QUE FAZER COM QUIQUE?

Em futebol, quando os resultados não são os desejados, o alvo imediato é normalmente o treinador. É quase sempre assim, em qualquer clube, em qualquer país, e não esqueçamos que já esta época, o agora tão aclamado Jesualdo Ferreira esteve por um fio, após três derrotas consecutivas e perante as hipóteses de afastamento da Champions – aquele golo em Kiev no último minuto… - e da Taça de Portugal, cuja eliminatória com o Sporting foi decidida por penáltis.
Se nem todos os treinadores se adaptam a todos os clubes, a verdade é que muitas das vezes o seu despedimento acaba por ser precipitado, ou servir para esconder incompetências de outros protagonistas. O Benfica das últimas décadas – onde desde 1992 nenhum treinador permaneceu duas épocas – é o perfeito case-study da relação clube-treinador.
Em 17 anos passaram pela Luz: Sven-Goran Eriksson, Tomislav Ivic, Toni, Artur Jorge, Zoran Filipovic, Artur Jorge após a doença, Mário Wilson, Paulo Autuori, Mário Wilson novamente, Manuel José, Marío Wilson outra vez, Graeme Souness, Sheu Han, Jupp Heynckes, José Mourinho, Toni novamente, Jesualdo Ferreira, Fernando Chalana, José António Camacho, Giovanni Trappatoni, Ronald Koeman, Fernando Santos, José António Camacho novamente, Fernando Chalana novamente e por fim Quique Flores. 19 treinadores (entre os quais vários ex ou futuros campeões europeus, ex ou futuros seleccionadores nacionais, ex ou futuros campeões nacionais), 24 mudanças de treinador e uma média de oito meses e meio para cada um deles (!). Desde 1991-92, só Toni em 1994 e Trappatoni em 2005 se sagraram campeões.
Um dos problemas do Benfica foi pois a constante mudança de treinadores. Mas se em muitos casos essas alterações deveriam ter sido evitadas (Toni em 1994, Mourinho em 2000, Trappatoni em 2005 ou Fernando Santos em 2007), outros houve em que as mesmas pecaram por tardias. O que teria sido a história do Benfica se a Artur Jorge não tivesse sido permitido dispensar no defeso de 1995, a seu bel-prazer, de uma assentada, e de um clube sem dinheiro, jogadores como Neno, Veloso, Mozer, Vítor Paneira e Isaías? O que teria sucedido em 1999 se José Mourinho tivesse logo iniciado a época em vez de Jupp Heynckes?
Como se percebe por estes exemplos, nem sempre a estabilidade é um valor por si só, algo que serve para o futebol, para a política e para a vida. Não se ganha nada com uma estabilidade assente sobre um equívoco, e há que ter a coragem de mudar quando é preciso.
No caso concreto de Quique Flores, não sei, em consciência, o que deva ser feito. Sei sim, o que não se pode, de modo algum, fazer.
Se Quique é bom ou mau treinador, apenas uma pessoa poderá responder, e essa pessoa é Rui Costa. Só ele assiste aos treinos, só ele conhece os planos de trabalho, só ele está em condições de avaliar os métodos utilizados, a compreensão dos jogadores face aos mesmos, a disciplina e profissionalismo existentes, o pulsar do balneário perante o técnico espanhol. Sabendo nós todos que o problema do futebol benfiquista não se esgota no treinador, só Rui Costa terá à disposição todos os dados para perceber se Quique Flores faz parte desse problema, ou se, pelo contrário, dele pode ainda vir a ser solução. Deve ser pois Rui Costa - conhecedor de muitos grandes treinadores, e do futebol ao mais alto nível - a decidir a continuidade ou não do técnico benfiquista, sem interferências de ninguém, dentro ou fora do clube.
O que não pode suceder outra vez – como com Artur Jorge, ou mais recentemente, com Fernando Santos – é permitir que o treinador inicie a nova época fragilizado e, perante a contestação generalizada, se deixe cair nas primeiras jornadas de 2009-10, obrigando a mais um ano de transição, comprometendo o processo de consolidação da equipa, colocando tudo na estaca zero pela enésima vez.
Sabendo o que a casa gasta, não creio que seja possível ver um Quique Flores firme e convictamente apoiado por todos (dirigentes, jogadores, adeptos, imprensa) à partida para uma nova época, depois de o seu trabalho ter levantado as fortes dúvidas que mais abaixo acabei de descrever. Esse filme já foi bastas vezes visto na Luz, e uma nova sessão pode vir a tornar-se ainda mais dramática.
A estrutura de uma equipa de futebol depende por vezes mais da força, do perfil, da mística do seu plantel, do que propriamente da pessoa do treinador. Veja-se, por exemplo, como o F.C.Porto muda de técnico com alguma frequência e mantém a mesma identidade em campo. É mais importante não mexer muito num plantel, manter as suas principais referências, dotá-lo de organização colectiva, de hábitos de trabalho e disciplina, de dinâmica ganhadora, de equilíbrios vários (entre os quais o salarial), do que insistir num treinador necessariamente enfraquecido pelos resultados e pela desconfiança em redor de algumas das suas opções.
Mas, como disse acima, esta é uma decisão que só Rui Costa tem que tomar. Ou prescindir de Quique no fim desta época e, mantendo a base do plantel, optar por um treinador português mais familiarizado com o nosso futebol; ou em alternativa, segurar o espanhol com unhas e dentes, contra ventos e marés, na vitória e na derrota, perante a mais dramática contestação, até 2010, para o que terá de estar neste momento absoluta e totalmente seguro dos méritos do espanhol.
A ele a decisão. Que decida bem.

