DESPUDOR E IMPUNIDADE

As nomeações de árbitros para as últimas jornadas da Liga custam-se a entender, e deixam no ar sinais de preocupação evidentes.
Em dois fins-de-semana quase consecutivos, Lucílio Baptista - funcionário do BES onde Filipe Soares Franco tem a influência que se sabe, e com um impressionante histórico de protecção aos leões – encarregou-se de subverter por completo a classificação. Primeiro no Bessa, empurrando com uma arbitragem pornográfica - duas grandes penalidades por assinalar - o Benfica para baixo, depois em Alvalade, puxando o Sporting para cima com um penálti inexistente que deu início à reviravolta no marcador.
Agora, para a penúltima e provavelmente decisiva jornada, anunciam-se dois nomes que só podem gerar as maiores reservas. Bruno Paixão estará na Mata Real para apitar o Paços-Sporting, enquanto Pedro Proença foi o escolhido para o jogo da Reboleira, onde conduzirá o Estrela-Benfica.
Bruno Paixão não é nem mais nem menos o juiz que, há poucas semanas atrás, invalidou de forma grotesca um golo ao Sp.Braga em Alvalade, lance no qual só a sua má fé possibilitaria ver algo que mais ninguém viu. Foi ele também que dirigiu a última Supertaça (Sporting-F.C.Porto), na qual, perdoando um penálti aos leões nos últimos minutos, lhes garantiu a conquista do troféu, originando grandes protestos dos portistas
Pedro Proença por seu lado, tem toda uma história de graves prejuízos ao Benfica.
A primeira arbitragem que me lembro deste homem foi em Dezembro de 2001, no Bessa, uma semana depois do célebre penálti de Jardel no Benfica-Sporting. Os encarnados, que já haviam sido impedidos por Duarte Gomes de chegar ao primeiro lugar, viram Pedro Proença dar-lhes a machadada final oito dias depois, ao não assinalar uma das mais claras grandes penalidades de que me lembro, sobre Simão Sabrosa, jogo que ditaria o despedimento de Toni do comando técnico benfiquista. Nessa temporada, com cerca de vinte grandes penalidades assinaladas a favor (só contra o Benfica foram duas, ambas ridículas, uma na Luz outra em Alvalade), o Sporting foi campeão nacional e Jardel ganhou a Bota de Ouro.
No primeiro derby disputado no novo Estádio da Luz, em Janeiro de 2004, com ambas as equipas ainda na luta pelo título, Pedro Proença conseguiu ver uma grande penalidade logo nos primeiros minutos, num lance em que o brasileiro Silva se atirou para o chão sem que Moreira sequer lhe tocasse, penálti que acabou por permitir a Rochembach abrir o marcador. Ainda nesse jogo, e já depois de ter validado o segundo golo leonino em posição duvidosa, e de ter expulsado um jogador benfiquista, voltou a ver penálti já perto do fim da partida num inócuo lance dividido entre Ricardo Rocha e Liedson, que Sá Pinto depois concretizou no 1-3 final, pondo fim à pressão benfiquista em busca do empate.
Em 2004-05, Pedro Proença voltou a imiscuir-se de forma desavergonhada na luta entre Benfica e Sporting, em prejuízo do primeiro e benefício do segundo.
Uma semana antes do derby da Luz resolvido por Luisão, os encarnados deslocaram-se a Penafiel levando três pontos de vantagem na classificação. Foi Pedro Proença que remeteu o Benfica para o segundo lugar – obrigando-o assim a vencer o Sporting - subtraindo-lhe esses três pontos, com uma das piores arbitragens que me recordo em anos e anos de campeonato.
Quatro ! Quatro foram os lances de grande penalidade, dois dos quais claros, e um deles no último minuto de descontos, aos quais Pedro Proença fez vista grossa, derrotando assim o Benfica,
e comprometendo seriamente as hipóteses de conquista de um dos títulos mais importantes da história do clube, que felizmente acabou por, mesmo assim, ser alcançado. Nunca esquecerei a revolta que aquela arbitragem me causou, e a desilusão com o próprio futebol que senti nessa noite.
Em 2005-06 foi ele que começou a afastar o Benfica do título, com mais uma arbitragem tendenciosa. Em jogo com o Belenenses na Luz, não assinalou uma grande penalidade por falta cometida sobre Nuno Assis, subtraindo assim dois pontos aos encarnados, que não foram além do 0-0.
Já nesta temporada, no Benfica-Marítimo da primeira volta, Pedro Proença fez vista grossa a um penálti claro por falta cometida sobre Léo, que não fosse o milagroso golo de Freddy Adu nos últimos instantes, retiraria mais dois pontos aos encarnados.
Com todo este passado, o mais certo é que vá ser ele o décimo segundo adversário do Benfica na Amadora.
Esta luta está cada vez mais adulterada. Nas últimas semanas tem-se assistido a tudo, e tudo tem passado impune. O Sporting faz parte da direcção da Liga de Clubes, Vítor Pereira, responsável pelas nomeações, é emblema de ouro do Sporting, Hermínio Loureiro é sportinguista, os principais patrocinadores da liga são dados como muito próximos do clube de Alvalade, e até na comunicação social, no que toca a análises sobre arbitragem, a influência dos leões se faz sentir sobremaneira, sobretudo através da omnipresença de Jorge Coroado – que uma vez até expulsou um jogador do Benfica num derby com apenas um amarelo.
De facto, choro aqui, choro ali, o Sporting tem-se paulatinamente tornado no clube claramente mais protegido pelos homens do apito. Esta segunda volta tem sido verdadeiramente escandalosa, e só o F.C.Porto dos velhos tempos terá conseguido tanta benesse. Conforme disse há dias, mais valia não burlar os espectadores e dar desde logo os cinco milhões de euros da Champions a Soares Franco e ao Sporting.
Gostaria de terminar este texto com um tom optimista, mas na verdade creio que a luta pelo segundo lugar está decidida. E da pior forma possível: pela mentira !
Atente-se nos resultados de jogos de leões e águias dirigidos por estes dois juizes nos últimos anos:

Duas outras notas curiosas: esta época foram já assinalados nove (!!!) penáltis a favor do Sporting - mais do que a Benfica, F.C.Porto e V.Guimarães todos juntos. E só em Alvalade, foram já expulsos quatro (!!) guarda-redes adversários...

CATALÃES NÃO MESSIAM CAIR

O Manchester United garantiu sem especial brilhantismo a presença na terceira final da Liga dos Campeões do seu historial. Ao longo dos cento e oitenta minutos da eliminatória, o Barcelona exibiu melhor futebol, atacou mais, teve mais posse de bola, e desfrutou de mais oportunidades, diante de um conjunto inglês aparentemente algo fatigado, o que contrasta claramente com a performance doméstica de ambos os clubes ao longo desta época.
No jogo de ontem, o Manchester limitou-se a ser mais eficaz ao conseguir um golo, algo que o Barcelona muito ameaçou mas não logrou alcançar. Os minutos finais foram de verdadeiro sufoco para a equipa de Alex Ferguson, e muito se terá suspirado em Old Trafford quando o árbitro apitou pela última vez.
No duelo particular entre Ronaldo e Messi, o segundo mostrou estar em melhor forma, e foi dos seus magníficos pés que saíram a maior parte das acções ofensivas dos catalães. Nota de optimismo para a selecção nacional é a clara subida de forma de Deco, que parece a caminho do seu melhor – e sabe-se a importância que ele tem no onze de Scolari.Em Moscovo será a primeira vez que dois clubes ingleses se encontrarão na final da Champions. Hoje Chelsea e Liverpool discutem em Stanford Bridge a outra vaga.

O QUE VALE O TERCEIRO LUGAR

Numa altura em que se acende a luta pelos lugares de acesso à Champions League, importa perceber a real diferença entre ficar em segundo ou em terceiro, que é como quem diz, conhecer aquilo que espera a equipa que representar Portugal na terceira pré-eliminatória da prova.
Para já há desde logo uma diferença entre os clubes lisboetas e o Vitória de Guimarães. Enquanto Benfica ou Sporting serão seguramente, qualquer deles, cabeças-de-série, os minhotos não têm qualquer hipótese de o ser, o que os colocaria, em caso de serem eles os terceiros, manifestamente mais longe do sonho de integrar a nata europeia de clubes.
Vejamos o provável lote de adversários de Benfica ou Sporting:
Sparta de Praga, Dínamo de Kiev, AEK de Atenas, Slavia de Praga, Galatasaray, Partizan de Belgrado, CSKA de Sófia, Dínamo de Zagreb, Wisla Cracóvia, Standard de Liege, MTK de Budapeste, Cluj, Aalborg, Rapid de Viena, Young Boys e Hereenveen.

