INEVITÁVEL
O mundo é o que é, e não o que gostaríamos que fosse. Gostemos ou não, o futebol moderno transformou-se numa máquina de fazer girar dinheiro.
Criam-se sad's, abre-se capital a investidores incertos (e tantas vezes obscuros), mudam-se estádios de local e de tipologia, alteram-se emblemas para, segundo especialistas em marketing, se tornarem mais globais, multiplicam-se os equipamentos alternativos e a sua frenética variação (um para casa, outro para fora, um para as provas europeias, outro para quando chove ou faz sol) somente para fazer render as marcas (vendendo por cem, camisolas que neo-escravos produzem no sudeste asiático por cinco), rodam-se jogadores que aos quinze anos já só pensam em ser ricos, tiram-se comissões por intermediação numa cadeia sequencial de múltiplos agentes por cada negócio, vende-se merchandising, desenvolve-se o branding, transformam-se adeptos em customers e clubes em plataformas comerciais corporate (só as próprias palavras já me irritam), publicitam-se lugares premium para conforto de algumas carteiras, e no fim há ainda um speaker (que eu simplesmente despedia, pondo apenas música nos intervalos) a agradecer a presença no estádio do infeliz adepto que, ingenuamente, pensava que a alma de tudo aquilo era ele e os outros como ele que enchem as bancadas, e não uma qualquer empresa abstracta que lhe pretende vender tudo, e tudo, e tudo, como se estivesse num shopping qualquer, onde após lhe apresentarem a conta dizem "muito obrigado".
Criam-se sad's, abre-se capital a investidores incertos (e tantas vezes obscuros), mudam-se estádios de local e de tipologia, alteram-se emblemas para, segundo especialistas em marketing, se tornarem mais globais, multiplicam-se os equipamentos alternativos e a sua frenética variação (um para casa, outro para fora, um para as provas europeias, outro para quando chove ou faz sol) somente para fazer render as marcas (vendendo por cem, camisolas que neo-escravos produzem no sudeste asiático por cinco), rodam-se jogadores que aos quinze anos já só pensam em ser ricos, tiram-se comissões por intermediação numa cadeia sequencial de múltiplos agentes por cada negócio, vende-se merchandising, desenvolve-se o branding, transformam-se adeptos em customers e clubes em plataformas comerciais corporate (só as próprias palavras já me irritam), publicitam-se lugares premium para conforto de algumas carteiras, e no fim há ainda um speaker (que eu simplesmente despedia, pondo apenas música nos intervalos) a agradecer a presença no estádio do infeliz adepto que, ingenuamente, pensava que a alma de tudo aquilo era ele e os outros como ele que enchem as bancadas, e não uma qualquer empresa abstracta que lhe pretende vender tudo, e tudo, e tudo, como se estivesse num shopping qualquer, onde após lhe apresentarem a conta dizem "muito obrigado".
Cada vez rola mais dinheiro, e roda, e roda, e rende, e rende, e gira, e gira, até que um dia tudo isto vai esbarrar numa parede - quando se perderem os últimos vestígios de identidade e paixão que, na base, alimentaram o fenómeno, e sem o que este se tornaria absolutamente fútil e inútil. Quem vai enriquecendo está-se nas tintas. É sacar enquanto dá. E agora, com os árabes, ainda vai dar mais, pelo menos até esse tal dia em que chocar de frente com a sua vazia realidade e a bolha rebentar. Talvez seja o reflexo da decadência da sociedade ocidental - que ainda assim, como diria Churchill, é a pior à excepção de todas as outras.
O que vale é que ao futebol podemos virar costas assim que quisermos, e confesso que já estive mais longe de o fazer. A pandemia também nos ensinou que podemos muito bem viver sem ele, que não é assim tão importante para o nosso quotidiano, e que se não for bem tratado por quem tem poder e obrigação de o fazer, irá direitinho para o cano de esgoto junto com a água do próprio banho.
De tudo isto, confesso que já só gosto mesmo do "meu" (enquanto me permitirem senti-lo assim) Benfica. Tudo o resto, no mínimo enjoa-me, no máximo enoja-me. Mas é no meio desse "tudo o resto" que o "meu" Benfica está metido.
E a verdade é que, qualquer clube que pretenda manter-se vivo, aspirar a ser vencedor, tem necessariamente de entrar neste carrossel. Se esse clube for de um país periférico, e estiver encurralado numa liga miserável, atafulhada de equipas-fantasma e que ninguém vê em parte nenhuma do mundo, a única via será vender, ano após ano, o mais caro possível, os seus anéis, e adquirir (ou formar) outros que possam ser rentabilizados para mais tarde serem, também eles, vendidos. Se as coisas forem bem feitas e correrem bem, entretanto ganham-se uns campeonatos nacionais, e de vez em quando consegue-se uma participação honrosa na Liga dos Campeões - que muito dificilmente irá além dos quartos-de-final das duas últimas temporadas.
