IMPORTANTE, OU TALVEZ NÃO

Cinco anos depois do seu nascimento, a Taça da Liga continua a ser encarada por alguns como uma prova menor e desprezível.



Esta atitude (eu chamar-lhe-ia, má vontade) teve origem na guerra que o FC Porto e Pinto da Costa moveram contra Hermínio Loureiro por alturas do processo Apito Dourado – na verdade, nunca lhe perdoaram a sua firmeza e independência, coisas a que não estavam habituados -, e que, como sempre, foi seguida pavlovianamente pelas encarneirizadas massas portistas. Tendo a Taça da Liga sido um dos grandes emblemas da gestão de Hermínio, tornou-se rapidamente um alvo desses ataques, não sendo poucas as tentativas de a atingir e amesquinhar. Tudo isto se acentuou com as três vitórias consecutivas do Benfica, que acrescentaram mais um argumento a quem, do outro lado, queria desvalorizar (mais no discurso do que na acção, diga-se) a jovem prova.



Infelizmente já vou tendo uns anitos (mais do que aqueles que queria ter), mas felizmente tenho boa memória. Recordo-me perfeitamente do que foi o nascimento da Supertaça, a forma como foi tratada por Federação e clubes, e o modo contrastante como o FC Porto sempre a encarou. Tratando-se, aqui sim, de uma prova objectivamente menor (de apenas um jogo), o FC Porto nunca deixou de aproveitar para somar troféus e deles fazer gala, sendo, durante muitos anos, o único clube que verdadeiramente tomava a Supertaça como algo que ela nunca foi. Sobretudo quando a ganhava frente ao Benfica (e, por desgraça, aconteceu bastantes vezes), percebia-se que de um lado estava quem não se comprometia demasiadamente com a ocasião, e do outro gente de faca nos dentes disposta a tudo para erguer um troféu nas barbas do rival. Vi, com estes olhos que a terra há de comer, adeptos portistas em êxtase, noite dentro à espera do autocarro da sua equipa depois de vitórias na Supertaça (o que não critico, apenas constato). Vejo a mesma ser utilizada para comparações de número total de conquistas. Ou seja, quando o FC Porto ganha, as provas são importantes; quando perde, não têm relevo, fazendo tudo para as menorizar – enquanto, de sorriso amarelo, vai fazendo os possíveis por ainda assim as ganhar, e sobretudo por evitar que os rivais (ou melhor, o rival) as ganhem.



Mais espantosa é a forma como muitos benfiquistas embarcam nesta cantiga, olhando também eles de soslaio para uma competição que, por motivos óbvios, lhes deveria merecer o maior carinho. A vitória do ano passado, e os tristes episódios que se lhe seguiram, são disso exemplo. Mas há gente que, do alto do seu romantismo revivalista e anossessentista, até a Liga Europa deita fora, numa lógica para mim verdadeiramente incompreensível - e se há troféu que invejo no palmarés portista é precisamente a Uefa/Liga Europa, e daria um dos 32 campeonatos do Benfica só para ter estado em Dublin, no lugar do Sp.Braga, mesmo perdendo a final.




Sou daqueles que entende que todos os troféus são importantes (nem concebo o desporto de outro modo), e que um clube como o Benfica tem sempre de jogar para os ganhar. Nunca vi um benfiquista na rua a comemorar qualquer das Taças da Liga conquistadas, mas pessoalmente não deixei de as festejar à minha maneira. Fiquei particularmente feliz com os 3-0 diante do FC Porto, há duas épocas, curiosamente na única final em que não pude estar presente. E será também oportuno lembrar o quanto fiquei aborrecido com a eliminação em Setúbal, na primeira edição, em jogo a que assisti, e obviamente antes do Benfica ter o seu nome inscrito no palmarés da prova.




