OLHE QUE NÃO!

Fernando Guerra é um dos mais prestigiados jornalistas desportivos nacionais, e é alguém que desde há muito me habituei a ler com total atenção e interesse, ou não se tratasse de uma referência para todos os que, como eu, mesmo que de forma totalmente amadora e desinteressada, gostam de escrever sobre futebol.
Recentemente tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente, e à mesa comum de um almoço pudemos trocar impressões sobre variados assuntos relacionados com o mundo da bola. Reforcei a convicção de se tratar de uma pessoa bastante esclarecida e rigorosa no seu pensamento e nas suas análises.
Infelizmente, tenho de dizer que, no meu modesto ponto de vista, o seu último artigo n’A Bola (terça-feira) não corresponde à poderosa imagem que a sua carreira construiu. Para além da inegável qualidade formal que Fernando Guerra sempre coloca naquilo que escreve, tudo o resto neste artigo é um equívoco: desde o timing (criticar um treinador campeão após três derrotas parece-me muito pouco criterioso) ao conteúdo, passando pela estranha veemência e até por alguma falta de rigor. É verdade que cada um tem direito à sua opinião, mas, do mesmo modo, também me sinto no direito de me confessar desiludido com aquilo que li.
Deixando de lado a questão dos truques e das manhas (e Mourinho não as usa? e Pedroto não as usava também? e Alex Ferguson?), passemos então aos cinco pecados que Fernando Guerra aponta ao técnico encarnado:

1- Devo dizer que também não gostei de ver Jorge Jesus aos abraços com Pinto da Costa. Tratou-se, é certo, de um lapso de comunicação, fruto da simples e genuína forma de estar do treinador. Mas olhar para esse episódio como algo de grave, e capaz de pôr em causa o fantástico trabalho técnico realizado ao longo de um ano, parece-me, francamente, um absurdo. É óbvio que para um jornalista, a comunicação é um aspecto determinante. Para mim, enquanto adepto, devo dizer que me estou nas tintas para quem são os amigos pessoais de Jorge Jesus, se ele fala bem, se cospe no chão, se pinta o cabelo de amarelo ou de violeta, desde que o seu trabalho, enquanto profissional, me satisfaça. E não tenho dúvidas que a esmagadora maioria dos milhões de adeptos do Benfica está comigo.
2- Diz Fernando Guerra que Jorge Jesus fez constar o desejo de melhorar o contrato, antes ainda da conquista do título, entendendo isso como algo de muito reprovável. Não sei se efectivamente o fez ou não, mas se fez, fê-lo no pleno direito de um profissional ambicioso que, tendo consciência da quase perfeição do trabalho desenvolvido, achou que podia ser melhor remunerado. Jorge Jesus (que veio para o Benfica ganhar menos de metade do que auferia o seu antecessor) não tem obrigação de ser benfiquista, nem se espera que esteja no Benfica por paixão clubista. É um profissional que está a fazer pela vida, como qualquer outro treinador, de qualquer outro clube. Mourinho (o tal que é incomparável), por exemplo, exigiu a renovação do seu vínculo só por ter ganho um jogo ao Sporting. Como criticar Jesus por ter pedido (se é que pediu) aumento de vencimento quando estava à beira de dar um tão ansiado título ao clube onde trabalha?
3- Sou insuspeito para falar do caso Quim. Quem frequenta este espaço sabe que sempre tive admiração pelo guarda-redes, e nunca concordei com a sua dispensa, até porque me parecia que a questão da baliza benfiquista era, até ao início desta temporada, um falso problema (agora, infelizmente, tornado real). Aceito também que não tivesse sido elegante tratar o tema num programa televisivo, mas aí Jorge Jesus foi uma vez mais traído pela sua fraca oralidade, caindo na armadilha que, legitimamente, o jornalista lhe colocou. Mas, à semelhança do caso Pinto da Costa, também não creio que uma entrevista mal conseguida, um erro de comunicação, um momento de infelicidade, possa construir, ou destruir, a capacidade de um treinador. Mais do que saber comunicar com os jornalistas, a mim interessa-me que Jesus saiba comunicar com os jogadores. E isso, inquestionavelmente, ele sabe fazer. De qualquer forma, se a dispensa de Quim, e a insistência na contratação de Roberto, foram da exclusiva responsabilidade do técnico, terei de admitir aqui uma falha técnica. Em todo o caso, apenas uma falha, no meio de muitos acertos.
4- Interpretar um sorriso, em resposta a uma questão que não se quer abordar, como um acto de deselegância para com a entidade patronal, é algo que não lembra a ninguém. A versão que me contaram - e não foi Jorge Jesus - é a de que o FC Porto tentou mesmo contratá-lo, coisa que, olhando às práticas habituais de Pinto da Costa (veja-se Cristian Rodriguez, veja-se João Moutinho, veja-se Maniche, veja-se Jankauskas, e por aí fora), não custará muito a acreditar. Ter sido eventualmente o próprio técnico a sugerir que isso aconteceu (o que não deixa de ser uma interpretação abusiva) e, tacitamente, confessar não ter aceite o convite, não só não desrespeitaria o Benfica, como, pelo contrário, até, de certa forma, o valorizava. Só com uma grande ginástica mental se poderá, pois, ver nesta questão algum tipo de deslealdade.
5- É verdade que estive uns dias fora do país, mas desde o início do campeonato não ouvi, não li, nem me contaram que Jorge Jesus tivesse tornado público qualquer tipo de lamento pelas perdas de Di Maria e Ramires. Pelo contrário, ouvi-o dizer que se sentia orgulhoso pelas transferências, e admitir que fazia parte das suas funções valorizar os jogadores de forma a permitir ao clube a realização das mais-valias necessárias ao seu equilíbrio financeiro. Já ouvi, isso sim, críticas de benfiquistas em sentido contrário, apontando alguma passividade ao técnico quanto a esses dossiers.

