RANKING DA UEFA

 

DI MARIA ATÉ AO FIM

Acredito que seja cedo para falar de renovação. Mas por mim, D Maria ficava mais um ano...ou até, quem sabe, dois.
A jogar assim, é não só o melhor jogador do Benfica, como aquele que mais transporta consigo o emblema e os adeptos. Chame-se "Mística" ou lá o que seja.
Otamendi sairá naturalmente no final desta temporada. Di Maria podia ser o capitão do Benfica na próxima. Está a demonstrar (se preciso fosse) ser um profissional de excepção, um ganhador por excelência, um craque da cabeça aos pés.
Fique o tempo que ele quiser. É um privilégio tê-lo cá.

THRILLER COM FINAL FELIZ

Ponto prévio: na Champions League, qualquer vitória de qualquer equipa portuguesa fora de casa, é sempre um grande resultado. E neste caso o Benfica estava no reduto do vice-campeão francês (liga dos chamados “Big-Five”, e com um orçamento muito superior ao dos encarnados), que ainda não tinha perdido qualquer jogo na competição. Haverá sempre quem desvalorize. Não é o meu caso. Esta foi, pois, uma grande vitória.
Dito isto, devo dizer também que o jogo foi estranho, teve momentos distintos e alguns deles pouco coerentes com o que o marcador reflectia.
Ao intervalo o Benfica estava em desvantagem, mas o resultado era uma mentira. Já aí, as melhores ocasiões tinham sido desperdiçadas pelos encarnados – algumas delas flagrantes, como por exemplo a de Di Maria, sozinho, diante do guarda-redes, após oferta de um defesa do Mónaco.
Os primeiros instantes da segunda parte foram alucinantes. Em apenas dez minutos, houve uma bola no poste, uma grande defesa a cabeceamento de Pavlidis, um golo anulado para cada equipa, o golo benfiquista aproveitando mais uma oferta clamorosa, e a expulsão de um monegasco - não necessariamente por esta ordem. Nessa roleta russa de emoções, o Benfica alcançara o empate e via-se com um homem a mais e com tempo para procurar o triunfo. Lage agiu em consonância, trocou de ponta-de-lança, e tirou um médio (Florentino já amarelado) para colocar mais um avançado (Amdouni).
Quando se esperava uma avalanche em busca do 1-2, viu-se o contrário. O Benfica, sem Florentino, perdeu o meio-campo, e o Mónaco, mesmo com dez jogadores, assumiu estranhamente o controlo da partida. Chegou ao golo num lance que Kokçu terá de rever vinte vezes como penitência – não tem 36 anos, não resolve jogos como Di Maria, não é sequer avançado, e tem obrigatoriamente de cortar uma bola que, dentro da sua área, lhe passa a um metro dos pés. Naquele momento, era o mundo virado de pernas para o ar, e temia-se o pior.
Eis que apareceu Angelito, que já bem dentro dos dez minutos finais (altura em que muitos talvez já o achassem a mais em campo), tirou dois coelhos da cartola, e com assistências primorosas meteu a bola nas cabeças de Arthur Cabral e Amdouni, virando o resultado.
Ficam os três pontos (a única coisa que verdadeiramente interessa), mas nesta prova não podem desperdiçar-se tantas oportunidades, nem mostrar a fragilidade defensiva que se viu em alguns momentos da partida.
No fim de tantas voltas e reviravoltas, o Benfica ganhou. Pode dizer-se que teve sorte. Se tivesse perdido teria tido azar. A verdade é que esta vitória pode ser determinante no apuramento. Creio que um triunfo na Luz diante do Bolonha será suficiente para garantir o play-off, sendo que o apuramento directo é, e seria sempre, uma miragem.
O árbitro, tal como o jogo, teve uma prestação estranha e incoerente, com faltinhas assinaladas de pronto, e faltas graves ignoradas. Carreras podia ter sido expulso, mas as linhas do golo anulado a Bah também não me convenceram – embora aí a responsabilidade seja do VAR. Mas não foi pelo árbitro que o Benfica ganhou, como não seria por ele, se tivesse perdido.

