança que aqueles jogadores sentiriam, e que poderiam bater aquele desgaste. Qual seria o deve? Qual seria o haver?
Agora é fácil dizer que Rafa ou Darwin, por exemplo, podiam ter sido preservados, entrando eventualmente na segunda parte. Que também Grimaldo podia ter ficado de fora. Ou mesmo Vertonghen. Ou Yaremchuk. E porque não ter jogado com apenas dois centrais?
Mas se em equipa que ganha não se mexe, também terei de compreender as opções do técnico encarnado. Não correram bem, mas ninguém adivinhava. Como ninguém suporia que o Benfica falhasse tanto na concretização, ou que o guarda-redes do Portimonense fizesse, muito provavelmente, o jogo da vida dele.
O que é certo é que o Benfica perdeu o jogo, a invencibilidade, grande parte da vantagem classificativa, e, quem sabe (os próximos jogos dirão), parte da confiança que havia conquistado.
Foi um balde de água fria, cujas consequências ainda não conseguimos prever.
O aplauso final foi justo, pois não houve facilitismos: todos lutaram como podiam. Houve sim, erros, que devem servir de aprendizagem para o futuro próximo.