OS HOMENS DE QUEM SE FALA

Na sequência dos dois últimos artigos dedicados ao momento do Benfica, ficou apenas a faltar falar do…treinador.
Devo dizer que, ao contrário do que por vezes se supõe, a questão técnica, sendo importante, não é a mais decisiva. O Benfica não tem sido campeão pelos motivos que aqui referi num dos textos anteriores, e não por incompetência dos treinadores que, neste período, teve ao seu serviço. José Mourinho vai ser campeão com o Inter de Milão, Jupp Heynckes poderá ser campeão com o Bayern de Munique, Jesualdo Ferreira é campeão pelo F.C.Porto, Fernando Santos pode levar o Paok de Salónica à Liga dos Campeões, e todos eles passaram pelo Benfica, sem que houvesse tempo para poderem ter o sucesso que as suas capacidades justificariam.
Independentemente da sua maior ou menor competência, há contudo aqueles que se adequam a determinado clube em determinado momento, e há os outros. Quique Flores, por muito profissional que tenha sido, por muito grande que seja a sua capacidade técnica, por muito avançada que seja a sua metodologia, cometeu erros demasiados para justificar outra coisa que não a sua inclusão no segundo lote. Não esquecendo que conquistou um troféu, que fez o Benfica andar várias jornadas na liderança, que permitiu à equipa da Luz discutir o título até meados de Março, que sempre se comportou como um cavalheiro, o jovem treinador andaluz cedo deixou a ideia de desconhecer o futebol português, e de pouco fazer para ultrapassar essa limitação. Insistiu num modelo de jogo tipicamente espanhol, queimou jogadores, não promoveu o crescimento de outros e, sobretudo, não conseguiu fazer evoluir a equipa, que quase nunca apresentou uma ideia colectiva de jogo minimamente coerente. Algumas das vitórias com que o Benfica foi disfarçando a sua má temporada, foram conseguidas apesar de Quique e das suas, por vezes incompreensíveis, ideias, e não devido a elas.
Haverá pouca margem para continuar na Luz, até porque, a ficar, o ambiente em seu redor no início da próxima temporada seria insustentável, e ao primeiro desaire a crise ir-se-ia precipitar, com consequências muito mais nefastas do que as originadas por uma tranquila substituição no final deste campeonato.
Para o lugar do técnico espanhol a imprensa desta semana avança com dois nomes: Jorge Jesus e Luíz Felipe Scolari.
Começando pelo sargentão (o menos provável dos dois), devo recordar que sou um profundo admirador das suas qualidades. O antigo seleccionador nacional, mesmo se tacticamente limitado, tem capacidades de liderança extraordinárias, provou na selecção a sua aptidão para construir uma equipa extremamente unida e solidária (algo que encaixaria nas necessidades dos encarnados), é disciplinador, tem experiência e tem carisma. A ideia de o ver à frente do Benfica afigura-se-me sedutora quando imagino o país cheio de bandeiras do Benfica nas janelas, com milhões de adeptos a mobilizarem-se no apoio incondicional e quase fanatizado à equipa, tal como foi possível ver com a selecção portuguesa. Mas também quando imagino onze homens vestidos da cor do sangue a lutar em campo até à morte, profundamente fiéis ao seu líder, ao seu emblema e à sua causa.
Acontece que Scolari está longe de ser, neste momento, por variados motivos, uma figura consensual entre os benfiquistas; é um treinador que se faz pagar muito bem; e ao que se diz, as suas relações com Rui Costa não serão as melhores, desde que o “maestro” viu o seu lugar na selecção nacional ser entregue ao naturalizado Deco. Seria pois um treinador contestado e fragilizado à partida, o que dificultaria a sua tarefa, sobretudo num clube com o mediatismo do Benfica. Creio ser contudo uma opção a não descartar totalmente.
Jorge Jesus é o nome mais falado dos últimos dias, havendo mesmo jornais a afirmar que já terá chegado a acordo com o clube da Luz.
Escrevi sobre ele há uns meses atrás, altura em que, talvez por ser dado como forte hipótese para o F.C.Porto, o técnico bracarense deu mostras de um irritante servilismo para com os dragões, fazendo veementes criticas à arbitragem do Benfica-Sp.Braga, e ignorando, uma semana depois, os gravíssimos erros em seu desfavor cometidos por Paulo Costa no Sp.Braga-F.C.Porto. Se há coisa que tenho boa é a memória, e não me esqueci desses tristes episódios, protagonizados por um ex-jogador do Juventude de Évora, cuja carreira de treinador fui acompanhando desde sempre.
Ao contrário do que é a opinião dominante, também não creio que o Sporting de Braga, à excepção de uma ou outra exibição europeia mais reluzente, esteja a fazer uma época particularmente espectacular. Pode muito bem terminar o campeonato em quinto lugar, posição decepcionante face ao plantel que conseguiu reunir, e que permitiu ao técnico, entre outras opções, deitar fora Roland Linz, Andrés Madrid e Jorginho. O conjunto de jogadores do Braga é aliás, quanto a mim, o melhor das últimas décadas de qualquer clube português à excepção dos três grandes. Se nos recordarmos que Cajuda, ainda há um ano, ficou em terceiro lugar com uma equipa substancialmente mais barata, que Manuel Machado poderá terminar à frente do Sp.Braga ou até do Benfica, que no passado recente treinadores como José Couceiro, Norton de Matos, José Mota, Carlos Carvalhal, Augusto Inácio, e muitos outros, tiveram momentos de grande popularidade e (com excepção de Mota) rapidamente caíram em desgraça, chegaremos à conclusão que Jorge Jesus não será talvez assim tão especial quanto o consenso á sua volta parece querer anunciar.
Apesar deste ligeiro cepticismo (ou menor entusiasmo), dadas as experiências recentes com treinadores estrangeiros, julgo que o Benfica teria a ganhar em descer à terra e apostar num técnico altamente conhecedor das especificidades do futebol português. Nessa medida, o ainda treinador do Sp.Braga parece ser uma opção credível, como seriam, por exemplo, Manuel Cajuda ou Manuel Machado, com a vantagem de Jesus dispor, nesta altura, de um amplo consenso entre os benfiquistas – e eu diria mesmo, entre os portugueses.
Se for Jorge Jesus o escolhido, terá todo o meu apoio. Mas mesmo chamando-se Jesus, não espero dele qualquer milagre. A situação do futebol benfiquista é aquela que aqui descrevi há dias, e muitos daqueles problemas vão levar um, dois, três ou mais anos a solucionar, qualquer que seja o treinador. Aliás, com Jesus, com Scolari, com Quique, ou com qualquer outro, será, no meu ponto de vista, praticamente impossível ao Benfica sagrar-se campeão na próxima época. Até porque tudo indica que os principais rivais (F.C.Porto e Sporting) mantenham os técnicos, os jogadores e as estruturas em seu redor, e não vai ser possível, com apenas alguns meses de trabalho (por muito bem feito que seja), ultrapassar máquinas que levam já muitos anos de funcionamento e sedimentação.

