O GOLEADOR

Nas brincadeiras de infância e juventude, jogava sempre a avançado. Era alto e forte. Não tinha jeito para fintas. Gostava de rematar. Era perto da baliza adversária que me sentia mais confortável.
A escassez de talento não me permitiu fazer carreira, mas permaneceu uma certa ligação emocional à posição. Embora o grande ídolo da minha meninice fosse Fernando Chalana, sempre nutri um carinho muito especial por todos os goleadores, de Nené a Mats Magnusson, de Nuno Gomes a Óscar Cardozo.
Mais do que dribles, túneis, passes milimétricos, toques de calcanhar, cabritos, rabonas ou chicuelinas, o que sempre me seduziu no futebol foi mesmo o golo. O golo, puro e simples. O último toque. O remate. As redes a abanar. Os braços no ar. As bancadas em festa.
São os golos que fazem vibrar o povo da bola. Sem eles, não resta quase nada. Com eles, vem todo o sumo de que o jogo necessita.
Não admira pois que Jonas seja hoje o futebolista que mais admiro no Benfica. Embora não se trate de um ponta-de-lança clássico (como Raúl Jimenez ou Mitroglou), são dele 40% do total de golos da equipa no campeonato. É ele o goleador. Não só do Benfica como da prova. Acresce que não se limita a marcar. Fá-lo com classe.
Na Choupana, em jogo difícil, foi mais uma vez protagonista. Tem sido assim frequentemente desde que chegou a Portugal – com expectativas não muito altas, diga-se.

Luisão é o líder, Nico Gaitán o artista, mas quem mais vezes me faz saltar da cadeira chama-se Jonas Gonçalves Oliveira. É internacional brasileiro, leva 50 golos em época e meia de águia ao peito, e não se cansa de nos fazer felizes.

2016: ANO 35

A cada ano que começa, manifestamos desejos e traçamos metas, de modo a que, mais tarde, possamos aferir o que foi alcançado. Com um Bi-Campeonato de Futebol, e múltiplas conquistas nas modalidades, 2015 foi um ano em cheio. Para 2016, deseja-se o mesmo de 2015, e o mesmo de sempre: títulos!
É esse o único objectivo de um Clube com a história e a dimensão do nosso. É para isso, e só para isso, que o Benfica existe. É por isso, e só por isso, que apaixona milhões de pessoas no país e no mundo.
Sendo o Futebol a modalidade mais representativa, quando falamos em títulos pensamos desde logo na conquista do Tri-Campeonato. E não há paradigma, novo ou velho, que possa subjugar esse desígnio a qualquer outro.
Formação, patrocínios, profissionalização, expansão da marca, recursos humanos ou infraestruturas, são meios (importantes, é certo) para alcançar um fim. Mas o fim é, exclusivamente, ser campeão. Caso contrário, tudo o resto será completamente inútil. Não se trata aqui somente de emoção. Trata-se de razão. Da razão de existirmos.
É pois esta a bitola segundo a qual terá de ser medido o novo ano, assim como foram medidas, ano após ano, todas as temporadas desportivas desde que me lembro de existir, e de chorar pelo Benfica. Se em Maio estivermos no Marquês de Pombal, 2016 será um sucesso. Se lá não estivermos, será um fracasso.

O nosso ano zero foi em 1904, e daí em diante fizemo-nos gigantes através de títulos. É deles que se enche orgulhosamente o museu Cosme Damião. Eles são tudo. Sem eles, tudo o resto é nada. São eles, e só eles, que podem fazer de 2016 mais um ano à Benfica.

2015, UM ANO DE GLÓRIAS

O ano que termina ficou repleto de sucessos para o nosso Glorioso Clube.
Em 2015, fomos Bi-Campeões nacionais de futebol, algo que não sucedia desde 1984. Vencemos também, e uma vez mais, a Taça da Liga (a sexta, nas últimas sete edições). Já nesta nova temporada, conseguimos um brilhante apuramento para os oitavos-de-final da Champions League, e mantemo-nos vivos na corrida ao Tri-Campeonato. Assistimos ainda ao nascimento de novos futebolistas ao mais alto nível, provenientes da escola do Seixal.
Na componente extradesportiva, há que salientar os negócios de milhões celebrados, quer com a Fly Emirates, quer com a NOS, que tanta inveja causaram junto dos nossos principais rivais, e que tão grande importância têm no reforço dos alicerces económico-financeiros do Clube, a curto, médio e longo prazo.
Nas modalidades, o ano benfiquista foi espantoso. Porventura, o melhor de sempre. Estou em crer que nunca, em 111 anos de história, o Benfica se havia sagrado campeão nacional de tantas modalidades, nem erguido tão elevado número de troféus, numa mesma temporada. Se evidências faltassem, ficou cabalmente demonstrado quem é, de facto, e de longe, a maior potência desportiva do país. Para além do Futebol, fomos campeões de Hóquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, Futsal e Atletismo, títulos aos quais há que juntar diversas Taças de Portugal, Supertaças e outras competições oficiais. Como se tal não bastasse, o sector feminino, através do Hóquei, deu-nos ainda, entre outros, um inédito título europeu. Em suma, ganhámos praticamente tudo.

Que venha 2016. E possa ser, pelo menos parecido.

GIGANTES!

Nem um empatezinho para amostra! 33 jogos, 33 vitórias! 22 jornadas de 2014-15, e mais 11 (o pleno) de 2015-16. É este o inacreditável pecúlio da equipa de Hóquei em Patins do Benfica no Campeonato Nacional da 1ª divisão, desde o já distante dia 25 de Outubro de 2014.
7-0 fora e 9-0 em casa com o Sporting, 10-0 ao Valongo, 7-3 no Dragão e 5-1 ao FC Porto na Luz, eram alguns dos resultados averbados neste percurso. Faltava uma vitória sofrida, com contornos de filme de suspense, e sabor a mel, para compor o quadro. Ela aconteceu no último sábado, após um espectáculo inolvidável.
Aquele último minuto vai ficar marcado na história do Hóquei português, e na memória de todos os que enchiam o Pavilhão da Luz. Virar um resultado de 3-4 para 6-4 em apenas 68 segundos, frente a um, também ele, candidato a todos os títulos nacionais e internacionais, não é proeza que possa passar em claro. E apenas está ao alcance daquela que é hoje, sem dúvida, uma das melhores equipas do mundo, e, porventura, a melhor de sempre do hóquei encarnado.
Não será preciso lembrar que, apesar destas exuberantes manifestações de qualidade, ainda nada está ganho esta época. Tenho a certeza que os festejos estão bem guardados lá mais para o fim. Mas, a manter-se o espírito, todas as ambições são legítimas.

Enquanto benfiquista, e apaixonado do Hóquei em Patins, tenho um sonho: ver o capitão Valter Neves erguer mais um troféu de campeão europeu, desta vez na nossa casa, perante uma multidão idêntica à de sábado passado. Até o adversário poderia ser o mesmo. Fica já reservada uma das doze passas da passagem do ano.

A CRÓNICA DE UM FRACASSO ANUNCIADO

Um verdadeiro benfiquista não pode enterrar a cabeça na areia quando alguma coisa está manifestamente a correr mal. Identificar falhas, apontar caminhos, discutir estratégias, é algo de que, quem vive o Benfica, quem sofre com o Benfica, e quem chora pelo Benfica, jamais poderá abrir mão. Muita coisa está a correr bem (a área comercial, a Btv, as modalidades, e as infraestruturas, são apenas alguns exemplos), mas o epicentro do clube, o dínamo que o faz rodar, aquilo que o tornou popular e mobiliza milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, não tem correspondido às exigências. E é isso – que se traduz numa frase que bem poderia ser a mãe de todos os lemas da casa  “ser campeão nacional de futebol” – que leva a um sentimento de angústia que não pode ficar refém de qualquer silêncio cúmplice.
Estamos ainda a alguns dias do Natal, e o Benfica já perdeu a Supertaça, já foi eliminado da Taça de Portugal e está praticamente afastado da luta pelo Campeonato Nacional. Partindo do pressuposto que ganhar a Champions League é tarefa quimérica, e que um eventual triunfo na Taça da Liga seria mero paliativo para as dores, facilmente se conclui que a época está perto de se considerar perdida. E, a ser assim, não encontro outra palavra para a definir que não seja: fracasso.
Quando, no último verão, a direção benfiquista anunciou a adoção de um novo "paradigma”, assente numa crescente “aposta na formação”, confesso que senti um arrepio na espinha. Infelizmente, os meses decorridos estão a dar razão ao meu ceticismo.
A não renovação de contrato com Jorge Jesus – justificada tacitamente por esse “novo paradigma” – representava o fim de um ciclo, e o princípio de uma nova era, na qual o Seixal assumia preponderância (aliás, é preocupante o histórico de treinadores campeões empurrados do Benfica, de Mortimore a Toni, de Trappatoni a Jesus).
Até aceitaria o propósito, não viesse o Benfica da conquista de um Bi-Campeonato, totalmente assente no anterior “paradigma” (ou lá o que se lhe queira chamar), e nas ideias ganhadoras do agora treinador do Sporting. Então, nesse velho "paradigma” , o que interessava era ser campeão, independentemente dos nomes, idades, caras, cores, nacionalidades ou penteados dos jogadores que entravam em campo. Agora, com o novo "paradigma”, parece haver uma subversão de prioridades. O que interessa é formar jogadores, e lançá-los. Primeiro na equipa, depois no mercado. Os títulos? Logo se vê. Se esta não é a verdade, anda lá próximo.