ONZE PARA O MÓNACO


 

O NÚMERO DO NENÉ

Não podia ter sido melhor a noite que serviu para homenagear Nené - goleador que vestia a camisola número sete. Um jogo cheio de golos, e um placard final de 7-0.
Para além do grande Nené, o homem da noite foi Di Maria, que uma vez mais mostrou que está aí para as curvas, e ainda é o craque desta equipa. Não se tratou de um simples hat-trick (que, já de si, seria uma proeza notável, sobretudo para quem nem é ponta de lança). Sim de golos cheios de estilo, que levaram ao delírio o Estádio da Luz, e ainda uma assistência para Akturkoglu.
Por mim, Di Maria ficava outra temporada no Benfica. Não parece mínimamente acabado, e a ser gerido convenientemente faz a diferença como nenhum outro. Espero que ele o queira. Espero que o Benfica lhe peça. 
Outro nome em destaque foi o de Arthur Cabral. É de facto um jogador desconcertante, a quem parece faltar escola, mas a quem sobra vontade e empenho. Depois de falhar golos de baliza aberta, eis que marca de bicicleta - o que, de resto, já tinha acontecido no passado, e de alguma forma reflecte a sua carreira no clube.
Continuo a achar que não é jogador para o Benfica, muito menos para custar 20 milhões e auferir um dos salários mais elevados do plantel, mas confesso que até simpatizo com o sujeito. E obviamente fiquei bastante contente de ter sido ele a marcar os dois últimos golos, os quais deve em larga medida a Bruno Lage - que deu uma verdadeira lição de liderança, pedindo aplausos e mantendo-o em campo contra todas as probabilidades, ganhando com isso um jogador para as próximas batalhas, quando facilmente podia ter saído deste jogo morto e enterrado no clube, quem sabe para sempre.
Nota ainda para Samuel Soares, que deixou boas sensações de ser alternativa credível caso algo suceda com Trubin. E para a estreia de mais um jovem, Leandro Santos, com nota positiva. 
Segue-se o Mónaco. Há que recuperar os pontos perdidos em casa com o Feyenoord. 

ONZE PARA A TAÇA


PARABÉNS NENÉ!

Sempre tive um fraquinho por pontas-de-lança. Era a minha posição favorita nas minhas brincadeiras de infância e juventude, e talvez ainda o seja na forma como vejo o futebol: afinal, tudo uma questão de números, sendo que os golos dão vitórias, as vitórias dão pontos e os pontos dão títulos.
Nené foi, por isso, uma referência da minha infância. Chalana era o maior, mas Nené ficava logo a seguir numa lista de preferências que incluía naturalmente Bento, Humberto, Pietra, Diamantino, Shéu e alguns outros.
E se falamos de números, os de Nené são avassaladores. Desde logo, ninguém vestiu mais vezes o "Manto Sagrado" do que ele (577 jogos oficiais). E apenas Eusébio e José Águas marcaram mais golos pelo Benfica (Nené obteve 363).
Nené é pois a encarnação daquilo que se pode chamar "Lenda".
Os meus parabéns pelo 75º aniversário. 