Se atentarmos aos clubes que o Vitória de Guimarães pode apanhar pela frente, percebemos bem do que estamos a falar:
Liverpool, Arsenal, Juventus de Turim, F.C.Barcelona, Schalke 04, Glasgow Rangers, Celtic de Glasgow, Olympique de Marselha, Olympiakos, Ajax de Amsterdão, Fenerbahce, Shakhtar Donetsk, Anderlecht, Spartak de Moscovo, Atlético de Madrid e Fiorentina ( ou Milan).

Pode-se pois concluir que o futebol português tem objectivamente a ganhar caso o Vitória fique fora destas contas. Essa poderá muito bem ser a diferença entre termos, pelo terceiro (e último) ano consecutivo três equipas na Champions League, ou termos apenas duas.
De referir que alguns dos adversários considerados estão ainda, como é óbvio, sujeitos a confirmação. Se por um lado a maioria dos campeonatos ainda não terminou, por outro, haverá que aguardar o desfecho das primeiras pré-eliminatórias, onde poderão cair alguns dos clubes acima referidos.
Há também ainda alguns perigos à espreita. Fiorentina e Atlético de Madrid poderão ser adversários de clubes cabeças de série, caso mantenham os respectivos quartos lugares, bastando para isso que o Basileia se sagre campeão suíço (tem os mesmos pontos que o Young Boys a três jornadas do fim) e que o Ajax vença o play-off de acesso na Holanda, que disputará com Heerenveen, NAC Breda e Twente – se ocorrer apenas uma destas condições, serão os colchoneros a integrar o lote de possíveis adversários de Benfica ou Sporting.
Importa reter também que Benfica e Sporting, caso se apurem directa ou indirectamente para a fase de grupos, integrarão juntamente com o F.C.Porto o pote 2 do sorteio. O Vitória de Guimarães, se se qualificar, partirá naturalmente do pote 4.

QUE SE PASSA COM ELE ?

A LUTA PELA CHAMPIONS


VEDETA DA JORNADA

RICARDO QUARESMA: Ao destacá-lo pretende-se também destacar toda a equipa do F.C.Porto pela forma séria e brilhante como se apresentou em Guimarães. Alheios ao coro de insinuações que foram grassando ao longo dos últimos dias, os portistas puxaram dos seus galões de campeão e, sobretudo na segunda parte, partiram para uma das melhores exibições e um dos melhores resultados da temporada.
Quaresma foi quase sempre o motor da cavalgada dos dragões, parecendo querer voltar aos seus melhores dias, o que em vésperas de Europeu não deixa de ser uma excelente notícia para todos os portugueses.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Na Luz, a expulsão de Hugo Alcântara não deixou dúvidas, não tendo havido mais nenhum caso digno de nota.
Em Guimarães, um dos golos portistas parece ser irregular, mas com uma vitória tão robusta torna-se inócuo atribuir-lhe grande relevo.
Já em Alvalade, Lucílio Baptista – que nomeação tão estranha…- participou directamente na vitória sportinguista, ao assinalar um penálti que foi muito mais construído por Romagnoli do que pelo defensor funchalense. Numa altura em que o Sporting perdia e denotava dificuldades em reagir, o lance acabou por ser capital no desfecho da partida e, quem sabe, do campeonato. O árbitro setubalense voltou pois a ser protagonista numa luta que, ele próprio, por si só, tem desvirtuado em absoluto. Outra coisa não seria de esperar de um juiz cujo currículo desaconselharia de todo a presença em jogos do interesse do Sporting, clube que parece não ter qualquer pudor em proteger abertamente.
Classificação actualizada:
F.C.PORTO 65
Benfica 55
Sporting 49

SEM CONVENCER

De golos estranhos se pintou a vitória do Sporting diante do Marítimo. Ao desentendimento entre Polga e Patrício, bem aproveitado por Fogaça logo na alvorada do encontro, responderam os leões com um penálti muito duvidoso, e com uma feliz carambola que valeu a vitória. Ambos os lances interpretados por Romagnoli.
O jogo foi fraquinho, ficando sempre a sensação de que, com um pouco mais de ambição, os insulares poderiam ter alcançado outro resultado.
A vitória leonina leva a equipa ao tão ansiado segundo lugar, tendo agora que demonstrar em Paços de Ferreira, e na última jornada diante do Boavista, que merece efectivamente uma qualificação directa para a Liga dos Campeões. Qualquer descuido pode-lhe ser fatal.

À CAMPEÃO !

Se dúvidas havia quanto ao empenho dos jogadores do F.C.Porto na sua visita a Guimarães, a exibição realizada, e o impressionante resultado conseguido, encarregaram-se de as dissipar em absoluto.
Num jogo em que tinham quase o país inteiro a torcer por eles, os campeões foram iguais a si próprios, deram uma lição de profissionalismo a todos os que deles desconfiavam, e arrasaram a equipa vimaranense, demonstrando uma vez mais a inequívoca superioridade que passearam ao longo de toda esta edição da Liga.
A segunda parte portista foi avassaladora, sendo desta vez Quaresma o impulsionador maior da torrente de futebol que foi levando, golo após golo, a um resultado para a história. Se não se ouviu tango em Guimarães, ouviu-se fado, e umas sevilhanas aciganadas do melhor que soou pelos relvados portugueses esta época.
Sem nada a ganhar nem a perder, o F.C.Porto tem conseguido um registo espantoso de vitórias, encontrando, sabe-se lá onde, a motivação necessária para se manter a alta velocidade, rumo a uma diferença pontual que não pode deixar de envergonhar a concorrência.
O Vitória de Guimarães, que se desloca ao Restelo no próximo domingo, tem agora vida difícil para alcançar o sonho de uma presença na liga milionária. Recorde-se que, ao contrário de Sporting e Benfica, os vimaranenses não poderão ser cabeças de série numa eventual pré-eliminatória, o que, em teoria, os afasta ainda mais do ambicioso objectivo de se juntar à elite europeia de clubes.

A CRISE PODE ESPERAR

Independentemente de todas as conjecturas que se possam fazer acerca da exibição do Benfica neste jogo diante dos azuis do Restelo, há um dado inegável que deve ser destacado: os jogadores do Benfica mostraram uma enorme vontade de vencer, dissipando dúvidas e especulações que se começavam a criar em torno de eventuais problemas de balneário, falta de profissionalismo de alguns deles ou de relações mais ou menos tensas com a equipa técnica.
Desde o primeiro minuto que os encarnados partiram em busca do único resultado que lhes servia naquele que era, teoricamente, o mais difícil dos três jogos que faltavam para terminar a Liga. A pressão foi, durante largos minutos, bastante intensa, as oportunidades apareceram, mas alguma falta de discernimento no momento da finalização, e a grande exibição do guarda-redes azul foram impedindo o golo.
Só à beira do intervalo o Benfica enfim marcou, quando já antes justificava a vantagem, não querendo isto dizer que o Belenenses tivesse até então jogado mal ou abdicasse de procurar a baliza de Quim – na verdade também o guardião encarnado teve ocasião para brilhar.
No início do segundo tempo a equipa de Chalana foi obrigada a sofrer. Mostrava a mesma vontade, a mesma entreajuda, mas as coisas manifestamente não saiam bem, talvez fruto de uma ansiedade mal disfarçada, e de certo modo compreensível face ao que se tem passado nas últimas semanas. Foi altura de o Belenenses tentar tudo no ataque, mas aí tem de dizer-se que a sorte protegeu os encarnados, designadamente num inacreditável lance em que a bola foi por duas vezes beijar o poste da baliza de Quim.
Esta fase foi ultrapassada com o fantástico golo de Cardozo, que devolveu a calma a jogadores e adeptos, representando por outro lado um enorme safanão na esperança da equipa de Jesus em virar o resultado. A expulsão de Hugo Alcântara acabou com o jogo.Com este resultado o Benfica pode e deve aproveitar para se tranquilizar, procurando encher baterias para as duas partidas que faltam, e nas quais se pode decidir o seu destino. Creio que se os encarnados vencerem os dois jogos, pelo menos o terceiro lugar talvez acabe por pingar para a Luz. E nos tempos que correm, uma presença na pré-eliminatória da Champions deverá ser motivo para festejos

UM BENFICA PARA 2008-09

GUARDA-REDES: 12 Quim, 1 Moreira e 24 Bruno Costa
DEFESAS: 22 João Pereira (ex Braga), 4 Luisão, 33 Ricardo Rocha (ex Tottenham), 5 Léo, 2 Luís Filipe, 16 David Luíz, 3 Geromel (ex Guimarães) e 8 Jorge Ribeiro (ex Boavista)
MÉDIOS: 6 Petit, 10 Tiago (ex Juventus), 14 Maxi Pereira, 11 Cristian Rodriguez, 25 Nuno Assis, 17 Binya, 15 Ruben Amorim (ex Belenenses) e 19 Tiago Gomes (ex E.Amadora)
AVANÇADOS: 7 Óscar Cardozo, 20 Di Maria, 30 Freddy Adu, 18 Makukula, 21 Nuno Gomes e 9 Mantorras