Para protagonizar esse novo “paradigma”, foi contratado um treinador cujo cartão-de-visita consistia precisamente no lançamento de jovens jogadores na equipa principal do Vitória de Guimarães. O facto de se tratar de um clube sem responsabilidades de lutar por títulos, de os resultados não terem sido empolgantes, e de tais jogadores, com uma ou outra exceção, se terem perdido entretanto no anonimato, não foi tido em conta. Foi prometido, na altura, que o novo técnico teria à sua disposição meios idênticos aos usufruídos pelo anterior, promessa que de forma alguma foi cumprida – o que, pelo menos em parte, até iliba o pobre Rui Vitória dos onze pontos já desperdiçados no Campeonato, da derrota na Supertaça, e da eliminação da Taça de Portugal.
Aceitaria o argumento de que esta alteração abrupta e inoportuna de uma política desportiva que se revelava altamente ganhadora (e financeiramente rentável) tivesse sido imposta por circunstâncias externas, impossíveis de contornar (colapso do BES?). Ou seja, tal não teria constituído uma opção estratégica voluntária, mas sim uma necessidade premente, ditada pela tesouraria, ou qualquer outra questão semelhante e inultrapassável. A ser o caso, e tomando de barato algumas contratações estranhas e caras (porquê, e para quê, aquele "pack-dez"? porquê, e para quê, trazer jogadores com o perfil e o histórico de Taarabt?), a situação carecia de uma explicação cabal, frontal e exaustiva, onde não faltasse um redimensionar de expetativas em baixa, capaz de satisfazer uma massa associativa cada vez mais jovem, cada vez mais letrada e esclarecida, e cada vez mais exigente quanto a todos os aspetos da vida do clube que ama…e que paga. Esse exercício não foi feito, o que abre naturalmente o espaço à crítica. À construtiva – como pretende ser esta -, mas também à daqueles que estão sempre na linha da frente para usar, exponenciar e alimentar os fracassos do futebol encarnado, com fins alheios, e nada inocentes.
O erro estratégico é evidente, e pode detalhar-se em onze parâmetros de análise. Tantos quantos os jogadores de uma equipa de futebol. A saber:
1)      Tendo a equipa sofrido um colossal desinvestimento no verão de 2014 (só para recordar: Oblak, Garay, Siqueira, Markovic, Matic, André Gomes, Enzo Perez, Cardozo e Rodrigo…), não foi relevado o indiscutível mérito do treinador na conquista da Liga de 2014-15. De uma manta de retalhos, de um plantel dizimado e substancialmente mais fraco que o do principal opositor, Jorge Jesus conseguiu o milagre de vencer quinze dos primeiros dezassete jogos do campeonato, embalando a equipa para mais um título nacional (o terceiro em seis anos). Foi a dinâmica imposta pelo treinador, a sua base de trabalho, e o seu modelo de jogo, que ganharam uma competição que, no papel, se antevia como quase impossível por quem, em agosto de 2014, olhasse os factos com alguma lucidez. Na hora de festejar, muitos rostos apareceram. Mas se o campeonato de 2013-14 tinha sido de Luís Filipe Vieira (honra lhe seja feita), o último foi claramente de Jesus. E por muito mal que possamos pensar do homem, do seu caráter, da sua teimosia, da sua má educação, das suas atitudes ou declarações, da forma extemporânea com que bateu com uma porta que lhe haviam entreaberto, manda a verdade reconhecer que só talvez José Mourinho esteja hoje no mesmo patamar de competência técnica e de capacidade ganhadora. Ou seja, tínhamos o ouro, e demo-lo ao bandido.
2)      Foi e continua a ser sobrevalorizada a relevância do Centro do Seixal como potencial alimentador de jogadores para a equipa A. Por muito que se tente demonstrar o contrário, desde o tempo de Rui Costa (vá lá, com boa vontade, talvez de Manuel Fernandes) que não surge na formação benfiquista um jogador capaz de se afirmar na equipa principal, e desde logo fazer a diferença, ou trazer benefícios (é disto que se trata, pois pô-los a jogar é fácil, ganhar com eles, nem tanto). Aliás, independentemente das infraestruturas criadas (mérito indiscutível desta direção), está por demonstrar que o Seixal, em termos de know-how e de resultados práticos, represente por ora uma mais-valia relativamente aos principais rivais. Podíamos falar de Gelson Martins, de Matheus Pereira, de André Silva ou de Ruben Neves (ao nível dos quais talvez não haja ninguém entre os jovens da Luz). Mas, também, de um FC Porto campeão nacional de Juniores, de um Sporting campeão nacional de Iniciados, ou da classificação das equipas B na corrente Liga de Honra (onde o Benfica B de Hélder Cristóvão corre riscos de descida). Aliás, por falar em Juniores, o Benfica tem apenas um campeonato ganho nessa categoria nos últimos doze anos. É verdade que há argumentos em sentido oposto (maior número de convocados para as seleções jovens, ou presenças na Youth League), mas aqueles também são válidos. No global, creio que o deve e o haver se equilibram, logo, essa mais-valia não existe, não traduzindo, em linguagem empresarial, qualquer vantagem comparativa notória face aos rivais.
3)      Pelé ou Maradona à parte, jovens de 18 ou 19 anos não têm, nem podem ter, o perfil competitivo que se exige a uma equipa que quer vencer todas as competições em que participa, e que carrega o peso dessa responsabilidade perante milhões de seguidores. Por muito talento que exista, os erros de posicionamento e de passe, as inconsistências técnicas, táticas e físicas, a falta de capacidade de choque e de frieza na hora da decisão, a ansiedade perante os grandes momentos, para além de um eventual, fácil e pernicioso deslumbramento, são razões mais do que suficientes para ter cautelas na hora de lançar um novo jogador para o estrelato. O desenvolvimento de futebolistas não pode ser feito à custa de derrotas. No Vitória de Guimarães, talvez. Na equipa B, certamente. Na equipa principal do Benfica, nunca. Nomes como Gonçalo Guedes, João Teixeira, Nuno Santos, Nélson Semedo, Lindelof, Clésio, Victor Andrade ou Renato Sanches têm futuro, mas não podem ser eles a alicerçar o presente do futebol encarnado. É um peso excessivo nos seus ombros, e um perigo para eles próprios e para a equipa. Em condições normais, seriam emprestados, para um dia voltarem – então sim – em condições de se tornarem verdadeiras mais-valias. Foi assim, num passado mais distante, com Diamantino. Foi assim com o próprio Rui Costa (cujo empréstimo ao Fafe, ele próprio o admitirá, foi muito importante para a sua carreira). Há bons exemplos também noutros clubes (William Carvalho, Adrien Silva, João Mário...). Outra alternativa seria constarem de um plantel que, para além deles, tivesse mais 20 jogadores feitos e de grande qualidade, capazes de suprir todas as posições nos momentos capitais, sobrando para os mais jovens o espaço da Taça da Liga, da Taça de Portugal, ou de alguns minutos em jogos disputados na Luz com resultado já definido. Aos poucos iam assumindo maior responsabilidade e protagonismo. Iam crescendo e, a seu tempo, se aproveitassem essas oportunidades, afirmar-se-iam como titulares. Pode argumentar-se, com alguma razão, que o anterior treinador nunca se preocupou com isso. Mas…nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
4)      A este propósito, é importante questionarmos quantos são, e quem são, os jogadores da formação na equipa principal do Real Madrid, do Bayern de Munique, do Manchester City, do Manchester United, da Juventus, do Paris Saint-Germain, do Chelsea, da Roma, do Liverpool, ou do Inter. Pode falar-se, é certo, do Barcelona, mas essa é a exceção (fundamentada num poderio financeiro que permite manter todas as jóias em casa) e não a regra. Mesmo em Camp Nou, o número de jogadores da cantera têm diminuído à medida que se vai esbatendo a prodigiosa geração dos Valdés, Puyol, Xavi e Iniestas. Messi, como um dos melhores jogadores mundiais de todos os tempos,  é um caso singular. Mas, por exemplo, Piquê andou emprestado até se fixar na equipa. Serve isto para dizer que raramente existem clubes simultaneamente formadores e ganhadores. No campo dos primeiros, poderia mencionar o West Ham, o Ajax, o Southampton, o Dínamo de Zagreb, o Auxerre, o Espanyol, ou o Sporting das últimas décadas. Nenhum serve de exemplo às ambições do Benfica, tal como eu as entendo, e como a esmagadora maioria dos benfiquistas exige.
5)      Nos tempos de Nené, Shéu, Humberto Coelho, Chalana ou Bastos Lopes, qualquer júnior aspirava fazer carreira na equipa principal. Estes conseguiram-no, outros não tiveram o mesmo destino, mas o objetivo era comum: chegar ao plantel principal, ganhar lugar no onze, e ficar no clube até pendurar as chuteiras. A realidade de hoje é substancialmente diferente, e qualquer adolescente, realizando dois ou três jogos com o Manto Sagrado, logo sonha ser transferido para um Chelsea ou para um Real Madrid, de forma a enriquecer depressa e bem. A vulnerabilidade ao parasitismo dos empresários é total. Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, João Cancelo e André Gomes já foram vendidos (nada a opor a negócios milionários como estes), sendo que se tratavam das maiores promessas da academia benfiquista. Renato Sanches, Nélson Semedo ou Gonçalo Guedes apenas esperam a primeira oportunidade para dar o salto. Se os melhores rapidamente saem, quem ficará? Daqui se conclui ser impossível alicerçar uma equipa competitiva, a médio prazo, com base em jogadores da casa – como acontecia nos anos setenta. O futebol de hoje é composto por grandes multinacionais, é extremamente volátil, e o romantismo do amor à camisola pertence a um passado cada vez mais distante. Não adianta lutar contra a chuva, pois ela continuará a cair. Um clube, mesmo com a dimensão do Benfica, tem pouca margem para alterar as regras de um fenómeno global, que veio para ficar – goste-se muito, pouco ou nada dele.
