FIM DE SEMANA PROLONGADO

Aproveitando o feriado, e depois de uma passagem por Setúbal na noite de hoje, VEDETA DA BOLA estará ausente até ao início da próxima semana.
Não será assim possível editar o comentário à ronda da Taça da Liga, e em particular ao jogo do Bonfim. No regresso, se se justificar, poderá haver algum tempo e espaço para isso, bem como para a jornada da Liga, e sobretudo para a antevisão dos jogos da Champions League.

AS CLAQUES

A assembleia-geral do Benfica correu mal. Era uma ocasião preparada à medida de Luís Filipe Vieira, e propícia para ele brilhar, ou não fosse o clube apresentar contas positivas pela primeira vez nos últimos anos. Contudo as claques estragaram a festa.
A propósito destes incidentes, importa reflectir sobre o papel das claques nos estádios de futebol, e as mais recentes imposições legais que incidem sobre elas.
Nunca fui membro de nenhuma claque, mas nem por isso deixo de apreciar a sua causa. Dão colorido aos estádios, acompanham o clube para todo o lado, apoiam-no incondicionalmente e de forma admiravelmente fiel, criam uma banda sonora sem a qual os jogos teriam seguramente menos encanto. Já assisti a muitos jogos no meio de Diabos Vermelhos e No Name Boys, e sempre achei que se fazia um “bicho de sete cabeças” das claques e dos seus membros, quando no fundo nelas cabe toda uma panóplia de jovens de diferentes meios, diferentes origens sociais, e diferentes hábitos de vida, ao fim e ao cabo, representativa daquilo que é a realidade da juventude nas malhas urbanas em redor das principais cidades do país. Aliás os estádios portugueses, com ou sem claques, são de um modo geral bastante seguros, e é muitas vezes a televisão que lança o anátema da violência, quiçá com propósitos não tão isentos quanto possam parecer. Quem os frequenta sabe que assim é.
Sou pois um adepto das claques, acho que acrescentam mais aos estádios e aos clubes do que aquilo que subtraem, são depositárias de uma fidelidade clubista que devia fazer corar de inveja alguns adeptos que só sabem assobiar, e fazem muito mais pelo espectáculo do futebol do que a generalidade de uma população que dele diz gostar, mas que apenas se limita a discutir arbitragem a partir das imagens que vê instalado no sofá. Temo até que sem elas, ao contrário do que frequentemente se ouve, os estádios estivessem ainda mais vazios e desconsolados, numa medida maior que a ausência dos seus membros.
Isto obviamente não desculpa os vários excessos a que estes grupos por vezes se dão, que se nalguns casos representam fenómenos perfeitamente naturais da juventude, noutros assumem proporções quase para-criminais. Mas também aqui é preciso saber distinguir o trigo do joio, e atender ao que tem sido a história dos últimos dez anos do movimento ultra em Portugal, verificar quem causa distúrbios, quem ameaça, quem agride, e quem desestabiliza nos locais onde vai. E também, quem faz do clube um negócio de proporções assinaláveis, com venda de material contrafeito ou agenciação de deslocações negociadas por baixo da mesa, quem o utiliza como instrumento de poder pessoal ou tribal, ou pior, o aproveita para outros negócios ainda menos lícitos e mais gravosos, dos quais chega a fazer gala nos meios de comunicação social e até mesmo em livros. Percebe-se que a esses seja necessário afastar do futebol, e entende-se que se procurem medidas para o levar a cabo. O que me parece estranho é que o governo, pela mão do inenarrável Laurentino Dias, além de se eximir de fazer essa tal triagem, tenha decidido que o combate às claques e aos seus excessos se devia fazer justamente por aquilo que elas têm de melhor: as suas bandeiras, as suas tarjas, o seu colorido. A situação tem tomado contornos verdadeiramente caricatos, com as claques organizadas, a cantarem, e a apoiarem a equipa a partir dos seus locais, mas proibidas de levantar uma bandeira sob pena de uma intervenção policial completamente desproporcionada e em tons quase (se não é parece...) vingativos - assisti a isso já esta época na Luz. A este respeito é curioso lembrar e comparar a inércia das forças da ordem, quando na época passada os Super Dragões perpetraram uma autêntica ofensiva militar contra adeptos do Benfica sentados na bancada abaixo, e daí tirar ilações sobre a qualidade das nossas forças policiais e de quem as tutela.
Preferia que nada tivesse acontecido ontem, e não me parece que ofender os dirigentes máximos do clube, num espaço nobre como é uma assembleia-geral, seja um bom princípio de legitimação de um protesto. Mas há que perceber aquilo que a maioria das claques são, e deixar de as colocar todas no saco da violência e do crime, ou seja, afirmar de forma clara que Super Dragões e Movimento Ultra não são necessária ou rigorosamente a mesma realidade. Talvez esse seja um bom ponto de partida para fazer face ao problema que se pretende resolver.
NOTA: Na sequência do comentário do leitor Quetzal Guzman, pude confirmar que tem sido de facto a direcção do Benfica a tentar impedir a utilização das tarjas, provavelmente como forma de demonstrar a intenção de cumprir a lei, e de se furtar a eventuais penalizações. Se como for, este aspecto nada altera o essencial da questão, pois tal como as bandeiras, não são formalidades burocráticas que irão impedir a violência. Curiosamente, os Super Dragões foram dos primeiros a "legalizarem-se"...
E o que se tem lido e ouvido por aí, de pessoas que, escrevendo em jornais, não têm a mais pequena noção do que é uma claque ?

SUGESTÕES PARA UM NOVO FUTEBOL PORTUGUÊS

Estádios vazios, clubes falidos, espectáculos degradados, arbitragens pouco credíveis. Mesmo que em rigor nem sempre seja esta a realidade, é assim que grande parte da opinião pública olha hoje o futebol português.
É verdade que os Cristianos Ronaldos, os Mourinhos, ocasionalmente os F.C.Portos, Benficas e Sportings, e a nossa selecção, vão disfarçando, no plano internacional, aquilo que se vive semana a semana cá pelo burgo, em campos onde as estrelas não brilham, onde os adeptos não comparecem, as receitas não entram e muitas vezes os salários não se pagam.
Há que fazer algo, e neste sentido, aquilo que se propõe como base de reflexão, traduz-se num novo quadro competitivo, bem como em algumas iniciativas capazes de contribuir para tornar o futebol mais apelativo, sobretudo face aos mais jovens, e de aumentar a sua capacidade de se auto-financiar, pondo termo a um prolongado ciclo deficitário, o qual, sem qualquer travão, tem minado todo o edifício futebolístico luso, que à excepção dos três grandes - esses sim com meios, audiências e receitas capazes de, desde que bem geridos, apresentarem risonhas perspectivas de futuro – navega para o abismo.
Se a redução do número de clubes faz todo o sentido no escalão maior, já nas divisões secundárias se trata de um erro crasso, diminuindo receitas, diluindo rivalidades e afastando adeptos. A Liga de Honra, criada na sua génese para satisfazer intuitos regionalistas de poder, geograficamente centralizada, e descapitalizada, não parece ter hoje razão de existir, num país onde as receitas não permitem um profissionalismo tão disseminado, que acaba por esconder atrás de si um rol de problemas financeiros que já assassinaram vários clubes (Farense, Campomaiorense, Salgueiros) e ameaçam muitos mais.
Assim sendo, julgo ser de apontar para um modelo de divisão secundária semi-profissional, com equipas repartidas por várias séries, aumentando o número de jogos, incentivando rivalidades regionais, e moderando as deslocações, permitindo assim aos adeptos acompanhar amiúde os seus clubes. Talvez uma III divisão com oito séries, e uma II divisão com quatro, todas de 22 equipas, corresponda ao padrão mais aconselhável. Do terceiro escalão subiriam os dois primeiros e os quatro melhores terceiros de cada série, num total de 20 equipas. Da II divisão desceriam os últimos cinco classificados de cada série, enquanto os dois primeiros (oito ao todo) se apurariam para uma fase final, que em duas eliminatórias determinaria os dois clubes a subir ao escalão máximo. Seria interdita a inscrição de jogadores estrangeiros nestas competições. Na divisão maior participariam apenas 10 clubes, jogando todos contra todos a quatro voltas, num total de 36 jornadas, descendo à segunda divisão os dois últimos classificados.
Seria ainda interessante introduzir algumas alterações organizativas e promocionais, no sentido de dotar a competição de um maior rigor, atrair mais espectadores, e assim gerar fluxos financeiros capazes de a auto-sustentar de forma sólida e duradoura, como sejam:
1 - Todos os jogos televisionados, preferencialmente aos sábados, e dentro de horários pré-fixados – por exemplo 15, 17, 19 e 21 horas, e um jogo ao domingo às 18 horas, evitando assim as jornadas nocturnas em vésperas de dias de trabalho.
2 – Receitas televisivas e de publicidade geridas pela Liga de Clubes, com repartição pelos concorrentes de acordo com as respectivas pontuações (ponderadas necessariamente por critérios de audiência), numa tipologia próxima do que acontece com a Liga dos Campeões.
3 - Implementação de fortes exigências quanto à qualidade, conforto e segurança dos estádios, obrigando se necessário a jogar em estádios do Euro, e dando especial atenção ao tratamento dos relvados - aspecto central da plasticidade do espectáculo. Utilização dos ecrãs gigantes (onde os haja) para a transmissão do jogo e repetição dos lances mais significativos, de modo a privilegiar os espectadores de estádio e não os de sofá.
4 - Árbitros e assistentes profissionais, em número reduzido e, tanto quanto possível, bem pagos.5 - Limitação à inscrição de quatro, e utilização simultânea de três, estrangeiros por equipa, não contrariando naturalmente os aspectos jurídico-legais em vigor no país.
6 - Inscrição de 25 jogadores por equipa, previamente numerados de 1 a 25, três dos quais necessariamente formados no clube, favorecendo na redistribuição dos meios financeiros os clubes que inscrevessem maior número de jogadores nessas condições.7 - Bilhetes pré-fixados, de três níveis e três tipos: centrais, 20, 30 e 40 euros; laterais, 10, 20 e 30; superiores, 5, 10 e 20 euros, todos eles incluindo um folheto com o guia da partida, número dos jogadores, classificações, resultados anteriores e outros jogos da jornada. Facilidades e descontos para mulheres e, sobretudo, crianças, para as quais se poderia tornar apelativo a criação de mascotes, que antes e no intervalo dos jogos fariam actuações no relvado, e permitiriam a exploração de um novo filão de merchandising com segmentos de video-jogos, desenhos animados, colecções de cromos etc.8 - Publicações próprias sobre a liga (revista mensal, livro e DVD anual), e programas televisivos de antevisão dos jogos e rescaldo dos mesmos, com incidência nos aspectos técnico-tácticos e não nos casos de arbitragem.
9 – Composição de um hino da liga, tocado antes de todos jogos, à semelhança do que acontece na Liga dos Campeões.10 – Cuidados redobrados com a calendarização da temporada, marcando o começo da prova para o início de Setembro (depois de encerrado o mercado de transferências), e fazendo coincidir o final das duas primeiras voltas com a paragem natalícia e a reabertura do mercado de transferências - sendo permitidas apenas duas por equipa nesse período.
Decerto que nem todas estas propostas serão passíveis de aplicar num futuro imediato. Trata-se de um esboço que não vai certamente agradar a todos. Mas este pretende ser apenas um pequeno contributo para uma discussão que se torna cada vez mais premente de encetar, e sem a qual, o futebol português, para além dos seus cinco ou seis clubes de topo, estará irremediavelmente condenado.