ESTE HOMEM É UMA MÁQUINA

Pode admirar-se um jogador de um clube rival? A resposta é sim. É raro, mas acontece.
Lembro-me de ver adeptos do Real Madrid aplaudirem de pé Ronaldinho Gaúcho em pleno Bernabéu, e mais tarde fazerem o mesmo com Lionel Messi. Em Portugal não me recordo de ter acontecido tal, e digo desde já que, no estádio, durante um jogo, jamais o farei. Não por outro motivo que não seja evitar subtrair confiança à minha equipa - coisa que fazem com frequência alguns profissionais do assobio.
Mas com a serenidade que o teclado proporciona, cá estou eu a manifestar a minha grande admiração pelo ponta-de-lança do Sporting, Viktor Gyokeres.
Custa-me reconhecer (por ele ser do Sporting) que, nos últimos vinte anos, talvez seja o jogador que mais impacto criou na Liga Portuguesa. No Benfica, só eventualmente Jonas terá conseguido algo semelhante - embora com características diferentes, também andou com a equipa ao colo durante alguns anos. Mas se tivesse de escolher um, só um jogador que tenha passado por Portugal neste período, era provavelmente o sueco que eu trazia.
32 golos em 24 jogos, melhor marcador do Campeonato, melhor marcador da Champions, melhor marcador da Liga das Nações, também muitas assistências e um constante massacre nas linhas defensivas adversárias. Só não percebo como chegou aos 25 anos sem ninguém dar por ele.
Lewandowski e Kane caminham para o ocaso (não já, mas em breve), e a este nível só resta Haaland. Não vejo outro ponta-de-lança como Gyokeres. Tem talvez de melhorar um pouco o jogo aéreo, mas ainda acredito que o faça. A partir daí será ainda mais imparável do que já é.
Embora a contragosto, tenho de me curvar e tirar-lhe o meu chapéu. O que tem feito é impressionante.

O FUTEBOL "MODERNO"

Belenenses, Académica, Vitória de Setúbal, Beira Mar, Marítimo. Estes são exemplos de clubes portugueses, de nível médio ou médio alto, com história, com adeptos, com boas instalações, representando cidades com população e massa crítica, que estão remetidos para as divisões secundárias, quando não para os distritais. Cheira-me que o Boavista será a próxima vítima.
Por outro lado, vemos uma primeira divisão carregada de inexistências, como AFS, Casas Pias,  Aroucas ou Moreirenses. SAD's sem gente, sem identidade, algumas sem sequer estádio. 
É a lei dos investidores, que não são mais do que parasitas que usam o futebol para lucrar com as múltiplas transferências de jogadores (negócios de milhões, transcontinentais e nada escrutinados) e direitos televisivos (tudo isto numa perspectiva optimista), ou simplesmente para lavar dinheiro (se quisermos ser mais cáusticos). O associativismo? Morreu - ou foi assassinado!
Ora é precisamente esta gente obscura que uma centralização de receitas vai favorecer. É precisamente para esta gente que a liguinha do Proença parece trabalhar.
Eu gostava de ver o verdadeiro futebol português de volta. A não ser possível, então encolha-se o campeonato de modo a termos equipas com representatividade, como vemos nas melhores ligas da Europa.