TREINADOR: Carlos Queiroz
ADJUNTO: Rui Águas
VENDER: Butt, Moretto, Nelson, Edcarlos, Andrés Diaz, Zoro e Katsouranis.
EMPRESTAR: Sepsi, Halliche, Miguel Vítor, Wagner, Pedro Correia, Ruben Lima, Miguelito, Sretenovic, Felipe Bastos, André Carvalhas, Romeu Ribeiro, João Coimbra, Fábio Coentrão, Abdoulaye, David Simão, Jailson e Yu Dabao.
OUTRAS POSSÍVEIS OPÇÕES: Janício (V.Setúbal), Marcelão (Boavista), Rodrigo Alvim (Belenenses), Desmarets (V.Guimarães), Dica (Steaua), Linz (Sp.Braga), Weldon (Belenenses) e João Ribeiro (Naval)

DOIS EMPATES; MAS UM MAIS EMPATE QUE OUTRO


O equilíbrio foi a nota dominante da primeira-mão das meias-finais da Liga dos Campeões, cujos jogos terminaram ambos empatados.
Em termos de futebol jogado, Liverpool e Barcelona estiveram mais fortes. Mas isso pouco conta em combates desta natureza, que normalmente acabam decididos por pequenos detalhes – um penálti falhado, um auto-golo…
Se o empate 1-1 obtido com grande felicidade pelo Chelsea em Anfield Road, deixa o Liverpool obrigado a vencer fora, e a antiga equipa de Mourinho em excelentes condições para alcançar a primeira final da sua história, já o 0-0 de Camp Nou favorece ligeiramente o conjunto catalão, que não sofrendo qualquer golo em sua casa obriga o Manchester a vencer o jogo da segunda mão para chegar à final de Moscovo. Ou seja, tendo à partida as equipas de Ferguson e Benitez alguma dose de favoritismo para esta eliminatória, pode dizer-se que as coisas se inverteram nestes jogos, sobretudo no segundo caso, com o Chelsea a conseguir uma vantagem deveras importante.
Ambos os jogos foram extremamente disputados, jogados a alta velocidade, e embora as ocasiões de golo não tenham abundado, pudemos ainda assim assistir a excelentes espectáculos de futebol, como aliás já era de esperar de tão ilustres protagonistas. Destaque para o penálti falhado por Cristiano Ronaldo, que pode vir a ter um muito elevado custo – enquanto português espero que não venha a ser esse lance a fazer a diferença, à semelhança do que ocorreu há alguns anos com Luís Figo num Juventus-Real Madrid.
Tudo em aberto para a segunda mão, que promete mais duas noites de futebol ao mais alto nível, nesta que é inegavelmente a mais bela competição de clubes do mundo.

MELHORES MARCADORES DA CHAMPIONS LEAGUE 2007/2008:

CRISTIANO RONALDO (Man.United) 7 golos

Leo Messi (Barcelona) 6 "

Steven Gerrard (Liverpool) 6 "

Fernando Torres (Liverpool) 5 "

Dirk Kuyt (Liverpool) 5 "

A GRANDE ILUSÃO

Manuel Damásio foi um dos piores presidentes da história do Sport Lisboa e Benfica.
Foram dele algumas das maiores machadadas no grande Benfica do passado, e após a sua passagem pela direcção, não mais o clube voltou a ser o que era. Se nos cingirmos aos aspectos desportivos terá até ultrapassado, pela negativa, o negro consulado de João Vale e Azevedo, a quem de resto abriu as portas – quem não se recorda do desmantelamento de uma equipa campeã, das dispensas de Mozer, Veloso, Vítor Paneira e Isaías, das contratações de King, Luíz Gustavo, El Hadrioui, Leónidas, Paulão ou Pringle, ou dos seis treinadores em três anos ?
Pois é precisamente este homem que agora aparece a defender uma alteração radical do modelo institucional do Benfica, apontando a privatização da maioria do capital da SAD como a solução para todos os males.
Trata-se de uma mistificação total. Por várias razões, algumas das quais referidas num artigo que escrevi para a revista “Futebol Português” no verão passado, a propósito da OPA de Berardo.
Em primeiro lugar o problema principal do Benfica não é de dinheiro, sendo a área financeira inclusivamente aquela em cuja acção de Luís Filipe Vieira tem sido mais frequentemente elogiada.
Em segundo, uma alteração no sentido pretendido por Damásio, sobretudo num clube de matriz popular como o Benfica, acarreta riscos tremendos, até porque Abramovichs não há muitos, e o que não falta por aí são Sérgios Silvas, Jesus Gil ou Bernard Tapies, dispostos a, num golpe mais ou menos dentro da lei, instrumentalizar o clube em função dos seus interesses privados.
Finalmente, porque ao contrário do que diz o antigo presidente, está longe de ser uma evidência que aquele seja o modelo mais bem sucedido, até mesmo em termos económico-financeiros, ou não fosse o Real Madrid – de raiz eminentemente associativa - o clube mais rico do mundo. Aliás, resulta claro que a força financeira dos clubes mede-se pelo mercado em que se inserem, pela competência da gestão, e nunca pela forma como está distribuída a sua estrutura accionista.


A instabilidade que atravessa o Benfica tem origem em duas questões fundamentais, uma de âmbito desportivo, e outra, eu diria, cultural.
No primeiro caso está a política desportiva errática que Luís Filipe Vieira tem seguido, por vezes subjugada a critérios economicistas, e quase sempre negligenciando os timings próprios da construção e crescimento de uma equipa de futebol. Por outro lado temos – também com algumas culpas de Vieira e do seu discurso populista - uma expectativa dos associados e adeptos completamente desproporcionada ao potencial actual do clube, exigindo reviver glórias antigas para as quais o Benfica de hoje não está – nem vai estar tão depressa – preparado, não propriamente por falta de recursos financeiros, mas devido ao défice de organização e profissionalização em que se deixou cair na última década, e para o qual Damásio bem contribuiu.
É no cruzamento destes dois aspectos que navega a crise benfiquista. Se o primeiro se resolve eventualmente com um bom director desportivo e algum tempo para trabalhar – e aqui há que dar oportunidade a Rui Costa de mostrar o que vale fora dos relvados -, já o segundo carece de um enorme esforço dos associados, que terão de interiorizar que o Eusébio já deixou de jogar há muito, que hoje o Benfica é um clube pequeno a nível internacional, e claramente ultrapassado pelo F.C.Porto entre portas, tendo de percorrer um longo caminho se quiser voltar a ser o que já foi.
Não é num qualquer D.Sebastião, com uma mala cheia de dinheiro e um espírito cheio de generosidade, que reside a solução para o Benfica, mas sim num trabalho sólido, competente e alicerçado num forte apoio dos associados. Achar que a abertura da maioria do capital a investidores externos resolve algum daqueles problemas, é de uma ingenuidade total, e é uma ideia profundamente perigosa para o futuro do Benfica. Até porque avançar por aí é fácil, mas voltar mais tarde atrás seria impossível. E nem valeria a pena fazer manifestações para antecipar eleições, pois estas simplesmente deixariam de existir.

VEDETA DA JORNADA

LISANDRO LOPEZ: É impressionante a época que este argentino tem estado a realizar. A sua força atlética, a intensidade competitiva que põe no seu futebol, e a eficácia concretizadora de que dá mostras semana a semana, elevam-no ao trono das grandes figuras desta temporada, lugar que eventualmente apenas partilhará com o seu compatriota e colega Lucho Gonzalez.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Foi uma jornada praticamente sem casos, pelo que a classificação não sofre qualquer correcção:
F.C.PORTO 65
Benfica 52
Sporting 48

QUEM DÁ O QUE TEM...

Ninguém esperaria decerto que, dado o momento que Benfica e F.C.Porto atravessam, os encarnados pudessem fazer muito mais do que fizeram nesta deslocação ao Dragão.
Para defrontar um F.C.Porto campeão e senhor de uma vantagem pontual e futebolística exuberante, o Benfica apresentou-se a meio de uma das suas mais graves crises dos últimos tempos, vindo de duas derrotas consecutivas, e alvo de profunda contestação a todos os níveis da sua hierarquia.
Uma derrota era esperada, uma goleada era inclusivamente temida. A derrota por 2-0, dadas as circunstâncias, não envergonha o clube, e com o resultado do Sporting em Leiria acaba por não ter grandes consequências na luta pelo acesso à Champions. Afinal de contas, depois daquela que seria a mais problemática jornada para os encarnados, as coisas ficaram mais ou menos como estavam, se bem que o V.Guimarães, com o ponto obtido em Coimbra, se tenha afastado ligeiramente.
No jogo do Dragão viu-se um Benfica pobre mas honrado, a lutar esforçadamente pelo resultado, e a tentar disfarçar como podia as suas enormes debilidades. Um golo sofrido na alvorada da partida nada ajudou a missão benfiquista, mas nem mesmo assim a equipa deu sinais de perder a cabeça, realizando uma primeira parte de nível muito razoável, ao longo da qual poderia mesmo ter chegado à igualdade.
Na segunda parte o F.C.Porto entrou com outra energia, e a pouco e pouco veio ao de cima a sua maior qualidade colectiva e individual. Contudo, com o resultado tangencial a manter-se, a esperança num golpe de sorte que proporcionasse o empate e o retorno ao terceiro lugar afigurava-se legítima. O segundo golo de Lisandro a dez minutos do fim acabou com o jogo, e a partir de então, para ambas as equipas, tratou-se apenas de esperar pelo último apito de Bruno Paixão.

