NATAL EM PRIMEIRO

Afinal o desejo de Rui Costa foi satisfeito: o Benfica vai passar o Natal na liderança da tabela, e é nessa condição que entrará em Alvalade para disputar o dérbi eterno. 
A vitória diante do Estoril não sofre qualquer contestação, e podia até ter sido mais ampla. O que não significa que a exibição tenha sido brilhante - sobretudo se atendermos à facilidade com que os canarinhos chegaram perto da área encarnada em mais do que uma ocasião.
Pavlidis marcou, e Otamendi não jogou, nem se sentiu a falta. Tudo correu como o guião previa. E até a entrada de Amdouni - custa vê-lo no banco - rendeu, não se sabendo quem terá de sair do onze para, mais tarde ou mais cedo, o internacional suíço assumir a merecida titularidade.
A arbitragem esteve bem.
Agora há que entrar em Alvalade com total confiança, mas sem triunfalismos. O Benfica está no lugar que quer, mas o campeonato ainda nem chegou ao meio, e já sofreu as voltas e reviravoltas que sabemos. 

ATAQUE À LIDERANÇA

Trubin, Bah, Araújo, A.Silva, Carreras, Florentino, Aursnes, Kokçu, Di Maria, Amdouni e Akturkoglu. 

NÃO, NÃO E NÃO!

O apoio do Benfica a Pedro Proença (Lourenço Pereira Coelho é um dos subscritores) só pode ser entendido da seguinte forma: sabendo que ele vai ganhar, o clube prefere não o hostilizar agora para não ser ainda mais penalizado no futuro.
Digamos que não é uma atitude que se destaque pela coragem. Mas também é verdade que o peso institucional do Benfica não é comparável ao seu peso social, coisa que os adeptos nem sempre têm em conta.
Seja como for, eu jamais apoiaria um individuo como este, que foi um árbitro famoso por resolver campeonatos, e um presidente de uma liga que se tem afundado na mediocridade.
Os perus não votam a favor do natal, pelo que congrega o apoio esmagador do enorme desfile fantasma de clubes (ou afins) das divisões profissionais, a troco do palco que não merecem, nem justificam. 
Os campeonatos estão nivelados por baixo. Antes, os grandes eram maiores e os pequenos existiam. Agora tudo é puxado para o chão, de forma a manter uma série de oportunistas sentados à mesa das receitas. Proença é o rosto dessa triste realidade, como foi o rosto dos tempos mais obscuros da arbitragem portuguesa.
Mas o homem que dá abraços a toda a gente, sempre foi habilidoso a fazer o que mais lhe convinha. Como bom árbitro-UEFA, falando bem inglês e apresentando boa forma física, sabia manipular jogos sem dar muito nas vistas. Agora parece saber manipular assembleias e vontades.
Ele vai crescer em sentido inversamente proporcional à morte assistida do futebol português. E custa-me ver o Benfica a participar nesse cortejo fúnebre.

O SUSPEITO DO COSTUME

Num jogo em atraso a meio da semana e a começar já no minuto 8, num estádio daqueles (que há muito devia ter sido interditado pela liga), sem se saber se se podia jogar ou por quanto tempo, e após dois empates consecutivos e evitáveis, a deslocação à Choupana tinha tudo para correr mal. E ao intervalo, a extraordinária exibição do guarda-redes do Nacional parecia apontar para mais uma estéril sessão de tiro ao boneco. 
Na segunda apareceu aquele que tantas vezes tem sido o verdadeiro Dom Sebastião deste Benfica. Di Maria emergiu do nevoeiro e resolveu, garantindo os três pontos e uma dose suplementar de serenidade para fazer face aos próximos compromissos.
Há coisas a rever. Os turcos estão a léguas da forma que apresentavam por alturas das goleadas ao Atlético de Madrid e ao FC Porto. Pavlidis, que na pré-época marcou sete golos em cinco jogos, e que na sua selecção tem dado cartas, tarda em ser o finalizador de que a equipa necessita. Sobra El Fideo, que muitas vezes chega - mas, como é óbvio, nem sempre um só homem é suficiente para tudo. 
Di Maria tem já 28 golos e 18 assistências nesta segunda passagem pelo clube, ou seja, em ano e meio. Para quem duvidava da sua aquisição, e da posterior renovação, os números são a resposta cabal. Por mim, ficava mais um ano, até porque, ao contrário de outros, corre e luta como se fosse um jovem de 18 anos (o que é deveras impressionante). E, como é sabido, tem uma classe de nível muito acima da liga portuguesa.
Enfim, o Benfica, que podia (e devia) estar agora sentado na liderança fica a um ponto de distância. Há que ir buscar a Alvalade os pontos que fugiram na Vila das Aves. Primeiro, claro, vencer o Estoril - que tem histórico de inconveniência nas deslocações à Luz.

PROCURAR ALGUMA LUZ NO MEIO DO NEVOEIRO

Trubin; Bah, Araújo, Otamendi e Carreras; Florentino, Aursnes e Kokçu; Di Maria, Amdouni e Akturkoglu.

UM PADRÃO QUE SE REPETE

Rui Vitória chegou ao Benfica em 2015 e fez duas excelentes épocas, alcançando o Tri e o Tetra respectivamente, juntando Supertaças, Taças da Liga e uma Taça de Portugal. Depois, o rendimento da equipa caiu a pique, chegando ao ponto de fazer exibições penosas diante de adversários manifestamente inferiores. Desperdiçou o Penta, e ia perdendo ainda mais um título. Saiu despedido, deixando a equipa em 4º lugar.

Veio Bruno Lage, que entrou com tudo, e fez uma segunda volta sensacional, praticamente só com vitórias - fossem elas em Alvalade, no Dragão, em Braga ou em Guimarães, com algumas goleadas pelo meio (até um 10-0 ao Nacional). Recuperou de uma desvantagem de sete pontos, e reconquistou espectacularmente o campeonato. Na temporada seguinte arrancou com 5-0 ao Sporting na Supertaça, e obteve uma impressionante série de 18 vitórias em 19 jogos, ameaçando recordes de Jimmy Hagan. Depois, o rendimento da equipa caiu a pique. Apenas duas vitórias em treze jogos ditaram o despedimento.

Regressou Jorge Jesus, que havia ganhado três campeonatos e levado o clube a duas finais europeias. A primeira época foi marcada pelo Covid. Mas na segunda arrancou em força, vencendo as sete primeiras jornadas e despachando o Barcelona por 3-0 na Liga dos Campeões. Depois, o rendimento da equipa caiu a pique. Acabou despedido por altura do Natal.

No início da época seguinte, já com Rui Costa na presidência, foi contratado Roger Schmidt para resgatar o futebol do Benfica das catacumbas onde havia caído. Vários jogadores foram dispensados. O plantel foi revitalizado. Com exibições excepcionais, obteve doze vitórias e um empate nos primeiros treze jogos, fez uma Liga dos Campeões extraordinária em quase fez sonhar com a final. Alcançou o 38º título com todo o merecimento. No ano passado as coisas começaram mal e acabaram pior. O rendimento da equipa caiu a pique. Após mais um início de época confrangedor, acabou despedido como os outros.

Voltou Bruno Lage. Entrou em grande estilo, obtendo oito vitórias consecutivas no campeonato, goleando o FC Porto e também o Atlético de Madrid na Champions. Nas últimas duas semanas, o rendimento da equipa caiu a pique.

A razão pela qual o Benfica só ganhou um campeonato desde 2019 passa por este texto. Qual é ela? Não sei. Mas apesar de as haver, não acredito em bruxas. E acho que Bruno Lage, como Jorge Jesus, e até Roger Schmidt são bons treinadores. O plantel tem sido genericamente o melhor do país (pelo menos o mais caro). O que se passa então? Falta de rigor? Pouco profissionalismo? Sabotagem? Compromissos por cumprir? Muito gostava de saber, até para não fazer críticas injustas a quem possa não ter quaisquer culpas. A única certeza que tenho é que, se o mal não for atacado de raiz, daqui a dois ou três anos podemos acrescentar mais dois ou três parágrafos a este texto, haverá mais dois ou três treinadores despedidos, quem sabe até mais um presidente, e o Benfica continuará a gastar mais dinheiro e a conquistar menos títulos que os seus rivais. Mesmo quando eles estão depenados e encostados às cordas, como é agora o caso.