Não há outra via. O mundo do futebol profissional é isto. A menos que queiramos disputar apenas torneios amadores, estamos condenados a aceitar (ou abandonar) esta realidade.
Por tudo isto, já se sabia que Gonçalo Ramos ia sair do Benfica. Sobretudo a partir do "hat-trick" do Mundial, a sua cotação atingiu um nível insustentável para o futebol português. De certo ia ter propostas salariais quatro, cinco, sete ou nove vezes mais altas (o que, convenhamos, para qualquer profissional, de qualquer área, como eu ou como o estimado leitor, se tornariam dificilmente recusáveis). E o clube tinha nele o "ativo" (outra expressão aterradora quando aplicada a jogadores de futebol) mais valioso, cuja receita seria fundamental para novos investimentos, ou meramente para manter os imperiosos equilíbrios financeiros.
Pensei que Ramos ficasse até à Supertaça. Infelizmente, parece que nem isso é possível.
Resta desejar boa sorte ao rapaz, e partir para outra - neste caso, para outro. Gimenez ou Beltran? Talvez preferisse o primeiro, por já estar adaptado ao contexto europeu. Mas o preço também é diferente - e entretanto até renovou contrato com o Feyenoord, o que dificultará ainda mais uma negociação.
Quando pagamos impostos, a melhor estratégia é fazê-lo e evitar pensar muito no assunto. Neste caso é igual. Tinha de ser, pois que seja. Havendo saúde, a vida vai continuar. Com ou sem Gonçalo Ramos, com ou sem futebol.
11 comentários:
Em vez das alternativas que fala eu ponderava o Solário do River Plate. Que finalizador!!! E mais barato.
Quando estas coisas acontecem não só relembro porque deixei de pagar quotas e de ir ao estádio (não contribuo para enriquecimento excessivo e injustificável de jogadores de futebol, nem para máfias e interesses instalados que defendem os interesses do Benfica e fazem uma péssima gestão desportiva que conduzirá inevitavelmente à secundarização do clube a breve trecho) como reforça a minha convicção da decisão tomada e da liberdade adquirida.
Sem dúvida ! totalmente de acordo com a análise e não adiante reclamar que o jogador A ou B deveria estar mais tempo no clube. Os tempos mudaram, o futebol não é mais aquele em que o amor a camisola era o primeiro aspecto a tomar nas decisões de mudança. VIVA O BENFICA ! o resto é a vida e os jogadores passam e quem sabe quem vier até pode fazer melhor que o Gonçalo Ramos que para mim ainda não justificou tantos milhões, mas é a minha opinião.
Excelente texto com o qual concordo no essencial e me identifico com as ideias expressas.
As coisas sao o que sao. Os tempos actuais sao o que sao. E outros tempos virao. Possivelmente melhores numas coisas, piores noutras.
Nao estou contra que o SLB venda o Goncalo Ramos. Qual o presidente que pode dizer nao a 80 milhoes de euros? se ainda por cima o jogador, mais o empresario do jogador, mais a familia do jogador e a namorada do jogador quiserem sair?
O que espero, o que teria muita dificuldade em entender e aceitar, e que esta venda seja feita sem a concordancia do treinador e sem uma alternativa que se encaixe no modelo e ideias apara a equipa.
O mexicano do Feynoord seria excelente. E acredito que o actual SLB possa partir o mealheiro (30/35milhoes) por 100% ou 90% do passe.
Se nao tiverem precavido esta provavel saida com um plano alternativo de qualidade entao estariamos a voltar aos tempos negros de LFV. Teria entao muita dificuldade em confiar que Rui Costa quer verdadeiramente ser e fazer diferente e focar-se na vertente desportiva.
Fico a aguardar ansiosamente pelos proximos capitulos.
O Porto todos os anos está para morrer, e não só não sai nenhum octávio, como ainda contratam com critério.
O Benfica que nada e dinheiro, vende um dos imprescindíveis do mister, a 1 semana da supertaça.
O Ugarte foi por 60 milhões, batida a cláusula. No meio deste mercado louco, o Benfica vende por 65+15 um PL, talvez a posição onde existem menos opções de grande qualidade no mercado.