Se havia dúvidas sobre a entrega e o profissionalismo dos jogadores benfiquistas, elas terão ficado dissipadas. A equipa lutou, entregou-se, tentou ser feliz, mas objectivamente não tinha condições de fazer mais do que fez, e que, neste momento, é de todo insuficiente para vencer um todo poderoso F.C.Porto, campeão incontestado, ultra-confiante e jogando perante um público empenhado em fazer prossseguir o clima de festa que se tem vivido no reino do dragão.
Em termos individuais o destaque vai naturalmente para Lisandro, intérprete principal da vitória portista, se bem que Raul Meireles também tenha estado em bom plano. No Benfica, Rodriguez e Rui Costa terão sido os mais constantes.
Não se deu pela arbitragem.
Os encarnados estão a um ponto do terceiro lugar, e a desvantagem que tinham em termos de calendário terá ficado dissipada após esta jornada. Se o segundo posto continua a ser bastante difícil de alcançar, quanto à luta pelo terceiro – de acesso à pré-eliminatória -, mau grado a derrota, até se poderá dizer que o Benfica sai desta ronda com a sua posição reforçada. É necessário sobretudo que a equipa limpe a cabeça, e tenha tranquilidade em seu redor. Ganhando os três jogos que faltam, julgo haver francas hipóteses de, com o segundo ou o terceiro lugar, poder estar na Liga dos Campeões da próxima época.

NAUFRÁGIO NO LIS

Nem o mais pessimista dos adeptos do Sporting imaginaria que, depois da épica noite da passada quarta-feira, os leões se afundassem de tal forma na deslocação a casa do último classificado da Liga.
Talvez deslumbrados, talvez cansados, os jogadores do Sporting entraram em campo com pouco mais do que as suas camisolas, confiantes que, tarde ou cedo, os golos e a vitória acabariam por lhes sorrir. Foram surpreendidos por uma equipa leiriense empenhada em mostrar o seu valor e a sua dignidade, e que, com dois golos de rajada à passagem do primeiro quarto-de-hora, tornou a vida dos leões extremamente difícil.
Não é todos os dias que se recupera de uma desvantagem de dois golos ao intervalo. Muito menos quando se faz tão pouco para que isso possa suceder.
Ao longo da segunda parte o Sporting teve algumas oportunidades, mas a falta de discernimento, e eventualmente também alguma ansiedade, não lhe permitiram concretizar, e assim tentar encetar a recuperação. O União de Leiria nunca deixou de contra-atacar e de levar perigo até às imediações da baliza de Rui Patrício, e já perto do fim acabou por resolver a contenda, elevando-a a números inimagináveis.
Não se pode prever que consequências terá este resultado no estado anímico de um Sporting que entrava para esta jornada em alta, e sai dela com a maior goleada sofrida na época. O próximo jogo em Alvalade, frente a um Marítimo confiante e vindo de uma sequência de bons resultados, poderá dar a resposta. Mas a equipa de Paulo Bento terá perdido ontem soberana hipótese de colocar um quase ponto final na questão do segundo lugar, e levantou sérias dúvidas sobre a sua consistência física e anímica, aspecto determinante quando a pressão dos momentos decisivos se começa a fazer sentir.

APELO AO BOM SENSO

As movimentações no sentido de promover uma manifestação, já neste sábado, para pedir eleições antecipadas no Benfica, obrigam-me a tomar uma posição, que é também um apelo à calma dos benfiquistas.

Qualquer decisão em cima de uma derrota é precipitada e carece de reflexão fria e lúcida.
Não faz sentido criticar um presidente e uma direcção por tomarem decisões avulso, baseadas em estados de alma, e depois pretender fazer o mesmo relativamente a eles.
Analisemos tranquilamente a situação, o que está em cima da mesa, as alternativas, os perigos – que também os há -, e depois de tudo devidamente ponderado, será então o momento de estimular a mudança. Nunca a poucas horas de um jogo com o F.C.Porto, e quando ainda há hipóteses de conseguir um acesso à Liga dos Campeões.

Não deixemos que seja a frustração a tomar as decisões.

PORQUE NÃO VOA A ÁGUIA ?

Mais uma derrota, mais uma desilusão. O Benfica caminha para o final de uma das mais negras épocas desportivas da sua história.
Muito haverá que dizer nos próximos tempos sobre o que terá estado na origem deste fracasso, e será dever dos benfiquistas procurar encontrar soluções para reerguer aquele que ainda é o maior clube português, qualquer que seja o critério que adoptemos. Para já importa começar por analisar aquilo que se tem visto em campo, e detectar aquelas que têm sido as principais carências do futebol apresentado por este Benfica - algumas delas estiveram bem patentes ainda ontem- nos penosos tempos que ultimamente vem atravessando
Vejamos então os onze aspectos que se me afiguram determinantes nas pobres prestações da equipa:
1- Equipa demasiado estendida no campo: O Benfica tem jogado com os sectores demasiado distantes, o que dificulta a cobertura defensiva e a articulação ofensiva. O espaço gerado entre linhas permite aos adversários grande facilidade nas fases de construção. Esta situação tem origem na pouca propensão dos avançados para recuar, mas também, por vezes, no excessivo retraimento da linha defensiva.
2- Jogadores estáticos e demasiado dados às marcações: Em processo ofensivo é frequente não se vislumbrar uma única linha de passe disponível, obrigando a bombear bolas para o meio-campo contrário. Muitos jogadores só se movimentam quando têm a bola nos pés, permanecendo o resto do tempo escondidos atrás dos adversários.
3- Lentidão nas transições ataque-defesa: As acções ofensivas não são devidamente ponderadas nem compensadas, e a lentidão nas transições defensivas permite enormes espaços aos adversários. A equipa sobe, mas os centrais, à excepção dos lances de bola parada, ficam normalmente atrás, debatendo-se por vezes com constrangedoras situações de igualdade numérica. Rodriguez, Di Maria, Cardozo, Nuno Gomes são jogadores de bola no pé, enquanto que a Rui Costa, tendo cultura táctica, falta fulgor físico.
4- As subidas de Léo não são compensadas: Se Nelson tem, mal ou bem, a cobertura de Maxi Pereira, o lateral brasileiro fica com as costas desguarnecidas sempre que se incorpora em processo ofensivo pelo seu corredor, o que causa inúmeros problemas à equipa, como ainda ontem se viu em Alvalade.
5- Os laterais fecham mal o espaço interior: Tanto Léo como Nelson são laterais e não defesas. Mesmo com um meio-campo em losango – e a exigência dele decorrente, de serem os laterais a dar profundidade aos flancos -, seria aconselhável manter, pelo menos numa das faixas, um homem capaz de cobrir o espaço interior, fechar o corredor, garantir segurança nas transições defensivas, e funcionar como terceiro central sempre que o momento do jogo o aconselhasse. Eventualmente uma espécie de Marco Caneira, que quando esteve no Sporting cumpria esse papel na perfeição.
6- Falta de rapidez dos centrais: Principalmente com a lesão de David Luíz, nota-se a falta de um homem veloz, capaz de varrer o jogo pelo chão, e cobrir os flancos. Alguém como, por exemplo, Ricardo Rocha, precipitadamente vendido ao Tottenham.
7- Défice no espaço aéreo ofensivo: Conseguindo frequentemente acções de profundidade pelos corredores, faltam ao Benfica cabeceadores para lhes dar sequência. Nas bolas paradas há Luisão e Katsouranis, mas em lances corridos, nem Cardozo, nem Nuno Gomes são cabeceadores exímios, o que diminui de forma dramática a eficácia do futebol de flanqueadores como Rodriguez, Di Maria, Léo ou Nelson.
8- Equipa incapaz de funcionar como um bloco: Ao contrário do F.C.Porto e de todas as grandes equipa europeias, no Benfica não se nota uma harmonização colectiva capaz de preencher espaços, oferecer linhas de passe, e estrangular o jogo do adversário, pressionando-o logo à saída da sua primeira fase de construção. Enquanto que no F.C.Porto os jogadores se movimentam com um rigor quase militar, chegando a parecer estar ligados uns aos outros por elásticos, no Benfica vê-se um conjunto de peças soltas e sem articulação entre elas.
9- Jogadores demasiado individualistas: Talvez fruto da origem sul-americana, talvez fruto das próprias carências da equipa, muitos dos jogadores do Benfica apresentam um excessivo individualismo nas suas acções de jogo. Um drible a mais, um adorno, um remate quando se exige um passe, têm sido nota comum no futebol de Di Maria, Cardozo, Rodriguez ou Maxi Pereira.
10- Má forma de jogadores nucleares: Luisão, Petit e Nuno Gomes, um defesa um médio e um avançado, três titulares indiscutíveis, três experientes internacionais, três capitães de equipa, têm todos eles realizado uma temporada verdadeiramente para esquecer. Se para Nuno Gomes há no plantel razoáveis alternativas, para os dois primeiros não as há.
11- Falta de frescura física: Olha-se para o F.C.Porto e vêm-se onze vigorosos atletas – altos, fortes, robustos, agressivos. No Benfica, metade da equipa parece fazer um sacrifício para se manter em campo, dando a clara indicação de que o trabalho de casa não é o melhor. A própria morfologia de grande parte dos jogadores, evidencia alguma negligência face a esta questão aquando das contratações.