6)      De um modo mais genérico, coloco também grandes reticências ao perfil do jogador português lactu sensu, seja ele oriundo do Seixal, de Alcochete, do Olival ou de Carrazeda de Anciães. Não fosse Cristiano Ronaldo (caso raro, apenas com paralelo no Rei Eusébio), e a Seleção Nacional estaria hoje num nível paupérrimo, bem abaixo do potencial natural que existe por cá. O padrão do jogador português saído das academias está recheado de características negativas. Normalmente traz-nos jovens talentosos sim, mas também algo mimados, demasiado preguiçosos, muito dados a vedetismos precoces e a presenças reluzentes nas revistas cor-de-rosa. Veja-se o contraste com jovens argentinos, colombianos ou uruguaios, e note-se a diferença em termos de atitude guerreira, de trabalho físico, e mesmo de humildade. Acresce que, demasiados jogadores portugueses num plantel, num universo altamente mediatizado como é o futebol profissional dos dias de hoje, com a pressão social e comunicacional inerente, é meio caminho para fugas de informação, desestabilização jornalística, e casos passíveis de minar por dentro qualquer balneário saudável. Nada como um exército de sul-americanos concentrado num condomínio fechado, vivendo em circuito interno, longe dos prazeres da noite, da pressão dos fãs, e da curiosidade jornalística, para manter a disciplina e a coesão de um grupo ganhador.
7)       “Estrutura” foi talvez a palavra mais ouvida e lida nos dias que se seguiram à saída de Jorge Jesus. Com essa palavra mágica, tudo se resolveria. Mas a verdade é que o pilar de qualquer estrutura futebolística é o treinador principal, e ao mexermos nessa peça, todo o edifício abana. Por analogia com a vida política, uma boa constituição e um bom presidente da república, não fazem, por si só, com que um governo seja bem sucedido. O enquadramento ajuda, mas não é tudo. O futebol português ofereceu-nos um caso em que, suportado por uma certa "estrutura" (chamar-lhe-ia antes "sistema"), qualquer treinador triunfava. Mas aí, no FC Porto dos anos noventa, não só a metodologia era dúbia (perdoe-se-me o eufemismo) , como a oposição era fraca. Tal não é passível (nem desejável) de ser reproduzido no Benfica dos tempos de hoje. Aliás, nem o atual FC Porto resiste a uma má escolha para o seu comando técnico, conforme se tem visto ultimamente.
8)      Não podendo, ou não querendo, manter o técnico, talvez se justificasse, pelo menos, um maior esforço na manutenção do onze titular, e campeão, da época anterior. A verdade é que, à fatalidade de Salvio, juntaram-se as evitáveis perdas de Maxi Pereira e Lima. Quanto a reforços, ficaram em falta (no mínimo) um lateral-esquerdo e um médio-centro, para fazer esquecer nomes como Siqueira e Enzo Perez. Não sei porque saiu Ruben Amorim, e, dada a referida lesão do extremo direito argentino, também não se entende a guia de marcha simultânea para Ola John e Sulejmani, seus substitutos naturais no plantel campeão. Já que se fala no plantel, relembremos as dez contratações feitas no mercado de verão. Os nomes falam por si: Ederson, Diego Lopes, Pelé, Dálcio, Taarabt, Carcela, Marçal, Léo Natel, Francisco Vera e Murillo. Depois ainda vieram Raúl Jimenez (demasiado caro para o valor que tarda em demonstrar) e Mitroglou (o único reforço que, enfim, mesmo sem deslumbrar, com um golito aqui, outro ali,  lá tem cumprido o seu papel). Por fim, uma dúvida: o que aconteceria se, além de Luisão, também Jardel se lesionasse, ou, acidentalmente, visse um qualquer cartão vermelho? Quem acompanharia Lisandro no eixo da defesa?
9)      Perante tudo isto, pode dizer-se que, ao invés de um novo ciclo, estamos sim perante uma inversão de ciclo, na qual o Benfica tomou lamentavelmente o papel do Sporting e vice-versa. O vizinho de Alvalade apostou na formação durante décadas, com os resultados que se conhecem, e que quase levaram ao fim do clube - enquanto emblema ganhador. O Benfica deu um salto competitivo gritante a partir de 2009, fruto de um forte investimento em jogadores de qualidade, mas, sobretudo, da escolha sagaz de um treinador com perfil adequado, e competência singular. Foi imposto um crescente grau de exigência a todos os jogadores no treino e no campo, foi feita uma aposta na experiência e na segurança, visando a redução do erro a níveis mínimos, e com isso conquistaram-se vários títulos. Manteve-se o espírito ganhador quando, em 2013, o presidente Luís Filipe Vieira percebeu que um pontapé fortuito do improvável Kelvin não podia relativizar uma época futebolisticamente espantosa. Infelizmente, em 2015 não houve a mesma perspicácia (ou a mesma resistência a pressões internas, movidas mais por aspetos de relacionamento pessoal, do que por interesses desportivos do clube).
10)   Um grupo acessível, e uma vitória também fortuita, em Madrid, perante um adversário claramente superior, permitiu ao Benfica ultrapassar o seu grupo europeu, e iludir, até ver, uma temporada que corre o risco de se aproximar do desastre. Ao contrário do discurso que entretanto se foi ouvindo e lendo, importa porém lembrar que os resultados europeus de 2010 a 2015 se saldaram por um enorme êxito, com duas finais e umas meias-finais da Liga Europa, uns quartos-de-final da Liga dos Campeões, e a ascensão até ao quinto lugar do Ranking da UEFA. Neste período estivemos sempre presentes na fase de grupos da principal prova de clubes do mundo (seis presenças consecutivas, tantas quantas no total dos quinze anos precedentes). Temo seriamente que também esse “ciclo” venha a terminar em breve. Oxalá me engane.
11)    Por fim, importa relembrar o único motivo pelo qual o Benfica existe, e mantém milhões de adeptos espalhados pelo mundo. Esse motivo reduz-se a uma palavra: TÍTULOS. E, de entre os títulos, o Campeonato Nacional de Futebol é a expressão máxima do triunfo. Conquistar títulos tem de ser o lema absoluto, e único, de todos os que trabalham no clube, do cortador de relva ao presidente. Tudo o resto é paralelo. Tudo o resto é acessório. Formação, infraestruturas, patrocínios, mercado, comunicação, expansão da marca ou direitos televisivos são aspetos importantes para o presente e futuro do clube, mas não passam de meios para alcançar o fim último. O fim último, e único, é ganhar títulos. Novos paradigmas, velhos paradigmas, apostas estratégicas, novos ciclos, não passam de folclore retórico se não estivermos no Marquês de Pombal, em maio, a comemorar campeonatos. É isso o Benfica, e é para isso, apenas e só para isso, que ele serve. É isso que os adeptos pagam, é nisso que os patrocinadores investem, é disso que consta a nossa história. No museu Cosme Damião não estão negócios, nem resultados operacionais, nem patrocinadores. Estão troféus. Não pode haver anos zero. Ano zero foi 1904 (e, vá lá, também 2001). E se é um erro hipotecar o futuro em nome do presente, maior erro será hipotecar o presente em nome de um futuro incerto. Não tenho a certeza de que toda a gente que trabalha no clube pense deste modo. A profissionalização trouxe vantagens e desvantagens. Admito que em maior medida as primeiras do que as segundas. Percebo também algum vício profissional de quem vem de áreas de negócio (quase todas, exceto o futebol) onde as prioridades são outras. Nesta SAD o principal não é o lucro. O objetivo é vencer, e há que sofrer por isso. Creio que talvez faltem lágrimas nalguns setores do clube. Lágrimas como as que tantas vezes nós, adeptos, derramamos na hora da derrota, ou na hora da vitória. 
Dito tudo isto, e na convicção de que este leite está derramado, importa agora que os benfiquistas apoiem jogadores e treinador, pois nem uns nem outro têm qualquer culpa de ali estar em nosso nome. E percebam que também os dirigentes têm o direito a errar – sobretudo depois de tantas e tão grandes realizações ao serviço do clube. Há que contribuir para terminar a época com dignidade, e dentro dos melhores resultados possíveis. Insultos ou protestos gratuitos não levam a nada, e apenas empurram a equipa ainda mais para baixo. Além de que, neste caso, são imerecidos por quem os ouve.
Não me recordo de qualquer momento da temporada em que me tenha ficado a sensação de que quem estava em campo não estivesse comprometido com o jogo e com a vitória. Nem mesmo nesta última partida. O problema desta equipa não é falta de atitude ou de trabalho. É falta de qualidade. E não vai resolver-se do pé para a mão. É mais fácil destruir uma equipa do que construí-la. Mas não será com jovens imberbes que a reconstrução se poderá fazer rapidamente. As soluções só podem vir do mercado, e não da Liga de Honra ou do Campeonato de Juniores.
Ou me engano muito (e tanto que desejo ter de engolir todas estas palavras…), ou o tempo que irá demorar até se desistir desta ideia, ou deste “paradigma”, será menor do que aquele que resta até à conquista do 35º campeonato. 