FARTINHO DE MARTINEZ

O futebol de selecções perdeu algum do seu encanto. As grandes fases finais ainda se levam, mas estas paragens a meio da temporada são uma tortura para a maioria dos adeptos - os principais adeptos, os que pagam o futebol. 
Além de que há jogos a mais (até a Champions, com o excesso de equipas e de jornadas, começa a banalizar-se). Um dia, matam a galinha dos ovos de ouro. Quem dirige o futebol está-se nas tintas para o futuro. Quer viver o presente, à grande e à conta dele.
Dito isto, não deixo de ir espreitando os jogos de Portugal. E cada vez percebo menos o seleccionador Roberto Martinez.
A sensação que me dá é que um qualquer Professor Neca faria o mesmo. A ganhar muito menos dinheiro.
A primeira fase de qualificação até me iludiu. A fase final do Euro 2024 desiludiu-me. Agora? Acho que se pode concluir que esta contratação, de alguém com um palmarés curtíssimo, foi um tiro ao lado. 
O homem até é simpático. Até canta o hino. Mas a equipa joga pouco, os onzes, as tácticas e as substituições só ele entende, e as convocatórias são absurdas.
Florentino brilha na Champions, vem um tal Samu Costa, que só joga contra Valladolids e Osasunas (jogar na liga espanhola dá privilégios, pois também lá está o avançado so Las Palmas). Pote - por quem sou insuspeito de nutrir qualquer simpatia -, ou porque está lesionado, ou porque está bom, não vai (Nuno Santos, quando podia ir - idem -, idem). Quenda é chamado com apenas quatro jogos como profissional, e depois, podendo bater um simpático record de décadas, num jogo sem interesse competitivo, não é utilizado nem um minutinho (que motivador...). Tomás Araújo é titular no Benfica - na selecção joga preferencialmente António Silva. Vitinha faz um grande jogo, a seguir fica no banco.
Em campo, ninguém percebe as tácticas - que parecem obedecer apenas a dois critérios: 1) meter Ronaldo sempre que lhe apeteça jogar 2) meter as outras estrelas, mesmo que joguem sobrepostos - numa espécie de tudo ao molho e fé em Deus.
A segunda parte na Croácia foi penosa. Vimos Cancelo a médio, vimos Semedo a central, e uma confusão de todo o tamanho, que baralhou toda a gente menos os croatas.
Não esqueçamos que este homem, este seleccionador, para a Bola de Ouro de 2023 votou em...Brozovic. Enfim, um cromo que não fazia cá falta nenhuma.

TENHO DE DIZER ISTO

Pedro Guerra é talvez o exemplo mais profundo, e que mais vezes terei citado em conversas pessoais, da diferença entre a percepção pública generalizada sobre determinada personagem e aquilo que a mesma revela em privado (e quem já teve oportunidade de conhecer figuras públicas sabe o quão frequente é esse contraste) .
Para os rivais era um tipo execrável. Para muitos benfiquistas... também. Até que foi afastado do clube, em larga medida pela força que essa percepção criou, e que o próprio, diga-se, não quis ou não pôde evitar.
Não só conheci Pedro Guerra pessoalmente, como foi das pessoas com quem cheguei a ter maior proximidade no clube. E tenho de dizer, das que mais simpatia, afabilidade e disponibilidade demonstrou.
Pedro Guerra era brincalhão, divertido, simpático, educado, e muito enérgico em tudo, e naturalmente na defesa do Benfica. Na defesa de Vieira, sim, mas também na defesa do clube que amava profundamente. 
Vi vários jogos a seu lado, inclusive no estrangeiro (um deles uma experiência inolvidável no estádio do Fenerbahce, num ambiente extremamente hostil). Convidou-me para participar em programas na BTV, quando lá tinha responsabilidades, nos saudosos tempos pré-premium. Convidava-me também, de vez em quando, para jogos das modalidades, que ele seguia e acompanhava com grande conhecimento e paixão. Foi ele quem, no dia do falecimento da minha Mãe, me enviou uma mensagem que jamais esquecerei, e que pretendia (e que ele sabia) aliviar-me dizendo que o Benfica tinha acabado de se sagrar campeão europeu de Hóquei em pleno Dragão - jogo que, como é óbvio, não pude ver nesse dia, e triunfo que ansiava desde a infância. 
Sei bem o que o Pedro sentia pelo Benfica. E, por isso, sei da injustiça de que era alvo por parte de quem não o conhecia. 
Foi com enorme pesar que tive conhecimento da sua morte. Das poucas pessoas a quem, no contexto do Benfica, talvez pudesse chamar amigo. 
Descansa em paz, Pedro. Haverá cá quem não te esqueça.
PS: passou um dia e, que me tenha apercebido, não houve uma palavra do Benfica para com alguém que trabalhou bastante tempo no clube, e, mal ou bem, defendeu-o nos media em alturas bastante difíceis. Não foi certamente a tratar assim os seus que o clube se fez grande. 