ABAIXO DE ZERO

Inqualificável! Inaceitável!
Se a primeira parte tinha sido fraca, a segunda foi fantasmagórica. De longe, os piores minutos deste Benfica de Bruno Lage.
Até podia ter dado para ganhar 1-0. Não deu e, diga-se, o Benfica teve o que merecia, depois de um autêntico banho de bola do... AFS - que levou cinco do Porto, três do Sporting e foi eliminado da Taça pelo Lusitano de Évora.
Não há perdão para um jogo destes. Quando tinha todas as condições para chegar a Alvalade na liderança, o Benfica devolve a estabilidade aos rivais, de uma forma preocupantemente medíocre, e depois de se arrastar penosamente em campo durante minutos a fio, parecendo não saber onde estava nem o que tinha para fazer. 
Lamento, mas não consigo entender como um plantel pago a peso de ouro oferece apenas isto, num jogo em que era extremamente importante vencer. Não consigo entender a equipa titular, nem as substituições (Schelderup e Rollheiser para segurar um resultado??!!). Muito menos a atitude demonstrada por quase todos, em campo e no banco. 
A verdade é que os sinais estavam lá. Arouca, Vitória, Bolonha. Não os quisemos ver. Agora o cântaro partiu mesmo. Os avançados não marcam, o meio campo não domina, a defesa é permeável. Assim vai ser muito difícil. 
Se alguém no clube não percebeu a importância deste jogo, então está lá a mais. Este era o momento de fazer sangue nos rivais, de não os deixar reagir, de dar tudo por tudo pelos pontos, pela liderança, pelo aproveitar das circunstâncias do campeonato. 
Mas não... O que se viu foi um verdadeiro tiro nos pés (o futuro dirá se foi um tiro na cabeça). 
Assim, o Benfica não merece ser feliz. Não merece nada a não ser pena. Pena de ver tanto dinheiro esbanjado numa equipa que só funciona de vez em quando. 
E por falar em pena, desgraçados dos que foram ao estádio apanhar frio. Espero que desta vez ainda tenham força para assobiar. O que acabaram de ver não merece outra coisa.

PARA GANHAR AO AVS, AVES, AFS OU LÁ O QUE SEJA AQUILO

Trubin, Bah, Araújo, Otamendi, Beste, Florentino, Aursnes, Kokçu, Di Maria, Amdouni e Akturkoglu. 

AS CONTAS DO APURAMENTO

 

Se imperasse a lógica (ou, pelo menos, a minha lógica), o Benfica podia já nem necessitar de pontuar para chegar ao play-off. E aqui se percebe a importância do ponto conquistado diante do Bolonha (em futebol foram dois pontos perdidos, mas em matemática poderá ter sido um ponto ganho). 
Com a chave de resultados acima, que segue, grosso modo, a lógica dos rankings, o Benfica, com os dez pontos que tem, ficaria em 21º lugar, passando à fase seguinte.

Deixando modelos académicos e olhando apenas aos factos, é preciso dizer que Graz, E.Vermelha, Girona, Salznurgo, Y.Boys, Bolonha, Leipzig e Slovan já não podem, de todo, ultrapassar os encarnados na classificação final, enquanto Shakhtar e Sparta apenas podem igualar (sendo que precisariam de vencer os dois jogos que lhes faltam, contra Brest e Dortmund/ Inter e Leverkusen respectivamente, e ainda recuperar uma diferença negativa de 8 e 11 golos). Ou seja, há dez equipas que, objectivamente, não irão ultrapassar o Benfica. 
Por outro lado, há 14 equipas com mais de dez pontos. E há ainda Real Madrid, City e PSG, que têm menos de dez pontos mas...vão passar. Atendendo que há um Sporting-Bolonha e um Celtic-Young Boys, em nome do realismo tiremos também leões e escoceses das contas finais.
Podemos assim considerar 8+2=10 clubes mais ou menos eliminados, e 14+3+2=19 mais ou menos apurados. Sobram 36-19-10=7, dos quais cinco apuram-se, dois ficam pelo caminho. É aqui que está a grande batalha. Vejamos:
Para ser eliminado, o Benfica teria de ser ultrapassado por cinco dos outros seis clubes deste lote. É lícito pensar que Monaco e Feyenoord poderão pontuar. Já o Brugge tenho mais dúvidas (teria sido bom que o Sporting lhes tivesse ganho...). Enquanto o PSV teria de ganhar, ou em Belgrado, ou em casa ao Liverpool. Tal como o Zagreb, que joga em Londres e recebe o Milan. Já o Estugarda tem um jogo para chegar facilmente aos dez pontos, em Bratislava (esperemos que não goleie), mas depois recebe o PSG.
D.Zagreb, Brugge, PSV e Estugarda são pois os principais adversários a considerar. É preciso que dois deles terminem abaixo dos encarnados. 
Enfim, muitas contas que serão obviamente evitadas se o Benfica obtiver, pelo menos, um empatezinho nos dois jogos que lhe faltam.

A BOLA NÃO ENTROU

Se alguma coisa se pode apontar ao Benfica nesta noite de Champions é o facto de ter demorado demasiado tempo a perceber como podia ferir o adversário.
Na primeira parte o jogo não foi bonito. O futebol encarnado parecia engasgado, faltando sempre um qualquer detalhe para que os lances tivessem o desenvolvimento pretendido. Como todas as equipas italianas (à excepção, sejamos justos, do Atalanta), o Bolonha usou e abusou do cinismo táctico (mais à frente também do antijogo puro e duro, com o qual o árbitro compactuou). O seu treinador estudou bem a equipa de Bruno Lage e procurou neutralizá-la nos seus pontos críticos. Ainda assim, foram do Benfica as grandes oportunidades nesse período.
Na segunda parte, sim. Embalada pelo talento de Di Maria, assistiu-se a uma excelente exibição encarnada, à qual apenas faltaram golos – afinal de contas o mais importante. Frente ao Vitória de Guimarães houve menos remates, menos oportunidades, mas um instante de eficácia bastou para vencer. Com o Bolonha, alguma desinspiração de Pavlidis, e uma soberba exibição do guarda-redes contrário, mantiveram o nulo até ao fim.
É preciso dizer que o empate, neste caso concreto, foi muito diferente de uma derrota. Dez pontos até podem vir a permitir a qualificação. Nove torná-la-iam praticamente impossível. E o Benfica recebe o Barcelona e vai a Turim – ou seja, pode, muito logicamente, não pontuar mais. Tratou-se de uma oportunidade perdida para encarar com tranquilidade essas duas jornadas finais. Mas nada está perdido. Pelo contrário, continuo a apostar no apuramento para o play-off.
Já falei do árbitro. Num jogo sem casos, conseguiu estragar o espectáculo, e irritar os jogadores e as bancadas com uma gestão da disciplina, dos critérios e das paragens confusa e incoerente. Os cinco minutos de compensação fizeram-me rir.

PARA GARANTIR O APURAMENTO

Trubin, Bah, Araújo, Otamendi, Carreras, Florentino, Aursnes, Kokçu, Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu.

TRÊS PRECIOSOS PONTOS

Foi uma vitória sofrida. Mas confesso que não esperava outra coisa.
Por um lado, havia a pressão natural de não poder perder a oportunidade dada pela crise do Sporting. Por outro, o Vitória de Guimarães é uma excelente equipa, tem feito uma época muito boa, e isso fazia deste jogo uma espécie de clássico - ou seja, teria de ser jogado como tal.
E foi. Não faltou intensidade e entusiasmo, embora em alguns momentos o Benfica continue a evidenciar uma certa permeabilidade nas transições defensivas. Que acredito possa ser corrigida nos próximos tempos. 
Tudo está bem quando acaba bem, e o que o jogo deixou foi uma vitória justa, que garante uma liderança virtual, a ser confirmada na partida que falta realizar na Choupana.
E quem diria? Neste momento o Benfica é provavelmente o maior favorito ao título. Se alguém dissesse isso há dois meses atrás, seria ridicularizado. É assim o futebol. 

ONZE PARA O(A) VITÓRIA

Trubin, Bah, Araújo, Otamendi, Carreras, Florentino, Aursnes, Rollheiser, Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu. 

SÃO NÚMEROS

 NOTA: dados apenas relativos ao campeonato.

MAIS PERTO

A grande notícia da jornada foi mesmo a derrota do Sporting, e a aproximação do Benfica à liderança do campeonato. Já dependia apenas de si próprio, mas quanto mais perto, melhor.
Quanto ao jogo de Arouca, não há muito para contar. Uma exibição assim-assim, uma vitória natural, que podia, e talvez devesse, ser menos sofrida. Afinal de contas o Arouca não é o Mónaco. Sofrer com um não é equivalente a sofrer com outro.
Uma palavra para Lage, pois já é tempo de lhe reconhecer o mérito. No campeonato conta por vitórias os jogos realizados, e leva números impressionantes. Quando a direcção comete erros toda a gente dispara fogo. Quando acerta, ninguém diz nada. A opção Lage foi acertadíssima. Se o Benfica será campeão ou não, isso é outra história, pois partiu de uma desvantagem de cinco pontos.
Outra palavra para Di Maria. Esta é simples: renovação.

ONZE PARA AROUCA

Trubin, Bah, Araújo, Otamendi, Carreras, Florentino, Aursnes, Kokçu, Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu. 