Os aspectos focados prendem-se exclusivamente com aquilo que tem sido este Benfica dentro do campo.
Há múltiplas razões exteriores para a equipa se apresentar carente, desorganizada, pouco confiante, e para determinados jogadores não evoluírem tanto como seria de esperar. A construção do plantel foi mal calculada, e cometeram-se uma série interminável de erros, que condicionam hoje o presente e o futuro do Benfica.
Abriremos oportunamente a discussão sobre esses erros, seus responsáveis, e possíveis soluções para retirar o clube do poço de equívocos em que caiu.
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UM JOGO PARA A HISTÓRIA

Após um jogo destes, é importante que o clubismo não nos desvie as atenções daquilo que de essencial se passou em Alvalade, e que foi, tenha-se ou não gostado do resultado, um extraordinário espectáculo de futebol.
De facto este foi o melhor jogo que se viu esta temporada em Portugal, e seguramente um dos melhores dos últimos anos. Vai entrar para a história como um dos mais empolgantes derbys de sempre, e particularmente os adeptos do Sporting nunca o irão esquecer, pelo espectáculo, pela vitória e pela épica recuperação da sua equipa.
É bom também que se diga, com frieza, que para se assistir a um jogo deste quilate tiveram necessariamente de estar em campo duas boas equipas. Benfica e Sporting mostraram na verdade, em momentos diferentes do jogo, a sua melhor cara de toda a época, brindando os espectadores com um verdadeiro compêndio de futebol espectáculo, de emoção e de fantásticos golos, o que para duas equipas em crise não deixa de ser surpreendente. O Sporting venceu bem, fez uma segunda parte avassaladora, mas se a vitória tivesse sorrido ao Benfica, a análise do jogo não poderia, em nome da justiça, ser substancialmente diferente.
Aliás, um jogo com estas características, com oito golos, com alternância no marcador, não resiste a qualquer análise táctica mais objectiva. A partir de dada altura tudo poderia ter acontecido, e não seria honesto, na hora da derrota, esquecer a belíssima primeira parte que a equipa do Benfica realizou, que os encarnados chegaram a ter possibilidades de se colocar a vencer por 0-3, e que a um quarto de hora do final ainda estavam à frente do marcador, sucumbindo apenas perante uma das mais empolgantes exibições dos últimos anos do Sporting.
É claro que sofrer 5 golos em 25 minutos, e não conseguir segurar uma vantagem de 0-2 a meio de uma segunda parte, não é muito abonatório da maturidade competitiva de uma equipa de topo. Mas conhecendo-se a história recente do Benfica, sabendo da intranquilidade que naturalmente se fará sentir no seio do plantel, percebe-se que qualquer contrariedade lhe poderia ser fatal. E a segunda parte do Sporting não estaria certamente nos planos de nenhum benfiquista quando as duas equipas regressaram dos balneários. Sentiu-se a dado momento que um golo poderia transfigurar o cariz do jogo, e quando ele apareceu percebeu-se o quanto seria difícil a este Benfica segurar o triunfo.
As consequências desta derrota dos encarnados, e de mais um ano sem qualquer conquista, serão tema para outra oportunidade. O Benfica não liquidou a sua época apenas neste jogo, embora a segunda parte tenha destapado muitas das suas actuais carências.
Há um aspecto em particular que terá que ser corrigido, sob pena de este ciclo de derrotas se prolongar até final da época, e mesmo prosseguir durante a próxima. Uma equipa que diz jogar para vencer títulos não pode defender apenas com metade dos seus jogadores. Este Benfica, quando perde a bola, deixa pura e simplesmente de contar com Rui Costa, Di Maria, Nuno Gomes e Rodriguez. Juntando este dado a um penoso défice físico de Petit, temos uma linha defensiva entregue às feras, sem coberturas, e exposta a tremendas vulnerabilidades, sempre que, por exemplo, um adversário consegue êxito no um para um.
Quando se sofrem oito golos em dois jogos, por muito que se possa apontar o dedo ao desnorte dos defesas centrais e laterais - e isso também sucedeu, ontem e diante da Académica -, não devemos esquecer que é toda uma filosofia colectiva que está em causa. Algo que deve ser bem ponderado até mesmo na própria política de contratações que, ao invés de artistas, deveria talvez privilegiar jogadores com outro sentido colectivo e, porque não dizê-lo, com outra pujança atlética.
Na assombrosa noite de Alvalade, brilharam entre os leões Yannick Djaló, Izmailov e João Moutinho, enquanto que no Benfica, Rui Costa na primeira parte, e Di Maria até sair, foram as unidades em maior destaque. Pelo contrário, Romagnoli e Petit estiveram muitos furos abaixo daquilo que sabem e podem, enquanto que toda a defesa benfiquista teve uma meia hora final para esquecer.
A arbitragem não teve influência no resultado.

PORTO DE "LUCHO" DEU SHOW NO BONFIM

Um Porto ao seu melhor nível, mostrou ontem em Setúbal que quer decididamente conquistar a Taça de Portugal e fazer a dobradinha.
Impulsionado pela fantástica massa adepta que encheu o Bonfim, o Vitória até entrou melhor no jogo, realizando quinze minutos de bastante intensidade ofensiva. A partir daí, o F.C.Porto organizou-se, acertou marcações, juntou o bloco, e partiu para cima da equipa sadina, um pouco à semelhança daquilo que fizera aquando da sua deslocação à Luz. Pressionando alto, cortando linhas de passe e asfixiando a equipa adversária no seu próprio reduto defensivo, a equipa portista foi construindo ocasiões de golo sucessivas, chegou à vantagem, e só por manifesta falta de sorte não resolveu a contenda ainda antes do intervalo.
Na segunda parte o jogo não se alterou substancialmente. Com dois golos de rajada logo após o recomeço, a equipa portista sentenciou a eliminatória, permitindo-se a passear pelo relvado até ao apito final de Pedro Proença, perante um Vitória completamente derrotado e sem forças para reagir a tamanha demonstração de superioridade do dragão.
Destaque para a exibição de Lucho Gonzalez, que mais uma vez encheu o campo de classe, sentido de movimentação e fulgor físico, marcando ainda dois dos golos da noite.
A arbitragem foi fraca, mas não teve interferência no resultado final.
Este resultado teve o condão de valorizar ainda mais o derby desta noite, o qual além de poder valer uma Taça de Portugal, vai valer, desde já, uma presença na Supertaça do próximo verão.