Se analisarmos, por exemplo, as audiências televisivas, verificamos o quanto a Taça da Liga veio trazer ao futebol português, tendo hoje o seu lugar bem firmado no panorama competitivo luso. Alguns dos seus jogos entraram directamente para a história (o célebre penálti assinalado por Lucílio Baptista foi dos momentos mais mediáticos dos últimos anos), e se nos lembrarmos que as finais tiveram sempre lotação esgotada, e algumas meias-finais assistências imponentes (50 mil pessoas no Benfica-Sporting do ano passado), confirmamos que a Taça da Liga foi efectivamente uma excelente ideia, embora porventura ainda necessite de um regulamento mais eficaz.




Sou, pois, um defensor da importância da Taça da Liga, e de todos os troféus oficiais, entendendo que cada um tem o seu próprio espaço, e merece a sua própria relevância. Dito isto, não posso no entanto deixar de estabelecer algumas hierarquias, quer em termos absolutos, quer no plano conjuntural.




Obviamente a Liga dos Campeões é mais importante que a Taça da Liga, assim como o Campeonato é mais importante que a Taça de Portugal, e como a Taça da Liga é mais importante que a Supertaça. A minha hierarquia é fácil de estabelecer: provas europeias (à cabeça das quais, naturalmente, a Champions), campeonato, taças (sendo a de Portugal, pela sua tradição, e pela final do Jamor, mais relevante), e por fim supertaças.




Para além disso, ou na sequência disso, há, no plano conjuntural, que atender a vários factores, que podem, no limite, determinar que uma equipa prescinda do campeonato (se chegar, por exemplo, a umas meias-finais da Champions), de uma Liga Europa (como aconteceu com o Benfica há dois anos), ou de uma Taça de Portugal (como desconfio tenha acontecido agora). É nesta medida (e também porque vem de três triunfos consecutivos) que me parece que o Benfica não deverá comprometer-se muito nesta (e apenas nesta) edição da Taça da Liga.




O calendário é apertado, as lesões começam a surgir (por diferentes motivos estão fora Garay, Ruben Amorim, Enzo Perez, Aimar e Cardozo), e o Benfica - já o disse aqui – não pode arriscar um milímetro na luta pelo título. A Champions é a Champions, e terá, como é óbvio, de ser jogada nos limites. Sendo este campeonato particularmente importante, e estando a luta tão acesa, não me parece que exista espaço para mais nada, num plantel que é bom, mas não é super.




Deste modo, defendo que Benfica jogue com uma segunda linha durante esta primeira fase. Se tiver de ser eliminado, que seja – pode ser que daí saia finalmente a valorização do tri alcançado -, se chegar às meias-finais, então logo se verá. Em Guimarães percebia que era necessário dar ritmo aos titulares. Agora esse problema não se coloca, pelo que é hora de poupar.




Deixo pois o onze que eu, em coerência com a ideia que acabo de expressar, escolheria para a partida com o Santa Clara. Tenho a convicção de que será suficiente para vencer. Os outros? Que descansem bem, pois no domingo a luta continua.

9 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post. Abraço.

Anónimo disse...

Não deixa de ser curioso que dedique uma parte significativa a falar do FC Porto, interessante....

Nós Sébio disse...

Não acha que a direcção já devia ter renovado com JJ?

Hugo disse...

Não se pode levar muito a sério esta competição quando os regulamentos são feitos para os grandes passarem às meias finais.
A ideia foi boa mas assim não pode continuar

Anónimo disse...

Concordo. Também prefiro a Taça da Liga, já apelidada de Taça Lucílio Baptista (certamente por não ter visto falta de Vukcevic sobre o Maxi na jogada que deu o golo do Sporting - curiosamente só o pasquim lagarto "Record" é que falou disso), a uma Supertaça José Pratas. Quero mais é que o Benfica cimente uma supremacia inquestionável nessa competição como têm os corruptos dos Andrades no troféuzão do início de época.
E também preferia uma Liga Europa a um campeonato. Foi pena o Jorge Jesus não ter pensado assim há duas épocas atrás, ao não ter arriscado na Figueira da Foz dois dias antes da decisiva cartada com o Liverpool em Anfield. Para esta época temos necessariamente que ganhar o campeonato e a Bwin Cup. Champions? Só mesmo sonhando... não é o sonho que comanda a vida mesmo? Então sonhemos enquanto for possível. Depois de ter visto o Barça a ganhar ao Real, duvido que possamos sequer pensar em ser os underdogs da competição...