JUVENTUDE RUMO AO FUTURO

As últimas jornadas não têm corrido de feição ao Juventude de Évora na 2ª divisão, mas nem por isso o clube deixa de construir o seu futuro. Está em marcha o projecto de construção do novo estádio, que poderá representar a alavanca necessária para uma nova fase na sua vida, que se espera de sucesso.
Em breve, conto poder voltar a dar aqui o merecido destaque a esta minha outra paixão futebolística.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Foi uma vez mais uma jornada com vários casos, mas na qual em termos pontuais não há correcções a fazer. Na Luz os dois penáltis foram bem assinalados, Quim foi bem expulso, mas ficou por marcar uma outra grande penalidade por falta cometida sobre Léo, que daria a expulsão de Ricardo Esteves por duplo amarelo. Binya também lhe viu perdoado o cartão num lance duríssimo ainda na primeira parte.
No Dragão, o primeiro golo do F.C.Porto é precedido de falta de Lisandro, que domina claramente a bola com a mão antes de disparar à baliza de Beto. Logo aos 6 minutos, a abrir o marcador, não deixa de ser um erro importante e influente. Mas à luz dos critérios da classificação “real”, uma vez que o F.C.Porto marcou mais dois golos, nada há a corrigir.
A classificação é portanto a seguinte:
-F.C.PORTO 22 (beneficiado em dois pontos no jogo com o Sporting)
-Benfica 18 (prejudicado em dois pontos, com um penálti por assinalar frente ao Leixões, se bem que gostaria de um dia ver repetido um lance com Fábio Coentrão frente ao V.Guimarães que na altura não considerei, e poderia dar mais dois pontos)
-Sporting 15 (prejudicado no Dragão, e beneficiado frente ao V.Setúbal , ambas por um ponto)

VEDETA DA JORNADA

LISANDRO LOPEZ: Mais do que vedeta da jornada, o argentino assume-se como a verdadeira vedeta do campeonato. Tem sido a alma do dragão, marcando golos atrás de golos e resolvendo problemas onde por vezes o colectivo parece encontrar algumas dificuldades. Depois de duas épocas marcadas por algumas lesões, eis um extraordinário jogador a explodir nos relvados portugueses e europeus.

TANGO EMBALA DRAGÃO

O F.C.Porto venceu mais uma vez, mais uma vez não sofreu golos – leva já cerca de 670 minutos de redes invioladas -, e segue cada vez mais só num campeonato verdadeiramente à parte de toda a concorrência.
Sem retirar os muitos méritos que os portistas têm tido, mais uma vez ficou também a sensação de enormes facilidades concedidas pelo adversário, neste caso o vizinho Leixões. Sem querer entrar em qualquer tipo de especulação acerca de jogadores emprestados ou afins, a verdade é que as equipas que o F.C.Porto tem defrontado no campeonato parecem entrar em campo já derrotadas, mostrando uma face bem diferente daquela com que surgem quando enfrentam outros emblemas. Se há casos em que as camisolas vencem jogos – no passado terão sido as do Benfica a consegui-lo – o F.C.Porto é um bom exemplo dos tempos modernos, pois o simples facto de o defrontar parece intimidar quase todas as equipas da Liga, que provavelmente até retirarão tacitamente do seu calendário pontual essas duas partidas, parecendo dá-las à priori como perdidas.
Mas seria extremamente injusto atribuir a campanha do F.C.Porto exclusivamente a estes factores de ordem, digamos, psicológica. O clube manteve quase todos os seus principais jogadores, manteve a estrutura da equipa, manteve o treinador, e surge agora num estádio de desenvolvimento competitivo muito superior a Benfica e Sporting, alvos de profundas transformações. A manutenção de Lucho e Quaresma no plantel – enquanto Benfica vendia ao desbarato Simão e Manuel Fernandes justamente para os clubes que cobiçavam os portistas – está-se a revelar a chave de uma época (até ver) ganha pelos dragões, e perdida pelas águias, provando afinal que os chamados encaixes financeiros têm muito que se lhe diga, mesmo à luz de uma criteriosa gestão de meios financeiros, ou não fosse até o F.C.Porto a embolsar (muito) mais dinheiro com as transferências de Pepe e Anderson.
Por outro lado, a equipa portista, com ou sem Jesualdo, apresenta desde há muitos anos – com um ou outro curto interregno – uma capacidade competitiva e uma dinâmica de vitória que não tem paralelo em Portugal. A forma como os jogadores entram em campo para cada jogo, sempre como se fossem disputar uma final da Liga dos Campeões, faz a diferença para os rivais. É também por isso que promessas como Leandro Lima ou outros não entram facilmente no onze dos dragões, enquanto que nos rivais lisboetas qualquer jovem talento é rapidamente promovido a um estrelato muitas vezes sem grande base de sustentação.
Depois há também que salientar a extraordinária época de Lisandro Lopez, finalmente a deixar ver a veia goleadora que o trouxe para a Europa, e que o fez ser disputado por Benfica e F.C.Porto há pouco mais de dois anos. O avançado argentino leva marcados oito golos, ou seja, mais de 50 % do total da equipa, resolvendo deste modo aquele que se poderia esperar ser um dos maiores problemas dos portistas, dada a inadaptação de Farias, e a inconstância de Adriano e Postiga.
Se o F.C.Porto não perder qualquer ponto até à sua deslocação à Luz (jogos em casa com Belenenses e V.Setúbal e deslocação à Amadora), quase poderá encomendar as faixas. Além do mais vai apanhar o Benfica entalado entre Milan e Shakhtar Donetsk (jogo este antecipado para dia 4 de Dezembro por via da participação do Milan no Mundial de clubes), e percebe-se o peso que isso poderá ter.
Será a luta pelo segundo lugar a animar uma vez mais o campeonato ?