FACILIDADE: ZERO!


Em 13 jogos realizados contra equipas portuguesas, o Zenit venceu 8, empatou 3 e perdeu apenas 2. Com o Benfica, ganhou 3 das 4 partidas que disputou. Quem espera facilidades de uma equipa cujo orçamento é astronomicamente superior ao nosso, cujo principal patrocinador é também um dos grandes parceiros da UEFA (valha isso o que valer), e cujo treinador tão bem conhece o futebol luso, desengane-se: nos Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões, o adversário que nos calhou em sorte é favorito a passar a eliminatória.

Podia ser pior? Sim, muito pior. Se o Zenit ainda nos permite acreditar numa surpresa (sim, numa surpresa), face a equipas como Barcelona, Real Madrid ou Bayern, nem mesmo sonhar nos seria consentido. Há que reconhecer que o Benfica, apesar do peso histórico que detém, é hoje um outsider nesta prova, e, um alvo apetecível para a maioria dos emblemas presentes em qualquer sorteio. Por isso, todo o optimismo deverá ser contido. A Liga dos Campeões é isto mesmo: a partir de determinada fase (sobretudo não se sendo cabeça-de-série), as hipóteses variam entre o extremamente difícil e o quase impossível. Saiu-nos a primeira versão.

É claro que alguma comunicação social, de forma pouco inocente, vai empurrar o Benfica para a pressão de ter de vencer. Não nos deixemos embarcar na cantiga. Vamos jogar, tentar ganhar, mas, no presente contexto do futebol europeu, nenhuma equipa portuguesa está obrigada a ultrapassar este Zenit. Se o conseguirmos, se chegarmos aos Quartos-de-Final, isso sim, será um feito digno de realce. Até porque a obrigação (chegar até aqui) já foi cumprida.

À GRANDE E À BENFICA

1 - Quatrocentos milhões de euros! Impressionante!
Enquanto outros se entretinham a vociferar diariamente na comunicação social, o nosso presidente assinava o maior negócio de sempre do desporto português, mostrando, por um lado, a sua já conhecida sagacidade empresarial, e por outro, a força cintilante da marca Benfica.
No momento em que escrevo, não são ainda conhecidos todos os detalhes deste negócio milionário. Mas o que se sabe é mais do que suficiente para afirmar estarmos perante um passo muito importante rumo à sustentabilidade futura do Clube – que também se reflectirá, mais tarde ou mais cedo, na competitividade das nossas equipas.
Sabemos que irão surgir tentativas de desvalorizar o que está em causa. Já há quem se mostre particularmente empenhado nessa tarefa. Tal não passa de dor de cotovelo de quem inveja a dimensão do Benfica – a qual não tem paralelo em Portugal.
Não me importa que canal transmite os jogos, até porque normalmente os vejo no estádio. Importa-me, sim, que o Clube rentabilize ao máximo a sua força mediática, e é isso que esta direcção tem vindo a fazer de forma brilhante. Em relação aos direitos televisivos, e não só.

2 – Ao que parece, FC Porto e Sporting estão empenhados em regressar ao Ciclismo. Gostaria que também o pudéssemos fazer. Ostentamos uma roda no emblema, e devemos uma parte importante da nossa implementação nacional aos tempos em que, ainda com pouco futebol, José Maria Nicolau levava a camisola vermelha (ou amarela, mas de águia ao peito) aos locais mais recônditos do país. Talvez esta seja uma boa oportunidade para se pensar no assunto.

O REI VAI NU

Mediante as movimentações ocorridas no defeso, já se antevia uma temporada futebolística marcada pela polémica. Porém, as piores expectativas estão a ser superadas.
O Sporting sente a necessidade imperiosa de ser campeão. E parece não olhar a meios para alcançar esse desiderato.
O investimento foi gigante, e a estratégia de altíssimo risco. Sem champions, sem patrocínios, e sem vendas de jogadores, um título de campeão é a única possibilidade que resta aos nossos vizinhos para equilibrar os deves e haveres, sem colocar seriamente em causa o equilíbrio futuro - quando não houver perdões bancários que lhes valham.
Daí, toda uma campanha de condicionamento da arbitragem nunca antes vista, a qual, há que reconhecer, vai tendo sucesso.
A facilidade com que se marcam penáltis a favorecer o Sporting contrasta com a dificuldade que os juízes encontram em vislumbrar faltas evidentes na sua área, bem como na área dos adversários do Benfica. Os casos vão-se somando. Em Braga, mais um penálti ficou por sancionar, agora sobre Pizzi, desta vez sem consequências.
Nos três dérbis já disputados, e independentemente do futebol que cada equipa jogou, a verdade é que ficou sempre uma grande penalidade por assinalar dentro da área sportinguista (sobre Gaitán no Algarve, sobre Luisão na Luz e em Alvalade). Podemos lembrar também o que se passou nos jogos Tondela-Sporting, Arouca-Sporting, Benfica-Moreirense ou Arouca-Benfica. Qualquer aritmética daria uma classificação bastante diferente da actual.

Até podemos fechar a boca. Mas não podemos fechar os olhos. E o que se vai passando não é bonito de se ver.

EM NOME DA JUSTIÇA

Para o Benfica, perder é sempre mau. Perder com o Sporting, pior ainda. Perder três vezes com o Sporting, deixa-nos profundamente frustrados e magoados.
Na hora de fazer uma análise, a frustração e a mágoa não são boas conselheiras. E, a frio, há muita matéria a ter em conta antes de avançar com qualquer acusação extemporânea e injusta.
Centremo-nos no jogo de sábado. O Benfica perdeu em Alvalade, após prolongamento, com o líder do campeonato, frente a um treinador que conhece muito bem as nossas forças e fraquezas, com uma arbitragem infeliz (para ser brando), tendo os jogadores lutado até à exaustão por um resultado diferente. Pergunto eu: será uma derrota desta natureza, e nestas circunstâncias, motivo para, de um momento para outro, colocar tudo em causa? Não creio.
Há que reconhecer que o plantel encarnado revela hoje carências que só o mercado pode solucionar. Rui Vitória tem feito os possíveis, mas perante um adversário que tão bem as conhece, torna-se muito difícil disfarçá-las.
O meio-campo e as faixas laterais da nossa equipa têm pouco a ver com os tempos de Maxi Pereira, Fábio Coentrão, Matic ou Enzo Perez. A verdade é que, por vários motivos, ainda não foi possível dar ao novo treinador as condições de que dispôs o anterior. Acredito que isso venha a acontecer, e ainda a tempo de alcançar o principal objectivo da temporada: o tri-campeonato. Em Janeiro teremos Nélson Semedo e Sálvio. E talvez mais alguém.

Para já, há que apoiar incondicionalmente estes jogadores, e este técnico, que estão a trabalhar seriamente para que os resultados apareçam. O balanço far-se-á no fim.

À VITÓRIA

Amanhã há Taça, e talvez estejamos perante o primeiro dérbi lisboeta da última década em que o favoritismo pende para o lado de lá.
Três ordens de razões concorrem para tal. Em primeiro lugar (com menor grau de importância) o factor “casa” sempre confere a quem dele beneficia uma certa vantagem relativa - basta consultar as estatísticas históricas. Em segundo lugar, há que dizer que teremos pela frente o líder do Campeonato, com toda a confiança que esse estatuto lhe confere, enquanto nós, com muita juventude na equipa, ainda andamos à procura de um ritmo cruzeiro que se enquadre na identidade competitiva que recentemente adoptámos. Por último, e com grande relevo num “tête-à-tête” desta natureza, teremos de admitir que vai estar do lado oposto um técnico que conhece as forças e fraquezas da nossa equipa como a palma das suas mãos, aspecto que, a meu ver, pesou decisivamente, quer no jogo da Supertaça, quer na partida da Luz para o Campeonato, com os resultados que conhecemos.
Partir com menos favoritismo pode influenciar as casas de apostas, mas não deve inibir o Benfica de jogar para ganhar. Um dérbi é um dérbi, e o Benfica é o Benfica.

A quem já venceu no Vicente Calderón (onde o favoritismo do adversário era muito mais acentuado), tudo é possível. Recorde-se também a excelente primeira parte feita no Dragão, à qual só faltaram os golos. Jogando com a intensidade evidenciada nessas ocasiões, contando com a inspiração dos principais artistas (falo de Gaitán e Jonas), e tendo do nosso lado a pontinha de sorte que protege os campeões, creio que ultrapassaremos esta eliminatória. 