RANKING DA UEFA

 

DI MARIA ATÉ AO FIM

Acredito que seja cedo para falar de renovação. Mas por mim, D Maria ficava mais um ano...ou até, quem sabe, dois.
A jogar assim, é não só o melhor jogador do Benfica, como aquele que mais transporta consigo o emblema e os adeptos. Chame-se "Mística" ou lá o que seja.
Otamendi sairá naturalmente no final desta temporada. Di Maria podia ser o capitão do Benfica na próxima. Está a demonstrar (se preciso fosse) ser um profissional de excepção, um ganhador por excelência, um craque da cabeça aos pés.
Fique o tempo que ele quiser. É um privilégio tê-lo cá.

THRILLER COM FINAL FELIZ

Ponto prévio: na Champions League, qualquer vitória de qualquer equipa portuguesa fora de casa, é sempre um grande resultado. E neste caso o Benfica estava no reduto do vice-campeão francês (liga dos chamados “Big-Five”, e com um orçamento muito superior ao dos encarnados), que ainda não tinha perdido qualquer jogo na competição. Haverá sempre quem desvalorize. Não é o meu caso. Esta foi, pois, uma grande vitória.
Dito isto, devo dizer também que o jogo foi estranho, teve momentos distintos e alguns deles pouco coerentes com o que o marcador reflectia.
Ao intervalo o Benfica estava em desvantagem, mas o resultado era uma mentira. Já aí, as melhores ocasiões tinham sido desperdiçadas pelos encarnados – algumas delas flagrantes, como por exemplo a de Di Maria, sozinho, diante do guarda-redes, após oferta de um defesa do Mónaco.
Os primeiros instantes da segunda parte foram alucinantes. Em apenas dez minutos, houve uma bola no poste, uma grande defesa a cabeceamento de Pavlidis, um golo anulado para cada equipa, o golo benfiquista aproveitando mais uma oferta clamorosa, e a expulsão de um monegasco - não necessariamente por esta ordem. Nessa roleta russa de emoções, o Benfica alcançara o empate e via-se com um homem a mais e com tempo para procurar o triunfo. Lage agiu em consonância, trocou de ponta-de-lança, e tirou um médio (Florentino já amarelado) para colocar mais um avançado (Amdouni).
Quando se esperava uma avalanche em busca do 1-2, viu-se o contrário. O Benfica, sem Florentino, perdeu o meio-campo, e o Mónaco, mesmo com dez jogadores, assumiu estranhamente o controlo da partida. Chegou ao golo num lance que Kokçu terá de rever vinte vezes como penitência – não tem 36 anos, não resolve jogos como Di Maria, não é sequer avançado, e tem obrigatoriamente de cortar uma bola que, dentro da sua área, lhe passa a um metro dos pés. Naquele momento, era o mundo virado de pernas para o ar, e temia-se o pior.
Eis que apareceu Angelito, que já bem dentro dos dez minutos finais (altura em que muitos talvez já o achassem a mais em campo), tirou dois coelhos da cartola, e com assistências primorosas meteu a bola nas cabeças de Arthur Cabral e Amdouni, virando o resultado.
Ficam os três pontos (a única coisa que verdadeiramente interessa), mas nesta prova não podem desperdiçar-se tantas oportunidades, nem mostrar a fragilidade defensiva que se viu em alguns momentos da partida.
No fim de tantas voltas e reviravoltas, o Benfica ganhou. Pode dizer-se que teve sorte. Se tivesse perdido teria tido azar. A verdade é que esta vitória pode ser determinante no apuramento. Creio que um triunfo na Luz diante do Bolonha será suficiente para garantir o play-off, sendo que o apuramento directo é, e seria sempre, uma miragem.
O árbitro, tal como o jogo, teve uma prestação estranha e incoerente, com faltinhas assinaladas de pronto, e faltas graves ignoradas. Carreras podia ter sido expulso, mas as linhas do golo anulado a Bah também não me convenceram – embora aí a responsabilidade seja do VAR. Mas não foi pelo árbitro que o Benfica ganhou, como não seria por ele, se tivesse perdido.

ONZE PARA O MÓNACO


 

O NÚMERO DO NENÉ

Não podia ter sido melhor a noite que serviu para homenagear Nené - goleador que vestia a camisola número sete. Um jogo cheio de golos, e um placard final de 7-0.
Para além do grande Nené, o homem da noite foi Di Maria, que uma vez mais mostrou que está aí para as curvas, e ainda é o craque desta equipa. Não se tratou de um simples hat-trick (que, já de si, seria uma proeza notável, sobretudo para quem nem é ponta de lança). Sim de golos cheios de estilo, que levaram ao delírio o Estádio da Luz, e ainda uma assistência para Akturkoglu.
Por mim, Di Maria ficava outra temporada no Benfica. Não parece mínimamente acabado, e a ser gerido convenientemente faz a diferença como nenhum outro. Espero que ele o queira. Espero que o Benfica lhe peça. 
Outro nome em destaque foi o de Arthur Cabral. É de facto um jogador desconcertante, a quem parece faltar escola, mas a quem sobra vontade e empenho. Depois de falhar golos de baliza aberta, eis que marca de bicicleta - o que, de resto, já tinha acontecido no passado, e de alguma forma reflecte a sua carreira no clube.
Continuo a achar que não é jogador para o Benfica, muito menos para custar 20 milhões e auferir um dos salários mais elevados do plantel, mas confesso que até simpatizo com o sujeito. E obviamente fiquei bastante contente de ter sido ele a marcar os dois últimos golos, os quais deve em larga medida a Bruno Lage - que deu uma verdadeira lição de liderança, pedindo aplausos e mantendo-o em campo contra todas as probabilidades, ganhando com isso um jogador para as próximas batalhas, quando facilmente podia ter saído deste jogo morto e enterrado no clube, quem sabe para sempre.
Nota ainda para Samuel Soares, que deixou boas sensações de ser alternativa credível caso algo suceda com Trubin. E para a estreia de mais um jovem, Leandro Santos, com nota positiva. 
Segue-se o Mónaco. Há que recuperar os pontos perdidos em casa com o Feyenoord. 

ONZE PARA A TAÇA


PARABÉNS NENÉ!

Sempre tive um fraquinho por pontas-de-lança. Era a minha posição favorita nas minhas brincadeiras de infância e juventude, e talvez ainda o seja na forma como vejo o futebol: afinal, tudo uma questão de números, sendo que os golos dão vitórias, as vitórias dão pontos e os pontos dão títulos.
Nené foi, por isso, uma referência da minha infância. Chalana era o maior, mas Nené ficava logo a seguir numa lista de preferências que incluía naturalmente Bento, Humberto, Pietra, Diamantino, Shéu e alguns outros.
E se falamos de números, os de Nené são avassaladores. Desde logo, ninguém vestiu mais vezes o "Manto Sagrado" do que ele (577 jogos oficiais). E apenas Eusébio e José Águas marcaram mais golos pelo Benfica (Nené obteve 363).
Nené é pois a encarnação daquilo que se pode chamar "Lenda".
Os meus parabéns pelo 75º aniversário. 


ESTE HOMEM É UMA MÁQUINA

Pode admirar-se um jogador de um clube rival? A resposta é sim. É raro, mas acontece.
Lembro-me de ver adeptos do Real Madrid aplaudirem de pé Ronaldinho Gaúcho em pleno Bernabéu, e mais tarde fazerem o mesmo com Lionel Messi. Em Portugal não me recordo de ter acontecido tal, e digo desde já que, no estádio, durante um jogo, jamais o farei. Não por outro motivo que não seja evitar subtrair confiança à minha equipa - coisa que fazem com frequência alguns profissionais do assobio.
Mas com a serenidade que o teclado proporciona, cá estou eu a manifestar a minha grande admiração pelo ponta-de-lança do Sporting, Viktor Gyokeres.
Custa-me reconhecer (por ele ser do Sporting) que, nos últimos vinte anos, talvez seja o jogador que mais impacto criou na Liga Portuguesa. No Benfica, só eventualmente Jonas terá conseguido algo semelhante - embora com características diferentes, também andou com a equipa ao colo durante alguns anos. Mas se tivesse de escolher um, só um jogador que tenha passado por Portugal neste período, era provavelmente o sueco que eu trazia.
32 golos em 24 jogos, melhor marcador do Campeonato, melhor marcador da Champions, melhor marcador da Liga das Nações, também muitas assistências e um constante massacre nas linhas defensivas adversárias. Só não percebo como chegou aos 25 anos sem ninguém dar por ele.
Lewandowski e Kane caminham para o ocaso (não já, mas em breve), e a este nível só resta Haaland. Não vejo outro ponta-de-lança como Gyokeres. Tem talvez de melhorar um pouco o jogo aéreo, mas ainda acredito que o faça. A partir daí será ainda mais imparável do que já é.
Embora a contragosto, tenho de me curvar e tirar-lhe o meu chapéu. O que tem feito é impressionante.