REVEJA O GOLO DE ADU

AMERICAN EXPRESS

Pelo terceiro jogo consecutivo, em oito dias apenas, o Estádio da Luz pôde vibrar com uma vitória arrancada nos últimos minutos, quando a angústia já tomava conta das almas benfiquistas. O herói foi Adu, ele que também já se vai tornando talismã para os momentos de aflição – foi assim com o Estrela, com o V.Setúbal e agora diante do Marítimo.
À semelhança do que acontecera nas partidas anteriores, o espectáculo na Luz voltou a ser empolgante, com a equipa de Camacho a fazer valer o seu enorme coração para, a partir dele, conseguir vencer as dificuldades, postas tanto pelos adversários como pelas suas próprias limitações (que ainda são algumas). E falando de adversários deve dizer-se que este Marítimo – orientado por um experiente e categorizado técnico, que já foi inclusivamente seleccionador do Brasil - mostrou ser uma equipa extremamente bem organizada, rápida, muito bem dotada tecnicamente e capaz de pôr em respeito a defensiva benfiquista durante uma boa parte do desafio. Foram os madeirenses os grandes responsáveis pelo belo espectáculo a que se assistiu. Trata-se provavelmente da quarta melhor equipa portuguesa do momento.
A primeira parte jogou-se predominantemente no meio-campo encarnado, com as linhas do Marítimo muito juntas a montarem uma teia da qual o Benfica só a espaços, e com grande dificuldade logrou sair. Com Di Maria muito apagado (e bastas vezes individualista e desastrado), e Rui Costa em ligeira, mas notória, quebra de forma, o espaço ofensivo dos encarnados foi em largos períodos um longo deserto, no qual Cardozo, muito marcado, completamente sozinho e distante dos colegas, mais não podia fazer senão lutar e segurar os centrais adversários – que diga-se, quando caiam sobre ele pareciam uma multidão.
O golo madeirense – de belo efeito, mas muito facilitado por Quim - não surpreendeu, mas pouco depois a felicidade sorriu pela primeira vez aos encarnados, e pela mão de Ricardo Esteves. A irrepreensível cobrança da grande penalidade por Cardozo fazia o jogo regressar à estaca zero, mas nem assim o Marítimo perdeu o controlo das operações.
Eis que surge então um dos momentos da noite. A expulsão de Quim, e o penálti correspondente, pareciam rude golpe numa equipa do Benfica que até aí ainda não tinha verdadeiramente conseguido tomar as rédeas do seu destino. A ser transformada, no momento anímico em que ocorreu, esta penalidade máxima podia muito bem ter feito abalar todos os ainda frágeis alicerces do futebol benfiquista, e constituir-se na chave da decisão desta partida. Hans-Jorg Butt, até aqui um discreto e cinzento cativo do banco benfiquista, teve então ocasião para brilhar. Com uma defesa fantástica retirou o golo ao internacional Makukula, mantendo o empate no marcador. Penálti sim, penálti não, o Benfica, ainda que numericamente inferiorizado, continuava na discussão do resultado.
Este lance pareceu despertar aquilo que a equipa de Camacho tem de melhor e insiste em revelar jogo após jogo: uma enorme vontade de vencer, e uma capacidade de superação notável, fazendo das fraquezas forças e atingindo níveis de intensidade futebolística que as capacidades e fragilidades do seu plantel talvez não fizessem supor ser possíveis.
Na segunda parte, sem um abúlico Di Maria e com um esforçado Luís Filipe a permitir o avanço de Maxi Pereira para a ala direita, e com Cristian Rodriguez muito mais activo, o Benfica mostrou essa sua melhor face, traduzida também, é de salientar, numa condição física invejável.
Fruto de alguma (excessiva ?) cautela dos insulares, a equipa da Luz passou a dominar por completo todos os capítulos de jogo, criando ocasiões para chegar a uma vantagem que passou a merecer amplamente. Já depois de um lance para grande penalidade em que Léo foi agarrado e que Pedro Proença não terá visto, e quando o desânimo começava a tomar conta das bancadas (e da equipa), seria Freddy Adu a resolver a contenda, com um lance em que uma vez mais demonstrou o seu sentido de oportunidade e a sua capacidade de finalização. Na senda de Vata e Pedro Mantorras, Adu ameaça tornar-se num novo deus negro para o futebol benfiquista, capaz de, no meio do desespero, com uma qualquer feitiçaria solucionar os problemas mais delicados, se bem que na verdade, neste caso, se tenha de atribuir grande parte do mérito do golo ao lance de insistência de Léo.
Uma vez mais, aos 87 minutos, foi a festa na Luz. O Benfica alcançou o segundo lugar da classificação, o que depois de tudo pelo que passou na pré-época e no início da competição, não deixa de ser motivador, sendo aquele também, face à forma como todas as equipas se têm comportado, o lugar natural para esta equipa neste momento, pois para além do F.C.Porto não se vê ninguém melhor no campeonato.
Em termos individuais o destaque terá de ir naturalmente para o autor do golo da vitória, o norte-americano que a pouco e pouco vai afirmando no Benfica toda a classe que demonstrara, por exemplo, no Mundial sub-20; mas também para o guarda-redes Butt que, como disse acima, foi de quem partiu a construção desta vitória. Estiveram muito bem igualmente Léo, Binya, Maxi Pereira e Cristian Rodriguez.
No Marítimo, Marcinho, enquanto durou, foi o elemento de maior rendimento.
Pela negativa , para além da decepcionante exibição do mediático Makukula nos insulares, tenho que mencionar uma vez mais Di Maria. É pena que um jogador de tão grande talento se perca com constantes e teimosas habilidades para o seu próprio umbigo, sem nenhumas consequências que não sejam, frequentemente, perdas de bola em zonas perigosas descompensando a equipa. Tem muito que aprender (como outros), mas é preciso que dê mostras de querer mesmo fazê-lo, o que nem sempre tem ficado claro nestes últimos jogos. É que a continuar assim não irá de certo cumprir o seu sonho de jogar no Chelsea (ou era no Manchester ? ou nos dois ?)…
O árbitro apenas teve uma falha, ao não assinalar a tal grande penalidade cometida sobre Léo (e correspondente segundo amarelo a Ricardo Esteves). Mas para ser franco, na Luz – e até estava relativamente perto do lance – não me pareceu falta. É claro que a televisão é sempre cruel para o árbitro neste tipo de lances, e quem não frequente os estádios terá certamente dificuldade em entender que o erro faz parte do futebol e é perfeitamente natural em todos os seus intervenientes. Nos restantes lances polémicos, ajuizou muitíssimo bem.
Nota final para os adeptos do Benfica, que tanto critiquei há poucos dias atrás, e que ontem deram uma resposta capaz de me fazer calar. 45 mil pessoas na Luz, para um jogo com o Marítimo, tem de se considerar um bom número. Mas além da quantidade, a qualidade do apoio foi desta vez exemplar. Ficou-me particularmente na memória (e nos ouvidos…) a forma como todo o estádio vaiou freneticamente a marcação do penálti por Makukula, quase se podendo dizer que, a meias com Butt, também os adeptos o defenderam. O que fazem as vitórias...

UMA TARDE BEM PASSADA, E UMA BREVE NOTA SOBRE O SPORTING

Por muito que possam argumentar, não me parece haver melhor programa para uma tarde de sol bem passada que um estádio, um relvado, uma bola e vinte e dois homens a correr atrás dela. Não há esplanada melhor, sobretudo se tivermos o Tejo, o Cristo-Rei e a Ponte 25 de Abril no horizonte.
Foi uma bela tarde que passei sábado no Restelo, onde ainda por cima pude assistir a uma bastante agradável partida de futebol entre dois emblemas tradicionais como Belenenses e Académica. Foi pena o zero final no marcador, isto para mim que, não sendo adepto de nenhum dos clubes, apenas queria futebol e golos. Mas ainda assim valeu bem a pena.
Um pouco mais tarde, prescindi bem de ficar no sofá a ver o Nacional-Sporting, em nome de uma boa jantarada fora de casa. O restaurante até tinha televisão, mas naturalmente pouco consegui ver - não consigo perceber como tantas pessoas conseguem ver futebol a comer, a beber, a conversar, tudo em simultâneo, e achar-se capazes de no final emitir sábias opiniões sobre o que se passou - pelo que não poderei comentar o jogo em si.
Ainda assim, não deixo de estranhar a insistência de Paulo Bento numa estrutura que me parece errada. As deslocações de Miguel Veloso para o centro da defesa, e de Moutinho para pivot defensivo, subvertem total e desnecessariamente (há Gladstone no plantel) o conceito futebolístico que os leões apresentavam desde o início da época, desperdiçam o potencial técnico dos jogadores, e enfraquecem, a meu ver, a força colectiva da equipa.
Com duas vitórias nos últimos nove jogos, começa a criar-se alguma tensão em redor da equipa e do técnico. A eliminatória com o Fátima surge assim inesperadamente apimentada, pois se dela resultar a eliminação dos leões (e nem lhes basta vencer por 0-1), torna-se imprevisível o que possa acontecer em seguida.

GOOOOOOLO!!!!!

Reveja aquele que foi, seguramente, o momento de maior euforia vivido no Estádio da Luz nos últimos seis meses. É um benfiquista que o diz.


