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Enquanto no Benfica, aparentemente, tudo são rosas, entre leões e dragões os problemas sucedem-se e a instabilidade parece ser a nota dominante.
No Sporting, depois dos casos Liedson, Moutinho, Stojkovic e Vukcevic, agora é a vez de Yannick Djaló e Miguel Veloso protagonizarem um episódio de contornos ainda mal explicados.
Deixando de lado o excessivo protagonismo de alguns empresários, pondo de parte a falta de credibilidade, em concreto, de Paulo Barbosa – que por acaso chegou a ser meu vizinho -,
creio que o Sporting, e Paulo Bento, estão com francas dificuldades em lidar com um plantel no qual a concorrência aumentou fortemente.
Enquanto o banco de suplentes de Alvalade foi constituído por Pereirinhas e Adriens Silvas, tudo correu bem. Com a contratação de alguns potenciais titulares, de pesos pesados (no sentido literal do termo) como Rochemback, as coisas alteraram-se substancialmente.
O médio brasileiro ganha o dobro de Miguel Veloso, mas o seu rendimento em campo deixa muito a desejar. Não sei se trabalha pouco nos treinos, mas nos jogos está à vista de todos que se custa a movimentar. A sua utilização – em que Paulo Bento insiste -, implica a saída de Miguel Veloso e o deslocamento de João Moutinho. Dois jogadores da casa resultam assim directamente prejudicados pela presença do opulento brasileiro.
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Para o ataque chegou Hélder Postiga. Ao ataque regressou também Liedson, que ganha cinco vezes mais do que Yannick Djaló, que iniciou a época muito bem e se viu agora relegado para o banco de suplentes. Ficou naturalmente insatisfeito, como insatisfeito ficara Vukcevic, ao não ver reconhecido pelo técnico o seu estatuto de melhor jogador do Sporting da época passada, numa altura em que Liedson, Derlei e o próprio Djaló padeceram de lesões graves.
Paulo Bento, que sempre deu mostras de saber muito bem como lidar com jovens promessas, que sempre conseguiu impor metodicamente a disciplina a um grupo relativamente coeso, demonstra agora alguma desorientação ao ter de impô-la a um conjunto de jogadores de nome, onde nem todos podem jogar, e no qual, consequentemente, a insatisfação se vai fazendo sentir.
Com uma SAD alérgica ao cheiro a suor dos balneários, restaria ao Sporting e a Paulo Bento contar com um director desportivo presente e eficaz. Ora Pedro Barbosa praticamente não existe, não se sabendo o que faz nem para que serve.
Em Dezembro o Sporting poderá resolver, pelo menos em parte, o seu problema, vendo-se livre de alguns elementos potencialmente desestabilizadores. Até lá os casos vão provavelmente suceder-se, veremos com que consequências dentro do campo.
No F.C.Porto os problemas são de matriz bem diferente.
Embora admita que possa haver alguma divisão de balneário, nomeadamente da legião argentina face ao “resto do mundo”, creio que
a crise portista assenta em dois outros vectores. Por um lado a drástica diminuição da qualidade do seu plantel – que em dois defesos viu partir “apenas” Bosingwa, Pepe, Paulo Assunção, Anderson e Quaresma. Por outro lado a incapacidade de um treinador, cuja competência me pareceu sempre excessivamente empolada.
No primeiro dos aspectos, só por ingenuidade se poderia pensar que nomes como Sapunaru, Benitez, Guarin, Tomas Costa e Hulk seriam capazes de suprir as ausências de jogadores que são hoje titulares de clubes como Chelsea, Real Madrid ou Inter de Milão. A própria contratação milionária de Cristian Rodriguez, feita exclusivamente para ferir o Benfica, não se está a revelar benéfica, nem dentro (vê-se um jogador pesado e aburguesado a um contrato principesco), nem, ao que parece, fora do campo.