O FUTEBOL "MODERNO"

Belenenses, Académica, Vitória de Setúbal, Beira Mar, Marítimo. Estes são exemplos de clubes portugueses, de nível médio ou médio alto, com história, com adeptos, com boas instalações, representando cidades com população e massa crítica, que estão remetidos para as divisões secundárias, quando não para os distritais. Cheira-me que o Boavista será a próxima vítima.
Por outro lado, vemos uma primeira divisão carregada de inexistências, como AFS, Casas Pias,  Aroucas ou Moreirenses. SAD's sem gente, sem identidade, algumas sem sequer estádio. 
É a lei dos investidores, que não são mais do que parasitas que usam o futebol para lucrar com as múltiplas transferências de jogadores (negócios de milhões, transcontinentais e nada escrutinados) e direitos televisivos (tudo isto numa perspectiva optimista), ou simplesmente para lavar dinheiro (se quisermos ser mais cáusticos). O associativismo? Morreu - ou foi assassinado!
Ora é precisamente esta gente obscura que uma centralização de receitas vai favorecer. É precisamente para esta gente que a liguinha do Proença parece trabalhar.
Eu gostava de ver o verdadeiro futebol português de volta. A não ser possível, então encolha-se o campeonato de modo a termos equipas com representatividade, como vemos nas melhores ligas da Europa.

FARTINHO DE MARTINEZ

O futebol de selecções perdeu algum do seu encanto. As grandes fases finais ainda se levam, mas estas paragens a meio da temporada são uma tortura para a maioria dos adeptos - os principais adeptos, os que pagam o futebol. 
Além de que há jogos a mais (até a Champions, com o excesso de equipas e de jornadas, começa a banalizar-se). Um dia, matam a galinha dos ovos de ouro. Quem dirige o futebol está-se nas tintas para o futuro. Quer viver o presente, à grande e à conta dele.
Dito isto, não deixo de ir espreitando os jogos de Portugal. E cada vez percebo menos o seleccionador Roberto Martinez.
A sensação que me dá é que um qualquer Professor Neca faria o mesmo. A ganhar muito menos dinheiro.
A primeira fase de qualificação até me iludiu. A fase final do Euro 2024 desiludiu-me. Agora? Acho que se pode concluir que esta contratação, de alguém com um palmarés curtíssimo, foi um tiro ao lado. 
O homem até é simpático. Até canta o hino. Mas a equipa joga pouco, os onzes, as tácticas e as substituições só ele entende, e as convocatórias são absurdas.
Florentino brilha na Champions, vem um tal Samu Costa, que só joga contra Valladolids e Osasunas (jogar na liga espanhola dá privilégios, pois também lá está o avançado so Las Palmas). Pote - por quem sou insuspeito de nutrir qualquer simpatia -, ou porque está lesionado, ou porque está bom, não vai (Nuno Santos, quando podia ir - idem -, idem). Quenda é chamado com apenas quatro jogos como profissional, e depois, podendo bater um simpático record de décadas, num jogo sem interesse competitivo, não é utilizado nem um minutinho (que motivador...). Tomás Araújo é titular no Benfica - na selecção joga preferencialmente António Silva. Vitinha faz um grande jogo, a seguir fica no banco.
Em campo, ninguém percebe as tácticas - que parecem obedecer apenas a dois critérios: 1) meter Ronaldo sempre que lhe apeteça jogar 2) meter as outras estrelas, mesmo que joguem sobrepostos - numa espécie de tudo ao molho e fé em Deus.
A segunda parte na Croácia foi penosa. Vimos Cancelo a médio, vimos Semedo a central, e uma confusão de todo o tamanho, que baralhou toda a gente menos os croatas.
Não esqueçamos que este homem, este seleccionador, para a Bola de Ouro de 2023 votou em...Brozovic. Enfim, um cromo que não fazia cá falta nenhuma.

TENHO DE DIZER ISTO

Pedro Guerra é talvez o exemplo mais profundo, e que mais vezes terei citado em conversas pessoais, da diferença entre a percepção pública generalizada sobre determinada personagem e aquilo que a mesma revela em privado (e quem já teve oportunidade de conhecer figuras públicas sabe o quão frequente é esse contraste) .
Para os rivais era um tipo execrável. Para muitos benfiquistas... também. Até que foi afastado do clube, em larga medida pela força que essa percepção criou, e que o próprio, diga-se, não quis ou não pôde evitar.
Não só conheci Pedro Guerra pessoalmente, como foi das pessoas com quem cheguei a ter maior proximidade no clube. E tenho de dizer, das que mais simpatia, afabilidade e disponibilidade demonstrou.
Pedro Guerra era brincalhão, divertido, simpático, educado, e muito enérgico em tudo, e naturalmente na defesa do Benfica. Na defesa de Vieira, sim, mas também na defesa do clube que amava profundamente. 
Vi vários jogos a seu lado, inclusive no estrangeiro (um deles uma experiência inolvidável no estádio do Fenerbahce, num ambiente extremamente hostil). Convidou-me para participar em programas na BTV, quando lá tinha responsabilidades, nos saudosos tempos pré-premium. Convidava-me também, de vez em quando, para jogos das modalidades, que ele seguia e acompanhava com grande conhecimento e paixão. Foi ele quem, no dia do falecimento da minha Mãe, me enviou uma mensagem que jamais esquecerei, e que pretendia (e que ele sabia) aliviar-me dizendo que o Benfica tinha acabado de se sagrar campeão europeu de Hóquei em pleno Dragão - jogo que, como é óbvio, não pude ver nesse dia, e triunfo que ansiava desde a infância. 
Sei bem o que o Pedro sentia pelo Benfica. E, por isso, sei da injustiça de que era alvo por parte de quem não o conhecia. 
Foi com enorme pesar que tive conhecimento da sua morte. Das poucas pessoas a quem, no contexto do Benfica, talvez pudesse chamar amigo. 
Descansa em paz, Pedro. Haverá cá quem não te esqueça.
PS: passou um dia e, que me tenha apercebido, não houve uma palavra do Benfica para com alguém que trabalhou bastante tempo no clube, e, mal ou bem, defendeu-o nos media em alturas bastante difíceis. Não foi certamente a tratar assim os seus que o clube se fez grande. 

O MELHOR CENTRAL DA LIGA PORTUGUESA

É verdade que demorou a afirmar-se. Mas sempre teve talento e nos Juniores era o patrão da linha defensiva na equipa que venceu a Youth League, ao lado do então discreto António Silva. 
Quando teve as primeiras oportunidades, tremeu um pouco, depois lesionou-se. Foi emprestado. António Silva, com uma mentalidade de ferro, agarrou o lugar assim que pôde. Agora lutam pela mesma posição - pelo menos enquanto Otamendi não regressa ao seu país. 
António é muito bom, mas Tomás é, a meu ver, mais completo: são ambos rápidos, Tomás ganha no jogo aéreo e na capacidade de passe. Não sei quando regressará António ao onze titular (por mim já lá estava de novo, no lugar de Otamendi), mas sei que Tomás já de lá não sai. Aliás, ou me engano muito, ou sai é do clube no fim da época, a troco de muitos milhões.

 

EM DEFESA DE LAGE

Agora é fácil: depois de ter espetado quatro no FC Porto, ninguém se lembra de Munique, nem das críticas que alguns então fizeram ao treinador do Benfica.
Nisso estou de consciência tranquila. Como aqui escrevi, a única forma de sair vivo do Allianz Arena era meter um autocarro em frente da baliza. Foi o que o Benfica fez, e com um bocadinho de sorte tinha conseguido o desejado zero a zero. Perdeu 1-0. Diga-se que nunca na história os encarnados lá fizeram melhor do que isso.
Agora percebo também que, para entrar a 200% com o rival nortenho, num jogo que, em caso de derrota, podia objectivamente significar o adeus ao título, era preciso acautelar a equipa na Alemanha, numa partida em que perder não seria (como não foi) dramático. Por exemplo, Di Maria não entrou de início frente ao Bayern e foi o melhor em campo no "Clássico". Outros houve que pouparam esforços durante a semana, e entraram prego a fundo no domingo, com o resultado que se viu.
É bonito dizer-se que o Benfica entra em todos os jogos para ganhar, blá blá blá, blá blá blá. Mas os jogadores não são máquinas, e a história recente dos confrontos com o FC Porto diz que, para os vencer, é mesmo preciso sê-lo. A vitória de domingo começou pois a ser preparada na quarta-feira.
Bruno Lage fez uma recuperação épica em 2018-19. Em 2019-20 foi traído por circunstâncias que não conheço, mas desconfio nada tenham a ver com o trabalho do treinador. No Brasil diz-se que foi vítima da máfia das apostas. Em Wolverhampton realizou genericamente um bom trabalho. É um homem humilde, inteligente e que sabe muito bem onde está. Não podendo ter Guardiola ou Ancelotti, Lage é o treinador ideal para o Benfica.