A MATEMÁTICA DA CHAMPIONS

Com três jornadas e seis jogos por disputar, existem ainda em cada grupo da Liga dos Campeões 729 combinações possíveis de resultados, pelo que é prematuro (e complicado…) apresentar cálculos matemáticos rigorosos envolvendo todas as possibilidades.
Para o Benfica, sobretudo, há uma impressionante multiplicidade de hipóteses, num grupo cuja classificação ficou, depois desta jornada, bastante enrolada. Por exemplo, existem possibilidades matemáticas de o clube da Luz se apurar para os oitavos-de-final com apenas sete pontos, e possibilidades de ficar eliminado alcançando dez.
Há todavia dados que se podem desde já avançar:
-Caso perca em Glasgow na próxima jornada, o Benfica não fica desde logo eliminado. Terá contudo de vencer os últimos dois jogos, ficando mesmo assim dependente de terceiros.
- O empate na Escócia é um bom resultado, e deixa o Benfica dependente de si próprio para as últimas duas jornadas. Além de naturalmente o deixar em excelente posição se falarmos apenas de Taça Uefa.
-Levando em linha de conta o factor-Milan (ou seja, a fortíssima hipótese de o campeão europeu seguir em frente), parece pacífico aceitar que as possibilidades mais reais de qualificação se desenham à custa do Shakhtar, e consequentemente em redor de uma vitória na Ucrânia. Esse será o jogo chave – é matemático que se o Benfica o perder, não poderá em caso algum ficar à frente do Shakhtar -, e interessa portanto, acima de tudo, chegar lá com as contas em aberto. Nessa medida seria talvez preferível uma vitória (ou pelo menos um empate) do Milan em Donetsk na próxima jornada, para assim deixar os ucranianos mais à mercê de poderem depois ser ultrapassados.
- Por outro lado, paradoxalmente, caso o Milan perca na Ucrânia, o Benfica, até pode chegar à última jornada já qualificado, tendo para isso, obviamente, de vencer Celtic e Milan. Olhando apenas para a próxima jornada, esta combinação (Celtic-Benfica 2 e Shakhtar-Milan 1), é aparentemente favorecedora, pois deixaria o Benfica em condições de decidir tudo em casa na jornada seguinte com o Milan (que jogo !, que receita !), mas é também muito perigosa, pois não ganhando ao Milan, os encarnados corriam riscos de nem o terceiro lugar poderem segurar. Para fazer valer este caminho, o Benfica teria portanto forçosamente de contar com uma vitória na Luz diante dos campeões europeus, o que de fácil, como se sabe, não tem nada. Assim sendo, talvez seja mais prudente desejar mesmo é que o Shakhtar Donetsk não vença os italianos no próximo dia 6.
- Olhando às múltiplas opções, e embora esta afirmação não seja matematicamente segura, se o Benfica empatar os próximos dois jogos (Celtic e Milan) e vencer na Ucrânia, muito provavelmente apura-se. Parece ser este o caminho mais verosímil.
Tudo ainda muito complicado portanto, na certeza porém de que o Benfica, com três rondas por disputar, apenas depende de si próprio para se apurar para os oitavos.
A título de curiosidade, lembre-se apenas a sequência de jogos da equipa de Camacho a iniciar lá para finais de Novembro: Quarta dia 28/11 Milan na Luz, Sábado 1/12 F.C.Porto na Luz, Terça 4/12 Shakhtar em Donetsk, que semana !!!

Para Sporting e Porto as contas são substancialmente mais simples de fazer.
Os leões terão de vencer a Roma, e fazer os mesmos pontos que os romanos nas últimas duas partidas. Caso percam com a Roma em Alvalade não ficam matematicamente eliminados, mas necessitariam de um verdadeiro milagre para a qualificação. Mesmo em caso de empate, as contas ficam muito difíceis, e genericamente dependentes de uma difícil e improvável vitória em Old Trafford. Aos dragões por seu turno, basta vencer os dois jogos em casa com Besiktas e Marselha. Mas uma vitória e um empate até podem bastar, dependendo dos outros resultados.
Após a próxima jornada será obviamente mais fácil trabalhar, uma por uma, todas as combinações, e assim chegar a conclusões mais seguras.

SANGUE QUENTE, MUITO SUOR E UMA LÁGRIMA DE GLÓRIA.

Faltavam poucos minutos para a partida terminar, o resultado mantinha-se em branco, e pensava eu com os meus botões: esta exibição e esta equipa, mesmo sem vencer, merecem um fortíssimo aplauso no final do jogo. Felizmente, o azar não durou sempre, e o golo de Cardozo, a três minutos do fim, veio repor a justiça a noventa minutos nos quais o Benfica quase sempre demonstrou mais e melhores argumentos, e sobretudo, muito mais vontade de vencer, do que um adversário firmemente apostado na conquista de um ponto.
É justo dizer que o Benfica, principalmente na segunda parte, terá ontem feito a melhor exibição da época. Foi uma equipa cheia de alma, de querer, de ambição. Faltou-lhe maior auto-confiança para construir uma vitória mais ampla e mais tranquila. Faltou-lhe aqui e ali um toque de classe extra, que só Rui Costa, Rodriguez e Cardozo (e depois Di Maria) foram capazes de dar, mas no global, jogou o suficiente para afirmar a sua candidatura ao apuramento, sabendo-se que a tendência, daqui para a frente – com a recuperação dos lesionados, e com mais fluência de automatismos -, será forçosamente de melhoria. Não se percebe pois a tonalidade exageradamente negativista das críticas que já li e ouvi (Joaquim Rita, Santos Neves e outros veteranos dos tempos de Eusébio, mal habituados às realidades do futebol actual), como se o Benfica tivesse de massacrar o Celtic do primeiro ao último minuto, e tivesse de vencer por vários golos sem resposta, sempre com um futebol de qualidade sublime - digam-me que equipa vêm fazer isso numa prova como a Liga dos Campeões - para então sim cantarem loas à exibição encarnada.
O Celtic temeu o Benfica. Durante algum tempo pareceu até teme-lo demasiado e injustificadamente, pois a equipa encarnada dava mostras de alguma desarticulação assim que se aproximava da área contrária. A uma muito maior posse de bola (quase 70% na primeira parte) Cardozo e Bergessio não conseguiam fazer corresponder fluidez dentro da área. Rui Costa pautava o jogo do Benfica, mas a partir de posições muito recuadas, criando-se assim um fosso perto da área escocesa, onde uma equipa muito coesa, rigorosa e combativa não permitia grandes veleidades aos nessa fase insipientes avançados encarnados.
O onze de Gordon Strachan limitava-se a defender e a deixar passar o tempo da forma mais conveniente. Killen era o seu único homem mais adiantado, e surgia completamente desacompanhado nas ocasiões em que o seu meio campo conquistava a bola (não sei porque não jogou Nakamura). Ainda assim Donatti ia fazendo golo, mas um seguríssimo Quim não permitiu, sendo esse o único lance da primeira parte em que a bola circundou a baliza benfiquista.
Paradoxalmente, foi a falta de ousadia britânica acabou por dar ao Benfica o alento de que precisava para se tornar mais agressivo no ataque. Se já na primeira parte os encarnados, ainda que sem encantar, haviam sido melhores – mais posse de bola, mais remates, mais cantos, mais oportunidades -, para o segundo tempo a equipa de Camacho juntou agressividade, velocidade e ousadia, à vontade e determinação que já demonstrara até então.
Sem muita gente para marcar, o triângulo Luisão, Katsouranis e Binya dava conta do recado na zona mais defensiva, libertando os laterais e o resto da equipa para o assalto à baliza céltica. Rui Costa apareceu mais adiantado, e mais perto do flanco esquerdo, construindo juntamente com Cristian Rodriguez – e Léo -, um caudal de futebol ofensivo a que o Celtic não foi capaz de corresponder senão pelo seu inspirado guarda-redes, e pela sorte de ver a barra e o poste negarem sucessivamente o golo a um incrédulo Óscar Cardozo. O golo benfiquista anunciava-se a qualquer momento, mas o certo é que os minutos iam passando e os fantasmas iam-se adensando na noite da Luz.
Quando, após a saída de um extenuado Rodriguez, a equipa parecia quebrar, eis que com um passe sublime, Di Maria colocou a bola no peito de Cardozo que, à ponta-de-lança, de forma tão espontânea como, quem sabe, irada, deu cor à felicidade e lançou a euforia nas bancadas. Tal como frente ao Lille há dois anos, e diante do Dínamo de Bucareste no ano passado (então em ambas as vezes por intermédio do saudoso Miccoli), o Benfica conseguia uma vitória europeia nos últimos instantes de uma partida no Estádio da Luz, criando um ambiente absolutamente apoteótico entre os seus adeptos. Fez-se justiça ao excelente Benfica de ontem, e também ao excelente Cardozo de ontem, dia em que finalmente começou a pagar o (muito) dinheiro que custou o seu passe.
Foi uma vitória para o Benfica tão merecida, quanto o foi a derrota do Celtic. Ganhou quem fez por isso, perdeu quem se limitou a defender o empate. Os encarnados mostraram que estão vivos na Europa do futebol, embora o caminho até aos oitavos-de-final seja difícil. Muito difícil mesmo, se pensarmos que o único jogo que lhes resta em casa será diante do campeão europeu A.C.Milan. As matemática fica para depois, mas à partida parece ser imperioso vencer em Donetsk. Nos outros dois jogos, dois empates talvez cheguem.
O árbitro Massimo Busacca, com um ou outro erro de pouca monta (um canto transformado em pontapé de baliza, uma ou duas faltas mal assinaladas), esteve globalmente em bom plano.
Nota final para a decepcionante assistência na Luz. É inacreditável como um jogo decisivo da Liga dos Campeões cativa menos de trinta mil benfiquistas (os restantes eram escoceses), sabendo-se que o clube conta com mais de 150 mil sócios. Não sei o que pensa cada um dos ausentes sobre isto, mas assim o clube que dizem ser do seu coração não irá longe. Além de que, mesmo os que lá estiveram, assistiram impávidos (aqui e ali com absurdos e inqualificáveis assobios) a uma verdadeira lição de como apoiar uma equipa dada pelos sempre correctíssimos escoceses.
Se o que a equipa fez em campo me enche de orgulho, a demonstração de absoluta falta de cultura desportiva dada pelos auto-intitulados benfiquistas – os que não foram, e alguns dos que estiveram presentes – apenas merece uma palavra: vergonha. Para quê seis milhões, se só vinte mil realmente sentem, sofrem e vibram com o clube ? Já lá vão várias jornadas do campeonato, um derby, dois jogos da Champions, e o estádio ainda não esgotou. Há muita gente que não merece vitórias como a de ontem.