Não acredito que Fernando Guerra se mova por critérios de simpatia ou antipatia pessoal quando escreve os seus artigos. Aceito, todavia, que a isenção total é uma abstracção, e que todos nós acabamos influenciados por este ou aquele facto, por este ou aquele episódio, do presente ou do passado, e tal acaba por se reflectir quando expressamos as nossas opiniões.
Neste caso, estou perfeitamente à vontade para defender Jorge Jesus. Não só não fui particularmente entusiasta da sua contratação (embora me tenha rendido totalmente ao fim de pouco tempo), como os meus contactos pessoais com ele se resumiram até agora a um simples e circunstancial aperto de mão.
Ao contrário de Fernando Guerra, acho que Jorge Jesus é um fantástico treinador, e enquanto benfiquista, espero e desejo que fique no clube por muitos e bons anos. E, convertido que estou ao seu valor, não serão duas ou três derrotas, nem mesmo a eventual perda de um campeonato, que me farão mudar de opinião. Como, de resto, também não é um mau artigo que arrasa um grande jornalista.

17 comentários:

Anónimo disse...

"Fernando Guerra é um dos mais prestigiados jornalistas desportivos nacionais, e é alguém que desde há muito me habituei a ler com muita atenção e interesse, ou não se tratasse de uma referência para todos os que, como eu, mesmo que de forma totalmente amadora e desinteressada, gostam de escrever sobre futebol." - e ainda dizem que não se faz boa comédia em Portugal.

BT26 disse...

Não posso falar da parte da critica ao que escreveu Fernando Guerra, pois não li o seu artigo. Mas posso dizer que concordo com o que escreve na parte final do seu artigo LF. Por mim JJ já demonstrou um grande trabalho, e não será por alguns deslizes que o vou crucificar. Por mim JJ é para estar no Benfica por muitos e bons anos.

Benfica sempre.

Sry Lanka disse...