MAIORES GOLEADAS SLB-FCP

Como facilmente se percebe, estes 4-1, assim como os 0-5 da época passada no Dragão, estão longe dos maiores registos da história, quando falamos de goleadas entre Benfica e FC Porto. O quadro acima mostra os resultados mais desnivelados de sempre em provas oficiais, destacando-se os 12-2 de 1943 (que é também a maior goleada absoluta em "Clássicos" portugueses). Abaixo, foto de um lance dessa partida.

INVERSÃO DE TENDÊNCIA?

Depois de uma sequência de sete derrotas e dois empates nas nove partidas anteriores, os últimos seis "Clássicos" trouxeram quatro vitórias e duas derrotas.
No Dragão, com três vitórias e três empates nos últimos dez anos, já se vinha estabelecendo uma certa normalidade. Na Luz, com estas duas vitórias consecutivas, as coisas também começam a ficar diferentes.
Pode ser que, finalmente, o Benfica tenha aprendido a jogar com o FC Porto. A raça, a energia, a capacidade de pressão e o entusiasmo colocado neste último jogo, parecem indicar que sim.

ASSUME A RESPONSABILIDADE, PÁ!

Um banho de bola e números que não se viam há décadas.
O Benfica repetiu a exibição realizada diante do Atlético de Madrid, e reduziu o FC Porto a cacos. A sensação que fica é a de que o resultado poderia ter sido ainda mais volumoso (cinco, seis, sete?). Isso revela bem o que foi este "Clássico".
Ao contrário do que disse Vítor Bruno, a primeira parte só foi equilibrada no resultado. Os encarnados podiam ter ido para intervalo a vencer 3-0, não fosse a falta de sorte na finalização, e o erro colossal de Otamendi - que ofereceu o golo do empate a Samu.
Na segunda parte fez-se justiça, e os números foram crescendo com naturalidade.
De lado de cá, jogadores endiabrados, extremamente pressionantes, e a praticar um futebol envolvente. Do lado de lá, um conjunto sem respostas para tamanha assertividade do adversário.
Individualmente há que destacar os dois argentinos, um pela negativa, outro pela positiva. Se é quase unânime a ideia de que Otamendi já está a mais no onze titular (sobretudo vendo António Silva no banco), quanto a Di Maria, meus amigos, continuo a achar que faz a diferença e que ainda é um craque, capaz de resolver jogos. Não é justo colocar os dois no mesmo plano, quando um compromete e o outro resolve.
Akturkoglu, Pavlidis, Aursnes, Araújo e Carreras também estiveram a altíssimo nível. Sendo que foi o colectivo que mais impressionou.
O árbitro esteve mal no lance que interrompeu desnecessariamente e que daria um belo golo de Pavlidis. A lei das duplas penalizações tem mudado, mas tanto quanto sei o jogador do FC Porto que cometeu o penálti, e que já tinha cartão amarelo, devia ter visto o segundo e sido expulso.
Pena a incrível reviravolta do Sporting em Braga, quando perdia aos 81 minutos. A jornada poderia ter sido maravilhosa. A verdade é que os leões ganharam os jogos todos, e os dragões só não ganharam em Alvalade e na Luz. Aqueles pontos perdidos pelo Benfica em Famalicão e Moreira, ainda com Roger Schmidt, podem custar um preço bem maior que se supôs na altura. Há muito campeonato, já não há Ruben Amorim, mas ainda há Gyokeres. O Benfica mostrou que, neste momento, é superior a este FC Porto (cuja linha defensiva está a léguas daquilo que era habitual no clube). Mas ainda não mostrou que pode ser superior a este Sporting. E precisa disso para ser campeão.
Deixemos o Sporting para depois. Agora é hora de saborear o gordo triunfo. E apetece-me dizer a Bruno Lage: assume a responsabilidade, pá!

BOLA QUADRADA


Benfica-FC Porto, Campeonato de Portugal, 1931

ONZE PARA O CLÁSSICO

Trubin; Tomás Araújo, António Silva, Otamendi e Carreras; Florentino, Aursnes e Kokçu; Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu. 

O FUTEBOL DE ATAQUE QUE SE LIXE

Estou com Bruno Lage. 
Mais: estou farto de ver o Benfica perder jogos, e sobretudo campeonatos, por insistir em futebóis aveludados de pendor muito "ofensivo", palavra que eu traduziria para demasiadamente exposto aos adversários.
Enquanto o Benfica tinha Aimares, o Porto tinha Guarins - e era campeão. Aliás, os melhores e mais dominantes FC Portos que me lembro, tinham sempre uma defesa de ferro, um meio-campo de combate, e um ou dois jogadores mais tecnicistas para fazer a diferença. Não ganhavam 6-1 ao Rio Ave (ganhavam 1-0), mas nos "Clássicos" e na Europa apresentavam muito mais solidez e consistência. E normalmente, melhores resultados. O Sporting de Amorim tem Gyokeres (também ele, antes de mais, um poço de força) mas foi construído a partir de trás.
Gosto de ver futebol de ataque, com as equipas bem abertas, quando assisto...à Premier League. No Benfica? Quero "apenas" GANHAR! Repito, por ser essa a única palavra que me interessa: G A N H A R! 
É um erro pensar-se que a matriz cultural do clube assenta no futebol ofensivo. O Benfica foi campeão europeu em 1961, sem Eusébio nem Simões, mas com Mário João, Neto, Cruz e outros homens de coragem. Ganhou a Taça Latina na raça, no tempo em que, do outro lado, se ouviam "Violinos". É um clube do povo, de gente pobre, que veste as cores do sangue e da luta. 
Os anos de Eusébio - irrepetíveis em qualquer clube português no contexto do futebol moderno - foram uma excepção. Aí, de facto, o Benfica, com um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos (outra força da natureza, que não perdia tempo em toques de calcanhar, verónicas ou chicuelinas), tornou-se dominador e imperativo. Eram também os anos do futebol bonito, que morreu no Brasil-Itália de 1982.
Depois disso, o que vi foi o Benfica gastar rios de dinheiro em artistas, e perder para "pedreiros" de sangue nos olhos e faca nos dentes. E insistir nesse erro até aos limites do absurdo.
Em Munique, o Benfica foi quase sempre toureado e goleado. Desta vez, para variar, tentou jogar para o 0-0. A meio da segunda parte parecia a caminho de o conseguir. Não deu. Mas o contraditório diz-me que a jogar de outra forma era muito provável acontecer aquilo que quase sempre aconteceu naquele estádio. Lembro também que, já nesta Champions, houve quem lá levasse... 9-0.
Será que um dia ainda poderei ter o gosto se ver o meu clube apostar numa equipa sólida e combativa, e deixar-se das tretas do "futebol de ataque"? 
Pelas criticas à exibição de Munique, temo que não. Neste aspecto, se os dirigentes dizem mata, os adeptos dizem esfola - não esfolar os adversários, mas as hipóteses de ganhar de forma consistente. 


INGLÓRIO

O Benfica fez muita coisa bem (também algumas mal). Isso não foi suficiente para obter um resultado positivo em Munique, talvez na ocasião em que tal mais pareceu  possível.
A estratégia foi obviamente defensiva. Jogar aberto, naquele estádio, equivale a ser goleado. Dir-me-ão que é igual perder 0-1 ou 2-5 (não é bem assim, mas enfim). Seria totalmente diferente empatar 0-0. E a dada altura o jogo parecia encaminhar-se para isso.
Esse eventual empate seria justo. No fim ganharam os alemães, que têm melhores jogadores e melhor equipa. A derrota não deslustra os encarnados - que mais não seja pelo histórico na capital da Baviera. O problema nesta Liga dos Campeões foi o desaire com o Feyenoord, essa sim inexplicável e diante de um adversário perfeitamente ao alcance, veremos com que consequências. 
Há que vencer o Bolonha na Luz, e procurar mais um pontinho em algum lado. Com 10 pontos estou convicto que será possível ficar nos 24 primeiros, e seguir em frente.
Os adeptos do Benfica que estiveram e. Munique, esses ganharam de goleada, fazendo-se ouvir incessantemente 
Agora, venha o FC Porto. 

OS FACTOS

Não há como não me curvar perante a fantástica vitória do Sporting de Amorim e Gyokeres diante do poderoso City.
Devemos reconhecer o mérito dos rivais, por uma questão de justiça e de verdade, e também para entender o contexto e perceber melhor porque tem sido tão difícil a vida do Benfica nos últimos tempos. 
Este Sporting é porventura o mais forte desde os Violinos. E este ponta-de-lança é, argumentavelmente, o melhor jogador que apareceu no futebol português nos últimas vinte anos (enfim, talvez a par de Jonas). 
As boas notícias são que daqui a uma semana o treinador já estará bem longe, e, assim espero, talvez em Janeiro Gyokeres possa também ir à sua vida. Se for preciso contribuir com 5 euros, estou disposto a ajudar na transferência.
O Sporting, como está, ou como estava, é, ou era, imbatível em Portugal. Dizer a frase no presente, ou no passado, depende da forma como for substituído Ruben Amorim, e da permanência ou não do poderoso avançado sueco. 