VEDETA DO JOGO

CARDOZO (4): Finalmente tivemos um cheirinho do que pode valer o avançado paraguaio. Uma bola na barra, uma no poste, duas boas defesas de Boruc e um golo, isto para além de uma intensa participação em quase todas as acções ofensivas da equipa, mormente na segunda parte, período em que a sua exibição atingiu maior fulgor. Vejamos até que ponto os seus níveis de confiança saem aumentados deste jogo, que Cardozo de certo não vai esquecer tão depressa. Foi o rosto da vitória benfiquista.

OS ENCARNADOS UM A UM

QUIM (4) Não fosse uma má reposição de bola ainda na primeira parte, e teria sido uma exibição perfeita. Esteve onde e quando era preciso, com a segurança e o brilhantismo a que já habituou os benfiquistas.
MAXI PEREIRA (3) Exibição positiva do uruguaio. Muito cauteloso na primeira parte, soltou-se mais no segundo período, e contribuiu assim para o crescimento da equipa.
LUISÃO (3) Sóbrio e seguro, embora sem deslumbrar. O Celtic pouco atacou, não lhe dando grandes oportunidades de brilhar. Na próxima jornada, em Glasgow, certamente que será diferente.
KATSOURANIS (3) Viveu no constante dilema de cumprir o papel que Camacho lhe destinou ao lado de Luisão, ou por outro lado, aproveitar o espaço que o quase inexistente ataque escocês lhe proporcionou para integrar as acções ofensivas. Correu muito, e quase marcou ainda na primeira parte, num cabeceamento de grande categoria salvo por Boruc com uma palmada providencial.
LÉO (3) Já se sabe que Cristian Rodriguez, sendo um jogador predominantemente de bola no pé, não lhe deixa o espaço de manobra que tinha com Simão para participar no processo ofensivo da equipa. Ontem porém, fruto também da insipiência ofensiva britânica, foi a atacar que mais se destacou, conseguindo por diversas vezes causar desequilíbrios pelo seu corredor, dos quais resultaram alguns dos mais perigosos lances de ataque do Benfica.
BINYA (4) Correu quilómetros, recuperou uma imensidão de bolas – algumas em situação limite -, e foi um verdadeiro pivot para o lançamento das acções de ataque. Mais uma excelente exibição deste surpreendente camaronês, que era para estar a jogar no…Estrela da Amadora.
RUI COSTA (4) Embora não tenha estado feliz nas tentativas de remate que, vendo a incapacidade da equipa para chegar ao golo, se sentiu obrigado a fazer, Rui Costa foi uma vez mais o maestro do futebol encarnado. Na segunda parte, viu que era pelo flanco esquerdo que podia estar o mapa para o êxito, e por ai apareceu para juntamente com Rodriguez pintar alguns dos melhores momentos da partida. Terminou esgotado, em natural quebra depois de tanta correria.
NUNO ASSIS (2) Depois de uma exibição muito conseguida para a Taça da Liga, teve o justo prémio da titularidade. Todavia não se pode dizer que o tenha aproveitado para se impor na equipa titular. Foi sempre muito pouco incisivo, e nalguns momentos a sua fragilidade física fê-lo perder lances em que a equipa podia ter ficado desequilibrada. Foi naturalmente substituído. Sabe fazer muito mais e melhor.
CRISTIAN RODRIGUEZ (4) Enquanto teve pilhas foi o melhor do Benfica. Apesar de pouco dado a tarefas defensivas, é impressionante a forma como, com a bola colada ao pé, resiste ao choque e progride no terreno, sempre com a baliza como ponto de mira. Fez o cruzamento para o cabeceamento mais perigoso de Cardozo, e desferiu o potente remate que Boruc defendeu para a frente proporcionando ao paraguaio a recarga à barra. Grande exibição, até sair completamente extenuado.
BERGESSIO (2) Estava com vontade de lhe dar nota positiva, tal o arreganho com que disputou cada lance em que interveio. Mas a inoperância atacante do Benfica em toda a primeira parte deveu-se em grande parte à sua incapacidade para furar, com critério, a teia defensiva do Celtic. E não podemos esquecer que Cardozo esteve bem melhor depois do argentino ser substituído.
DI MARIA (3) Nota positiva pelo magistral passe para o golo. Deu alguma alegria à equipa, numa fase em que a descrença já dela começava a tomar conta, mas por vezes perde-se em rodriguinhos inconsequentes, e dá mostras de uma incapacidade gritante para definir o momento de soltar a bola. Tem muito a aprender - e se o quiser fazer será seguramente um craque - mas transmite amiúde a sensação de pensar já saber tudo, o que me irrita particularmente.
FREDDY ADU (2) Não foi muito solicitado, pois o Benfica escolheu o lado esquerdo como caminho preferencial para a baliza escocesa. Nas poucas intervenções que teve, não esteve mal. Não teve tempo, nem ocasiões para brilhar.
LUÍS FILIPE (-) Substituiu Rodrgiguez por desgaste deste, numa fase já de algum desespero. Acabou por entrar a tempo de festejar o grande golo de Cardozo.

PORTO SEGURO, À BEIRA DO APURAMENTO

Não vi o jogo do F.C.Porto – aliás, lamentavelmente, ainda não pude ver um único jogo dos dragões na Champions League, pois como se sabe coincidem com os do Benfica -, mas pelo resultado posso concluir que a qualificação da equipa de Jesualdo Ferreira para os oitavos-de-final está cada vez mais próximo de se concretizar. Basta-lhe, no máximo, vencer os dois jogos que tem em sua casa.
Trata-se de uma equipa com larga experiência internacional, e isso está a fazer-se sentir na sua campanha europeia deste ano. A derrota do Liverpool abre aos portistas o caminho para o primeiro lugar do grupo, muito importante quando se chegar ao sorteio dos oitavos-de-final.
Uma curiosidade: todos os golos do F.C.Porto na Europa foram anotados por Lucho Gonzalez e Quaresma, justamente os dois jogadores que no verão foram dados como certos no Valência e no Atlético de Madrid respectivamente, para onde acabaram por ir... Manuel Fernandes e Simão.

ONTEM, COMO HOJE, UM GRANDE CLÁSSICO EUROPEU !











AFINAL ATÉ ERA POSSÍVEL...

