ESTE BLOG BOICOTA O MUNDIAL E NÃO ESQUECE DIREITOS HUMANOS

Eis um homem de coragem. Para mim, o melhor em campo.
Enquanto umas selecções tapam a boca e outras ajoelham-se, da selecção portuguesa, da FPF, de Fernando Gomes ou de Cristiano Ronaldo, nem uma palavra ou um gesto sobre o Catar, sobre direitos humanos, sobre respeito ou justiça. Quando se vê as principais figuras de Estado a desvalorizar o tema,  também não admira que os súbditos se comportem assim.
Houve Jogos Olímpicos na Alemanha de Hitler, houve Mundiais na Itália de Mussolini, na Argentina de Videla, e na Rússia de Putin. Acontece que hoje a consciência do mundo é diferente, e ainda bem.
À beira de 2023, já não é aceitável atribuir um Mundial a um país de dinheiro fácil, de escravatura e discriminação, que nada tem para oferecer a não ser encher os bolsos aos dirigentes da FIFA. E também não é aceitável que as três principais figuras da nação portuguesa se desloquem em fila para assistir a jogos de futebol, à hora em que muitos milhares de portugueses trabalham e nem sequer os podem ver na televisão.
Apesar de tudo, desejo obviamente que a selecção nacional chegue o mais longe possível na prova. Sou português. Apesar da FIFA e de tudo o que rodeia o fenómeno, ainda gosto de futebol. Vi a segunda parte com o Gana, e vi todo o jogo com o Uruguai.
Mas até dia 18 de Dezembro (data da final) não escreverei uma linha sobre jogos, golos ou resultados. É a minha forma simbólica de me manifestar. Há coisas muito mais importantes do que o futebol - apesar de tanto o amar. Não me vale de nada, mas salvaguarda a minha consciência. Se todo o mediatismo do futebol não puder servir para denunciar injustiças e tiranias, então desconfio que não sirva para coisa nenhuma.
Este blog não está com a FIFA, nem com o sr. Infantino, nem com a FPF, nem com os nababos que mandam no Catar. Está, sim, com as famílias dos milhares de mortos nas obras de construção dos estádios do Mundial. Está também com quem protesta nas ruas do Irão contra um regime anacrónico e violentador da dignidade humana. Está ainda com quem mostra folhas em branco nas ruas das cidades chinesas clamando por liberdade. 
Se não quisermos saber de nada disso, em breve deixaremos de querer saber também dos ucranianos, depois dos paquistaneses do Alentejo e por aí fora. Lembrando Bertolt Brecht, se um dia precisarmos, talvez já não haja ninguém a querer saber de nós.

8 comentários:

Confrade disse...

Meu Caro, o futebol é um negócio assim como a guerra e tudo que envolva dinheiro assim como os direitos humanos é um negócio para muitos.

an0n disse...


#pink_money

Anónimo disse...

O direito de levar na peida ?

Brytto disse...

Uma coisa é certa, com estes critérios os mundiais de futebol bem como as grande competições mundiais desportivas só podem ser realizadas em países ditos civilizados, que é como quem diz ocidentais. Vai ser bonito… Como alguém já escreveu, quebrada esta regra sagrada de separar política de futebol, este pode ser o início do fim do futebol.

LF disse...

Não é só uma questão de civilização.
O Catar não tem qualquer tradição futebolística, não tem dimensão, e comprou a organização do Mundial enchendo os bolsos aos dirigentes da FIFA.
É o pacote completo.

Mas, voltando à civilização, acho que os grandes eventos não devem, nem podem, servir para branquear regimes absolutistas e medievais. E se tiverem de ser todos realizados em países ocidentais, pois que sejam. Ainda assim julgo haver muitos países no mundo, fora da Europa e dos EUA, onde os direitos humanos não são tão espezinhados como no Catar.

Anónimo disse...

Não entendo a ideia por trás do boicote ao mundial. Há somente 4 anos, em 2018, a organizadora do mundial já tinha anexado a Crimeia 4 anos antes. Sem esquecer que em 2008 o mesmo país fez uma "operação militar" na Geórgia. Não se viram apelos a boicotes nem protestos desta dimensão. Uma coisa é a política e cultura do país, outra são eventos e provas desportivas que são realizados nesse país. Não me parece correcto andar a protestar contra as raízes culturais dos países durante eventos desportivos, é totalmente despropositado. Deve-se protestar é no caso de não haver condições de treino, de jogo ou de transmissão televisiva, isso sim é que está dentro do âmbito do evento.

Ainda me parece mais absurdo o facto de estes "activistas" por norma serem os mesmos que na Europa envergam slogans a dizer "bem-vindos migrantes" e defendem a construção de mesquitas, entre outras coisas, com a justificação de "é a cultura deles, temos de respeitar". Ou seja, quando eles vêm para o nosso país, um país soberano, com a sua cultura, "temos de respeitar". Quando um evento que movimenta milhões de pessoas e de dinheiro vai ao país deles, já devemos colocar a cultura do país em causa (mas só durante a duração do evento. Antes e depois não interessa). Onde está o "é a cultura deles, temos de respeitar"?

A desculpa de "o Catar encheu os bolsos da FIFA", também não me parece argumento válido para tanto barulho. Claro que o Catar pagou bem e às pessoas certas para garantir a organização da prova. Mas não sejamos ingénuos a achar que todos os outros países não fizeram algo semelhante. Por exemplo, alguém acredita que Portugal foi escolhido para organizar o Euro 2004 exclusivamente pelo projecto apresentado? Eu sei que não foi, mas não me escandaliza, porque infelizmente é assim o mundo do futebol. E já agora, esta candidatura patética de organização do Mundial 2030 que envolve Portugal, será inocente?

A única coisa que me chateia neste mundial e que é um legítimo motivo de desagrado é o facto de ser realizado fora de tempo e poder prejudicar o desempenho dos clubes na restante época, por causa desta paragem a meio da temporada. O único motivo de protesto que aqui vejo é esse. Agora se um determinado país tem esta ou aquela política ou cultura, não é para aqui chamado. Isto é futebol. Nas finanças é igual, quando Portugal foi a esse mesmo Catar pedinchar para comprar parte da dívida pública, certamente também não andou a opinar sobre as políticas do país.

Anónimo disse...


Pensar na causa dos acontecimentos prejudica a ordem natural da sociedade.

Diria o doutor Salazar, se ainda por cá andasse ... parece que ressuscitou ...

😊😊😊😊😊

LF disse...

Caro anónimo,

O seu comentário é denso e dava pano para mangas. Percebo alguns argumentos, mas não vou desenvolver pois também não quero aqui entrar em temas estritamente políticos.

Apenas direi que as razões que me levaram a boicotar os comentários ao Mundial, infelizmente permanecem válidas, pese embora estarem a ser mediaticamente esmagadas pelos jogos, pelos golos e pela selecção nacional.