AFINAL VOA

Tal como se esperava, o FC Porto ganhou a um moribundo Atlético de Madrid (não dou duas semanas ao treinador...), e confirmou o seu favoritismo ao segundo lugar do grupo de qualificação.
Não vi todo o jogo – fui alternando, em partes relativamente iguais, com o Real Madrid-Marselha e o Manchester-Wolfsburgo -, mas o que vi chegou para perceber o péssimo momento de forma de Simão Sabrosa (o que é preocupante para a selecção nacional), e a fragilidade defensiva da equipa espanhola, que com uma sorte incrível, e com uma arbitragem à medida, vencera na apresentação do Benfica aos sócios em Julho passado.

Hulk está de regresso ao seu melhor, mas quem abriu a porta da vitória foi mais uma vez Radamel Falcão, que se está a revelar um caso sério de sentido de oportunidade e veia goleadora.
Não defendi a sua contratação pelo Benfica, o que já me valeu alguns e-mails de protesto. Fi-lo com base em informações obtidas e sem nunca o ter visto jogar, conforme referi na altura.
Lembro-me, por exemplo, de Luís Freitas Lobo (em quem normalmente confio), quando questionado no programa “Pontapé de Saída” sobre a possível utilidade do jogador no Benfica, responder que não seria uma boa opção, considerando-o um jogador apenas talhado para o futebol sul-americano, que necessitava de muito espaço para jogar e não tinha poder de choque. Andei pelos fóruns do River Plate, percebi que era um jogador que os adeptos que davam como vendido e não pareciam muito preocupados com isso – cheguei a ler que era um fraco cabeceador, o que condizia com a sua baixa estatura (1,77m). Consultei as estatísticas e encontrei 8 golos marcados no campeonato argentino, alguns deles de penálti, números que não eram muito melhores que os últimos de… Nuno Gomes. Tinha inclusivamente sido suplente num dos últimos jogos, e sido substituído em vários dos restantes. Creio que chegou a ser suplente de Renteria na selecção. Era este o jogador por quem o Benfica oferecia 5 milhões de euros, dias depois de contratar Saviola ao Real Madrid, e quando a permanência de Cardozo era já um dado adquirido.
Olhando ao rendimento de Falcão no FC Porto, percebe-se agora porque insistia Jorge Jesus na sua contratação (é curioso como três dos principais jogadores do FC Porto, Rodriguez, Álvaro e Falcão, foram “descobertos” pelo Benfica, o que também atesta a qualidade do trabalho de pesquisa que se faz na Luz), e porque não hesitou o FC Porto em intrometer-se e trazê-lo para Portugal. Sinal de que uns e outros (Benfica e FC Porto) sabem, melhor que eu ou Luís Freitas Lobo, o que andam a fazer.
À partida, Keirrison trazia muitíssimo melhores referências, coisa que a sua contratação por 14 milhões pelo Barcelona não deixa iludir. Mas performance dos jogadores sul-americanos na Europa não é por vezes consequente com aquilo que revelam além Atlântico: Liedson é talvez o exemplo mais paradigmático, tendo eu amigos brasileiros que ainda há pouco tempo custavam a acreditar que ele fosse uma das estrelas da nossa Liga.
Falcão é, temos que o admitir, um grande ponta-de-lança. Revela-o a cada jogo que passa, prometendo uma densa luta com Cardozo e Liedson pela conquista da Bola de Prata. Ontem, como sábado passado, foi ele que decidiu.
Mas quando vejo Cardozo a marcar em todos os jogos, e Saviola a deliciar as plateias benfiquistas com os seus apontamentos de classe, fico com sérias dúvidas se o colombiano passaria do banco na Luz. Mantendo a esperança de que Keirrison desate os nós da adaptação e comece a marcar golos como fazia no Brasil, só no final da época se poderá perceber cabalmente se foi ou não um erro desistir de Falcão. Porém, ele voa.