O MELHOR CENTRAL DA LIGA PORTUGUESA

É verdade que demorou a afirmar-se. Mas sempre teve talento e nos Juniores era o patrão da linha defensiva na equipa que venceu a Youth League, ao lado do então discreto António Silva. 
Quando teve as primeiras oportunidades, tremeu um pouco, depois lesionou-se. Foi emprestado. António Silva, com uma mentalidade de ferro, agarrou o lugar assim que pôde. Agora lutam pela mesma posição - pelo menos enquanto Otamendi não regressa ao seu país. 
António é muito bom, mas Tomás é, a meu ver, mais completo: são ambos rápidos, Tomás ganha no jogo aéreo e na capacidade de passe. Não sei quando regressará António ao onze titular (por mim já lá estava de novo, no lugar de Otamendi), mas sei que Tomás já de lá não sai. Aliás, ou me engano muito, ou sai é do clube no fim da época, a troco de muitos milhões.

 

EM DEFESA DE LAGE

Agora é fácil: depois de ter espetado quatro no FC Porto, ninguém se lembra de Munique, nem das críticas que alguns então fizeram ao treinador do Benfica.
Nisso estou de consciência tranquila. Como aqui escrevi, a única forma de sair vivo do Allianz Arena era meter um autocarro em frente da baliza. Foi o que o Benfica fez, e com um bocadinho de sorte tinha conseguido o desejado zero a zero. Perdeu 1-0. Diga-se que nunca na história os encarnados lá fizeram melhor do que isso.
Agora percebo também que, para entrar a 200% com o rival nortenho, num jogo que, em caso de derrota, podia objectivamente significar o adeus ao título, era preciso acautelar a equipa na Alemanha, numa partida em que perder não seria (como não foi) dramático. Por exemplo, Di Maria não entrou de início frente ao Bayern e foi o melhor em campo no "Clássico". Outros houve que pouparam esforços durante a semana, e entraram prego a fundo no domingo, com o resultado que se viu.
É bonito dizer-se que o Benfica entra em todos os jogos para ganhar, blá blá blá, blá blá blá. Mas os jogadores não são máquinas, e a história recente dos confrontos com o FC Porto diz que, para os vencer, é mesmo preciso sê-lo. A vitória de domingo começou pois a ser preparada na quarta-feira.
Bruno Lage fez uma recuperação épica em 2018-19. Em 2019-20 foi traído por circunstâncias que não conheço, mas desconfio nada tenham a ver com o trabalho do treinador. No Brasil diz-se que foi vítima da máfia das apostas. Em Wolverhampton realizou genericamente um bom trabalho. É um homem humilde, inteligente e que sabe muito bem onde está. Não podendo ter Guardiola ou Ancelotti, Lage é o treinador ideal para o Benfica.

MAIORES GOLEADAS SLB-FCP

Como facilmente se percebe, estes 4-1, assim como os 0-5 da época passada no Dragão, estão longe dos maiores registos da história, quando falamos de goleadas entre Benfica e FC Porto. O quadro acima mostra os resultados mais desnivelados de sempre em provas oficiais, destacando-se os 12-2 de 1943 (que é também a maior goleada absoluta em "Clássicos" portugueses). Abaixo, foto de um lance dessa partida.

INVERSÃO DE TENDÊNCIA?

Depois de uma sequência de sete derrotas e dois empates nas nove partidas anteriores, os últimos seis "Clássicos" trouxeram quatro vitórias e duas derrotas.
No Dragão, com três vitórias e três empates nos últimos dez anos, já se vinha estabelecendo uma certa normalidade. Na Luz, com estas duas vitórias consecutivas, as coisas também começam a ficar diferentes.
Pode ser que, finalmente, o Benfica tenha aprendido a jogar com o FC Porto. A raça, a energia, a capacidade de pressão e o entusiasmo colocado neste último jogo, parecem indicar que sim.

ASSUME A RESPONSABILIDADE, PÁ!

