ATÉ À MORTE!
Bandeiras bailam com o vento,
Em longas bancadas sem fim. 
Cúmplice, a relva chama o olhar. 
E recebe os soldados no momento,
De uma guerra sem mártires que assim,
Em vez de fazer morrer faz amar.
As faces enchem-se de ansiedade.
As almas, de uma fé contagiante.
As vozes condensam num só grito,
Os ecos de uma indómita vontade,
E de um delírio deveras contrastante,
Com quem nos roga conflito.
Um tórrido calor no coração. 
Nas mãos, a humidade agreste.
Mais do que a vida, mais do que a morte.
Tal a força desta paixão,
Ou da glória que a angústia veste.
Rasga-se o fado, e reza-se a sorte.
Começa o jogo. Há um apito.
Não. Não é jogo, que isto é dança! 
Cor de sangue, cor de luta, cor de gente,
Guiado por uma sede de infinito,
Sobre o tapete verde da esperança, 
Um vermelho vivo e ardente.
E quando a rede balança, rendida, 
Quando o povo perde a lucidez,
Será golo, será poema, será mito? 
Abraça-se a família reunida,
Querendo repetir mais uma vez,
O sabor deste prato favorito.
Hora e meia voa, terminada.
Após louca e cega comoção,
Foi-se o sofrimento que flagela.
E com orgulho na grandeza legada, 
Devolvidos ao mundo da razão. 
Ganhámos! A vida é bela.
Ninguém tolhe este sentimento vespertino.
Este lacrimejar doce e brilhante,
Que não deixa contentar-nos de contentes,
Que nos prende por escolha a um destino,
Forte, firme, nobre e vibrante.
O de servirmos a ti, que sempre vences.
Sem ostentação fútil de vaidade,
Depois de ter a lua, somos gente. 
Gente bem mais densa e bem mais forte. 
Voltaremos, muitas vezes, na verdade, 
A amar-te assim perdidamente, 
Sempre, e sempre, e sempre, até
à morte.     LF
 
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