19 comentários:

Ricardo Campos disse...

ainda há Benfiquistas que gritam golo do Manchester, como se do Benfica se tratasse…


quanto ao kiki, podiam matar o homem e dar de comer a aguia vitoria
heheeehheheh

Vitória do Benfica disse...

Boa Tatrde Luis Fialho,

Escrever dois textos sistematizados obre o nosso clube, no mesmo dia, é obra.

Vou responder aos seus posts, mas antes gostaria de fazer também uma análise aos directores desportivos que o Benfica teve desde Gaspar Ramos com este incluído, talvez assim se possa perceber um pouco mais do que se passa no Benfica.

Até logo

LF disse...

Era para ser só um texto, que depois achei melhor dividir.
Mas não escrevi tudo hoje. Apenas completei e publiquei.

Peter disse...

Renovar contrato com ele e de uma vez por todas dar um rumo ao futebol do Benfica, protegê-lo do exterior ser solidário nos maus momentos porque nos bons é fácil.Comparar esta situação com a do artur jorge é uma bocado hiperbólica(lol), o Quique não apanhou uma equipa campeã nacional, como o jesualdo por exemplo apanhou.

Vitor Esteves disse...

A mim parece-me o fim da linha, uma nova direcção, sem desprimor para o trabalho feito por LFV, parece-me a melhor solução desde que apareça gente credível e competente. Até ao fim do campeonato não seria má ideia que apenas fossem feitas declarações quando obrigatórias.
P.S.: Não ficaria escandalizado, bem pelo contrário, se a direcção adoptasse no inicio da época e só para o exterior o discurso de que o Benfica só é candidato á europa.

Sport Lisboa e Benfica disse...

A unica solução positiva passa por falar com quique, disponibizar-lhe um orçamento para compras(dentro dos limites possiveis definidos pela sad) e renovar-lhe o contrato por mais um ano! se ele aceitar é porque realamente acredita no Benfica e vice versa! E acabava-se com polémicas e tremideiras!
Se se mudar de treinador começamos de novo outra vez!!!!! O que nao me parece a melhor solução de todo!

Castro disse...

Caro Aurélio Estorninho, com todo o respeito, mas responda-me sinceramente: Qual a surpresa? Já se esqueceu dos portugueses que apoiaram o PSV e o Milan em 88 e 90? Já se esqueceu da festa que fizeram pela derrota do Benfica? Já se esqueceu da Lázio ser recebida no aeroporto com incentivos por parte de adeptos daquele clube apenas porque eram adversários do Benfica? Já se esqueceu dos portugueses que foram ridiculamente a Vigo no dia seguinte à goleada dos 7-0 fazer-se sócios do clube Galego? Já se esqueceu dos cânticos após as vitórias da taça uefa, liga dos campeões e taça intercontinental por parte dos adeptos daquele clube corrupto, como se o verdadeiramente importante não fosse ganhar as competições mas sim poder atirar à cara as suas conquistas aos Benfiquistas? Apoio qualquer equipa portuguesa em provas internacionais, mas não me peçam para apoiar aquele clube nortenho.

P.S. sou nortenho e da cidade do Porto.

Brytto disse...