A derrota do Sporting no Olímpico de Roma deixa a amarga sensação de que tudo podia ter sido bem diferente. É um resultado que não compromete, mas nunca como ontem os leões terão estado tão perto de alcançar o sucesso em terras transalpinas, embora mais por deficiências alheias que por méritos próprios, deve dizer-se.
Foi um jogo de erros. Erro de Paulo Bento ao mexer, sem necessidade, no sector intermediário, erro de Tiago e Vukcevic no primeiro golo da Roma, erro de Abel e também Tonel no segundo, erro até do árbitro ao assinalar uma grande penalidade inexistente, que acabou por não ter consequências no resultado. Se há por vezes bons jogos de futebol com poucas oportunidades (pela emoção, intensidade, dramatismo, qualidade técnica), outros há em que as várias ocasiões de golo não chegam para se falar de um grande espectáculo, sobretudo quando as mesmas são originadas mais por erros primários do que por belas jogadas de ataque. Ontem foi um destes casos - o Roma em crise de confiança, e subtraído da sua grande estrela logo nos momentos iniciais do jogo, nunca foi a equipa que se temia, enquanto que o Sporting pareceu sentir em demasia as ausências de Stojkovic e, sobretudo, Anderson Polga, facto que lhe retirou coesão defensiva, e segurança nas transições.
Depois de um início autoritário da equipa da casa, coroado com um golo, o Sporting reagiu e empatou quase de imediato (finalmente o levezinho marcou na Liga dos Campeões...) no melhor lance do encontro. O resto do primeiro período foi estranho, com as equipas muito precipitadas no lançamento dos ataques, o que originou muitas perdas de bola, e erros infantis de posicionamento, tanto de um como do outro lado. Foi uma fase emocionante, mas genericamente mal jogada, e olhando até para as despidas bancadas do Olímpico, tudo parecia menos uma importante partida da Champions League.
No início do segundo tempo, e após o penálti defendido por Tiago, perante um Roma sem ideias nem velocidade, o Sporting foi paulatinamente controlando o jogo, e a dada altura quase parecia improvável que pudesse vir a sair sem pontos da cidade eterna. Foi então que mais um erro – que infantilidade de Abel…- acabou por dar uma machadada no jogo e nas pretensões do Sporting, que não mais se mostrou capaz de discutir o resultado.
Destaque individual para Liedson, pelo excelente golo, e para Romagnoli, o mais consistente dos leões. Desiludiram Tiago, Abel, Vukcevic e Yannick, para além dos que entraram e nada trouxeram de novo à equipa.
Deste jogo (como de outros) ressalta a ideia de que o Sporting dispõe de 12 ou 13 bons jogadores, mas não de alternativas credíveis no banco de suplentes. Tiago, Paredes, Farnerud, Celsinho, Had, Purovic etc, não parecem, por diferentes motivos, estar ao nível de uma Champions League. Por outro lado, Yannick Djaló tarda em confirmar o valor que lhe foi atribuído, dando a sensação de apenas jogar por não haver mais ninguém para o lugar. Veremos como Paulo Bento conseguirá gerir um plantel assim, ao longo da época, em quatro diferentes competições.
Nada está perdido. Se os leões ganharem por 1-0 dentro de duas semanas em Alvalade, ascendem ao segundo lugar em vantagem no confronto directo, tendo então apenas que fazer tantos pontos como a Roma diante de Manchester e Dínamo de Kiev. E até é possível que os romanos não ganhem mais nenhum jogo…

TUDO OU NADA PARA BENFICA ; PORTO E SPORTING EM BUSCA DA GLÓRIA

A Champions League está de regresso, e com uma jornada de enorme importância para a definição dos grupos onde se inserem as equipas portuguesas. Sporting e F.C.Porto têm hipótese de dar significativos passos rumo aos oitavos-de-final, enquanto o Benfica tem desesperadamente de vencer para se manter na corrida.

Hoje na cidade eterna, o Sporting tem a história diante de si. Em caso de vitória a equipa de Paulo Bento coloca-se muitíssimo bem nas contas do apuramento, embora obviamente nada fique decidido qualquer que seja, aliás, o resultado deste jogo – tanto Sporting como Roma podem sempre corrigi-lo em Alvalade.
Do outro lado está uma das melhores equipas italianas da actualidade – ainda que a atravessar uma sequência de resultados negativos -, que também, depois da derrota em Manchester, terá que fazer pela sua vida. Quem tem Totti, Perrotta, Giuly, De Rossi, Juan etc, e joga em casa, terá forçosamente de ser considerado favorito, o que não representa qualquer novidade face ao que se disse e escreveu aquando do sorteio.
Sendo muito franco, não me parece que o Sporting tenha grandes possibilidades de vencer esta partida. Um empate já seria um excelente resultado, mas a maior experiência dos transalpinos deverá mesmo ditar leis. Roma não é Kiev, e a sorte não dura sempre. Em todo o caso, deverá ser deixada alguma margem para a esperança que qualquer jogo de futebol sempre acarreta, na convicção de que nada é exigido aos leões que não seja o seu total empenho, algo que ninguém duvida se verá no relvado do Olímpico.
Equipas Prováveis:
A.S.ROMA – Doni, Panucci, Juan, Mexes, Tonatto, De Rossi, Perrotta, Vucinic, Giuly, Totti e Mancini.
SPORTING C.P. – Tiago, Abel, Polga, Tonel, Ronny, Miguel Veloso, Izmailov, Moutinho, Romagnoli, Yannick e Liedson.
PROBABILIDADES (1X2) – 60% ; 30% ; 10%

Com quatro pontos conquistados, o F.C.Porto é, até pelo grupo que lhe calhou em sorte, a equipa portuguesa que mais perto está de passar à fase seguinte. Uma vitória em Marselha praticamente garantirá o apuramento, mas o empate também não é de desprezar.
Na máxima força, diante de um adversário em crise doméstica, e desfalcado do seu principal defesa central, os portistas muito dificilmente deixarão de pontuar. Eu apostaria numa igualdade, mas a vitória também é perfeitamente possível.
Equipas Prováveis:
OLYMPIQUE DE MARSELHA – Mandanda, Bonnart, Faty, Givet, Taiwo, Cana, Cheyrou, Valbuena, Ziani, Zenden e Niang.
F.C.PORTO – Helton, Bosingwa, Stepanov, Bruno Alves, Fucile, Paulo Assunção, Raul Meireles, Lucho, Cech, Quaresma e Lisandro.
PROBABILIDADES (1X2) – 20% ; 50% ; 30%

Caso queira ainda disputar uma vaga nos oitavos-de-final, o Benfica não tem outra alternativa senão vencer o jogo de amanhã na Luz diante do Celtic.
Com duas derrotas – uma natural, mas outra altamente comprometedora -, os encarnados terão de fazer 10 dos 12 pontos em disputa, para dependerem apenas de si próprios face ao apuramento. É verdade que outras combinações de resultados podem permitir ao Benfica apurar-se com 9 ou mesmo 8 pontos (dois empates e duas vitórias nos jogos que restam), mas sabendo-se que o calendário ainda obriga a visitas a Donetsk, Glasgow e a uma recepção ao campeão europeu Milan, tudo o que não seja uma vitória amanhã deixa a equipa portuguesa praticamente afastada da luta pelos dois primeiros lugares.
Um Benfica desfalcado, ainda à procura da sua nova identidade, recheado de jogadores jovens e sem experiência internacional, com um muito problemático défice de concretização, terá todavia grandes dificuldades em bater uma equipa muito mais madura, com processos de jogo sistematizados e interpretados por internacionais consagrados, e a quem o empate poderá servir na perfeição. Vai ser precisa muita alma, muito sofrimento, muito apoio e muita sorte para a equipa de Camacho alcançar o objectivo e assim acalentar alguma esperança de prosseguir em prova.
Já agora, uma vitória do Milan diante do Shakhtar também dava algum jeito, pois se ninguém acredita que os transalpinos fiquem pelo caminho, é urgente que os ucranianos comecem a ceder pontos.
Equipas Prováveis:
S.L.BENFICA – Quim, Maxi Pereira, Luisão, Katsouranis, Léo, Binya, Rui Costa, Nuno Assis, Cristian Rodriguez, Bergessio e Cardozo.
CELTIC DE GLASGOW – Boruc, O’Dea, Caldwell, McManus, Naylor, Donatti, Brown, Jarosik, Sno, Nakamura e McDonald.
PROBABILIDADES (1X2) – 40% ; 40% ; 20%