O CAPITÃO

A história do Benfica está recheada de grandes jogadores, e de grandes capitães.
Homens que transportaram a mística pelos estádios de Portugal e da Europa, homens que personificaram vitórias e ergueram troféus, homens que inscreveram o seu nome, a letras de ouro, na memória colectiva do benfiquismo.
Lembro-me de Toni, de Humberto Coelho, de Manuel Bento. Já não vi jogar Mário Coluna, mas qualquer benfiquista sabe bem o que ele representou para o clube. Orgulho-me do simples facto de ainda o ter podido cumprimentar pessoalmente.
Cada um na sua dimensão, cada um a seu tempo, estes nomes foram símbolos do Benfica. Todos eles escreveram pedaços de história pelo seu próprio punho.
No século XXI, creio que um só jogador atingiu semelhante nível de simbolismo na nossa equipa de futebol. Esse jogador chama-se Anderson Luís da Silva, vulgo Luisão.
Grandes craques passaram entretanto pelo clube. Mas a volatilidade do mercado que caracteriza os tempos modernos não permitiu que se fixassem por muitos anos entre nós. A dimensão superior de Luisão resistiu a tudo isso, e este brasileiro (ou português, ou simplesmente benfiquista) entrou para a nossa família, construiu doze anos de carreira de águia ao peito, e promete não ficar por aqui.
Inevitavelmente, um dia Luisão deixará de jogar. A lei da vida não permite excepções. Mas não tenho dúvidas de que esse dia ainda está demorado, tal a forma como o nosso capitão se exibe, como comanda a equipa, como sua a camisola que veste, como dá o exemplo aos mais novos.

Luisão já está na história. Já escreveu história. Mas o ponto final ainda vem longe.

À BENFICA

Enquanto a equipa de futebol, com todas as transformações ocorridas na pré-temporada, atravessa ainda um natural período de adaptação ao seu novo paradigma, as modalidades do Benfica evidenciam já, de forma bem clara, a matriz triunfante que caracterizou toda a época passada.
Vejamos: em jogos do campeonato, nas cinco principais modalidades de pavilhão, os encarnados contam neste momento com a impressionante cifra de 33 vitórias em 34 jogos realizados. A única derrota veio do andebol, e de uma partida disputada no Porto.
Não constando o Carcavelinhos de nenhum dos campeonatos, diga-se que em hóquei já vencemos em Viana, goleamos o Sporting (9-0), e ganhámos ao Barcelos; em basquetebol vencemos o FC Porto; em futsal ganhámos no Fundão, ao Sporting e ao Beleneneses; em andebol triunfámos ante o Madeira e o ABC; e em voleibol ganhámos em Espinho e nos Açores.
Estes números não nos surpreendem, tendo em conta a extraordinária qualidade das nossas equipas. Com jogadores com passado na NBA no basquetebol, com titulares da selecção espanhola no hóquei, com a espinha dorsal das equipas campeãs de futsal e voleibol, e com uma aposta declarada em jovens talentos no andebol, o Benfica apresenta-se como forte candidato a ganhar todas as provas nacionais em que participa, tendo inclusivamente fundamentadas ambições europeias em algumas das modalidades referidas - todas elas objecto de participação internacional.

Esta reiterada força do nosso ecletismo merece que enchamos os pavilhões. Merece um apoio incondicional de todos os sócios e adeptos, pois o Benfica é mais, muito mais, do que futebol.

VITÓRIA NA DIGNIDADE

O resultado do dérbi esteve longe de corresponder às nossas expectativas. Expectativas legítimas de quem, já nesta época, havia visto o Benfica cilindrar o Belenenses, ou vencer categoricamente no Estádio Vicente Calderón.
O adversário foi feliz. Abriu o marcador num momento em que o Benfica até dominava, e teve mérito no aproveitamento das falhas que fizeram avolumar o resultado.
Com 0-3 ao intervalo, restava à nossa equipa jogar com profissionalismo. E fê-lo.
Estivesse o árbitro num plano de maior acerto, e os números poderiam ter sido diferentes. Mas, se formos justos, saberemos reconhecer que, neste jogo, o Benfica não foi a melhor equipa em campo.
Se perdemos em futebol, temos também de dizer que ganhámos em dignidade. O que se passou na Luz a meio de uma segunda parte onde as esperanças de um resultado positivo eram já meramente académicas, vai ficar na memória de todos os que assistiram, participaram e sentiram. O Benfica é aquilo. E se tantas vezes se fala de falta de cultura desportiva em Portugal, ora ali esteve um exemplo da forma como deve ser vivido o futebol, e de como deve ser apoiada uma equipa, nas horas boas, e nas horas más. De resto, toda a partida decorreu com correcção, dentro e fora de campo, o que, depois de semanas de polémica, não poderá deixar de ser enaltecido.
O sorteio da Taça deu-nos uma boa oportunidade de desforra. Vamos aproveitá-la.

Quanto ao campeonato, ganhando na Madeira, poderemos estar a 5 pontos do primeiro lugar. Basta recordar o que aconteceu em algumas das últimas temporadas para perceber quão insignificante pode ser essa desvantagem.

SEM SENTIDO

Para além de patriota, sou também adepto da selecção nacional, em particular, e do futebol de selecções, em geral. E é por sê-lo, que há muito defendo uma reconfiguração dos calendários competitivos a este nível. A lesão do nosso Nélson Semedo apenas vem reforçar esta minha convicção.
Não creio que faça sentido interromper a temporada clubista para realizar jogos de qualificação, seja para Europeus, seja para Mundiais. Seria muito mais interessante para os adeptos, e menos penalizador para os clubes, que as fases de qualificação fossem integralmente realizadas no final de cada época – no mês de Junho.
Estas paragens a meio de campeonatos e de provas europeias são uma espécie de anti-climax no entusiasmo do adepto, forçando-o a um contorcionismo afectivo para lhes permitir apoiar figuras que, nas semanas anteriores, e nas semanas seguintes, estiveram e estarão noutros lados da barricada das emoções. Iniciado o defeso clubista, então sim, haveria todo o espaço para o afecto patriótico, e para um entusiasmo muito maior com o futebol de selecções – à semelhança do que geralmente acontece aquando das fases finais das grandes provas.
Para os clubes, estas pausas são um calvário. Os jogadores são forçados a viagens longas, a diferentes métodos de trabalho, a cargas físicas que por vezes rompem com o planeamento feito pelos seus treinadores, e estão sujeitos a lesões que os prejudicam a si, e prejudicam seriamente quem lhes paga os salários. Ou seja, se as selecções têm pouco ou nada a ganhar, os clubes têm tudo a perder.

Não tenho dúvidas que isto um dia mudará. Só não sei quando.

CHEGOU A HORA

Ao longo das últimas semanas, o Sport Lisboa e Benfica, os seus sócios e adeptos, e o desporto português em geral, têm sido alvos de uma ofensiva sem precedentes.
Um arrivista sem nível, à procura de popularidade barata, socorreu-se dos meios mais infames para, em bicos de pés, fazer os seus números. Grita todos os dias, à espera que o oiçam. De disparate em disparate, vai subindo o tom, não escondendo irritação pela ausência de resposta.
Para além de dois ou três papagaios de ocasião, o eco surge através das páginas de um diário desportivo que, pela sua história, e por respeito aos leitores, jamais deveria prestar-se ao triste papel de “voz do dono” – sendo que aqui é o dono que ladra, e o cão só abana a cauda.
Muito bem, o Benfica tem sabido manter a serenidade. Ao contrário do que pretendiam dono do cão e cão do dono, toda esta fumarada apenas serviu para nos unir ainda mais, inflamando também o orgulho dos nossos jogadores e técnicos. Não precisávamos de tanto. Mas agradecemos a ajuda.
A resposta para a imbecilidade é o silêncio. A resposta para a provocação é dada em campo. E o ruído virá das bancadas – que fervilharão de benfiquismo como nunca.
Chegou a hora de dono (ou cão) terem o que merecem. No domingo, às 17.00, vamos responder-lhes como mais lhes dói: com uma grande vitória, com uma vitória à Benfica.
Veremos como rapidamente se colocam no devido lugar. Veremos como toda a gritaria se dissipa. Veremos como baixam as orelhas, e fogem com a cauda entre as pernas.

Então, regressaremos aos plácidos tempos em que os animais não falavam. Regressaremos à normalidade.

FUTEBOL FANTASMA

O adiamento do União-Benfica levanta questões subjacentes que, mais tarde ou mais cedo, terão de ser objecto de reflexão profunda.
Na origem do caso está a inexistência de um estádio com condições para um clube disputar os seus jogos, problema que já se colocou esta temporada em Tondela e em Arouca.
Diga-se que estes e outros clubes da primeira liga, além de não terem estruturas, também não têm… adeptos. Ou seja, são realidades mais ou menos fantasma, que, suponho, apenas servem para satisfazer caciquismos locais sem qualquer expressão popular. São inexistências desportivas, cujo lugar jamais poderia ser num campeonato altamente profissionalizado.
Conheço razoavelmente a realidade de pequenos clubes e de pequenas cidades, e intriga-me como se financiam os Moreirenses, os Aroucas, os Uniões e os Tondelas. Não sei como pequenos municípios, ou mesmo freguesias, com pompa, mas sem circunstância, alimentam clubes de primeira divisão, recheados de jogadores estrangeiros, sem bancadas, sem sócios, nem adeptos. Também é estranho que a região autónoma da Madeira (cuja beleza tanto admiro, e cujas gentes muito prezo) mantenha três clubes (!!!) no principal campeonato. Recordo, por exemplo, que o Algarve está à margem do futebol maior, para não falar em todo o interior do país, ou até nos Açores.

Se queremos um campeonato equilibrado, competitivo, espectacular, e com estádios cheios, este não é o caminho. Com metade dos clubes, estruturas à altura, e paixão nas bancadas (e já agora, também com ordenados em dia), o futebol português poderia atingir o nível que merece. Haja bom senso para tal.