MAIS FINAL QUE MEIA ; A antevisão de um derby apaixonante

Para Sporting e Benfica está a chegar a hora da verdade. Afastados há muito do título, eliminados das provas internacionais, os rivais da Segunda Circular têm amanhã a derradeira oportunidade de manter acesa a esperança na conquista de um troféu.
Quis o destino que esta meia-final se apresentasse assim com a cara de uma verdadeira final, na qual angústias e depressões de uma época atribulada poderão ser aliviadas ou mesmo suprimidas para quem vença, e os fantasmas da instabilidade e da crise profunda cairão sobre a cabeça dos derrotados.
Esta é a possibilidade de salvação. Sim, salvação, pois uma Taça de Portugal não é propriamente um Torneio do Guadiana. É a segunda mais importante competição futebolística de qualquer país, tem o peso de toda uma tradição, além de que abre a possibilidade de terminar a época em júbilo, ao fim e ao cabo a razão de ser do futebol, e de tanto dele gostarmos.
Para Sporting, mas sobretudo para o Benfica - cujas expectativas para a temporada eram bem mais elevadas - este é pois um jogo de vida ou de morte. Ou ainda mais que isso...
Vejamos o que nos pode reservar:
O DERBY
A história dos derbys lisboetas tem já aproximadamente um século de existência, e muitos episódios interessantes de contar. Ou não fosse este o mais tradicional confronto do nosso futebol, e traduzisse a mais genuína (eu acrescentaria salutar) rivalidade que o desporto português desde sempre produziu.
Já aqui falei das memórias com que Benficas-Sportings e Sportings-Benficas me foram marcando ao longo das três décadas que levo de seguidor apaixonado do fenómeno futebolístico. Muitas alegrias, grandes desilusões – felizmente mais aqueles do que estas. Sempre muito entusiasmo, sempre a mesma paixão.
Apesar da conjuntural hegemonia portista, bastará olharmos para a maior parte das mesas de matraquilhos espalhadas pelo país (sobretudo a sul), para percebermos que Benfica e Sporting são os emblemas que melhor definem o ser português, como se de cara ou coroa de uma mesma moeda se tratassem. Rivais desde que nasceram, vizinhos desde há muitas décadas, representantes das duas cores da bandeira portuguesa, Benfica e Sporting sempre foram como que dois irmãos desavindos em luta pela herança. Uma luta sem tréguas, mas quase sempre dentro dos limites daquilo que deve constituir uma saudável rivalidade desportiva.
Um Benfica-Sporting ou um Sporting-Benfica nunca é pois apenas mais um. É sempre “aquele”, seja ele o do penalti do Jardel, o do golo do Luisão ou o do hat-trick de João Pinto. Trata-se de facto de um fenómeno apaixonante, onde para além do combate futebolístico, se verifica um interessante choque cultural e identitário. É sem dúvida o derby dos derbys em Portugal, e um dos mais significativos na Europa.
O de amanhã tem ainda a particularidade de não admitir empate, o que inegavelmente o tempera de forma ainda mais saborosa.

A HISTÓRIA
Para a Taça de Portugal - e centremo-nos nela até porque é, nos dias que correm e com a questão do título nacional morta e enterrada, a competição rainha do futebol português – os dois colossos da capital portuguesa já se encontraram em 17 eliminatórias e 8 finais. Tudo somado, 32 jogos entre ambos, com a ligeira vantagem a pender para os de Alvalade (16-14) – bem ao contrário do que sucede em jogos do campeonato.
Se olharmos apenas para os jogos disputados em Alvalade, a vantagem leonina torna-se mesmo avassaladora (9-2), o que não deixa de se revestir de alguma estranheza, sobretudo se tivermos em conta que as vitórias benfiquistas ocorreram em eliminatórias a duas mãos, que até acabaram, contas feitas, por sorrir aos leões. Vale isto por dizer que o Benfica nunca eliminou o Sporting em Alvalade.
Contrariando a tendência verificada nas eliminatórias, das oito finais entre ambos, o Benfica venceu seis, o que significa que para os encarnados, olhando à história, talvez tivesse sido melhor defrontar o Sporting apenas no Jamor.
Deixando de lado as finais e a sua natureza peculiar, de entre todas as eliminatórias que me recordo, duas houve que gostaria de salientar. Uma por ser a primeira que a minha memória alcança - derrota copiosa por 3-0 com três golos do brasileiro Manoel-, e outra pelos números finais – 5-0 na Luz em 1986, com cinco minutos finais arrasadores do Benfica.
A primeira delas disputou-se em Março de 1977. Treinava o Benfica John Mortimore, que se viria a sagrar campeão dois meses depois. A época começara justamente em Alvalade, numa noite de sábado, com uma derrota do Benfica por 3-0, num jogo em que o público era tanto que chegava a ocupar partes do relvado, o que obrigou a adiar a hora do início da partida.
Nem queria acreditar quando, ainda na minha mais tenra infância, ao segundo Sporting-Benfica o resultado se repetiria: 3-0. Cheguei a pensar que todos os Sportings-Benficas acabariam assim, com derrotas copiosas por três golos sem resposta. Felizmente estava enganado…
Neste jogo da Taça, disputado numa bela tarde de domingo, o Benfica alinhou com Bento, Pietra, Barros, Eurico, Alberto, Toni, Shéu, Vítor Martins, Chalana, Nené e Nelinho. O Sporting terá apresentado um onze semelhante a este: Matos (nestes anos o Sporting chegou a apresentar cinco guarda-redes diferentes em cinco derbys sucessivos, Damas, Conhé, Valter, Matos e Botelho), Da Costa, Zezinho, José Mendes, Inácio, Fraguito, Baltasar, Marinho, Manuel Fernandes, Manoel e Keita.
O brasileiro Manoel fez o jogo da sua vida, apontando três golos e dando a eliminatória ao Sporting, à semelhança aliás do que acontecera na época anterior (1-0 após prolongamento, golo de Libânio), e do que sucederia na seguinte (3-1, dois golos de Manuel Fernandes, um de Keita, com Humberto Coelho a reduzir para o Benfica já na ponta final do desafio).
Em 1985-86, novamente com Mortimore a comandar a equipa, o Benfica conseguiu a maior goleada de sempre em derbys da Taça de Portugal. Jogava-se para os quartos-de-final numa tarde chuvosa de quarta-feira no Estádio da Luz.
Tive de faltar às aulas para ouvir o relato, e valeu bem a pena. 5-0 foi o resultado, com golos de Rui Águas, Álvaro, Vando e Manniche (2). Aos 84 minutos o Benfica vencia por 2-0, mas os últimos instantes foram penosos para os leões.
O Benfica alinhou com Bento, Pietra, Oliveira, Samuel, Álvaro, Carlos Manuel, Shéu, Diamantino, Vando, Rui Águas e Manniche. No Sporting jogavam Damas, Gabriel, Morato, Venâncio, Virgílio, Romeu, Oceano, Jaime Pacheco, Sousa, Manuel Fernandes e Jordão.
A vingança seria servida nessa mesma época, quando na Luz, no primeiro derby a que assisti ao vivo, o Sporting roubou o título ao Benfica vencendo por 1-2, e beneficiando o F.C.Porto, num jogo que indirectamente acabou por proporcionar o título europeu aos dragões no ano seguinte. Tinham razão de ser as lágrimas vertidas nas escadarias do terceiro anel recém inaugurado.
No ano seguinte aconteceria o 7-1, e depois uma sequência de muitas vitórias do Benfica. É também de vingança que se escreve a história dos derbys.

Estive presente nas duas últimas eliminatórias entre Benfica e Sporting, ambas na Luz: 1-3 em 2000, e 3-3 (vitória do Benfica por penáltis) em 2005, esta em condições bastante difíceis (uma valente gripe em noite gelada de Janeiro). Uma vitória para cada lado, portanto.
Amanhã será a terceira. Ver-se-á então para que prato pende esta balança.

AS CIRCUNSTÂNCIAS
Sporting e Benfica já se viram frente a frente em 17 eliminatórias na história da Taça de Portugal, mas poucas delas terão envolvido o grau de dramatismo que encerra o jogo de amanhã.
Particularmente para o Benfica, mais do que salvar a época, trata-se mesmo de salvar a face, sendo que uma eventual derrota nesta partida poderá fazer desabar todo o frágil edifício do futebol encarnado, de tão periclitante ele se encontra.
É o jogo do ano para o Benfica. É mesmo um jogo que pode marcar o fim de uma era, não se sabendo até que ponto o clube estará preparado para aguentar o choque de uma possível derrota, nem havendo certezas sobre as suas eventuais consequências.
Se há um homem que tem neste momento a cabeça no cepo, ele chama-se Luís Filipe Vieira. Vai ser para o presidente benfiquista que a ira dos adeptos naturalmente se voltará em caso de derrota, ou não fosse ele responsável pela construção (destruição?) de um plantel que considerou o melhor dos últimos dez anos, e pelo despedimento precipitado e injusto de dois treinadores só nesta temporada, sem que daí se tenham visto quaisquer resultados práticos.
Embora os leões não tenham muito que se orgulhar do que fizeram em 2007-08, ainda assim venceram a Supertaça, foram mais longe que os encarnados na Uefa, e seguem em melhores condições de conseguir um apuramento para a Champions, isto para além das diferenças de orçamento e, sobretudo, de investimento, que os separaram desde logo na estruturação dos respectivos plantéis. Uma eventual derrota, por dolorosa que seja, será seguramente bem mais tolerada no mundo sportinguista do que no reino das águias, até porque em Alvalade, nem treinador, nem direcção parecem ter o seu futuro ameaçado por esta partida, nem mesmo eventualmente pelo desfecho global da temporada.