ONZE PARA MUNIQUE

Hesitei entre Di Maria e Pavlidis. Mas a experiência, as bolas paradas e a capacidade de invenção do argentino levou a melhor. Pavlidis, a jogar, vendo-se na maioria do tempo sem apoios, será presa fácil para a defesa germânica. Acho importante fechar bem os flancos, com Aursnes a descair para a direita (podendo garantir, em certos momentos do jogo, três centrais) e Beste a segurar a esquerda.
Claro que um empate seria excelente.

CÂMARA DAS TORTURAS

Não há local do mundo mais difícil para o Benfica. 
É a história que o diz: 6 jogos, 6 derrotas, 6-24 em golos. Naturalmente, nenhuma eliminatória ultrapassada, até porque, mesmo na Luz, os encarnados jamais venceram o Bayern.
Ou seja, é daqueles jogos em que quase dá vontade de oferecer os três pontos e pedir em troca que os alemães nos poupem à goleada - que foi o que quase sempre aconteceu. Primeiro com Gerd Muller, mais tarde com Rummenigge, Klinsmann e Lewandowski. Temo que seja a vez de Harry Kane vestir a capa de verdugo...
Dir-me-ão que sou pessimista. Mas confesso que não acredito em qualquer resultado positivo nesta deslocação. Talvez seja o trauma: o jogo de 1976 é a mais remota partida do Benfica que a minha memória alcança (devo dizer que a segunda foi uma derrota em Alvalade por 0-3, pelo que o meu benfiquismo nasceu em grande estilo).
Curiosamente, o resultado mais equilibrado aconteceu no único destes jogos que vi ao vivo, com mais cinco mil benfiquistas no anel superior do Allianz Arena. Arturo Vidal marcou nos primeiros minutos para a equipa então orientada por Guardiola, mas depois o Benfica podia ter empatado - nomeadamente se o árbitro tivesse visto um penálti claro cometido por Lahm, ainda numa era pré-VAR. Dessa noite bávara, recordo igualmente o melhor e maior cachorro quente que comi na vida.
O empate a dois na Luz ditou a eliminação nesses Quartos-de-Fnal, de uma equipa que havia vencido no Vicente Calderón, que venceria em Alvalade, que tinha Jonas, Mitroglou, Raul Jimenez, Talisca e Jovic no ataque, mas se diz ter comprado adversários como o Vitória de Setúbal ou o Rio Ave para poder ganhar jogos do campeonato.
Enfim, que Deus nos ajude a enfrentar este toiro. Que, surpreendentemente, o Benfica possa resgatar em Munique pelo menos um dos pontos ingloriamente perdidos frente ao Feyenoord (esse sim, um jogo que deveria ter sido ganho). Não acredito, mas...

SERVIÇOS MÍNIMOS

No meio de um ciclo infernal de jogos, e quando o pior ainda está para chegar, não se esperava uma super exibição do Benfica. Mas também não era preciso descer a um nível tão baixo, e com isso arriscar uma perda de pontos que, sem margem de erro, podia até ser fatal.
Enfim, salvou-se o resultado, num jogo pobre, e em que foi mais o Farense a perder do que o Benfica a ganhar.
Individualmente destacaria Carreras e alguns momentos de Florentino, sem esquecer a dupla assistência de Akturkoglu (homem que não sabe jogar mal).
Seguem-se Bayern e FC Porto, contra os quais o nível exibicional dos encarnados terá de ser infinitamente melhor do que o de hoje. 

ONZE PARA O ALGARVE

Trubin; Bah, T. Araújo, A. Silva e Carreras; Aursnes, Kokçu, Di Maria e Beste; Pavlidis e Akturkoglu. 

OURO NO BANCO

Foi um jogo típico de taça: poupanças no onze, os golos a tardarem e o inevitável recurso ao ouro guardado no banco. E o ouro chamou-se Di Maria e Pavlidis.
Um golo espectacular do astro argentino, dois golos e uma assistência para o ponta-de-lança grego - que parece render substancialmente mais com alguém ao lado (na pré época, recordam-se? era Marcos Leonardo, nesta segunda parte foi Arthur Cabral).
Antes disso viu-se uma equipa manca, com Amdouni fora do seu habitat natural, a deslocar-se invariavelmente para o meio, e o flanco direito a não existir.
Tudo está bem quando acaba bem e, mesmo com alguns equívocos defensivos sem consequências, o Benfica chegou tranquilamente à final-four da Taça da Liga, que era o objectivo maior da noite.
Destaque ainda para os quase 50 mil nas bancadas, num jogo a meio da semana com estas características, e depois de outros dois jogos em casa.
Seguem-se Faro, Munique e FC Porto na Luz. Emoções fortes, portanto. 

ONZE PARA A TAÇA DA LIGA

Samu; Bah, T. Araújo, A. Silva e Beste; Florentino, Renato e Rolheiser; Amdouni, Pavlidis e Schjelderup. 

VOU TORCER POR ELE

Com esta saída em grande estilo, voltei a sentir alguma da simpatia que tinha por Ruben Amorim, antes de se tornar treinador do Sporting. Afinal era mesmo tudo, apenas, profissionalismo.
Se a porta de Alvalade se fechou para sempre, a da Luz ficará aberta para um dia, daqui a alguns anos, poder enfim vir a treinar o seu clube de coração. 
As notícias de Amorim como símbolo eterno do sportinguismo eram, pois, manifestamente exageradas. E ele que me perdoe o que aqui escrevi sobre ele, em mais de uma ocasião, nestes últimos anos - designadamente sobre a atitude competitiva da sua equipa nos dérbis. 
Que seja feliz em Manchester, exepto nos jogos com o Forest, e já agora que leve Gyokeres em Janeiro. 
Quanto ao campeonato português, acende-se nova luz de esperança. Este Sporting estava, de facto, a ficar muito forte. Agora? Veremos.

COMO SE DIZ MANITA EM TURCO?

É raro, mas acontece: por motivos familiares não pude ver o jogo com o Rio Ave, nem sequer pela televisão. Daí não ter muito a dizer sobre o mesmo. 
A não ser os factos e os números, que apontam para uma vitória sólida, uma boa resposta ao desaire europeu do meio da semana, e (mais) uma prestação superlativa de Akturkoglu - que se revela, jogo após jogo como a melhor contratação do Benfica (pelo menos) nos últimos dois anos.
Agora esperam-se mais dois triunfos (Santa Clara e Farense), para esquecer de vez o Feyenoord, e limpar a cabeça para o que virá depois. 

ONZE PARA DOMINGO

BALDE DE GELO

As derrotas custam mais quando são inesperadas. Para quem viu o Benfica-Atlético de Madrid, e voltou ao Estádio da Luz esta noite, o contraste não podia ser maior.
Fosse o Sporting a perder, e já se dizia nas televisões que o Feyenoord era uma super equipa, capaz de ombrear com o Real Madrid e o City na luta pelo título europeu. Quem me conhece saberá que não entro por aí. O conjunto de Roterdão apareceu, de facto, muito bem organizado e fisicamente bastante fresco, tem um ou outro jogador que se destaca, mas estava claramente ao alcance do melhor Benfica - por exemplo, daquele que venceu categoricamente os "Colchoneros" por 4-0. E este era mesmo um dos jogos a ganhar nesta fase da prova, teoricamente o mais "fácil" dos oito.
Acontece que o melhor Benfica não apareceu em campo. 
Suspeito que Lage tenha sido surpreendido pelo treinador adversário, que soube desde cedo como bloquear os encarnados na saída do seu meio-campo, e como encontrar espaços para contra-atacar com perigo.  Foi neste bloqueio táctico que o Benfica começou a perder o jogo.
Não sei nada de preparação física e muito menos de alto rendimento, pelo que não me meto a opinar sobre os efeitos da (enorme) pausa nas pernas e nas cabeças dos jogadores, nem se alguns deles deveriam, ou não, ter sido utilizados contra o Pevidém. Apenas noto, e isso é factual, que mais uma vez o Benfica - com diferentes treinadores - se apresentou bastante mal após uma pausa competitiva. E fiquei com a sensação, sobretudo após o golo de Akturkoglu (quando se esperaria uma carga ofensiva total sobre a área holandesa), que as pernas não ajudaram, e o discernimento perdeu-se, permitindo ao Feyenoord levar o jogo para onde queria. A derrota consumou-se, pois, na falta de frescura física.
Antes disso, e logo na primeira parte, vimos também como as fragilidades defensivas do Benfica o podem penalizar neste tipo de jogos (leia-se, Clássicos e Champions). Contra aroucas e casas pias, essas fragilidades escondem-se atrás da inépcia dos avançados contrários. Nos grandes palcos são castigadas com golos. Basta uma equipa de nível mediano, como o Feyenoord, para o demonstrar sem piedade. O problema não será apenas dos próprios defesas, mas da forma como todo o bloco colectivo defende, desde logo no trio da frente, passando depois pelo meio-campo onde, quando se perde a bola, Florentino não chega para tudo. Há uma questão até cultural no clube da Luz, que tem a ver com o culto do chamado futebol "de ataque", e que tem custado dinheiro e títulos ao longo das últimas décadas. Tenho para mim que, para obter sucesso interno, e sobretudo externo, há que começar por ter uma defesa de ferro - ou, melhor dizendo, uma equipa que, colectivamente, defenda a ferro e fogo. Podendo Essa nunca foi a opção do Benfica, dos dirigentes do Benfca, nem dos próprios adeptos do Benfica - que exigem ópera como tinham nos anos sessenta, quando foi possível manter, durante uma década, alguns dos melhores jogadores do mundo na equipa, coisa que hoje não é, de todo, replicável.
Em particular no quarteto defensivo, também é preciso falar de Otamendi. Choca-me ver António Silva no banco, quando o central argentino compromete a olhos vistos. Percebo a questão do estatuto, da voz de comando, do respeito que impõe a adversários (e até a árbitros), mas parece-me que está na hora de olhar para este problema como um dia se olhou para Luisão.
O árbitro pareceu-me fraquinho. Ficou uma grande penalidade por assinalar sobre Di Maria na primeira parte, e a gestão do tempo ostensivamente perdido pelo Feyenoord (a um ponto que não me recorde de ver na Champions) não foi coerente. Mas não foi pela arbitragem que o Benfica perdeu o jogo.
Agora, há que reagir. Desde já no campeonato, frente ao Rio Ave. Na frente externa, esta derrota anulou a vitória sobre o Atlético, e tudo voltou ao princípio - nesta altura previa-se que o Benfica tivesse precisamente os seis pontos que tem. Há, pois, que vencer o Bolonha na Luz, e obter mais um pontinho em algum dos outros jogos. Dez pontos talvez cheguem para ficar nos 24 primeiros - que é o objectivo natural deste Benfica.