A TAÇA QUE OS GRANDES NÃO QUEREM VENCER

Parece que nenhum dos grandes clubes está muito interessado nesta nova e simpática competição do futebol português. Depois da eliminação do F.C.Porto aos pés do modesto Fátima, desta vez foi o Sporting a perder em casa emprestada diante do mesmo adversário, enquanto o Benfica não foi além de um empate caseiro frente ao Vitória de Setúbal, após estar a perder durante cerca de oitenta minutos. Não me surpreenderá que nenhum deles chegue à fase de grupo, e duvido que jogadores e técnicos chorem muito o facto.
Para clubes que disputam as provas europeias, e sobretudo a Liga dos Campeões, esta Taça da Liga retira na verdade mais do que dá. As receitas são irrisórias e o desgaste bastante. Jogadores e técnicos mostram pouca vontade de a disputar, e quando assim é torna-se difícil chegar longe. Tenho pena, pois a ideia é boa, e muito gostaria que o meu clube pudesse conquistar, pelo menos, esta prova - algo em que manifestamente não acredito. O formato foi pensado para favorecer económica e desportivamente os clubes mais pequenos, mas julgo dever merecer desde já uma reflexão, pois a continuar assim acaba por se revelar bastante perturbador para o calendário dos grandes, e sem nenhum deles a fase de grupos não passará de um fiasco mediático e económico, compromentendo o sucesso de toda a prova –porquê, por exemplo, duas mãos nesta eliminatória ?
Estive na Luz, e naturalmente que logo pela constituição das equipas percebi que o Benfica iria ter grandes dificuldades diante de um Vitória na máxima força, e apostado em confirmar o bom início de época que tem feito – e cabe aqui uma nota para salientar o extraordinário balneário que clube sadino certamente tem, que no meio de graves problemas financeiros tem conseguido fazer brilhar quase todos os treinadores que por lá passam, de Norton de Matos a Couceiro, de Rachão e Carvalhal.
Nos primeiros quinze minutos ficou a sensação clara que a equipa principal do Vitória de Setúbal era bem melhor que a segunda equipa do Benfica, sobretudo levando em conta as naturais diferenças de rotina. Foi com naturalidade que Matheus abriu o marcador, ainda que as imagens televisivas revelem ter-se tratado de um lance irregular. Os encarnados reagiram – quase sempre a partir de Katsouranis e Nuno Assis (belas exibições) - procuraram lutar e aproximar-se da área sadina, mas a falta de qualidade e de ritmo de alguns dos elementos em campo não permitiu transformar a vontade em futebol e golos.
Na segunda parte o jogo manteve a toada, com o Benfica à procura da felicidade mas sem grande imaginação, e um Vitória estranhamente prudente e remetido a linhas mais defensivas, claramente satisfeito com a vantagem alcançada. Já ninguém esperava quando o jovem e talentoso Freddy Adu conseguiu estabelecer o empate num belo remate cruzado, deixando assim em aberto a eliminatória para o Bonfim, onde os encarnados "apenas" terão de…ganhar.
Num jogo desta natureza, a curiosidade dos adeptos vira-se naturalmente para a observação dos jogadores menos utilizados. Nesta medida talvez seja oportuno dedicar umas linhas a alguns deles:
LUÍS FILIPE - Não é uma estrela, mas não me parece merecer, de todo, os apupos que as bancadas da Luz lhe devotam. Foi assim com Beto, foi assim com Derlei. Todos os anos alguns auto-intitulados benfiquistas sentem a necessidade de escolher uma “besta negra” para expiar as insuficiências do colectivo. Devo dizer que assisti ao jogo na primeira fila das bancadas, rente ao relvado (o que não é hábito).Durante a primeira parte Luís Filipe jogou a poucos metros de mim, observei-o de perto, pude ver a sua expressão na disputa de cada lance, e em termos de vontade, de entrega e arreganho nada há a apontar ao ex-bracarense. Com mais confiança (a apoio…) pode fazer o lugar.
MARC ZORO- Impressiona pela planta física, mas o jogo não lhe proporcionou uma participação muito constante, pelo que uma avaliação mais rigorosa terá de ficar para próximas ocasiões.
MIGUELITO – Já não é de agora que o vilacondense desperdiça as oportunidades que vai tendo de se afirmar como alternativa a Léo. Tenho para mim que está ainda a pagar a forma, digamos, pouco recomendável como entrou no Benfica (recorde-se que pediu uns dias para pensar, como se se tratasse de um …Rui Costa, isto já depois de anos antes ter confessado o seu portismo), e duvido que alguma vez se venha a libertar desse estigma. Trata-se de um jogador triste, de mal com o papel que desempenha, sem confiança, parecendo resignado ao cumprimento de um contrato. Um dos piores em campo.
FÁBIO COENTRÃO – Ainda com o ritmo do Mundial sub-20, pareceu nos primeiros jogos capaz de se constituir numa boa alternativa, chegando a ser titular. Caiu imenso, revelando-se trapalhão e ineficaz. Tem 19 anos, e bastante futuro, mas talvez fosse bom para ele rodar noutra equipa da 1ª divisão, até para perder um pouco da vaidade e vedetismo que por vezes parece deixar escapar.
BERGESSIO – Chega a dar pena. Para além de alguma dificuldade em acompanhar o ritmo europeu, até tem cultura da posição, protege bem a bola, ocupa e abre espaços, mas na hora de rematar… é o caos. Há quem diga que o falhar golos é o primeiro passo para se encontrar um bom ponta-de-lança, mas a forma como o argentino os desperdiça, de forma reiterada e absurda, não deixa de ser preocupante para um plantel que o tem neste momento como a principal alternativa a Cardozo, que também não tem deslumbrado. Durante o jogo cheguei a interrogar-me: como marcou ele golos na Argentina ?
YU DABAO – Jogando em cunha já se viu na Amadora que não rende. Desta vez apareceu um passo atrás de Bergessio (e depois de Mantorras) e a sua exibição foi um pouco mais positiva. Vi-o jogar nos juniores no final da época passada, e noto-lhe agora uma diferença física assinalável. Talvez ganhasse em ser emprestado, pois tem bastante futuro.
FREDDY ADU – Ameaça tornar-se um caso neste plantel. Tem planta física, tem uma capacidade técnica fora do comum, remata bem e marca golos, faltando-lhe naturalmente, aos 18 anos, cultura táctica e por vezes alguma capacidade de definição dos lances. Nada que não falte também a Di Maria, por exemplo. Vi-o jogar no Mundial de sub-20 (onde o argentino me passou despercebido) e pareceu-me um verdadeiro fora-de-série. Estou em crer que constituirá um teste ao Benfica e a Camacho, a possibilidade de extrair dele tudo quanto o seu enorme potencial pode dar. Para já merece, claramente, mais oportunidades. Porque não na Champions ?
Em resumo, subiram a sua cotação no plantel Adu e Nuno Assis, desceram Miguelito, Coentrão e Bergessio.

Nada vi do Sporting-Fátima para além dos golos. Tendo em conta as razões que expus no início deste texto, o resultado não me surpreendeu assim tanto. Seria todavia injusto subtrair mérito à equipa do professor Rui Vitória, que sem grandes recursos tem feito uma época notável, inscrevendo o nome deste clube no mapa do futebol português.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (10) - Roma-Benfica, 1-2 / 1983