Já é tempo mais que suficiente para começarmos a colocar em dúvida o vertice da pirâmide, o resto é conversa... Até parece que se o homem e seus correligionários forem embora o clube acaba! Por mim, chega de tanta incompetência.

BoyGenius disse...

Esta estabilidade juntamente com a confiança que temos em Rui Costa vai dar frutos!!!

Tempo e paciência!!!

http://slbenficacronicaseimagens.blogspot.com/

BoyGenius disse...

Castro:


Sou nortenho, nascido e criado em Paranhos...

.. ESTOU CONTIGO!!!

Anónimo disse...

1 - Decidir, deve fazê-lo quem tem elementos para o fazer;
2 – Construir equipas com Nunos e Mantorras não leva a lado nenhum; se há dívidas (de gratidão) pague-se-lhes, pois já não são soluções); venha gente nova com ambição e robustez para o seu lugar!
3 – quero estabilidade, directiva e técnica;
4 - tenho consideração e respeito por Vieira ( que nada percebe de bola), pois julgo entender o valor do trabalho até aqui desenvolvido; mas, para além mim, é na IMPRENSA e na LIGA que, essa consideração e esse respeito, se devem conquistar, exigir, impor, mutuamente, tal como elas para si reclamam; é forçoso repensar e reformular o relacionamento com a imprensa “cor-de-rosa” que fez cair o Carmo e a Trindade após o jogo com o Braga, e permaneceu avestruzmente com a cabeça enterrada na areia logo oito dias passados! Porquê ? Para quê? Para quem? Com quem?
5 - é imperioso que se faça, na LIGA, no fim da competição, o DEVE e HAVER dos “erros naturais”, involuntários (?), dos árbitros; sem dramas, com clareza, seriedade e transparência;
6 – as imparidades do poder político, ou um país e dois sistemas:
- nas ilhas condena-se a pedofilia, dos “farfalhas” e outras, em 4 meses; no continente já vamos em cinco anos, e o…… “desgraçado país, pobre povo”,….. continua pagando a farsa;
- nas ilhas condena-se no âmbito do apito “(O Tribunal de Santa Cruz condenou esta terça-feira os ex-dirigentes do Conselho de Arbitragem António Henriques e Azevedo Duarte da Federação Portuguesa de Futebol e o árbitro Leonel Moreira pelos crimes de participação em acto de corrupção, refere a Lusa. )” fonte tvi; no continente há sucessivas absolvições de “criminosos e de crimes”, bem mais graves, mais atestados, testemunhados e comprovados.

Peyroteo disse...

O que fazer com o Papagaio Gabriel?

Ou será Calimero Gabriel?

Vitória do Benfica disse...

Bom Dia Luis Fialho e restantes visitantes do blog,

Ontem tive o privilégio de assistir ao treino da equipa,. Nunca vi nada assim, no Benfica, já sabia que eram organizados mas assim tanto não me passava pela cabeça.

Se me fosse possível deixava de assistir aos jogos e passava a assistir só aos treinos do Quique Flores e da sua equipa técnica. Vi cruzamentos entre o Nuno Gomes Aimar e Cardozo, que nunca tinha visto nos jogos,. Vi golos do Mantorras e do Di Maria de grande qualidade. Vi cruzamentos de bolas, como não vejo nos jogos. Vi defesas do Quim, autênticos voos de águia. Porque não consegue o Benfica fazer isto nos jogos ? Talvez porque Quique ainda não interiorizou o futebol nacional?, talvez pelos condicionalismos?, talvez pela marginalização que faz a Chalana e a Diamantino?.

Fiquei feliz com a conferência de imprensa do Presidente. Jorge Batista na SIC com a sua timidez e ambivalência de antigo adepto e frequentador do estádio da Luz, comentava depressivamente o facto de Luis Filipe Vieira dizer se nós tínhamos construído um estádio quando estávamos falidos, também agora somos capazes de construir uma equipa de futebol. TEM TODA A RAZÃO, VIEIRA .

É duro para um Benfiquista perder mas temos de assumir que já pertencemos à categoria de Nobres falidos.

O Benfica desde Gaspar Ramos e até Vale e Azevedo teve uma politica desportiva de desastre, que se deixou dominar por incompetência e pessoas que se serviram do clube e os que não se serviram eram incompetentes. Foram os contentores de jogadores, foi agora Veiga (talvez por isso Fernando Santos tenha saído?)