O Guerra faz aquilo q está habituado a fazer, e q como ele fazem muitos mais (Delgados, Bonzinhos, Manhas, Goberns, etc). Os fretes na imprensa. Os recados que lhe pedem. Desta vez pediram-lhe para escrever isso, e ele, lá fez o servicinho, e assim já pode mandar o Recibo Verde para quem lhe pediu a encomenda. È assim q funcionam os jornais do regime...sempre a trabalhar pó dito! Contra tudo e contra todos...Avé regime e seus pares!

Vitória do Benfica disse...

Caro Luis

O titulo que deu ao seu post recordou-me o clássico debate com Sá Carneiro, Soares e Cunhal. E recordou-me, com saudade, porque se havia naqueles algo em comum era a integridade das suas convicções e dos valores que defendiam. Olhe que não aquela frase de Alvaro Cunhal tantas vezes proferida para Mário Soares, era a tradução do seu pensamento, sem capacidade para desarticular todo o anticomunismo, em catapulto, produzido pelo voraz e fluente Mário Soares. È verdade que Fernando Guerra não faz aqui o papel de Mário Soares porque não deixou de ser Benfiquista ao contrário de Mário Soares que há muito se tinha intelectualmente rendido aos valores do capitalismo e do mercado. Assim como é verdade que o Luis Fialho não faz de Alvaro Cunhal porque apesar de possuir também uma inteligência cristalina, sabe rebater os interlocutores com racionalidade.

Também eu fiquei chocada com a crónica de Fernando Guerra. Não se percebe porquê de repente Jorge Jesus aparece, aos olhos de Fernando Guerra, como um infiltrado um inimigo, alguém que manipulado por Pinto da Costa pretende reaver as suas poupanças perdidas no meio do BPP. Há uma diferença entre a arvore e a floresta. Jesus perdeu quatro jogos , mas deu ao Benfica muito, um campeonato, grandes momentos de futebol (coisa que Domingos Paciência não fez e não faz no Braga) e o trabalho de reconstruir ou construir grandes jogadores: Di Maria, Cardozo, Saviola, Aimar. Jesus criou as condições técnicas para que o Benfica, mesmo sem ter estado na Liga dos Campeões vendesse para o Real Madrid e Chelsea. Mas tal como Jesus, errou na escolha do guarda – redes em Roberto (só ele??) Mourinho também errou ao estar envolvido na contratação de Vítor Baia para o Barcelona.

Tenho poucos dados, mas parece-me que só a dor muito profunda de ver o Benfica em 14º lugar pode ter turvado o raciocínio a Fernando Guerra.

Sport Lisboa e Benfica, Sempre! porque só nós os Benfiquistas lhe cantamos as vitórias, e lhe choramos as derrotas.

LF disse...

Vitória,

Ainda há dias, ao ler a revista Visão-História, sobre o PREC, lembrei esse debate. Talvez por isso tenha "saído" este título.
Na altura, com apenas 5 anos, não o vi. Mas vi-o mais tarde, e julgo até que o tenho em casa, completo, num DVD editado pelo Público, aquando das comemorações de um qualquer 25 de Abril.

LF disse...

Sry Lanka,

Quer dizer que, segundo a sua luminosa ideia, alguém do Benfica teria pago a Fernando Guerra para dizer mal do...Jorge Jesus.
Fantástico!

LF disse...

BT26,

Creio que é a opinião de 99% dos benfiquistas.

Vitória do Benfica disse...

Já cá faltava o Sry Lanka, que em comparação com o país cujo nome é derivado da palavra em língua páli "sinhalana" “terra dos leões” só tem de bom o que lhe está a sul: as Maldivas, quando falamos de geografia, ou o Sport Lisboa e Benfica quando nos referimos ao leitor do blogue.

Vitória do Benfica disse...

Luis Fialho
Reconheço pelas suas palavras que também é um grande apreciador das conquistas do 25 de Abril e das Portas que Abril abriu. O Benfica como grande clube tem pouca gente ligada afectivamente ao regime fascista. O mesmo não se pode dizer de outros clubes. Talvez por isso, quando as coisas correm mal, esses, resolvem com o linchamento.