UM ARTISTA

É natural que, num debate televisivo onde participam adeptos de três clubes, as vozes por vezes se elevem, e os ânimos por vezes aqueçam. Sempre foi assim desde que o modelo existe, e embora o grau de esclarecimento seja quase sempre baixo, o grau de entretenimento torna-se compensador para quem aprecia o estilo. As audiências sobem, as estações agradecem. Quem não gosta, não vê.
O que já não é normal é o presidente de um grande clube aceitar expor-se a registos desta natureza, colocando-se ao nível do simples adepto sem responsabilidades, debitando retórica comprometedora para o clube que dirige, e envergonhando aqueles que era suposto representar.
A figura que o presidente do Sporting fez na TVI24 entristece-me enquanto adepto do futebol. Independentemente das rivalidades, habituei-me a ver em Alvalade dirigentes cujo comportamento cívico era inatacável. João Rocha, Amado de Freitas, José Roquette e Dias da Cunha são apenas alguns exemplos. Agora, olhamos para o outro lado da rua, e vemos um artista sem categoria, cujas habilidades chocam aqueles que prezam um futebol acima do nível da taberna. Quando se juntam os holofotes do mediatismo à mediocridade, o resultado é este.
Fundos, empresários, jornalistas, jogadores, treinadores, funcionários, antigas glórias, árbitros, dirigentes, ex-dirigentes, clubes, UEFA, comentadores, grupos de adeptos, hotéis, etc. Todas as guerras servem para ganhar popularidade, num indivíduo que não consegue esconder o deslumbramento pela sua nova vida de figura pública. 
Infelizmente, também já tivemos disto cá em casa. Conhecemos a espécie.

Pobre Sporting.

JORNADA DE ELEIÇÃO

1.Recuperados dois pontos a ambos os rivais, antecedendo paragem para selecção e Taça de Portugal, e na antecâmara de um Benfica-Sporting, o jogo de domingo, frente ao União, é muito mais importante do que parece.
Ganhar significa, pelo menos, manter as distâncias, e encarar o dérbi com a força de quem pode chegar-se à frente. Atrasar-nos neste momento acrescentaria pressão à nossa equipa, e - muito importante – retirá-la-ia aos rivais. Creio ser mais provável vencer o dérbi se a ele chegarmos a apenas dois pontos, do que no caso de o resultado do Funchal nos atirar para longe da liderança.
Ao contrário do que tem acontecido na Luz – onde o Benfica é rei e senhor -, fora de casa ainda não encontrámos o caminho das vitórias. Está é uma bela ocasião para afastar também esse estigma. Eu voto numa vitória clara do Benfica.
2. Numa altura em que o nosso vizinho procura, em várias frentes, retomar a competitividade de que há muito andava arredado, todos os dérbis lisboetas (do futebol ao matraquilho) terão de ser encarados com crescente importância estratégica. Infelizmente, supertaças de futebol e (agora) hóquei em patins, e taça de honra de futsal, voaram para o lado de lá da rua, servindo apenas para os galvanizar. Não podemos voltar a dar-lhes a mão de forma tão generosa. Espera-se um rápido ponto final nesta triste sequência, e a retoma da ordem natural das coisas.

3. De basquetebol e voleibol esperam-se dois troféus para este sábado. A equipa de Carlos Lisboa já alcançou uma conquista. A de José Jardim estreia-se oficialmente. Há que manter a senda triunfante da última temporada. 

DERROTADOS, MAS...

Não existem vitórias morais. O Benfica perdeu o clássico, e, como tal, ninguém na família benfiquista pode estar minimamente satisfeito. Acresce que esta foi a segunda derrota em outros tantos jogos fora de casa, o que, não sendo dramático, não pode deixar de constituir matéria de reflexão.
Dito isto, é preciso dizer também que da partida de domingo ficaram algumas notas positivas.
A primeira parte foi bastante bem conseguida. Não me recordo, nos anos mais recentes, de entrada tão forte do Benfica no Estádio do Dragão. Ao intervalo, o melhor em campo era claramente o guarda-redes do FC Porto, que já evitara dois golos cantados.
A equipa encarnada apresentou-se personalizada, com os sectores muito juntos, funcionando em harmónio, tanto a defender como a atacar. Os jovens não tremiam (excelente exibição de Nélson Semedo), e, na frente, Mitroglou abria espaços e criava perigo. O FC Porto não conseguia, sequer, aproximar-se da nossa baliza.
No segundo período tudo mudou. Para sermos justos, há que dar mérito à equipa da casa, que apareceu transfigurada. Terá faltado, então, alguma inspiração aos artistas Jonas e Gaitán para que o Benfica conseguisse sacudir a pressão a que foi submetido. O tempo ia passando e, a cinco minutos do fim da partida, o resultado esperado era o empate. Aí, faltou a sorte do jogo. A sorte que havíamos tido, por exemplo, na época anterior – quando alcançámos uma vitória carregada de felicidade.

Nada está perdido. Se a nossa equipa jogar sempre como naqueles 45 minutos, certamente perderá poucos pontos no resto do campeonato. E no fim, faremos as contas.

MEIA DÚZIA

Chame-se-lhe nota artística ou outra coisa qualquer (o nome é indiferente), a exibição conseguida pelo Benfica diante do Belenenses fica nos registos, para já, como a melhor da temporada. Vou mais longe: mesmo puxando pela memória, não me recordo de qualquer partida da época anterior na qual o perfume do futebol apresentado pelos encarnados tenha atingido o esplendor evidenciado na passada sexta-feira na Luz.
Com Gaitán e Jonas endiabrados (que dupla!), com um Mitroglou muito activo no seu papel de jogador de área capaz de marcar e criar espaços, com Talisca de regresso aos golos, com dois jovens da formação a titulares - e outro entrado mais tarde, terminando a partida com cinco portugueses em campo -, o Benfica deliciou os adeptos, e garantiu, não só estar firmemente empenhado na conquista do tri-campeonato, como ter instrumentos para lá chegar.
Quem duvidava que Rui Vitória poderia devolver ao futebol encarnado o encanto de outras temporadas terá ficado esclarecido. Uma exibição como esta só está ao alcance de equipas que sabem muito bem o que estão a fazer, que sabem muito bem o que querem, e como o alcançar. Ficou pois uma promessa. Esperamos vê-la concretizada nas próximas semanas – começando já por este domingo, na deslocação ao Porto.

Entretanto, já depois de ter escrito estas linhas, jogou-se para a Liga dos Campeões. Acredito que o resultado tenha sido normal. Assim como acredito que o Benfica ultrapasse a fase de grupos, algo que, desde 2006, só por uma vez conseguiu. O grupo não é proibitivo. Cabe à nossa equipa não facilitar, sobretudo nos jogos em que é favorita.

ESCLARECEDOR

Duas entrevistas a dois diários desportivos portugueses, duas personalidades bem distintas, dois discursos bem diferentes.
No jornal “A Bola”, um verdadeiro homem de estado fala sobre o futuro da instituição a que preside, denota confiança, transborda determinação quanto ao rumo que pretende seguir. Respeita os adversários. Com humildade, sabe que não poderá vencer sempre, mas acredita que pode vencer mais vezes do que os outros. Muito importante: garante que, com ele, o futuro do clube jamais será hipotecado.

No jornal “Record”, um indivíduo ressabiado ajusta contas com o passado. Do alto da sua ilimitada vaidade, desrespeita aqueles que o levaram ao topo, dispara a vários colegas de profissão, e mostra um revelador desapego face aos que hoje lhe pagam o principesco ordenado que aufere. Há três meses estava num clube, agora está num rival, e já ameaça partir para outro. Vai com quem pagar mais, tal como certas senhoras que, por vezes, vemos na estrada. Admite que andou a brincar com o Benfica e com o seu treinador, na antecâmara da supertaça. Mas a principal pérola da entrevista surge quando, candidamente (?), faz a seguinte afirmação: “nunca vão conseguir pôr os adeptos do Benfica contra mim”. Ou está a rir-se de nós, ou vê muito pouco para lá das quatro linhas de um campo de jogo. Deveria saber que foi ele próprio a colocar os adeptos do Benfica contra si, saindo pelas traseiras, deitando todo um passado para o lixo, e transformando-se, num sopro, em figura menor na história do clube. Talvez seja preciso explicarmos-lhe melhor. Talvez à oitava jornada o entenda devidamente.

UMA TRADIÇÃO

Não fossem dois erros de arbitragem registados em Aveiro, e o Benfica estaria, pelo menos, a par dos seus dois rivais no topo da classificação. Não fosse a inspiração de Gaitán e Jonas, e outro erro clamoroso de arbitragem ter-nos-ia subtraído mais dois pontos na partida com o Moreirense. Já nos jogos do nosso vizinho lisboeta, vimos um lançamento irregular proporcionar um golo decisivo aos 95 minutos da primeira jornada, e, nesta última ronda, vimos assinalados mais dois penáltis a seu favor – um dos quais a deixar bastantes dúvidas.
Paradoxalmente, o que se assiste é a um irritante ruído em torno de alegados prejuízos do Sporting, que começa nos comunicados insultuosos do presidente nas redes sociais, e acaba no proverbial queixume de comentadores televisivos alinhados com o clube de Alvalade.
É uma tradição. Os romanos tinham os jogos florais, o Sporting queixa-se das arbitragens. E fá-lo recorrendo a uma retórica simplista, que repete até à náusea cada erro (ou pseudo-erro) verificado contra as suas cores, ignorando olimpicamente todos os erros ocorridos a favor – mesmo quando estes são bem mais flagrantes.
Nem a arbitragem portuguesa, nem o Benfica, têm nada a ver com o que se passou no Playoff da Liga dos Campeões. Aí, no plano externo, todos os clubes portugueses têm as suas razões de queixa. Nós, por exemplo, perdemos uma final europeia há bem pouco tempo devido a uma arbitragem calamitosa. Com muito menos barulho.