AS EQUIPAS
Tanto Benfica como Sporting não deverão apresentar muitas surpresas no seu onze inicial.
Ao ataque dos leões deverá seguramente regressar o montenegrino Vukcevic, enquanto que na lateral esquerda, desde que em condições físicas, Grimi deverá ser titular. Romagnoli, poupado frente ao Leixões, deve também voltar ao onze.
Anderson Polga, lesionado, parece fora destas contas.Fernando Chalana, mau grado a hecatombe ocorrida diante da Académica, deve apostar num onze próximo do que disputou os últimos jogos, embora a utilização de Nuno Assis não seja de desprezar. Sairia da equipa nesse caso Nuno Gomes, a menos que Cardozo não recuperasse até à hora do jogo da mazela que o fez sair mais cedo da partida da última sexta-feira, cenário que para já parece afastado. Não deverá ser esta a opção, mas eu faria regressar Edcarlos ao centro da defesa de modo a permitir a incorporação de Katsouranis na meia direita do meio-campo. O central brasileiro já deu mostras de bastante insegurança pelo chão, mas é forte no jogo aéreo, e com a lesão de David Luíz não há grandes alternativas. Por outro lado, Katso aparenta uma clara desmotivação, ao que poderá não ser totalmente alheia a sua deslocação para o eixo da defesa.

AS ESTRELAS
Independentemente daquilo que tenha sido o rendimento recente das equipas, Sporting e Benfica dispõem nos seus plantéis de jogadores de inegável qualidade, capazes de, a qualquer momento, proporcionar grandes espectáculos.
Entre os leões destacaria Anderson Polga (que provavelmente estará ausente deste derby por lesão), Miguel Veloso, João Moutinho, Simon Vukcevic e Liedson. Sobretudo o “levezinho”, tem sido um verdadeiro talismã para o Sporting em jogos diante dos encarnados, e parece ter recuperado nas últimas semanas a sua melhor forma, facto de que a equipa tem beneficiado a olhos vistos.
Do lado do Benfica, as grandes figuras são o guarda-redes Quim, os defesas Luisão e Léo, os médios Petit e Cristian Rodriguez, e o ponta-de-lança paraguaio Óscar Cardozo. Mas de entre as águias emerge sem duvida Rui Costa, como o verdadeiro patrão da equipa. O “maestro”, com pés de veludo, não só é aquele que (de longe) maior qualidade técnica possui, como também se faz valer da sua experiência, construída ao longo de anos e anos de futebol internacional ao mais alto nível. É ainda uma verdadeira bandeira da mística benfiquista, interpretando-a em campo, com bola e sem ela.

OS GOLEADORES
Liedson no Sporting e Cardozo no Benfica são os homens de quem mais se esperam golos. O “Levezinho” já apontou 22 nesta temporada, ao passo que “Tacuara” leva 20. Um e outro têm decidido diversos jogos, e ninguém se admiraria que viesse a ser um deles a decidir o de amanhã.

O JOGO
Um derby é, por definição, imprevisível. Quaisquer que seja a situação momentânea dos clubes, estas são ocasiões em que todos se agigantam, todos querem vencer, e acabam por ser quase sempre meros detalhes a definir para que lado pende a vitória. Até se costuma dizer que a equipa que se encontra em pior momento leva frequentemente a melhor, teoria alicerçada em anos e anos de resultados inesperados.
Não é contudo (apenas) por isso que me atrevo a atribuir um ligeiríssimo favoritismo ao Benfica, mesmo podendo com isso surpreender de algum modo os leitores. Faço-o essencialmente por duas razões, uma antropo-histórica, e outra técnico-táctica.
No primeiro caso tenho como um dado mais ou menos adquirido que o Benfica reage melhor à pressão psicológica de um momento decisivo do que o Sporting, algo que se foi percebendo sobretudo ao longo das últimas décadas. Quando se trata de grandes decisões entre os dois (como é o caso), os êxitos tem invariavelmente pendido para o lado encarnado – finais de Taça (87, 96), decisões de campeonato (94, 05), decisões de segundo lugar (04) etc. -, ao que não será alheia a extrema juventude das equipas apresentadas pelos leões, mormente desde que o maná da sua formação começou a dar frutos; bem como algum exacerbar de rivalidades do lado do Sporting, que o leva muitas vezes a enfrentar o Benfica com os joelhos trémulos – algo que, diga-se, tem acontecido com o Benfica face ao F.C.Porto.
Por outro lado, se olharmos aos poucos momentos em que a águia voou alto em 2007-08, verificamos que Copenhaga, Donetsk, Guimarães e Alvalade têm em comum três aspectos: o grande dramatismo que envolveu cada uma dessas partidas, o facto de terem sido disputadas fora de casa, e de todas elas surgirem na sequência de anteriores resultados negativos. Ora nem mais nem menos que o panorama que temos face a esta meia-final.
Jogadores como Nuno Gomes, Luisão, Petit, Quim, Katsouranis, Léo ou Rui Costa (todos previsivelmente titulares) atravessam já fases de carreira em que a pressão dos grandes momentos pouco ou nada se lhes faz sentir. O mesmo não se poderá dizer de Rui Patrício, Miguel Veloso, João Moutinho, Pereirinha ou Yannick Djaló, e num jogo com a natureza deste, num momento de decisão absoluta, este é um factor que pode pesar bastante.
Também no aspecto técnico-táctico o Benfica pode levar alguma vantagem.
Se nos lembrarmos de todo o percurso dos encarnados ao longo da época, verificamos que os grandes desaires ocorreram em casa. Se o Benfica tivesse ganho todos os jogos disputados na Luz comandaria o campeonato, pois fora de portas tem um registo bastante apreciável, conseguindo mais pontos na condição de visitante (24), que na de visitado (21). Até nas provas europeias o Benfica soçobrou em sua casa – na Champions perdendo com o Shakhtar, e na Uefa com o Getafe. As melhores exibições – além das quatro acima referidas, há que englobar a do Bessa – sucederam em jogos longe do seu reduto. E tudo isto não acontece por acaso.

Efectivamente a equipa benfiquista está talhada para jogar com espaço livre à sua frente. Tanto Cardozo como Nuno Gomes rendem mais sem marcações demasiado pressionantes, Rodriguez ou Di Maria são jogadores de bola no pé e metros para correr, o próprio Rui Costa, fruto das já naturais limitações de ordem física, brilha mais quando vê menos adversários à sua volta. A jogar diante de adversários com uma postura competitiva mais audaciosa (fora de casa), as individualidades do Benfica sobressaem com outro fulgor, e os resultados não mentem.
Todas as dificuldades do Benfica nesta temporada se têm centrado nas deficiências ao nível da construção (sobretudo logo desde a sua primeira fase), o que se sente dramaticamente nos jogos em casa diante de adversários mais fechados. Ou seja, se em termos de processo ofensivo o Benfica vacila, já quando é chamado a um futebol de contenção, de cobertura de espaços e transições rápidas para as costas das defesas contrárias, a equipa rende, ganha e até já tem conseguido encantar. Em Alvalade o jogo terá quase seguramente estas características, ou seja, a menos que o Sporting se coloque muito cedo em vantagem, deveremos ter um jogo precisamente à medida deste Benfica.
É claro que tudo isto é susceptível de ficar de pantanas, quer por via de um detalhe – um golo cedo, uma expulsão -, quer pelo peso psicológico que este último resultado possa ter tido na mente dos jogadores encarnados, e que neste momento ainda não é avaliável. Mas uma antevisão a um jogo desta natureza tem forçosamente que partir sempre de alguns axiomas, que durante os noventa minutos podem perfeitamente não se verificar. Se assim não fosse, se, numa lógica positivista nos limitássemos apenas ao que é palpável e objectivo, pouco haveria para escrever antes de uma partida para a qual o que menos existe são certezas.
Espera-se também do clássico de Alvalade que seja naturalmente um bom espectáculo, uma noite empolgante, e que a arbitragem não seja protagonista, algo a que infelizmente os últimos derbys não têm conseguido fugir. Se derby sem casos não é derby, ao menos que o vencedor não deixe dúvidas quanto à transparência da sua vitória.
E já agora, se me permitem, que o vencedor seja o Benfica.

A ILUSTRAÇÃO
Para abrir o apetite, fica aqui o vídeo do último combate entre os rivais a contar para a Taça de Portugal. 3-3 na Luz, vitória do Benfica por penáltis - curiosamente depois de uma derrota em casa com o Beira Mar por 0-2 - grande espectáculo e alguma polémica. Enfim …um derby como deve ser !