Um banho de bola e números que não se viam há décadas.
O Benfica repetiu a exibição realizada diante do Atlético de Madrid, e reduziu o FC Porto a cacos. A sensação que fica é a de que o resultado poderia ter sido ainda mais volumoso (cinco, seis, sete?). Isso revela bem o que foi este "Clássico".
Ao contrário do que disse Vítor Bruno, a primeira parte só foi equilibrada no resultado. Os encarnados podiam ter ido para intervalo a vencer 3-0, não fosse a falta de sorte na finalização, e o erro colossal de Otamendi - que ofereceu o golo do empate a Samu.
Na segunda parte fez-se justiça, e os números foram crescendo com naturalidade.
De lado de cá, jogadores endiabrados, extremamente pressionantes, e a praticar um futebol envolvente. Do lado de lá, um conjunto sem respostas para tamanha assertividade do adversário.
Individualmente há que destacar os dois argentinos, um pela negativa, outro pela positiva. Se é quase unânime a ideia de que Otamendi já está a mais no onze titular (sobretudo vendo António Silva no banco), quanto a Di Maria, meus amigos, continuo a achar que faz a diferença e que ainda é um craque, capaz de resolver jogos. Não é justo colocar os dois no mesmo plano, quando um compromete e o outro resolve.
Akturkoglu, Pavlidis, Aursnes, Araújo e Carreras também estiveram a altíssimo nível. Sendo que foi o colectivo que mais impressionou.
O árbitro esteve mal no lance que interrompeu desnecessariamente e que daria um belo golo de Pavlidis. A lei das duplas penalizações tem mudado, mas tanto quanto sei o jogador do FC Porto que cometeu o penálti, e que já tinha cartão amarelo, devia ter visto o segundo e sido expulso.
Pena a incrível reviravolta do Sporting em Braga, quando perdia aos 81 minutos. A jornada poderia ter sido maravilhosa. A verdade é que os leões ganharam os jogos todos, e os dragões só não ganharam em Alvalade e na Luz. Aqueles pontos perdidos pelo Benfica em Famalicão e Moreira, ainda com Roger Schmidt, podem custar um preço bem maior que se supôs na altura. Há muito campeonato, já não há Ruben Amorim, mas ainda há Gyokeres. O Benfica mostrou que, neste momento, é superior a este FC Porto (cuja linha defensiva está a léguas daquilo que era habitual no clube). Mas ainda não mostrou que pode ser superior a este Sporting. E precisa disso para ser campeão.
Deixemos o Sporting para depois. Agora é hora de saborear o gordo triunfo. E apetece-me dizer a Bruno Lage: assume a responsabilidade, pá!

BOLA QUADRADA


Benfica-FC Porto, Campeonato de Portugal, 1931

ONZE PARA O CLÁSSICO

Trubin; Tomás Araújo, António Silva, Otamendi e Carreras; Florentino, Aursnes e Kokçu; Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu. 