Eu considero que o clube precisa de estabilidade, que o clube precisa de alguém com coragem que se não deixe impressionar pelos maus resultados ou pelos lenços brancos. Não se pode mudar, porque o clube estava muito desorganizado, mas concordo que não se deve manter jogadores muito caros. Deve é manter-se a estabilidade do plantel, para que assim os jogadores possam manter rotinas defensivas e ofensivas.

O que fazer com Quique – Deixá-lo trabalhar, porque ele chega lá. Mas se percebo porque mandou o Leo embora (acho que não está a fazer nada no Brasil) já não entendo porque não joga o Urreta (grande treino ou o Di Maria cada vez mais ou mesmo o Sidnei, marcou cá um golaço no treino)

PS. Para quando um pequeno Post sobre o Benfica na literatura ( Pepetela A geração da Utopia, José Rodrigues dos Santos A filha do capitão, António Lobo Antunes, José Saramago Levantados do chão, João Tordo e José Peixoto, Jacinto Lucas Pires, Domingos Amaral )


Saudações Benfiquistas

Afonsus disse...

continuo a deixar o convite, para um blog diferente
http://aguiadomundo.blogspot.com/
Abraço
Afonsus

LF disse...

Vítor e Brytto,

Remeto-os para um post que publicarei em breve sobre a direcção e o presidente.

Castro e Boygenius,

Compreendo-os perfeitamente.
Quando o Porto foi campeão europeu em Viena dei saltos de contentamento, quase como se fosse a selecção nacional.
Não foi preciso esperar mais de um ano para perceber que me tinha enganado, ao ver festejada na baixa portuense a maior tristeza desportiva da minha vida (a derrota por penáltis com o PSV).

LF disse...

Anónimo,

Concordo com o essencial, mas creio que, particularmente o Nuno Gomes, ainda cabe na equipa, e tem um papel importante a desenvolver.

Vitória,

Não tenho dúvidas que o Benfica treine bem, caso contrário o Rui Costa não apreciava tanto o Quique.
O problema são so jogos, e os adversários...

Quanto aos livros, é uma excelente sugestão para o período do defeso.

M disse...

no seguimento dos post de Vítor, Brytto e LF...

eu vibrei bastante com a vitoria do FCP em viena, era novito,tinha 13 anitos, e lembro-me de ano seguinte, se nao me falha a memoria, o Porto campeao Europeu ter jogado, com o Real Madrid...lembro-me ter ouvido atentamente o relato, penso que o Madjer marcou um golo no Barnabeu (perderam penso) e ter vibrado muito, assim como como o golo do Sousa, de livre directo, nas antas (1-2)...

nesse ano vi, apos chorar baba e ranho com a derrota face ao PSV, vi a festa portista e 2 anos depois a seguinte festa no rescaldo do jogo no mesmo estadio onde, à distancia, os tinha apoiado...

prometi a mim mesmo nunca mais apoiar o FCP em qq competição internacional

saudaçoes benfiquistas

angelodias disse...

Os adeptos do Inter também festejam as vitórias europeias do Milan ou Juventus, assim como os do Real Madrid que festejam as do Barcelona como se fossem suas.
Os grandes clubes são mesmo assim e basta ler os jornais estrangeiros para perceber que as rivalidades não se esgotam quando uma equipa passa a fronteira para jogar com um clube estrangeiro.

Cumprimentos.

NunoFigo disse...

Quique? Deixá-lo estar, mais um ano. É o que tenho dito deste o início do ano (e o LF disse o mesmo).
No próximo ano, sim, "faremos as contas".

Quanto à celebração ou não das derrotas (europeias) do fcporto, concordo com o que foi dito.
O porto não nos respeita.
Não nos respeita a nós benfiquistas.
Não respeita o clube e a institução Benfica.
Não respeita o desporto e desportivismo português (podem os portistas dizer o que quiserem, mas a CONDENAÇÃO POR CORRUPÇÃO de que o clube foi alvo é, por natureza, a antítese do espiríto desportivo).
Como tal, não merecem o meu respeito. Não gritei o golo do Manchester, porque também não morro de amores pelo clube. Se fosse o Liverpool, sim, provavelmente gritaria.

Admito com toda a sinceridade que, apesar de adepto do Benfica e apesar do "ódio" que o Sporting nos tem, torci por eles na recente campanha até à final da taça UEFA.


Enfim, o Aurélio (e os demais tripas) apenas veio cá pôr uma posta de pescada para nos tentar fazer iguais a eles. A tripalhada não percebe que não precisamos de ser anti-qualquer-coisa para sermos grandes.