Benfica-Sporting, 3-3 2004-05
Retirado de http://www.memoriagloriosa.blogspot.com/

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Dois lances merecem reparo nesta ronda. No Bonfim o segundo golo portista foi precedido de falta – Mariano ajeitou a bola com a mão -, o que, num resultado de 1-2 implica a perda de dois pontos. Por outro lado, em Alvalade, o golo invalidado a Liedson tratou-se de um erro do auxiliar - vendo as imagens em câmara lenta percebe-se que o dianteiro brasileiro está em linha no momento do passe.
Cabe aqui um parêntesis para dizer que, muito embora o Vitória de Guimarães não esteja representado nesta rubrica – ninguém adivinharia no início da época a fantástica carreira efectuada pelo conjunto de Cajuda -, nem por isso têm passado despercebidos os inúmeros erros de arbitragem que, na maioria das vezes, o têm beneficiado. Recordo por exemplo o golo ao V.Setúbal logo na primeira jornada - obtido na sequência de uma falta clara sobre o guarda-redes sadino -, o golo fora-de-jogo marcado ao Sporting, um penalti perdoado no jogo de Paços, e agora mais um golo irregular no jogo com o Boavista.
Eis como ficou a classificação dos três grandes após a 26ª jornada:
F.C.PORTO 62
Benfica 52
Sporting 48

VEDETA DA JORNADA

LUÍS AGUIAR: Podia ter escolhido qualquer outro jogador da Académica, tal foi a exuberante demonstração de qualidade colectiva com que os estudantes brindaram a Luz. Na opção por destacar Luís Aguiar, leia-se também uma forma de chamar a atenção para a quantidade e qualidade de jogadores que o F.C.Porto tem espalhados pelos vários clubes do primeiro e do segundo escalão, o que para além das diferentes interpretações que possamos ter, não deixa de ser mais um sinal da força portista no panorama actual do futebol português. Pitbull, Bruno Gama, Paulo Machado, Vieirinha, Alan, Diogo Valente, Fernando, Ivanildo, Ezequias, sem falar de Ibson, Postiga ou Renteria, são exemplos de uma política desportiva que não deixa nada ao acaso. Mesmo levando em linha de conta as suas consequências orçamentais.

FORÇA AÉREA

Fortemente motivado pelo desaire do rival Benfica, o Sporting desta vez não falhou. Com uma vitória por 2-0 diante do Leixões trepou para o terceiro lugar da tabela, e manteve firme a candidatura à qualificação directa para a Champions League que, a concretizar-se, será a terceira consecutiva.
Os leões valeram-se de dois lances de bola parada concretizados de cabeça por Tonel e Liedson para resolver o jogo, depois de uma primeira parte sofrível, durante a qual algumas oportunidades desperdiçadas pelos homens de Matosinhos puseram Alvalade em sobressalto. Destaque ainda para um golo mal anulado a Liedson, num lance que, diga-se, só as repetições televisivas esclarecem cabalmente.
Olhando ao calendário de V.Guimarães, Sporting e Benfica, parece óbvio que todo o favoritismo para a conquista do segundo lugar deva ser endereçado à equipa de Paulo Bento. Lembre-se que recebe Marítimo e Boavista, e desloca-se a Leiria e Paços de Ferreira, ou seja, quatro jogos perfeitamente acessíveis, ao contrário de Benfica e V.Guimarães que têm ambos, por exemplo, que defrontar o F.C.Porto.
O Benfica, com três pontos de distância para vimaranenses, e um para leões, embora matematicamente mantenha todas as hipóteses em aberto, muito dificilmente recuperará a vice-liderança onde permaneceu jornadas a fio. Esta última semana foi devastadora para as aspirações encarnadas, e vendo as coisas com realismo, até por aquilo que têm mostrado em campo, os comandados de Fernando Chalana poder-se-ão dar por felizes caso consigam ainda conter os danos, alcançando o terceiro lugar e a presença na pré-eliminatória de Agosto.
Recorde-se a propósito que José António Camacho deixou o Benfica com seis pontos de vantagem sobre o Sporting, e que Fernando Santos ficou, na época transacta, a dois pontos do título…

NOITE NEGRA

Poucas palavras haverá para descrever o que se passou esta noite na Luz.
Após uma exibição bastante conseguida no Bessa, nada fazia prever que o Benfica, poucos dias depois e com tanto ainda para decidir, se apresentasse neste jogo de forma tão desastrada.
O golo infantil sofrido nos primeiros instantes fez-se sentir nos níveis de confiança de uma equipa que não mais se encontrou, e que se revelou totalmente incapaz de reagir ao destino que cedo se começou a desenhar. A partir do segundo golo tudo se complicou ainda mais, e a segunda parte foi absolutamente penosa para os encarnados, num dia em que nem Rui Costa conseguiu manter um nível aceitável.
Só dentro do balneário benfiquista se poderão encontrar os verdadeiros motivos para o que sucedeu. Não é explicável no futebol altamente profissional que se sofram golos através de falhas como as desta noite. Nem que se jogue de forma tão pouco combativa, como se de um treino se tratasse.
O Benfica despediu-se muito provavelmente da possibilidade de segurar o segundo lugar, e terá mesmo comprometido o terceiro. Até poderá eventualmente fazer bem ao Benfica passar um ano fora da Champions League, e assim centrar as suas atenções totalmente no campeonato, podendo obter daí alguma vantagem. Mas muita coisa terá de ser alterada. Muita mesmo.
Uma delas é interiorizar que nenhuma equipa pode almejar a títulos quando mais de metade dos seus jogadores, ou não sabe, ou não quer defender. Os campeões constroem-se de trás para a frente, e este Benfica, quando perde a bola, tem a solidez de um papagaio de papel. Se juntarmos a isso uma reiterada e preocupante ineficácia concretizadora, só por milagre se pode esperar chegar ao sucesso.
Muitos artistas, muitos egos, muitas figuras, mas total ausência de uma ideia de futebol colectivo, total ausência de um conjunto minimamente articulado. Algo que não me parece ser da exclusiva responsabilidade de Camacho ou Chalana, mas passar também pela idiossincrasia futebolística e mental de muitos dos futebolistas do plantel.
A poucos dias de um jogo em Alvalade que ainda poderá ajudar a salvar a época, não é a altura oportuna para relembrar tudo o que de errado foi feito no Benfica 2007-08. Mais tarde esse balanço terá que ser feito, e as responsabilidades não poderão morrer solteiras.
Mas Alvalade dirá também até que ponto estes jogadores, estes profissionais - ou grande parte deles - merecem mesmo envergar a camisola do Benfica. Veremos aí se o entendem, se o sentem e se o querem.
Numa semana marcada pelas polémicas em redor da arbitragem, torna-se quase irónico que Paulo Baptista tenha sido um dos melhores em campo. Antes assim.

ADEUS EUROPA !

Acabou-se o sonho europeu do Sporting.
A última equipa portuguesa nas provas europeias foi eliminada em casa, pondo fim a uma época internacional na qual ficaram patentes algumas das fragilidades do actual futebol português. F.C.Porto, Benfica e Sporting foram, todos eles, afastados por conjuntos de segunda linha, deixando no ar a suspeita de alguma incapacidade para se baterem com os melhores, algo que ainda há um par de anos atrás não parecia assim tão evidente.
Olhando ao que se passou nesta eliminatória, há que dizer que ao Sporting faltou também a dose de felicidade normalmente necessária para se chegar longe neste tipo de competição. A equipa leonina fez um jogo razoável, construiu oportunidades, mas acabou por pagar caro o facto de não ter marcado em Glasgow, o que lhe toldou de certo modo a estratégia e o espírito.
Partindo de 0-0 Paulo Bento sabia que um golo do adversário valia o dobro, logo os riscos deveriam ser calculados. Assim sendo, o Sporting fez o que tinha de fazer: entrou com paciência, esperando numa eventual oportunidade, chegar à necessária vantagem.
Com o nulo a manter-se e o Rangers a revelar-se pouco audacioso, os leões entraram para a segunda parte com maior agressividade. Durante alguns minutos pareceram capazes de subjugar a equipa escocesa, e o golo parecia então apenas uma questão de tempo.
Seria todavia o Rangers a marcar. Num contra-ataque rápido em que beneficiou de um desentendimento entre Miguel Veloso e Gladstone, o perigoso Darcheville bateu Rui Patrício. Foi um duro golpe, do qual a jovem equipa do Sporting não mais se recompôs. O tempo que restava não era já muito, e os leões tinham então de marcar dois golos para seguir em frente.
Ainda houve algumas oportunidades. Paulo Bento arriscou tudo, mas a sorte estava decididamente com os britânicos, que em mais um contra-ataque, já com o jogo totalmente partido, acabaram por marcar pela segunda vez e selar a eliminatória.
Pode-se argumentar que uma estratégia inicial de maior risco poderia ter rendido outros frutos, ou pelo menos teria dado mais tempo para recuperar de uma eventual desvantagem. Mas diga-se que, objectivamente, foi quando a equipa mais atacou que sofreu os dois golos, e foi na primeira parte – período que abordou com maior calculismo - que dispôs da melhor ocasião para marcar, no cabeceamento de Liedson ao poste. É assim o futebol, e tudo o que se possa agora dizer ou escrever sobre a forma como Paulo Bento preparou o jogo, esbarrará invariavelmente na parede da especulação.
Para as meias finais segue assim o Rangers, que irá defrontar a poderosa Fiorentina, enquanto o Bayern de Munique - depois de uma dramática recuperação em Getafe, onde a cinco minutos do final do prolongamento perdia por 3-1 - medirá forças com o emergente Zenit de São Petersburgo. Alemães e italianos são naturalmente os favoritos.