O FUTEBOL DE ATAQUE QUE SE LIXE

Estou com Bruno Lage. 
Mais: estou farto de ver o Benfica perder jogos, e sobretudo campeonatos, por insistir em futebóis aveludados de pendor muito "ofensivo", palavra que eu traduziria para demasiadamente exposto aos adversários.
Enquanto o Benfica tinha Aimares, o Porto tinha Guarins - e era campeão. Aliás, os melhores e mais dominantes FC Portos que me lembro, tinham sempre uma defesa de ferro, um meio-campo de combate, e um ou dois jogadores mais tecnicistas para fazer a diferença. Não ganhavam 6-1 ao Rio Ave (ganhavam 1-0), mas nos "Clássicos" e na Europa apresentavam muito mais solidez e consistência. E normalmente, melhores resultados. O Sporting de Amorim tem Gyokeres (também ele, antes de mais, um poço de força) mas foi construído a partir de trás.
Gosto de ver futebol de ataque, com as equipas bem abertas, quando assisto...à Premier League. No Benfica? Quero "apenas" GANHAR! Repito, por ser essa a única palavra que me interessa: G A N H A R! 
É um erro pensar-se que a matriz cultural do clube assenta no futebol ofensivo. O Benfica foi campeão europeu em 1961, sem Eusébio nem Simões, mas com Mário João, Neto, Cruz e outros homens de coragem. Ganhou a Taça Latina na raça, no tempo em que, do outro lado, se ouviam "Violinos". É um clube do povo, de gente pobre, que veste as cores do sangue e da luta. 
Os anos de Eusébio - irrepetíveis em qualquer clube português no contexto do futebol moderno - foram uma excepção. Aí, de facto, o Benfica, com um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos (outra força da natureza, que não perdia tempo em toques de calcanhar, verónicas ou chicuelinas), tornou-se dominador e imperativo. Eram também os anos do futebol bonito, que morreu no Brasil-Itália de 1982.
Depois disso, o que vi foi o Benfica gastar rios de dinheiro em artistas, e perder para "pedreiros" de sangue nos olhos e faca nos dentes. E insistir nesse erro até aos limites do absurdo.
Em Munique, o Benfica foi quase sempre toureado e goleado. Desta vez, para variar, tentou jogar para o 0-0. A meio da segunda parte parecia a caminho de o conseguir. Não deu. Mas o contraditório diz-me que a jogar de outra forma era muito provável acontecer aquilo que quase sempre aconteceu naquele estádio. Lembro também que, já nesta Champions, houve quem lá levasse... 9-0.
Será que um dia ainda poderei ter o gosto se ver o meu clube apostar numa equipa sólida e combativa, e deixar-se das tretas do "futebol de ataque"? 
Pelas criticas à exibição de Munique, temo que não. Neste aspecto, se os dirigentes dizem mata, os adeptos dizem esfola - não esfolar os adversários, mas as hipóteses de ganhar de forma consistente. 


INGLÓRIO

O Benfica fez muita coisa bem (também algumas mal). Isso não foi suficiente para obter um resultado positivo em Munique, talvez na ocasião em que tal mais pareceu  possível.
A estratégia foi obviamente defensiva. Jogar aberto, naquele estádio, equivale a ser goleado. Dir-me-ão que é igual perder 0-1 ou 2-5 (não é bem assim, mas enfim). Seria totalmente diferente empatar 0-0. E a dada altura o jogo parecia encaminhar-se para isso.
Esse eventual empate seria justo. No fim ganharam os alemães, que têm melhores jogadores e melhor equipa. A derrota não deslustra os encarnados - que mais não seja pelo histórico na capital da Baviera. O problema nesta Liga dos Campeões foi o desaire com o Feyenoord, essa sim inexplicável e diante de um adversário perfeitamente ao alcance, veremos com que consequências. 
Há que vencer o Bolonha na Luz, e procurar mais um pontinho em algum lado. Com 10 pontos estou convicto que será possível ficar nos 24 primeiros, e seguir em frente.
Os adeptos do Benfica que estiveram e. Munique, esses ganharam de goleada, fazendo-se ouvir incessantemente 
Agora, venha o FC Porto. 

OS FACTOS

Não há como não me curvar perante a fantástica vitória do Sporting de Amorim e Gyokeres diante do poderoso City.
Devemos reconhecer o mérito dos rivais, por uma questão de justiça e de verdade, e também para entender o contexto e perceber melhor porque tem sido tão difícil a vida do Benfica nos últimos tempos. 
Este Sporting é porventura o mais forte desde os Violinos. E este ponta-de-lança é, argumentavelmente, o melhor jogador que apareceu no futebol português nos últimas vinte anos (enfim, talvez a par de Jonas). 
As boas notícias são que daqui a uma semana o treinador já estará bem longe, e, assim espero, talvez em Janeiro Gyokeres possa também ir à sua vida. Se for preciso contribuir com 5 euros, estou disposto a ajudar na transferência.
O Sporting, como está, ou como estava, é, ou era, imbatível em Portugal. Dizer a frase no presente, ou no passado, depende da forma como for substituído Ruben Amorim, e da permanência ou não do poderoso avançado sueco. 

