TANGO EMBALA DRAGÃO

O F.C.Porto venceu mais uma vez, mais uma vez não sofreu golos – leva já cerca de 670 minutos de redes invioladas -, e segue cada vez mais só num campeonato verdadeiramente à parte de toda a concorrência.
Sem retirar os muitos méritos que os portistas têm tido, mais uma vez ficou também a sensação de enormes facilidades concedidas pelo adversário, neste caso o vizinho Leixões. Sem querer entrar em qualquer tipo de especulação acerca de jogadores emprestados ou afins, a verdade é que as equipas que o F.C.Porto tem defrontado no campeonato parecem entrar em campo já derrotadas, mostrando uma face bem diferente daquela com que surgem quando enfrentam outros emblemas. Se há casos em que as camisolas vencem jogos – no passado terão sido as do Benfica a consegui-lo – o F.C.Porto é um bom exemplo dos tempos modernos, pois o simples facto de o defrontar parece intimidar quase todas as equipas da Liga, que provavelmente até retirarão tacitamente do seu calendário pontual essas duas partidas, parecendo dá-las à priori como perdidas.
Mas seria extremamente injusto atribuir a campanha do F.C.Porto exclusivamente a estes factores de ordem, digamos, psicológica. O clube manteve quase todos os seus principais jogadores, manteve a estrutura da equipa, manteve o treinador, e surge agora num estádio de desenvolvimento competitivo muito superior a Benfica e Sporting, alvos de profundas transformações. A manutenção de Lucho e Quaresma no plantel – enquanto Benfica vendia ao desbarato Simão e Manuel Fernandes justamente para os clubes que cobiçavam os portistas – está-se a revelar a chave de uma época (até ver) ganha pelos dragões, e perdida pelas águias, provando afinal que os chamados encaixes financeiros têm muito que se lhe diga, mesmo à luz de uma criteriosa gestão de meios financeiros, ou não fosse até o F.C.Porto a embolsar (muito) mais dinheiro com as transferências de Pepe e Anderson.
Por outro lado, a equipa portista, com ou sem Jesualdo, apresenta desde há muitos anos – com um ou outro curto interregno – uma capacidade competitiva e uma dinâmica de vitória que não tem paralelo em Portugal. A forma como os jogadores entram em campo para cada jogo, sempre como se fossem disputar uma final da Liga dos Campeões, faz a diferença para os rivais. É também por isso que promessas como Leandro Lima ou outros não entram facilmente no onze dos dragões, enquanto que nos rivais lisboetas qualquer jovem talento é rapidamente promovido a um estrelato muitas vezes sem grande base de sustentação.
Depois há também que salientar a extraordinária época de Lisandro Lopez, finalmente a deixar ver a veia goleadora que o trouxe para a Europa, e que o fez ser disputado por Benfica e F.C.Porto há pouco mais de dois anos. O avançado argentino leva marcados oito golos, ou seja, mais de 50 % do total da equipa, resolvendo deste modo aquele que se poderia esperar ser um dos maiores problemas dos portistas, dada a inadaptação de Farias, e a inconstância de Adriano e Postiga.
Se o F.C.Porto não perder qualquer ponto até à sua deslocação à Luz (jogos em casa com Belenenses e V.Setúbal e deslocação à Amadora), quase poderá encomendar as faixas. Além do mais vai apanhar o Benfica entalado entre Milan e Shakhtar Donetsk (jogo este antecipado para dia 4 de Dezembro por via da participação do Milan no Mundial de clubes), e percebe-se o peso que isso poderá ter.
Será a luta pelo segundo lugar a animar uma vez mais o campeonato ?

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