PARA ALÉM DAS TÁCTICAS

O empate a zero cedido pelo Sporting em casa perante o Belenenses não surpreendeu ninguém.
O percurso leonino nesta liga tem sido invariavelmente medíocre, mesmo quando, com ajudas divinas (Paços de Ferreira) ou com ajudas terrenas (Olhanense), conseguiu averbar os três pontos, sempre perto do final, e sempre em situação de total desespero. Em todas as sete jornadas, nem um jogo conseguido, nem uma vitória clara, coisa que se estende desde a pré-temporada.
Não sei até que ponto irão as culpas de Paulo Bento em tão difícil quadro. Uma coisa é certa: o plantel é fraco, é curto, as contratações foram ridículas, e os dirigentes não podem passar ao lado das responsabilidades.
Em 28 anos o Sporting foi campeão duas vezes. O clube perdeu sócios, perdeu adeptos (entre as crianças há já uma segmentação clara entre Benfica e FC Porto, bastando ir a qualquer escola para o perceber), perdeu grandeza. Faltou, desde então, um golpe de asa que devolvesse o clube à sua anterior grandeza histórica. A ambição deu lugar à resignação. Na cegueira da rivalidade lisboeta, o leão perdeu de vista o FC Porto, passando alegremente para uma situação de clara subalternidade no panorama desportivo português.
Nos últimos quatro anos, os erros crassos do Benfica permitiram fazer crescer a ilusão de que o Sporting estava enfim no bom caminho, com os seus tão festejados segundos lugares. Ao mínimo voo da águia essa ilusão desmoronou-se como um castelo de cartas, e o Sporting viu-se de novo confrontado com o seu verdadeiro lugar, com a sua verdadeira dimensão. A tudo isto a resposta de José Eduardo Bettencourt foi nula.
Saltar e cantar numa conferência de imprensa por entre gritos histéricos anti-Benfica não chega. Queixar-se do orçamento também não - seria a ele e à sua equipa que caberia o dever de dotar o Sporting de meios para concorrer de igual para igual com os rivais.
Agora, em desespero, e como manobra de diversão, dispara uma vez mais contra o Benfica. Triste figura, que não esconde a inveja que enche a alma sportinguista por estes dias. Penosa figura, que descredibiliza uma direcção que até agora não fez nada que se note pelo Sporting, pelo seu fortalecimento, pela sua competitividade.
As tradicionais boas pontas finais de Paulo Bento não deixam margem para colocar o Sporting fora da carroça do título. Mas a medíocre política desportiva leonina, a pequenez institucional constantemente reiterada, e a inveja paroquiana reinante em muitos círculos de Alvalade, parecem colocar o Sporting irremediavelmente fora da carroça do futuro.