SEGURANÇA E SOLIDEZ

"Ao longo das últimas semanas este espaço tem sido dedicado ao futebol benfiquista, e àquilo que, na minha perspectiva, mais poderia contribuir para o seu crescimento competitivo. Nunca será demais repetir que o exercício resulta ferido de superficialidade, pois só do lado de dentro se poderão, com rigor, identificar os eventuais problemas, e a melhor forma de os solucionar. Para mim reservo, apenas, o mero olhar do adepto despretensioso, que mais do que fornecer respostas procura levantar questões para reflexão comum.

Fecho hoje a série entrando - se me é permitido - no domínio táctico, para abordar um aspecto que, creio, esteve na base de algumas das mais importantes derrotas sofridas pelo Benfica ao longo da temporada passada: a falta de solidez defensiva.

Pode dizer-se que em 2011-12 o Benfica sofreu dois tipos de derrotas: as causadas por protagonismos alheios, e aquelas que não nos deixam espaço a quaisquer razões de queixa.

As primeiras tiveram origem em arbitragens absolutamente grotescas, às quais não havia táctica que pudesse fazer frente. Foi o caso das primeiras jornadas da Liga (Académica, Nacional e V.Guimarães), que nos condicionaram desde logo na luta pelo título, ou da derrota de Braga, que nos colocou definitivamente fora dela. Fui lembrando estes episódios ao longo do ano, e por agora apenas desejo (ainda que com alguma dose de desconfiança) que o próximo início de temporada não nos traga novos motivos de indignação.

Se quanto a esse tipo de derrotas pouco poderíamos fazer, já para as restantes teremos de encontrar explicações dentro da nossa casa, dentro da nossa equipa, e na forma como ela jogou. Recordo, por exemplo, a cinzenta passagem pela Liga dos Campeões, onde, se exceptuarmos setenta minutos de um jogo frente ao Lyon, tudo o resto foi medíocre. Recordo também os jogos com o FC Porto, da Supertaça aos cinco-a-zero, culminando com duas amargas derrotas caseiras.

No âmbito deste segundo tipo de desaires (provas internacionais e FC Porto), é possível, desde logo, identificar um traço comum: sempre que defrontou adversários fortes, a equipa de Jorge Jesus revelou uma chocante falta de segurança defensiva, aspecto que acabou por determinar os resultados. Concluímos a participação na Champions com um goal-average de 0-7 nos jogos fora; sofremos a maior goleada da história no estádio do principal rival; e vimos a bola entrar na nossa baliza em todas as últimas 19 partidas oficiais da temporada. Demasiado golo para tantas ambições.

Não falo aqui de Roberto – guarda-redes com qualidades, a quem faltará maturidade -, nem sequer dos elementos que constituíram a linha defensiva, e que, individualmente, não tiveram maus desempenhos (veja-se Maxi Pereira, veja-se Luisão, veja-se, sobretudo, Fábio Coentrão, veja-se, até, David Luiz, que fez toda a primeira metade da temporada).

Falo sim de um modelo de jogo que, a espaços, se mostrou excessivamente audaz, e com pouca base de sustentação, sobretudo se atendermos às características de um meio-campo muito macio (particularmente nos corredores), e pouco dado a tarefas defensivas. Nas partidas da Liga dos Campeões essa mácula foi gritante, e notou-se principalmente no terreno dos adversários. De Gelsenkirchen e, também, do Gerland, poderíamos ter trazido empates a zero, de Israel talvez estivéssemos obrigados a trazer uma vitória, e com esses resultados o apuramento teria sido uma realidade. Em todos esses jogos o Benfica partiu para cima do adversário, tentando desesperadamente - e desordenadamente - o golo, praticando um futebol demasiado ousado, quando (não tenhamos medo das palavras) não tinha equipa para tal. Atirar onze jogadores para cima de um Naval ou de um Rio Ave não é o mesmo do que fazê-lo na Liga dos Campeões, ou mesmo diante de um adversário forte como foi o FC Porto de Villas-Boas. Aparentemente, foi isso que o Benfica sempre tentou, com os resultados que se conhecem. Faltou consistência à nossa equipa, que nessas alturas não soube temperar a sua ânsia ofensiva, nem defender-se das suas próprias fragilidades.

Creio que um Benfica ganhador terá como grande desafio manter a chama atacante de que Jorge Jesus inegavelmente o dotou, e paralelamente ser capaz de apoiar o seu futebol numa muito maior consistência defensiva. Isso passa por saber gerir os ritmos de jogo de forma mais calculista, percebendo que ganhar 1-0 será sempre melhor do que empatar 3-3, e empatar 0-0 será sempre melhor do que perder 2-3. Passa por entrar em certos campos (nomeadamente na Liga dos Campeões) admitindo que o adversário é superior, e que sem primeiro o conseguir manietar restarão poucas hipóteses de vencer. E passa por jogar com onze jogadores que defendam (e bem) sempre que não tenham a bola nos pés, tudo isto sacrificando, se necessário for, alguma espectacularidade plástica – reluzente aos olhos, mas quase sempre inconsequente na hora de apurar os verdadeiros campeões."

LF no jornal "O Benfica" de 01/07/2011

2 comentários:

Peter disse...

Concordo e devo dizer que o romantismo do JJ é descabido, e nem mesmo o Barcelona reconhecidamente a melhor equipa do mundo (apesar do apoio arbitral que costuma ter) se lança ao ataque á maluca e desorganizadamente, aliás a excessiva posse de bola que o Barça detém encerra 2 principios com a bola se ataca e com a bola se defende, porque se o adversário não tem a bola logo não consegue atacar.

Vitória do Benfica disse...

Concordo consigo. Considero que na realidade há dois tipos de derrotas ou digamos três as provocadas pelas arbitragens as causadas por fugas de informação com consequente fugas de atletas de grande categoria Falcão (espero não me enganar) e as causadas pela falta de sustentabilidade do nosso esquema de jogo e do suporte técnico incluindo o animico o fisico e o nutricional que faltam à nossa equipa e não faltam no clube do Norte. È por isso que considero que a actual estrutura do Benfica que é transversal e que acontece também nas modalidades não é capaz de competir com o clube do Norte. O Benfica tem de se modernizar hoje o desporto assenta em bases cientificas e o SLB ou muda e resolve os seus problemas estruturais ou muito mas muito mal será o seu futuro. Deus queira que eu esteja enganada para bem do meu clube do coração