Isto não me faz qualquer sentido. Se tinham mesmo que vender, que adiassem as negociações para depois do jogo da supertaça.
a questão não esta na saída, até porque sabemos que mais tarde ou mais cedo este tipo de jogadores vai sair.
mas sim no valor, para abdicarmos de um jogador que interessa e quando não precisamos de o vender, e com a venda em janeiro não precisamos de fazer nenhuma venda neste momento, tem de ser por um valor que nos compense e o valor que falam não compensa a perda.
alias basta comparar com o valor da venda de um jogador para a mesma posição no ano passado quando ai sim precisávamos obrigatoriamente de vender.
o jogador quer sair, seja este ou outro qualquer, tudo bem agora os negócios tem de ser bons para todos não apenas para alguns o outro quis sair, e saiu, mas tiveram de nos compensar e este valor não nos compensa.
Luís,
Parabéns pelo excelente texto, tudo verdade, tudo dito.
Sobre a venda do Ramos:
- venda por 53 Milhões (65 - 20% de comissões)
- 20% comissões é um roubo, é um escândalo
- como é possível o mesmo clube comprador (Psg) pagar 60 M por um caceteio com 0 golos e 0 assistências (ugarte) e pagar apenas 65M que na verdade são 53 para o Benfica? Falta de visão, incompetência atroz e inabilidade negocial por parte do Benfica.
- e agora quem vira para o substituir? Fala-se no Jimenez, no Lucas beltran e pedro. E o preço destes quanto será?
- a mais valia desta venda será fraquíssima pois um bom avançado não será barato ( passe + salários)
Depois de mais uma oferta do Benfica, desta vez para o Psg, vou aqui apresentar a minha preferência para colmatar e minimizar esta oferta:
- Lucas beltran por 15 a 20 M por 100% do passe e marcos Leonardo por 10M a 12M por 100% do passe. Ficaríamos com 2 jovens muito bons. Com 25 a 30 M ficaríamos com 2 excelentes avançados.
Benfiquista a sério
e já agora contratem é o scouting do feyanord. estes sim, descobrem o que não está descoberto: AURSNESS POR 400 MIL EUROS, GIMENEZ POR 6 MILHÕES, KOKCU POR 0.
Ficará muitíssimo mais barato que contratar depois ao feyanord por 500 vezes mais caro
para quem diz que RUI COSTA percebe muito de futebol, RUI COSTA NÃO PERCEBE NADA DE FUTEBOL E PIOR NÃO PERCEBE NADA DE NEGOCIOS, COMPRA CARO E VENDE BARATO
benfiquista a serio
o Benfica vende ao desbarato jovens para pagar salarios malucos a velhos. esta é a realidade do BENFICA.
ISTO CHAMA-SE DE GESTÃO DANOSA;
A CONTINUAR ASSIM, A BANCARROTA NOS ESPERA.
O BENFICA ESTÁ À MERCÊ DE UMA GESTAO DE UMA CAMBADA DE INCOMPETENTES.
E O PIOR É QUEM APARECE A ELEIÇÕES COMO ALTERNATIVA AINDA É PIOR.
BENFIQUISTA A SERIO
Eu já estou como o Luis, a desinteressar-me desta pouca vergonha que é o futebol em portugal e no mundo.
o futebol é comandado por vigaristas que só olham para o seu bolso.
o meu amor ao BENFICA continuará sempre, é de nascença mas o interesse e a preocupação pelo BENFICA cada vez MAIS me faz perder menos tempo para bem da minha saúde e bem estar.
façam o que quiserem pq a mim cada vez mais me diz menos em prol do minha saude e bem-estar
benfiquista a serio
Boas. Sinceramente não considero (ainda) o Gonçalo Ramos como um "super-avançado", no entanto tenho que admitir que já mostrou bem mais do que apenas potencial, e que o mais provável é melhorar ainda mais.
Aqui o que me (nos) causa mais incómodo não é obviamente o valor da venda, que de facto poderia ser o da cláusula, mas a cláusula é um valor arbitrário e subjectivo, são 100 ou 120 milhões (confesso que não sei só certo), mas podiam ser 60, 80, 150, 200, um valor qualquer que eles decidissem. O problema aqui é a possibilidade de ficarmos sem mais um avançado centro (recordo que o Henrique já foi emprestado), e não haver um substituto já quase finalizado, e na minha opinião com a saída dele não vamos precisar de um, mas sim de dois avançados. Ficar só com o Musa e o Tengsted, mais um outro que venha pode se curto. Eu sei fala-se no Félix, o Guedes deve ficar e regressar em Outubro ou Novembro, mas de concreto não temos ninguém de momento. Não se esqueçam que para fazermos uma época relativamente bem sucedida, não deveremos fazer menos que uns 50 jogos (talvez perto de 60), 4 avançados ou 3 mais 2 (sendo os 2, o Félix e o Guedes), não são avançados a mais para "tanta" jogo.
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