16 comentários:

Peter disse...

O scolari nem pintado de ouro, alías no chelsea viu-se bem o que cresceu a equipa depois dele ter saído.Quanto ao j.jesus acho que é bom treinador e devia ser-lhe dada uma oportunidade num grande agora se é em 2009/10 não sei, eu pessoalmente acho que para integrar o Benfica apenas só em 2010/2011 se os resultados não forem os mais adequados para o Quique (isto é se ele cumprir mais uma época de contrato que detém).É precisamente pelo fcp e o scp provávelmente manterem a sua política desportiva que nós que estamos mais atrasados nesse aspecto devemos manter o actual treinador.Cometeu erros mas após um ano em Portugal acho que o Quique já se apercebeu bem o que é o futebol português.E na minha opinião os contratos são para cumprir, não vivemos propriamente no tempo das vacas gordas, e mesmo que a rescisão seja reduzida substancialmente (para metade ou 2/3)é sempre dinheiro que devia ser aplicado em coisas mais importantes.

Manuel disse...

Concordo com quase tudo.

Também concordo que o Benfica ficaria mais bem servido com o Scolari do que com o Jesus. O problema com o Rui Costa é um chamado pseudo-problema, mais criado pela CS, e pode ser facilmente resolvido com uma conversa cara a cara e com a atitude de que o importante é o Benfica. E qualquer dirigente do Benfica tem de colocar os interessos do Benfica muito à frente dos pessoais, ou de qualquer guerra do alecrim e manjerona. Tenho a certeza que o RC tem essa atitude.

O problema é que o LFV gosta de comprar o bom pelo preço da uva mijona. E nem toda a gente está para isso. Mentalidade de portuguesinho!.

Saudações Benfiquistas

Anónimo disse...

Poupem me mais o Jesus! Mas que fez o gajo de especial? Fica em quarto com o Braga? Até eu! Mais valia o Cajuda... Não dá para perceber esta mania do Jesus... se vier vai ser um flop do tamanho dos Jerónimos!

LC

Anónimo disse...

Bla bla bla e o Vitor Baia é q criava mau ambiente na selecção pq n queria estar no banco. Mas pelos vistos, a verdade, é que esse jogador era, afinal, o Rui Costa. Lá estão os tais mitos que foram criados pela imprensa da capital cega pelo benfica.

JMG disse...

Se Quique sair apoio a contrataçao de Scolari!!! Tambem eu nao me esqueço do maior roubo em 20 anos de futebol do jesus e na jornada seguinte nem piou, o vendido...
Scolari conhece muito bem o que se passa nesta liga corrupta e é o homem ideal para unir a naçao benfiquista!!!
Caso Quique continue tem todo o meu apoio!

Kilas disse...

Os responsáveis do Benfica insistem em não negar nada do que se diz sobre Jesus, e as notícias são tão insistentes que eu começo a acreditar ... em Jesus.
Mas Jesus é fraco, como se sabe. Não é o pior, mas é fraco.