HOLANDESES NA LUZ

Em quase cinquenta anos, nenhuma derrota. A última foi em 1975, oito dias depois do famoso 11 de Março, e portanto em pleno PREC. De então para cá, várias eliminatórias passadas - na verdade todas. Contra o Feyenoord, em casa, apenas o épico 5-1, que terá estado na génese dos "quinze minutos à Benfica" (juntamente com uma partida frente ao FC Porto, no mesmo ano, em que o Benfica virou um 0-2 para 3-2 nos últimos instantes). Recordemos esse jogo:
Termino arriscando o onze da equipa holandesa para amanhã: Wellenreuther; Lotomba, Beelen, Hancko e Bueno; Milambo, Hwang, e Zerrouki; Osman, Ueda e Igor Paixão.

ONZE PARA A CHAMPIONS

A "PUREZA" DO SPORTING

Muitas vezes estou em desacordo com Vasco Mendonça. Mas como ele escreve bem, e mostra genuíno sentimento pelo Benfica, gosto de o ler.
Desta vez não resisto a citá-lo. Ora cá vai:

(...)Já aqui elogiei a firmeza do presidente do Sporting em relação ao FC Porto, mas não me parece que seja boa ideia o presidente do Sporting viver excessivamente convencido da sua pureza. A ideia de que Frederico Varandas, por ser mais novo e aparentemente impoluto do que dois ex-presidentes seus rivais, representa um clube moralmente inatacável, não resiste ao embate com a realidade. O exercício é simples. Se Frederico Varandas se sente intitulado a decretar sentenças acerca de crimes por demonstrar, como o fez em relação ao Benfica, o mesmo critério poderia ser usado contra o seu Sporting. Bastaria para isso que, tal como Frederico Varandas, fintássemos o Estado de Direito da forma mais conveniente e tirássemos as nossas próprias conclusões acerca da conduta de um antigo vice-presidente do clube de Frederico Varandas, ou de outros funcionários do clube.
Se isso não for suficiente, podia falar sobre o Euromilhões que permitiu ao Sporting obter uma vantagem económica por via da recompra das VMOCS, vantagem essa que Frederico Varandas considerará devida, mas que eu reservo o direito de considerar moralmente condenável, mesmo que financeiramente lícita, e mais do que capaz de desvirtuar a relação de poder entre clubes rivais. Já agora, também valeria a pena lembrar o acionista do clube, detentor de 9,9 % da SAD do Sporting, que se vê hoje enredado em acusações graves de branqueamento de capitais, numa operação alegadamente tornada possível com a entrada de dezenas milhões de euros na SAD. Apetece perguntar a que expediente recorrerá para defender o Sporting no dia em que um destes problemas, ou outros daí decorrentes, se abater sobre o seu clube.
Daqui se infere uma verdade relativamente prosaica: Frederico Varandas, com quem, pasme-se, não antipatizo, tem pouca autoridade para dar lições de moral a quem quer que seja. Pode e deve pugnar pela ética do seu clube enquanto o representar, mas para isso terá de considerar também um objeto, para além dos artifícios verbais. Chama-se espelho e permite ver o nosso próprio reflexo. Nele, se olharmos com atenção, descobrimos as nossas próprias imperfeições e aprendemos coisas importantes sobre nós.
De resto, por muito assertividade que empregue, as sentenças de Frederico Varandas não transitam em julgado. O presidente do Sporting está no direito de escolher a parte da realidade que lhe interessa. Quem o ouve, está no direito de fazer exatamente a mesma coisa. Nisto, devemos ser francos. Não sairá daqui um país melhor, mas antes o país que temos. Quando este choque acontece, ou seja, quase sempre, a acusação de negacionismo é válida para ambos os lados, mas, em rigor, só um dos participantes nesta troca preside a uma instituição com a dimensão do Sporting.
Refiro-me à dimensão, não porque esta crónica semanal se deva ocupar demasiado com o tamanho dos outros, que empalidece por comparação com o Sport Lisboa e Benfica, mas, porque, em virtude dessa dimensão institucional, se aconselharia uma postura diferente por parte do presidente do Sporting, que, à sua maneira, acaba por ser capturado pela narrativa mais corriqueira do futebol que tantas vezes já criticou. 
A sensação é a de que Frederico Varandas aproveitou os ventos favoráveis dentro de campo para uma operação de outra natureza, neste caso uma nova recompra de VMOCs, leia-se, Valores Morais Oportunamente Convertíveis. No entanto, se há coisa que o futebol português nos ensinado, é que todos os heróis acabam por viver tempo suficiente para acabarem como vilões. (...)

DAVID SILVA, um artista a não esquecer

Só não fez mais porque, de facto, não podia. Mas numa partida sem VAR, em lances de interpretação, em mais de uma dezena de decisões tomadas nunca hesitou em apitar contra o Benfica. Por vezes de forma quase provocatória. 
Mais um artista da escola de arbitragem do Porto. Um nome a não esquecer, pois, ou me engano muito ou vai começar a aparecer por aí. Terá querido agradar a alguém e acho que conseguiu.
 

BESTIAL, MAS POUCO

Já se sabe o que são estes jogos: de um lado uma equupa desfalcada, sem ritmo nem entrosamento, e mais ou menos descontraida, do outro onze homens no dia mais importante das suas carreiras. Isso dilui parte das diferenças, por vezes de forma fatal.
Neste caso, o golo cedo podia trazer uma história diferente. Quem sabe até uma goleada. Mas pese embora as oportunidades criadas, o segundo golo foi tardando, e o Pevidem foi sobrevivendo. 
As coisas acabaram por se resolver, com o bis de Beste. O 0-2 acabou por saber a pouco, mas é suficiente para cumprir a obrigação de passar à fase seguinte. 
Parece impossível, mas o árbitro, mesmo numa partida com estas características, conseguiu irritar-me. Vou estar atento à sua carreira, e espero não o ver tão depressa a apitar o Benfica. 

ONZE PARA A TAÇA

 

CRAQUE, DENTRO E FORA DO CAMPO

Mais uma exibição magistral pela selecção turca, mais um golo espectacular, mais uma assistência de garra, e agora também uma presença fora de campo assinalável.
Um craque, em todas as dimensões do jogo e da vida.

