SEM GENTE, SEM ALMA, SEM NADA
Quando o futebol parou, o Benfica prosseguia numa triste sequência de
apenas uma vitória em oito jogos.
Esperava-se que neste regresso, com tempo mais do que suficiente para
limpar a cabeça, recuperar lesionados, e identificar problemas, a equipa se
apresentasse a um outro nível, para mais tendo em conta o animador resultado do
FC Porto na véspera.
A verdade é que pouco ou nada parece ter mudado. Salvo a boa reintegração
de Jardel (única boa notícia da noite), a equipa de Lage continuou como que bloqueada,
e sem saber o que fazer para ganhar uma partida.
A primeira parte foi paupérrima: sem chama, sem velocidade, sem rumo. Na
segunda, com um pouco mais de intensidade (fruto também do progressivo desgaste
físico do Tondela), continuaram a escassear ideias. Embora o Benfica se tivesse
estacionado junto da área adversária, a verdade é que as ocasiões de verdadeiro
perigo não foram assim tantas, ou tão flagrantes, que agora permitam falar
apenas em falta de sorte. E aqui, há outra sequência que importa assinalar: nas
últimas cinco jornadas, o Benfica apenas marcou um golo de bola corrida (em
Barcelos), algo a que a péssima forma de Pizzi e Vinicius não será alheia, mas que
não pode deixar de fora o treinador.
Bruno Lage entrou de rompante na equipa principal do Benfica. Na
altura mudou tudo, e surpreendeu todos os adversários. Beneficiou do efeito
Félix (que teve o mérito de lançar). E uniu um plantel que parecia claramente
cansado de Rui Vitória. Foi campeão merecidamente.
Esta época, sobretudo a partir do jogo em casa com o FC Porto (em que
o Benfica foi totalmente bloqueado por Sérgio Conceição), foi-se notando uma cada
vez maior dificuldade em encontrar antídotos para adversários já familiarizados
com os pontos fortes de uma equipa – que, recorde-se, ficou sem João Félix, mas
também sem Jonas, Sálvio e depois Fejsa (porventura os três elementos mais
preponderantes dos últimos anos). Aí era preciso mudar, e reinventar um
processo que já não se mostrava capaz de surpreender. Aí, Bruno Lage falhou
redondamente. E se os jogadores estavam fartos de Rui Vitória, um certo
relaxamento que se tem visto nesta série negra de jogos sinaliza que talvez já o
estejam também do técnico setubalense. E quando uma equipa escapa ao pulso da
liderança, o problema não é da equipa: é da liderança.
Um empate num jogo em que era imperioso ganhar mostra que este Benfica
não merece o título. Aliás, este FC Porto também não.
Estávamos muito bem de quarentena.
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