Para quem colecciona jornais desportivos, seria interessante reconstituir a novela Quique-Jesus.
Se bem me lembro, houve alguma contestação (nos jornais) a Quique, que levou alguns palermas a levar lenços para a Luz. Ou seja, a contestação foi dos jornais para a Luz.
Depois o LFV veio dizer que Quique tinha 2 anos de contrato. As coisas acalmaram, e o 4-0 ao Setúbal veio ajudar.
Acho que foi a partir do empate com o Trofense (com golo irregular dos visitantes) que se começou a falar muito de Jesus. Deixaram de perguntar a LFV ou a Quique se o contrato era para cumprir, e Jesus passou a ser um "dado adquirido".

Das três, uma:
- Quique fica, tudo isto foi para vender jornais, e os media nunca pedirão desculpa por andarem a mentir ao povo.
- Jesus vem, de facto, e houve uma indesculpável fuga de informação.
- Jesus vem, de facto, mas a convite da comunicação social: o estranho consenso que de repente se gerou em torno de Jesus, como se Jesus fosse algum salvador milagroso, com capacidades extraordinárias (consenso que não exisita antes do jogo SLB-Trofense) assim leva a pensar. Isso seria péssimo, porque mostraria que LFV anda a reboque dos Record deste país. E mostraria que são os jornais (ou quem os controla) que controlam o Benfica.

Resumindo: Jesus não presta. Se vier, será mau para o Benfica - não só por não ser grande treinador, mas por demonstrar que há fugas de info ou que a direcção compra o que os jornais oferecem.
Por mim, Quique é para ficar. Não acredito em Jesus, mas ainda acredito em Quique.

(A do Scolari é tão ridícula - sob todos os pontos de vista - que nem vale a pena discutir)

Anónimo disse...

sera que nem para falares dos treinadores do benfas consegues deixar de criticar o porto ou alguma coia a haver com o porto?

:=) disse...

QUIQUE DIZ COM MUITA RAZÃO:
"Há seis semanas estávamos na luta e agora o final é outro". Também conseguiu ser campesão de inverno, coisa que não se via há muito tempo. Acho que deve continuar e para o ano vai fazer melhor de certeza.

ele há coisas disse...

DIZ QUIQUE E COM RAZÃO:
«Notícias sobre o meu futuro afectam a equipa».

E só por essa razão o único clube dos 3 grandes que tem um treinador contratado para o próximo ano é o único clube sobre o qual se discute o nome do próximo treinador.

LUIS disse...

Viu se o que cresceu a equipa depois de ele ter saído? Essa é boa! Viu se é como jogava o Chelsea no início da época com goleadas atrás de goleadas... depois lesionaram se o Cole, o Essyen, o Ricardo Carvalho e por aí fora e só regressaram bem na fase final... Se tivessem mantido o Scolari tinham ganho algo. Mas é bem feita para esse russo que é um mimado rico... assim é ZERO!

LUIS disse...

E tinha de vir para aqui um parolo da inbicta vomitar paspalhices... enfim...

Nuno Figo disse...

Falta falar em... Quique.

Continuo na minha. O espanhol devia ficar.

E escrevo isto depois do jogo entre Benfica e Braga... em que Quique mostrou ser superior a Jorge Jesus.

Unknown disse...

Quique deve ficar... o benfica jogou sempre o "seu futebol", ou seja, entrou a matar, e depois da trofa e assim, percebeu que tinha de se resguardar mais enquanto não conhecesse melhor o campeonato e os jogadores, jogou mais atrás, mais resguardado. E agora o benfica joga muito melhor, até com o nacional o benfica jogou bem, mas o árbitro era alvi-negro e roubou bem, contra a académica o mesmo... Se quique ficar para o ano somos campeões...

- disse...

QUIQUE FIQUE

Peter disse...

Caro Luís já vi que é Benfiquista e saúdo-o por isso, mas as goleadas de que fala no princípio da época que o chelsea deu foram contra os mijas-na-escada de inglaterra, porque mesmo nessa altura e antes das lesões que fala o scolari não conseguiu vencer nenhum jogo com os grandes de inglaterra, inclusive perdeu jogos em casa quebrando a invencibilidade em casa que o chelsea detinha desde o consulado de mourinho e de avram grant, você até nem pode gostar do abramovich mas o chelsea só não está na final da champions porque foi roubado contra o barça.E com o scolari nem às meias chegavam.O scolari é bom psicólogo e congrega bem as pessoas através da sua demagogia populista mas para ser-se um treinador de excelência só a psicologia não chega, há outros aspectos em que depois o sargentão é banal.Oiça o que o drgba diz sobre ele que logo vê.

Vitor Esteves disse...

Quique deve ficar, mudar por mudar nao parece a solução até porque para o bem e por mal ele já aprendeu como é o futebol português. Treinador protugues no Benfica é carne para canhão.