Misturando tudo, pretendem confundir a opinião pública, e, sobretudo, condicionar os jogos seguintes. A nós não perturbam nem confundem. Aos árbitros, veremos.

A TEMPO DE CORRIGIR

Era importante conquistar a Supertaça. Era importante entrar na temporada a vencer. Era importante ganhar moral. Era importante responder, em campo, ao discurso arruaceiro que ouvimos do outro lado. Os nossos jogadores deram tudo, mas esse tudo não foi suficiente para derrotar um adversário muito reforçado e muito confiante. Ficámos sem um troféu, mas julgo que percebemos o que há a fazer para que os principais objectivos da época possam vir a ser alcançados.
O onze escalado foi o mais forte do momento. As substituições até melhoraram a equipa. Mas não podemos ignorar que, para esta temporada, ficámos sem três titulares indiscutíveis (com Luisão, quatro neste jogo), e que a única contratação à altura do onze base (Mitroglou), com poucos dias de trabalho, evidenciou uma condição física ainda deficiente. Do outro lado tivemos um rival que apresentou quatro reforços como titulares, aparentemente já bem integrados nos mecanismos colectivos. Não custa a admitir que o Sporting ganhou com justiça.
Há mercado até ao fim do mês. Estou seguro de que o mesmo vai ser aproveitado para corrigir os desequilíbrios que se notam, e que no Campeonato (pai de todos os objectivos) teremos um Benfica forte e afirmativo, capaz de se superiorizar a adversários bastante bem apetrechados. Também o Bayern de Guardiola, e o Chelsea de Mourinho, perderam as suas Supertaças. Nem por isso hipotecaram o que quer que fosse, e estão aí, prontos para os combates que têm pela frente. Tal como nós.
Uma palavra final para Jonas: a sua atitude no final foi de Homem, de Líder, e de Capitão. Destes é que precisamos.

AGORA A SÉRIO!

A pré-época já lá vai.
Terminou o período dedicado às experiências, onde existe margem para errar, e os resultados não são mais que um mero detalhe. Jogadores e técnicos cumpriram o plano de trabalhos delineado, a equipa preparou-se, e testou o que havia para testar. Agora é a sério.
A Supertaça abre portas à temporada oficial. Trata-se de um troféu importante, que pode também servir de mola impulsionadora para uma época vitoriosa. Em ocasiões recentes, verificámos o quanto pesa uma Supertaça na moral de quem a disputa, e as consequências que tem para as competições posteriores. Ainda há um ano, o triunfo sobre o Rio Ave, em Aveiro, deitou para trás das costas o cepticismo que já se estava a criar, e inaugurou um ciclo de vitórias que terminaria no Marquês. Uns anos antes, recordo-me, pelo contrário, de uma derrota com o FC Porto marcar negativamente toda a temporada que se lhe seguiu.
E esta é uma Supertaça muito especial. Trata-se de um Benfica-Sporting, e como se a força simbólica do “dérbi eterno”– com tudo o que ele, só por si, significa – não bastasse, os encarnados terão pela frente o seu ex-treinador, num reencontro que não pode deixar de apimentar ainda mais a ocasião, e que deve servir-nos de motivação suplementar. Podemos, desde já, começar a demonstrar que a estrutura que suporta o nosso futebol não depende de nenhum funcionário, e que os títulos não se transportam numa qualquer mala de viagem.

Perante todas as circunstâncias que a rodeiam, talvez esta seja a Supertaça mais importante de sempre. O estádio vai estar cheio. O apoio será total. Venha de lá a vitória!

A AMARELO

Concluído o Tour de France, aí está a Volta a Portugal. Na ausência de futebol a sério, são as bicicletas que ocupam o seu lugar.
Paisagem, aventura, esforço, cores, dramas, mitos, povo, heróis e alguns vilões, fazem do ciclismo um espectáculo maravilhoso. Parece feito de encomenda para a televisão, proporcionando longas horas de transmissão directa, conduzindo o espectador por montanhas e vales, como se ele próprio estivesse de viagem. Doping? Existe em todo o desporto profissional, e esta é certamente a modalidade mais controlada.
Enquanto amante de ciclismo, e enquanto benfiquista, não posso deixar de me associar aos muitos que sonham com o regresso do clube às estradas, mesmo sabendo quão difícil seria materializar tal sonho no imediato.
O ciclismo não vende bilhetes. Vive da publicidade, e custa dinheiro (500 mil euros/ano, para uma equipa ganhadora a nível nacional). As empresas interessadas em investir pretendem um nível de visibilidade que a marca Benfica – se a elas associada – ofuscaria. A nossa última incursão neste mundo não correu nada bem.
Creio, porém, que o Benfica carrega esta dívida para com a sua história. Ostenta uma roda no emblema, e deve grande parte da sua popularidade a nomes como José Maria Nicolau, que levavam as camisolas vermelhas até aos locais mais recônditos do país, quando nem sequer existia campeonato de futebol.
Falta pouca coisa para que o nosso Benfica seja integralmente devolvido àquilo que foi no passado. O regresso ao ciclismo poderia ser um desafio para um dos próximos mandatos de Luís Filipe Vieira. Seria a cereja no topo do bolo.


A BOM RITMO

Não dou mais importância aos jogos de preparação do que a que eles realmente têm. Constituem uma ferramenta de trabalho útil para jogadores e técnicos, mas, competitivamente, o seu interesse é reduzido, ou mesmo nulo.
Antigamente havia curiosidade em conhecer os novos jogadores e a nova equipa. Mas desde que o mercado futebolístico se transformou numa interminável feira, ao longo da qual, até dia 31 de Agosto, ninguém sabe quem fica, quem sai, ou quem entra, esta fase perdeu o pouco encanto que lhe restava.
Por isso, uma derrota em torneios particulares, por mais prestigiantes que sejam, não incomoda nada. Dispenso títulos de pré-época, e ainda recordo anos em que tudo parecia maravilhoso em Julho, para se tornar angustiante em Maio. Ultimamente tem sucedido o contrário, e não me importaria de continuar neste registo.
Não deixei, porém, de ver o jogo do último fim-de-semana. E até gostei da primeira parte, onde a base da equipa bi-campeã apareceu solta e alegre, prometendo bom futebol e vitórias. No segundo período, as substituições quebraram o ritmo, e o jogo tornou-se tristonho. Nada que preocupe.
Se para o lado direito da defesa, Sílvio e André Almeida parecem opções válidas, ainda não vi quem possa fazer de Sálvio (até Janeiro), ou de Gaitán (se a venda deste se vier a confirmar). Mais um ponta-de-lança, capaz de discutir a titularidade, também não seria demasiado, pois a época é longa. De resto, a equipa afigura-se consistente, não necessitando de grandes revoluções.

Dia 9 de Agosto as coisas serão a sério. Até lá, há que trabalhar tranquilamente, com entusiasmo e confiança.

SERENIDADE

Serenidade é talvez a palavra que melhor define o momento da pré-temporada benfiquista.
Pode parecer estranho, depois das saídas de treinador e sub-capitão para emblemas rivais. Mas percebe-se, quando se fala de um Bi-Campeão nacional.
O paradoxo desta pré-temporada é, aliás, a forma como os três principais clubes estão a lidar com as circunstâncias.
Do lado de cá, a resposta à fuga - ou traição, ou deserção, ou aquilo que lhe quisermos chamar – dos dois elementos acima referidos, não podia ter sido mais adequada. Como alguém disse, tanta calma até parece incomodar a concorrência. O Benfica, que em tempos resistiu à perda de uma figura maior como foi Eusébio, é demasiado grande para depender de figuras menores, cujo lugar na história acaba de ser apagado pelos próprios. Em Agosto, ninguém se lembrará das ausências, e a vontade de vencer poderá mesmo sair reforçada.
Na vizinhança, pós-loucura financeira em torno de um novo técnico, por entre guerras com ex-presidentes, ex-treinadores, processos disciplinares, justas causas, perdões bancários e contratos rasgados, as notícias vão apontando para sucessivos falhanços na contratação de jogadores. Ou me engano muito, ou em breve assistiremos também a uma debandada dos principais titulares.
Mais a norte, o desespero também dita leis. Com membros da direcção a contas com a justiça, a regra parece ser, contrata-se primeiro, e, quanto a dinheiros… logo se vê. Algo me diz que não vai correr bem.
Enquanto isso, no Seixal trabalha-se. Com confiança e entusiasmo. Rumo ao tri.

Pressão? Loucuras? Ficam para os outros. Nós só queremos os títulos.