Em cerca de meia centena de presenças nas competições europeias, muitas foram as tardes e noites de glória vividas pelo Benfica. Vitórias de grande significado, momentos históricos, grandes exibições.
Não vivi os títulos europeus do clube, mas desde tenra idade que os mesmos marcaram o meu benfiquismo, o que sinto até pelo fascínio com que sempre acompanhei as competições internacionais, colocando-as normalmente acima da importância das domésticas – não sendo neste particular certamente o convencional adepto português, que gosta é da guerrilha e da rivalidadezinha com o vizinho, amigo ou colega de trabalho, normalmente traduzida nos casos de arbitragem, pois o futebol (e a vida) para mim sempre foi paixão e não ódio, e acho que quem me lê com frequência já deve ter percebido isso.
Sem títulos, foram naturalmente as finais – ou o acesso às mesmas – os momentos de gala da minha vivência clubista. Mas ocasiões houve em que foi o próprio brilhantismo das exibições, e a categoria das vitórias, a marcar as páginas da história. No dia 2 de Março de 1983 viveu-se uma dessas jornadas.
Disputava-se a primeira mão dos quartos-de-final da Taça Uefa – prova em que o Benfica chegaria à final com o Anderlecht -, e o adversário era a poderosa A.S.Roma, recheada de internacionais (onde sobressaia o brasileiro Falcão), que dois meses depois se sagraria campeã de Itália (à frente da Juventus de Zoff, Rossi, Boniek e Platini), e na época seguinte se tornaria vice-campeã europeia, ao perder por penáltis, em pleno Olímpico, a sua única final da Taça dos Campeões para o Liverpool.
Quando meses antes foi sorteado o quadro de jogos, o cepticismo instalou-se entre a generalidade dos observadores. Além de essa ser provavelmente a melhor Roma de sempre, é preciso lembrar que o futebol italiano era na altura o “El Dorado” de tudo quanto era craque à escala mundial. Zico, Sócrates, Platini, Maradona, Rummenigge, entre muitos outros, davam ao Cálcio uma tonalidade de autêntica NBA do futebol internacional, e qualquer uma das suas equipas de topo situava-se num plano claramente acima do pobre potencial do futebol português da altura que, recorde-se, havia quinze anos não chegava a uma única final europeia de clubes, nem a qualquer fase final de selecções, perdurando a este nível a saga de 1966 como a sua única presença internacional de relevo.
A época do Benfica estava no entanto a ser avassaladora. No campeonato nacional seguia de vento em popa, ganhando com clareza e praticando o melhor futebol que alguma vez terá praticado no pós-Eusébio, enquanto que na Taça Uefa levava o impressionante pecúlio de cinco vitórias e um empate em seis jogos. Era a primeira temporada de Eriksson no clube, e o seu talento, inovação e liderança estavam a revolucionar o Benfica e, em certa medida, também o futebol português, que ao longo da década seguinte muito beneficiaria com esse trabalho. Jogadores como Humberto Coelho, João Alves, Chalana, Diamantino, Shéu, Nené ou Carlos Manuel atingiam o seu apogeu competitivo, exprimindo toda a sua capacidade técnica, paralelamente a uma superior condição física e mental incutida pelos métodos do jovem nórdico. Mesmo assim a Roma era, pelos motivos acima descritos, claramente favorita.
A primeira mão foi no Olímpico – ainda de configuração bem diferente da actual -, e não sei bem porquê o jogo disputou-se numa quarta-feira às 14.00 horas. Logo, sendo época escolar, havia aqui um complicado problema para resolver. Depois de puxar pela imaginação, eis que surgiu a luminosa ideia de simular uma gripe – era impensável faltar ao colégio onde andava sem assentimento familiar. Uma má disposição à hora de almoço, um termómetro na axila, e com o maior método e rigor, uma discreta aproximação do mesmo a um aquecedor. 38,5º ! Era tudo o
que precisava. Poucos minutos depois estava de roupão e pantufas na sala diante do televisor. No dia seguinte estaria totalmente recuperado, e mais bem encarado que nunca.
Não me perdoaria a mim próprio para o resto dos meus dias se não tivesse visto um jogo como aquele: o Benfica terá feito “apenas” a sua melhor exibição dos últimos trinta anos. Pelo menos foi assim que ficou inscrito na incontornável força da lenda, mas a realidade não terá andado lá muito longe - Arsenal em 1991, Leverkusen em 1994 ou Liverpool em 2006 são os únicos momentos que talvez se lhe possam comparar.
Não sei se foi da visita ao Papa na véspera, mas tudo saiu bem aos encarnados – que aliás até jogaram de branco. Um futebol de sonho, dois golos plenos de classe, uma vitória incontestável e a eliminatória muito bem encaminhada.
O onze escalado foi o seguinte: Bento, Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes, Álvaro, Shéu, Carlos Manuel, João Alves, Chalana, Nené e Filipovic. Entrariam depois Diamantino e Stromberg. Na Roma, orientada pelo também sueco Niels Liedholm, alinhavam Tancredi, Nela, Vierchowood, Maldera, Di Bartolomei, Prohaska, Toninho Cerezzo, Falcão, Ancelotti, Bruno Conti e Pruzzo. Jogaram também Iorio e Chierico.
Logo de início o Benfica assumiu o controlo do jogo, e perto do intervalo, na sequência de um lance protagonizado por João Alves (o “luvas pretas”), Filipovic abriu o marcador. O golo deu ainda maior tranquilidade à equipa, que próximo do quarto-de-hora da segunda parte, novamente pelo ponta-de-lança jugoslavo – na sua melhor época de sempre, que lhe valeria nove golos na Uefa -, desta vez a cruzamento de Fernando Chalana, avolumou a conta. Nem o golo, de penálti, do capitão romano Angelo Di Bartolomei já nos instantes finais retirou o brilho a uma tarde de sonho. Quinze dias mais tarde a Roma puxou dos galões e quase silenciava a Luz. Conseguiu empatar 1-1, desperdiçando uma grande ocasião de golo nos últimos instantes, mas já era tarde para os italianos. O resultado da primeira mão revelara-se-lhes fatal. O Benfica seguia em frente, eliminaria também o Universitatea Craiova, caindo apenas na final aos pés do melhor Anderlecht de todos os tempos.
Não sei se o jogo já alguma vez passou na RTP Memória. Se alguém tiver uma gravação eu adoraria revê-lo, 24 anos depois. Termino com as palavras do médio João Alves acerca dessa partida: «Foi o meu jogo mais marcante, a nível internacional, uma final antecipada. A Roma na altura estava na mó de cima, era uma grande equipa, composta por grandes internacionais, no meio-campo tinham o Prohaska e o Falcão, que eram as estrelas da companhia, e ainda o Bruno Conti. Lembro-me que a comunicação social deu destaque aos jogadores que, de um lado e do outro, tinham a batuta da equipa, no caso do Benfica eu, no caso da Roma o Falcão. Era também a primeira vez que o Eriksson, como treinador sueco, ia defrontar o Nils Liedholm, que também era sueco. Fizemos um jogo fantástico, quase um jogo perfeito. Sei que estive ligado aos dois golos, fiz um passe para o primeiro golo de Filipovic e também estive no segundo. O que foi mais marcante é que quem esteve nos lances dos golos, eu e o Filipovic, não jogou depois a final com o Anderlecht. Pela imponência do Estádio Olímpico, pela quantidade de jogadores de grande nomeada, foi um jogo inolvidável. Fiz uma exibição, passe o auto-elogio, excepcional, a equipa também jogou que foi uma maravilha, só assim é que podíamos ganhar o jogo a uma formação daquela categoria onde também jogavam o actual treinador do Milan, o Ancelotti, e o di Bartolomei. Foi talvez uma das exibições mais perfeitas que fiz e mereci os elogios da comunicação social italiana e portuguesa. Foi um jogo onde tudo saiu bem.»
Que sirva de inspiração para o Sporting…
Fotos: "Memórias Encarnadas", "ASRultra" e Diversos


O PERIGO ESPREITA

Basta olhar a capa de alguns jornais, ou ouvir as opiniões de alguns comentadores, para se perceber que, depois de duas vitórias consecutivas, o triunfalismo está de novo instalado em redor da selecção nacional.
Ao longo da nossa história desportiva tem sido recorrente acusar-se os jogadores lusos de demasiada descontracção em momentos de menor pressão, mas a verdade é que os adeptos e, sobretudo, jornalistas e comentadores, também nada ajudam.
Só espero que Scolari saiba isolar os seus jogadores de todo este foguetório que coloca, de forma leviana e precipitada, a equipa nacional na fase final, quando faltam ainda dois jogos, um deles contra um adversário directo - uma verdadeira final em que será absolutamente proibido falhar -, que por acaso na última vez que nos visitou (em 2002) venceu no Bessa por claros e expressivos 0-4 (!!).
É pois necessário afirmar, com todas as letras, de forma bem vincada que Portugal AINDA NÃO ESTÁ APURADO !

A SITUAÇÃO GRUPO A GRUPO

A fase de qualificação para o Euro 2008 aproxima-se do fim. Há já algumas selecções apuradas, enquanto que outras terão de enfrentar ainda embates decisivos ou mesmo dramáticos. É agora altura de fazer um ponto de situação sobre os vários grupos:
GRUPO A – A Polónia está praticamente apurada, bastando-lhe para isso vencer em casa a Bélgica. Portugal, como sabemos, necessita de quatro pontos, ficando dependente de terceiros caso não os conquiste. Finlândia e Sérvia dependem de terceiros – os finlandeses dos sérvios, e estes dos portugueses.
GRUPO B - Enquanto que à França basta um empate (ou nem isso) na Ucrânia para garantir o apuramento, o Escócia-Itália da próxima jornada vai decidir o outro qualificado. O empate em principio basta aos campeões do mundo, mas se a Escócia vencer apura-se de imediato.
GRUPO C – A Grécia está matematicamente apurada. O Noruega-Turquia poderá decidir quem acompanha os gregos. Em caso de vitória dos nórdicos a questão fica arrumada. A Turquia terá de ganhar para poder depender de si na última jornada.
GRUPO D – Tudo decidido. Alemanha e República Checa estão na fase final.
GRUPO E – É aqui que poderá residir a grande surpresa com o eventual afastamento da Inglaterra. A equipa de Lampard, Gerrard, Rooney, Terry e companhia, terá de vencer a Croácia na última partida, e mesmo assim fica dependente dos resultados desta e da Rússia. Aos croatas basta um empate frente à Macedónia, mas os russos terão de vencer em Israel para depois selarem o apuramento em Andorra. Israel ainda tem também hipóteses matemáticas, embora bastante remotas.
GRUPO F – Espanha e Suécia estão à beira do apuramento. Defrontam-se na próxima jornada ao mesmo tempo que Irlanda do Norte e Dinamarca. Se qualquer um dos dois jogos terminar empatado, espanhóis e suecos avançam desde logo para o Euro, caso contrário terão apenas de pontuar na última jornada, em que jogam ambos em casa.
GRUPO G – A Roménia está qualificada. À Holanda basta vencer em casa o Luxemburgo na próxima ronda. A Bulgária fica à espera de um milagre para ter ainda hipóteses de discutir o apuramento.
Em resumo digamos pois que, além das anfitriãs Áustria e Suiça, e das já apuradas Roménia, Grécia, República Checa e Alemanha, têm fortes hipóteses de estar na fase final do Euro 2008 as selecções de: Portugal, Polónia, França, Itália, Noruega, Croácia, Rússia, Espanha, Suécia e Holanda.