ONZE PARA MUNIQUE

Hesitei entre Di Maria e Pavlidis. Mas a experiência, as bolas paradas e a capacidade de invenção do argentino levou a melhor. Pavlidis, a jogar, vendo-se na maioria do tempo sem apoios, será presa fácil para a defesa germânica. Acho importante fechar bem os flancos, com Aursnes a descair para a direita (podendo garantir, em certos momentos do jogo, três centrais) e Beste a segurar a esquerda.
Claro que um empate seria excelente.

CÂMARA DAS TORTURAS

Não há local do mundo mais difícil para o Benfica. 
É a história que o diz: 6 jogos, 6 derrotas, 6-24 em golos. Naturalmente, nenhuma eliminatória ultrapassada, até porque, mesmo na Luz, os encarnados jamais venceram o Bayern.
Ou seja, é daqueles jogos em que quase dá vontade de oferecer os três pontos e pedir em troca que os alemães nos poupem à goleada - que foi o que quase sempre aconteceu. Primeiro com Gerd Muller, mais tarde com Rummenigge, Klinsmann e Lewandowski. Temo que seja a vez de Harry Kane vestir a capa de verdugo...
Dir-me-ão que sou pessimista. Mas confesso que não acredito em qualquer resultado positivo nesta deslocação. Talvez seja o trauma: o jogo de 1976 é a mais remota partida do Benfica que a minha memória alcança (devo dizer que a segunda foi uma derrota em Alvalade por 0-3, pelo que o meu benfiquismo nasceu em grande estilo).
Curiosamente, o resultado mais equilibrado aconteceu no único destes jogos que vi ao vivo, com mais cinco mil benfiquistas no anel superior do Allianz Arena. Arturo Vidal marcou nos primeiros minutos para a equipa então orientada por Guardiola, mas depois o Benfica podia ter empatado - nomeadamente se o árbitro tivesse visto um penálti claro cometido por Lahm, ainda numa era pré-VAR. Dessa noite bávara, recordo igualmente o melhor e maior cachorro quente que comi na vida.
O empate a dois na Luz ditou a eliminação nesses Quartos-de-Fnal, de uma equipa que havia vencido no Vicente Calderón, que venceria em Alvalade, que tinha Jonas, Mitroglou, Raul Jimenez, Talisca e Jovic no ataque, mas se diz ter comprado adversários como o Vitória de Setúbal ou o Rio Ave para poder ganhar jogos do campeonato.
Enfim, que Deus nos ajude a enfrentar este toiro. Que, surpreendentemente, o Benfica possa resgatar em Munique pelo menos um dos pontos ingloriamente perdidos frente ao Feyenoord (esse sim, um jogo que deveria ter sido ganho). Não acredito, mas...

SERVIÇOS MÍNIMOS

No meio de um ciclo infernal de jogos, e quando o pior ainda está para chegar, não se esperava uma super exibição do Benfica. Mas também não era preciso descer a um nível tão baixo, e com isso arriscar uma perda de pontos que, sem margem de erro, podia até ser fatal.
Enfim, salvou-se o resultado, num jogo pobre, e em que foi mais o Farense a perder do que o Benfica a ganhar.
Individualmente destacaria Carreras e alguns momentos de Florentino, sem esquecer a dupla assistência de Akturkoglu (homem que não sabe jogar mal).
Seguem-se Bayern e FC Porto, contra os quais o nível exibicional dos encarnados terá de ser infinitamente melhor do que o de hoje. 

ONZE PARA O ALGARVE

Trubin; Bah, T. Araújo, A. Silva e Carreras; Aursnes, Kokçu, Di Maria e Beste; Pavlidis e Akturkoglu.