TRISTE FIGURA




Apenas 40 dias decorrem entre duas imagens fortes. Primeiro, vê-se uma criatura, aos saltos, no relvado da Luz, acompanhando os cânticos dos adeptos do Benfica, na comemoração de um título. Depois, a mesma criatura, aos saltos, no relvado de Alvalade, acompanhando os cânticos dos adeptos do Sporting, como novo membro da tribo.
Benfica e Sporting são rivais há mais de um século. Em apenas 40 dias, salta-se num lado, salta-se no outro, e salta-se de um lado para o outro, como se a história não existisse, e como se não fosse a história, e a paixão do povo, a permitir que um simples treinador de futebol possa hoje auferir quatro, ou cinco, ou seis milhões de euros por ano.
Chamem-me romântico, chamem-me ingénuo, chamem-me até retrógrado. Mas este não é o futebol de que aprendi a gostar – no qual havia algum pudor, e uns quantos zeros não legitimavam todo o tipo de comportamento. O futebol resume-se à emoção, e quem dele pretender retirar essa componente, corre o risco de lá não deixar nada.
Cresci a chorar pelo Benfica. E a respeitar, também, quem chorava por outros emblemas. Não aprecio cristãos novos, e muito menos traições.
Não embarco no discurso da gratidão. Nós, que pagamos quotas, cativos, bilhetes, deslocações, e ainda compramos camisolas e cachecóis, que apanhamos chuva, sol e trânsito, para nos sentarmos no nosso lugar a sofrer pelo clube que amamos, nunca seremos devedores de nada, neste meio que se vai tornando cada vez mais indiferenciado e obscuro.
Os que nele ganham milhões, esses sim, devem a todos nós o estatuto de que desfrutam. E devem-nos, sobretudo, respeito.

MUNDO CÃO


Confesso que, aos 45 anos de idade, o mundo do futebol ainda consegue surpreender-me pela negativa.

Aquilo que me intriga é o seguinte: o que faz com que um profissional, em final de carreira, com situação financeira confortável e futuro assegurado, despedace uma imagem construída ao longo de quase uma década, ignore olimpicamente a paixão de milhões de adeptos, volte as costas à possibilidade de inscrever o nome na história junto das grandes lendas, e feche uma porta que poderia vir a abrir-se no futuro, tudo em troca de mais uns patacos no recibo de vencimento?

Não falo de um jovem com a carreira por construir. Também não falo de gente com um ou dois anos de casa, sem o vínculo emocional que só o tempo robustece. Nem de quem ganhe, vá lá, 100 mil euros por ano. Falo de alguém experiente, respeitado como símbolo de um clube, e que já aufere dez vezes aquele valor.

Trouxe aqui o tema, a outro propósito, há umas semanas atrás. Nunca é demais repetir: os montantes milionários que o futebol movimenta, e os gordos salários que jogadores e treinadores de topo recebem, devem-se, exclusivamente, à paixão dos adeptos. Um cirurgião ou um juiz não terão certamente menos responsabilidades. Só não têm quem os idolatre, nem amor clubista que lhes pague. Não perceber isto, é não perceber nada. Ignorar isto, é cuspir no próprio prato.

Profissional não pode ser sinónimo de mercenário. Não é assim em profissões menos recompensadas, pelo que jamais deveria sê-lo numa actividade que deve tudo, mas mesmo tudo, aqueles que enchem os estádios, vibram com os clubes, e choram na derrota e na vitória.

O NOSSO TREINADOR


À medida que a poeira assenta, a nação benfiquista vai-se congregando em torno do novo treinador.

Qualquer mudança traz sempre alguma ansiedade associada. Sobretudo quando parte de uma base de sucesso. Diz-se que as grandes reformas devem fazer-se na quietude do triunfo, e não no tumulto do fracasso. O certo é que a volatilidade dos tempos modernos não permite dormir sobre êxitos findos. Ela obriga a reinventar para manter o rumo. O passado respeita-se, e evoca-se, mas é o futuro que deve orientar a acção. O futuro do futebol encarnado chama-se agora Rui Vitória.

O técnico ribatejano chega ao nosso clube bastante mais jovem, e traz na bagagem um currículo bastante mais composto, que o do anterior treinador em 2009. Vem com a ambição e a energia de quem quer conquistar o mundo. Traz, ainda, um suplemento de alma importante numa actividade que vive de paixões: é benfiquista. É um dos nossos!

A humildade com que afirma que irá manter o que está bem, abona em seu favor. O discurso afirmativo, confiante e clarividente também. É um homem do futebol, mas não é um homem apenas do futebol. Acredito que, mais do que para transformar, ele vem para acrescentar.

Em Agosto, quando as competições oficiais se iniciarem, todos seremos um só. O novo treinador, um renovado plantel (certamente competitivo, e com a mesma sede de ganhar), e os mesmos adeptos de sempre – aqueles que fazem do Benfica o gigante que é, e que, com diferentes treinadores, com diferentes jogadores, vão festejando campeonatos sucessivamente. Já vamos em 34. O próximo é o 35º. E este será com Rui Vitória sentado no banco.

ANO DE OURO


Campeão de Futebol, Hóquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, Futsal e Atletismo, vencedor das Taças de Portugal de Hóquei, Basquetebol, Voleibol e Futsal, vencedor das Supertaças de Futebol, Basquetebol e Voleibol, das Taças da Liga de Futebol e Basquetebol, entre outros troféus, no sector masculino e feminino (e aqui, destaque para as meninas do Hóquei e o seu magnífico “penta”, com título europeu incluído), nos seniores ou nas camadas jovens, pode dizer-se que nunca o Benfica ganhou tanto.

Por exemplo, se atendermos apenas a campeonatos, e às sete principais modalidades (as já referidas, mais o Andebol), o máximo histórico de títulos numa só temporada era de quatro. Esta época vencemos seis!

Enquanto outros afirmam, sem se rir, ser a maior potência desportiva do país, nós conquistamos os campeonatos, os bi-campeonatos, os tri-campeonatos, os tetra-campeonatos, os penta-campeonatos, as dobradinhas e os tripletes, nos relvados, nos pavilhões ou nas pistas, numa sequência impressionante, e a uma cadência que quase nos baralha. E, entre jogadores, técnicos e dirigentes, ninguém dá sinais de querer abrandar o ritmo.

Para aqueles que temem que o nosso Clube esteja dependente deste ou daquele treinador, deste ou daquele jogador, este conjunto de triunfos é também uma resposta, pois demonstra que a competência, a qualidade, o talento, o trabalho e a vontade de ganhar são, hoje, uma marca bem vincada em todo o universo benfiquista.

Benfica voltou a ser sinónimo de títulos. O escudo voltou a ser peça comum nas nossas camisolas. Hoje, não ganhar é excepção.

Que grande Benfica nós temos!

APAGADOS


Há uma diferença óbvia entre a legalidade e a ética. Não é à toa que existem códigos de conduta para muitas profissões, por vezes de cumprimento obrigatório.

Treinadores e jogadores de futebol têm o direito legal de mudar directamente para um clube rival. Mas se me perguntam se isso é saudável, respondo categoricamente que não.

Embora estejamos perante um universo altamente volátil e mercantilizado, por onde rodam muitos milhões de euros, entendo que os agentes de uma indústria que desperta tão intensas paixões jamais devem perder de vista um facto muito simples: são essas paixões que lhes sustentam o estatuto e lhes permitem vidas milionárias. Respeitar os adeptos que os idolatram não é um favor, nem um acto de altruísmo. É uma exigência.

Paulo Sousa, Pacheco ou Rui Águas (Figo, lá fora), ignoraram essa exigência no passado. Nenhum deles mereceria ver aberta a porta por onde um dia fugiu. Mais do que um clube, trataram mal o próprio futebol – subvertendo a sua natureza enquanto fenómeno identitário de agregação e de emoções.

Perante a lei, fizeram aquilo a que achavam ter direito. Não podem é esperar, depois, qualquer tipo de compreensão, carinho, admiração ou respeito por parte daqueles que choram com as derrotas, que não dormem na véspera dos grandes jogos, e que, directa ou indirectamente, pagam do seu bolso (muitas vezes com grande sacrifício) todo o futebol.

O agora treinador do Sporting entendeu seguir este caminho, quando podia deixar o seu nome escrito a ouro na nossa história. Apagou-se a si próprio nas fotografias. Não as da loja, mas, sobretudo, as da nossa memória.

PARADIGMAS


O tema é recorrente. Será que o Benfica aposta na formação? Será que o faz da forma mais adequada?

A resposta só pode ser afirmativa. Com um forte investimento em infraestruturas de ponta, munidas da necessária competência técnica, essa aposta é insofismável. As milionárias vendas de André Gomes, Bernardo Silva e Cancelo são, para já, o resultado desse investimento. Que grande resultado, diga-se. E se também para outros houver mercado, venham mais milhões, que o tempo não está para desperdícios.

Não estou seguro é de que a formação encarnada esteja preparada para, no imediato, alimentar a equipa principal – sabendo-se que o objectivo desta é a conquista de títulos, e não qualquer outro romantismo purista.

Excepção feita ao Barcelona, não há registo de clubes predominantemente formadores com grande sucesso desportivo. E em Portugal não me parece que estejamos perante uma geração particularmente dotada. Hoje, a ambição começa na infância. O sonho dos jovens das academias já não é, simplesmente, entrar no plantel principal. Os mais talentosos são desde cedo aliciados com os milhões de outras paragens, pelo que se torna impossível segurá-los muito tempo. Sobram…os restantes.

Podemos então avançar para um paradigma competitivo alicerçado na formação? O Benfica quebrou a hegemonia portista recorrendo a jogadores experientes, capazes de não vacilar perante as adversidades. Há, aqui por perto, quem abuse da juventude imberbe. Mas não são campeões desde os tempos de João Pinto, Jardel ou Schmeichel.

A formação é útil como instrumento, como meio. Num clube como o nosso, não pode ser um fim.