O DONO DO JOGO
"A inesperada OPA de Joe Berardo sobre parte significativa do capital da SAD benfiquista trouxe de novo para a ordem do dia a discussão acerca dos modelos empresariais alternativos em que poderão ou deverão laborar os principais clubes portugueses, de modo a corresponderem aos anseios das suas enormes massas adeptas, e que se traduzem basicamente em títulos desportivos.
A enviesar este debate estão anos e anos de gestões desastrosas – quando não fraudulentas -, que deixaram o futebol português sob o anátema da corrupção, do desvario ou, pelo menos, da incompetência.
Antes de mais, é pois necessário distinguir uma boa de uma má gestão, e isso não se faz necessariamente recorrendo à comparação de modelos jurídico-institucionais diferenciados, mas sim avaliando as boas práticas de quem, a cada momento, tem por missão assegurar os destinos de uma determinada organização, seja seu presidente - numa base associativa -, seja seu gestor, ou mesmo seu proprietário.
Ninguém dirá que o Barcelona, um dos clubes mais ricos do mundo e orgulhosamente assente na sua densa massa associativa, é mal gerido (assim como, de resto, o grande rival Real Madrid), tal como todos reconhecerão os méritos da gestão, por exemplo, do Manchester United, que corporiza um modelo completamente diferente, no qual a valorização accionista é motor de uma privatizada estrutura empresarial. Em sentido inverso podemos de igual modo encontrar exemplos, tanto de associativismo fracassado – desde logo de um passado recente no nosso país – como de fenómenos de empresarialização mais audaz que conduziram ao caos, senão económico pelo menos desportivo, como foi o caso do Atlético de Madrid do já desaparecido Gil y Gil em Espanha, do Leeds em Inglaterra ou do Marselha em França, para não falar da parceria MSI-Corinthians (que quase levou o “Timão” à despromoção) ou, entre nós, do Beira Mar recentemente devolvido à II divisão.
É bom ter-se também em atenção que o retumbante sucesso económico e desportivo alcançado por alguns emblemas de topo do futebol europeu é objectivamente inalcançável por qualquer clube português nos tempos mais próximos, qualquer que seja o caminho institucional que pretendam seguir. Bastará atentar na distribuição de receitas da Liga dos Campeões do ano em que o F.C.Porto a venceu, para perceber que os clubes ingleses, italianos e espanhóis, com um “Market Pool” muito mais elevado, resultante de direitos de transmissão para mercados muito mais amplos e abastados, dispõem de ferramentas de valorização e enriquecimento que ao nível do nosso pequeno país - mesmo para F.C.Porto, Benfica e Sporting - não passam de românticas quimeras.
Urge pois desmistificar a ideia de que a salvação do futebol português está na chegada de opulentos investidores, carregados de euros para contratar vedetas internacionais. Não só se trata de um equívoco – pois já vimos não ser essa a condição de sucesso desportivo -, como por outro lado representa um obscuro perigo, dada a irreversibilidade que esses caminhos normalmente atrelam a si. Homens como Roman Abramovich não existem a cada esquina, e os três grandes portugueses não são, sociológica ou historicamente, clubes de bairro à procura de protagonismo e títulos como era o Chelsea quando o magnata russo lhe deitou as mãos - não esquecendo ainda que a matriz comportamental do adepto português, com um grande sentimento de pertença face ao clube e rendido às rivalidades dele decorrentes, em nada se compara ao espírito frenético, festivo (por vezes até violento), mas menos clubista dos fãs ingleses, que encontram no futebol mais um espectáculo que um combate, ainda que todos os casos de hooliganismo que o passado documenta possam parecer fazer desta afirmação um paradoxo.
A enviesar este debate estão anos e anos de gestões desastrosas – quando não fraudulentas -, que deixaram o futebol português sob o anátema da corrupção, do desvario ou, pelo menos, da incompetência.
Antes de mais, é pois necessário distinguir uma boa de uma má gestão, e isso não se faz necessariamente recorrendo à comparação de modelos jurídico-institucionais diferenciados, mas sim avaliando as boas práticas de quem, a cada momento, tem por missão assegurar os destinos de uma determinada organização, seja seu presidente - numa base associativa -, seja seu gestor, ou mesmo seu proprietário.
Ninguém dirá que o Barcelona, um dos clubes mais ricos do mundo e orgulhosamente assente na sua densa massa associativa, é mal gerido (assim como, de resto, o grande rival Real Madrid), tal como todos reconhecerão os méritos da gestão, por exemplo, do Manchester United, que corporiza um modelo completamente diferente, no qual a valorização accionista é motor de uma privatizada estrutura empresarial. Em sentido inverso podemos de igual modo encontrar exemplos, tanto de associativismo fracassado – desde logo de um passado recente no nosso país – como de fenómenos de empresarialização mais audaz que conduziram ao caos, senão económico pelo menos desportivo, como foi o caso do Atlético de Madrid do já desaparecido Gil y Gil em Espanha, do Leeds em Inglaterra ou do Marselha em França, para não falar da parceria MSI-Corinthians (que quase levou o “Timão” à despromoção) ou, entre nós, do Beira Mar recentemente devolvido à II divisão.
É bom ter-se também em atenção que o retumbante sucesso económico e desportivo alcançado por alguns emblemas de topo do futebol europeu é objectivamente inalcançável por qualquer clube português nos tempos mais próximos, qualquer que seja o caminho institucional que pretendam seguir. Bastará atentar na distribuição de receitas da Liga dos Campeões do ano em que o F.C.Porto a venceu, para perceber que os clubes ingleses, italianos e espanhóis, com um “Market Pool” muito mais elevado, resultante de direitos de transmissão para mercados muito mais amplos e abastados, dispõem de ferramentas de valorização e enriquecimento que ao nível do nosso pequeno país - mesmo para F.C.Porto, Benfica e Sporting - não passam de românticas quimeras.
Urge pois desmistificar a ideia de que a salvação do futebol português está na chegada de opulentos investidores, carregados de euros para contratar vedetas internacionais. Não só se trata de um equívoco – pois já vimos não ser essa a condição de sucesso desportivo -, como por outro lado representa um obscuro perigo, dada a irreversibilidade que esses caminhos normalmente atrelam a si. Homens como Roman Abramovich não existem a cada esquina, e os três grandes portugueses não são, sociológica ou historicamente, clubes de bairro à procura de protagonismo e títulos como era o Chelsea quando o magnata russo lhe deitou as mãos - não esquecendo ainda que a matriz comportamental do adepto português, com um grande sentimento de pertença face ao clube e rendido às rivalidades dele decorrentes, em nada se compara ao espírito frenético, festivo (por vezes até violento), mas menos clubista dos fãs ingleses, que encontram no futebol mais um espectáculo que um combate, ainda que todos os casos de hooliganismo que o passado documenta possam parecer fazer desta afirmação um paradoxo.
Há muitas formas de fazer dinheiro com o futebol que não passam por vitórias nos relvados. É essa também uma das particularidades desta área de negócio, e é importante que os adeptos tenham delas noção bem clara. É também por isso que os clubes portugueses não precisam de “donos”, mas sim de dirigentes competentes."
LF para a revista "Futebol Português"
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