MAIS DO MESMO

Com as suas inabilidades, com a sua irresponsabilidade, com a sua impunidade e falta de escrutínio, o Ministério Público deitou dois governos abaixo (no Continente e na Madeira). Esperemos que o novo procurador seja um pouco mais consciente do cargo que ocupa, e um pouco mais responsável nas decisões que toma e na forma como as comunica, para que o país possa, ele próprio, sobreviver-lhe.
Agora, para gáudio da comunicação social, sai uma acusação estapafúrdia a pedir que o Benfica seja suspenso das provas desportivas. Em causa estão alegados crimes de fraude fiscal e corrupção (não desportiva). Recordo que houve buscas a um ex-ministro, hoje governador do Banco de Portugal, por ter recebido uns convites para um jogo de futebol - o que diz tudo sobre a clarividência, a prudência e a credibilidade com que estes assuntos têm sido tratados.
No caso dos dois governos (e não estão em causa as cores partidárias, até porque eram diferentes) o mal ficou feito, enquanto a ex-procuradora - que em declarações fantasmagóricas se desresponsabilizou de tudo - já foi gozar a sua reforma milionária e tirar selfies com o bruxo de Fafe.
No caso do Benfica, um tribunal vai naturalmente um dia acabar por fazer justiça. O problema é o tempo que isso demora, e o desgaste mediático que o clube vai sofrendo - com eventuais consequências, por exemplo, a nível de patrocínios, que ninguém irá compensar.
Enfim, é o que temos. Ou, como quero acreditar, era o que tínhamos.
A vida continua. Há que ganhar ao Pevidém e depois ao Feyenoord. 
Em 2047, se estivermos todos vivos e de boa saúde, lá veremos o Benfica a ser ilibado em tribunal. Até lá, os rivais que se divirtam com a comunicação social - que, diga-se, também tem que se olhar ao espelho, para perceber todos os motivos pelos quais se está a afundar, e a deixar o espaço virtual entregue aos bichos.

AS MODALIDADES

TÍTULOS MODALIDADES COLECTIVAS DE PAVILHÃO- últimos dez anos:

INVESTIMENTO POR SECÇÃO - 2023-24:

Face às contas recentemente apresentadas, voltou a falar-se do investimento nas modalidades. Uns acham que é pouco. Outros acham demais. A mim, devo dizer, parece-me globalmente equilibrado.
Ponto prévio: não admito, e jamais admitirei, acabar com qualquer das secções em causa, ou seja, Hóquei, Basquete, Volei, Andebol e Futsal, nas vertentes masculina e feminina. Já em modalidades como Ténis de Mesa, Polo Aquático, Bilhar ou Rugby, e mesmo Atletismo, Canoagem, Triatlo ou Natação, não conhecendo os custos, não poderei emitir uma opinião sustentada, sendo que gosto de as ter, mas confesso que não daria muito pela falta. Relativamente ao chamado Projecto Olímpico, tenho grandes dúvidas sobre a relação custo-benefício. Não sei quanto paga o Benfica a Pablo Pichardo, Fernando Pimenta ou Diogo Ribeiro, nem como funcionam os patrocínios, mas verifico que as suas grandes vitórias raramente são associadas ao clube. Para além dos Jogos Olímpicos se disputarem apenas de quatro em quatro anos, e nesse contexto os atletas representarem sobretudo (ou somente) o país. Justifica-se tê-los apenas como bandeiras? Francamente não sei.
Voltando às modalidades de Pavilhão, dando as femininas como claramente hegemónicas (falta o Volei, mas acredito que vá a caminho), vamos então às cinco masculinas.
O Hóquei em Patins é aquela de que mais gosto, sobretudo por estar muito ligada à minha infância - quando era claramente o segundo desporto nacional. Além disso, é uma modalidade onde há sempre boas perspectivas de obter títulos internacionais (das últimas cinco Ligas dos Campeões, quatro foram conquistadas por clubes lusos, infelizmente nenhuma pelo Benfica). Não exigindo plantéis muito extensos, e tendo um mercado muito circunscrito, não é preciso um investimento faraónico para construir uma das melhores equipas do mundo. Entre más arbitragens e algum azar, os títulos não têm sido tantos como se desejava. Acredito que, com os novos reforços, e com o novo treinador (embora não desgostasse do anterior), o Benfica possa traduzir o investimento em títulos, sendo que no âmbito nacional enfrenta adversários fortíssimos, dentro e fora das pistas.
Deste lote de cinco, o Basquetebol é claramente a modalidade de maior relevo planetário. Embora o seu epicentro seja nos EUA, com a fantástica NBA, também na Europa o nível é altíssimo, bastando ir a Espanha para o perceber. O Benfica tem grandes tradições nacionais, é tricampeão e tem de se manter ganhador. Com um mercado extraordinariamente denso, variado e caro (nomeadamente quanto aos norte-americanos de qualidade), o investimento tem naturalmente de acompanhar a realidade, sendo que a participação internacional é apenas isso mesmo: participação. Apesar de me parecer que, nas últimas duas épocas, o plantel do Benfica poderia ter feito uma gracinha na Fiba Europe Cup (uma espécie de quarta divisão europeia), onde não esteve por ter conseguido apurar-se para a Fiba Champions League (que sendo inacessível para a realidade nacional, é ainda assim a terceira divisão). Temo que as saídas de Ivan Almeida, Carter e Toney Douglas (este para o FC Porto) possam fazer-se sentir, embora perceba que as questões salariais têm de ser consideradas.
O Voleibol tem sido uma máquina de triunfos. Não retirando o mérito a Marcel Matz, não podemos esquecer que aqui não "há" FC Porto, e mesmo o Sporting, até à época passada, pouca luta dava aos agora pentacampeões. O adversário era, sobretudo, o Fonte Bastardo, com orçamentos certamente mais baixos. Esta temporada começou mal, com três competições perdidas em pouco mais de uma semana (Taça Ibérica, Supertaça e qualificação para a Champions). Ao contrário do Basquete, no Volei é possível estar entre os melhores - ou seja, na principal competição de clubes do mundo. Isto não é indiferente. Vamos esperar para ver, embora me pareça que a equipa já foi mais forte, tendo a certeza que o Sporting vai ser um osso duro de roer.
O Futsal tem sido a modalidade com maior acréscimo de mediatismo, quer pelos títulos internacionais alcançados para o país, quer porque tem atrás de si as poderosas estruturas organizativas do Futebol. O Benfica, que foi dominador nos tempos de Ricardinho, perdeu a liderança para um Sporting fortíssimo (sete campeonatos em oito, mais duas Champions). Como no Hóquei, quer Benfica, quer Sporting podem, com uma pontinha de sorte, ser campeões europeus (os encarnados ficaram nas meias-finais nos últimos três anos, e sempre com sabor a pouco). Diria até que era mais fácil, num dia feliz, ganhar a Champions do que um campeonato onde se é obrigado a vencer várias vezes o rival. Imperdoavelmente eliminado pelo Braga no playoff nacional, o Benfica este ano não marca presença na Europa. Por isso, entendo a temporada como de transicção, havendo que apostar nos jovens de grande valor que o plantel inclui (como Lúcio ou Kutchy) , preparando um ciclo ganhador para o futuro próximo. Tratando-se de uma modalidade com mercado circunscrito, é possível formar, construir e manter. Aliás, é isso que o Sporting tem feito, com enorme sucesso. Se no Hóquei, no Basquete e no Volei, espero nada menos do que ganhar o campeonato, no Futsal aceito um segundo lugar, e a qualificação europeia - para um 2025-26, então sim, de enorme sucesso.
Fica para o fim o Andebol, que é mesmo o caso mais problemático. Com um investimento elevado, as coisas têm corrido invariavelmente mal. Tudo começou num erro histórico, com a dispensa do saudoso Alexander Donner, que pegara na equipa na segunda divisão e em dois anos a levou ao título nacional de 2008. Na altura privilegiou-se estupidamente o balneário, dominado por jogadores de profissionalismo duvidoso (não gostavam de trabalhar tanto quanto o técnico exigia), alguns dos quais acabaram no Sporting. Perdeu-se a embalagem, a coerência do projecto e o rendimento. Nunca mais se encontrou o rumo. Entretanto houve um FC Porto de nível Champions, e agora há o melhor Sporting de sempre. Entretanto houve também um momento singular, totalmente inesperado e heroico, que foi a conquista da Liga Europeia em 2022, que tive o privilégio de presenciar, no Pavilhão Atlântico. Essa teria sido uma boa oportunidade para apanhar o comboio, e dar o passo seguinte. Por motivos que desconheço, tal não aconteceu. Esta temporada espero apenas o terceiro lugar, sendo que o segundo dá acesso à Champions. O título parece-me entregue ao Sporting, que tem conseguido manter os seus principais jogadores, e já goleou e humilhou o Benfica duas vezes neste início de época (na Supertaça e no Campeonato). E para ficar em terceiro não me parece que se justifique gastar tanto dinheiro, sendo que estamos a falar de uma modalidade olímpica, preponderante nos países mais ricos do mundo, e que exige plantéis extensos. Neste caso, justifica-se uma crescente aposta na formação, e uma visão de médio/longo prazo, para que dentro de dois ou três anos, contando também com um eventual fim de ciclo do Sporting, se possa atingir o topo.
Em suma, o montante global investido parece-me adequado, embora eu fizesse alguns ajustes entre modalidades. Para a presente época creio que quatro campeonatos femininos e dois masculinos, com um total de 23/24 troféus, seria um bom registo. Muito bom seria cinco femininos e três masculinos (no Futsal e no Andebol, não acredito que o sucesso possa ser imediato). Da frente externa, só o Hóquei tem alguma possibilidade de trazer mais do que honra e dignidade. Que assim seja.