È um grande orgulho ser Benfiquista vocês não acham???

ulisses disse...

para o sry lanka jornalistas isentos e com ética e que nunca, mas mesmo nunca, fazem fretes são os do "Jogo", com os Manuel queiroz, Tavarees Telles e quejandos...

oscar-r disse...

Se JJ é um profissional é-o para o bem e para o mal!

Se temos obrigação de aceitar que, legitimamente, tenha pedido mais dinheiro, também temos o direito de não gostar de o ver aos abraços com o inimigo (corrupto) número um do Benfica!

Eu também não gostei do tal sorriso e da não resposta que deu! Se não está comprometido com nada nem com ninguém só tinha de dizer que foi efectivamente contactado pelo corrupto. Como não o fez, na altura interpretei que quis jogar pelo seguro para ter as portas abertas da cagadeira do freixo!

Não li a crónica de Fernando Guerra mas tenho-o por jornalista isento e nem sempre concordo com ele. Isso, para mim, não quer dizer que logo lhe atribuía que está opinar encomendado por quem quer que seja!

O facto de as pessoas fazerem um grande trabalho não os retira da sujeição à critica! Então no futebol a cobrança é diária. Para isso são remunerados!

Quanto ao desejo de ver JJ ficar "...no clube por muitos e bons anos." não concordo de todo: para mim é-me indiferente que ele fique muitos anos no Benfica, a não ser que isso signifique muitas vitórias!

Tiago Nogueira disse...

http://footinmyheart.blogspot.com/

vai uma troca de links?

um abraço

Carlos Alberto disse...

A verdade é que até o melhor jornalista desportivo português pode ter, de vez em quando, umas opiniões erradas.

Sry Lanka disse...

Tá a ver como é perspicaz! Não duvide muito disso...das cunhas, dos compadrios, das invejas e de muito mais. Mas mais q isso, quiz mais dizer q esses jornalistas prestigiados, como os classifica, são um bando de freteiros ao serviço já se sabe de quem. E às vezes o q dizem agrada a todos, pa empolar as massas, outras nem tanto...como é o caso presente. É a tal faca dos dois legumes.

Sry Lanka disse...

Para aqueles q tentam comparar a aberração dos 8.5 milhões com o Sr. Vítor Baía, jogador mais titulado em todo o MUNDO, e são muitos os ignorantes aziados q o fazem, mesmo em programas de TV aqui ficam algumas curiosidades:
1. Vítor Baía, no seu 1º ano em Barcelona foi titular indiscutível tendo vencido a Taça do Rei e a Taça das Taças;
2. Vítor Baía, no seu 1º ano em Barcelona foi considerado pelo jornal A Marca (o tal que é do Real Madrid) o melhor guarda-redes da Liga Espanhola 96/97;
3. Vítor Baía era titular indiscutível do FC Porto (desde os 19 anos) e da Selecção Nacional, já Roberto era o 4º guarda-redes do Atlético de Madrid, dispensado a meio da época para o aflito Saragoça;
5. Vítor Baía sofreu uma lesão grave em Agosto de 1997, o técnico holandês Louis Van Gaal retirou-o da primeira equipa, preferindo o seu compatriota Ruud Hesp;
6. Vítor Baía só em Barcelona conquistou 6 títulos: duas Taças do Rei (96/97 e 97/98), uma Liga Espanhola (97/98), uma Supertaça da Espanha (97/98), uma Taça das Taças (96/97) e uma Supertaça Europeia (97/98).

Insucesso em Barcelona? Tomara a 99% dos jogadores do Mundo terem o "INSUCESSO" q o Sr. Vítor Baía teve em Barcelona!

E já agoram, não comparem a Obra Prima do Mestre, com a prima do mestre de obras!

Antes de mandar postas de pescada pó ar, convém se informar...a azia não justifica tudo.

Anónimo disse...

este senhor devia estar na benfica tv e mais nao digo

Anónimo disse...

Se o conhecesses a serio em contexto de redacção verias o animal que é. Ninguém gosta de trabalhar naquele clima.