O fantástico plantel dos tempos de Co Adriaanse foi sendo paulatinamente delapidado, à medida que os tiros no pé de Benfica e Sporting disfarçavam a quebra de competitividade dos dragões, bem patente nas suas últimas prestações europeias.
Neste momento a SAD portista já percebeu que assim não vai alcançar os seus objectivos de uma boa performance na Champions League, e terá grandes dificuldades em revalidar o título, coisa que todavia, perante um Benfica em construção, e um Sporting atulhado em problemas internos, não está desde já descartada.
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Mas o aspecto central da crise portista reside quanto a mim no próprio Jesualdo Ferreira.
Não sei se o técnico avalizou ou não os “reforços” desta e da temporada anterior. O que é claro é que foi ele a prescindir de nomes que hoje poderiam, no mínimo, disfarçar as ausências dos principais desertores. Alan, Luís Aguiar, Vieirinha, Pitbull, Paulo Machado, Hélder Barbosa, Ibson, Marek Cech e Adriano (para não falar no próprio Postiga) são jogadores que poderiam dar outra dimensão competitiva ao plantel portista, e que Jesualdo Ferreira desprezou, colocando-os, sabe-se lá porquê, numa espécie de caixote do lixo das traseiras.Mas mesmo dos que lá se mantêm, o professor tem mostrado enorme dificuldade em extrair o melhor rendimento. Helton, Pedro Emanuel, Fucile e Tarik, titulares indiscutíveis na época anterior, jogadores campeões e com dinâmica de vitória, têm sido menorizados face a recém-chegados de qualidade e méritos duvidosos. As alterações tácticas são constantes e incompreensíveis, a desorientação dá sinais de aumentar a cada mau resultado, parecendo ser o próprio técnico o primeiro a não encontrar respostas para a crise.
Jesualdo Ferreira nunca foi um grande treinador. Como ele há vários no nosso campeonato, embora sem a mesma influência de bastidores que o professor sempre deu sinais de possuir.
Recordo o seu trabalho como técnico principal do Benfica, quando tinha à disposição uma equipa recheada de talentos como Moreira, Miguel, Ricardo Rocha, Petit, Tiago, Mantorras, Simão, Nuno Gomes, Zahovic entre outros, equipa que aliás, na sua base, se tornaria campeão com Trappatoni, e da qual
Jesualdo mais não conseguiu que um modesto quarto lugar, semelhante ao conseguido por Chalana nesta última temporada. Recordo por exemplo como a chegada de José António Camacho – que não é, como depois de viu, nenhum Fábio Cappelo –, na sua primeira passagem, deu de imediato outra qualidade ao futebol do Benfica, fazendo-o recuperar uma beleza e uma eficácia que andaram sempre alheadas dos tempos de Jesualdo.
O professor acabou justamente despedido, já depois de a sua presença (pasme-se) inviabilizar a contratação de José Mourinho, que o recusou como adjunto.A sua carreira em Braga foi interessante, como foi a de Jesus no Belenenses, a de Cajuda no Guimarães, ou a de Manuel Machado no Nacional, técnicos que considero, pelo menos, ao seu nível.
Nas primeiras duas épocas de F.C.Porto, dispôs de um plantel fabuloso, e beneficiou – para além dos erros crassos dos rivais - de um excelente trabalho físico, técnico e táctico de Co Adriaanse, que lhe deixou um conjunto organizado, maduro e ganhador. Com a mutilação dessa equipa, Jesualdo Ferreira mostrou total incapacidade de dar a volta ao texto, o que se reflecte no momento actual dos dragões.
Desejando, enquanto benfiquista, que Jesualdo se mantenha muito tempo por lá, não creio que, a continuar esta senda de maus resultados – uma derrota em Kiev, por exemplo – Pinto da Costa lhe continue a aparar as costas. Depois disso acontecer, o professor irá decerto lamentar algumas atitudes que tomou neste período, onde sem necessidade, se armou em voz do dono, num registo de servilismo e lambebotismo rasteiro que devastou irremediavelmente a sua imagem perante o país desportivo.