Anónimo disse...

Ou seja, quando o FC Porto ganha, as provas são importantes; quando perde, não têm relevo, fazendo tudo para as menorizar – enquanto, de sorriso amarelo, vai fazendo os possíveis por ainda assim as ganhar, e sobretudo por evitar que os rivais (ou melhor, o rival) as ganhem.

Ora nem mais...é assim q o SLB encara a Supertaça e a Taça da Liga...

Telhados de vidro...

LF disse...

Anónimo,
Falo do FC Porto porque tem sido ele, e os seus apaniguados, os principais críticos da Taça da Liga.

Nós Sébio,
Jesus renovou no início da temporada passada, tem um excelente contrato, e não creio que queira sair do Benfica tão depressa.

Hugo,
Gosto da Taça da Liga, mas não gosto do regulamento.
Percebo no entanto que pretenda fazer com que as finais sejam mediáticas, garantindo assim maior retorno financeiro para todos.
Uma final Moreirense-Santa Clara, ou coisa parecida, seria a morte da prova.

Fire Head,
Na Champions, chegar aos quartos-de-final já será uma vitória, às meias-finais um sonho.
Ninguém, no juizo perfeito, pensa vencer a prova. Mas há que tentar ir o mais longe possível, pois em termos financeiros vale ouro.
Há dois anos, era decisivo para o Benfica voltar a ser campeão. Percebi, na altura a aposta feita. Já no ano passado, a derrota na Liga Europa foi, para mim, dramática. É a tal questão conjuntural de que falava no post.
Neste momento acho que o campeonato deve ser a prioridade maior.

dezazucr disse...

A Supertaça é só um jogo e apenas 2 equipas têm hipótese de a conquistar sendo que o campeão nacional é naturalmente favorito, principalmente quando muitas das vezes é também ele o vencedor da taça.

Eu prefería que nos próximos 2 anos ganhasse o sporting a taça da liga, de modo a começarem a valorizar o troféu.

Unknown disse...

hierarquia para mim:
-campeonato
-liga dos campeões
-taça de portugal
-liga europa
-taça da liga
-supertaça

Campeonato sempre em primeiro porque é isso que está no nosso ADN, ser campeão. Além disso, a liga dos campeões embora seja um cenário agradável é altamente improvável e vale mais um campeonato do que outra final perdida.
em terceiro a taça de portugal, porque é a festa do futebol nacional, porque durante muitos anos era algo que permitia aos pequeninos sonhar em defrontar o glorioso no jamor e as finais são uma festa do povo e é algo que nos ajuda a manter o estatuto de maior de portugal.
A seguir a Liga europa, que a mim diz-me pouco, ou pelo menos diz-me menos que campeonato e taça. E sim, estive em braga a ser humilhado por um roberto frangueiro e uma equipa que tinha um coentrão que queria, mas o resto não podia, porque queria ir à irlanda, mas gosto mais do jamor, as saudades que eu tenho de uma final no jamor.
A taça da liga que deveria ter um desenho semelhante à taça de portugal, em vez desta abstrusa fase de grupos que leva os treinadores a não ligarem muito. Se os grandes não ligam, a liga que atribua um lugar nas competições europeias ao vencedor ou finalista vencido, caso o vencedor seja apurado, que as equipas médias/pequenas começarão a dar importância à taça. aliás este sistema de fase de grupos protectora das equipas grandes é um dos factores que leva os pequenos também a não se interessarem.
Finalmente a supertaça que de super só tem o nome, pois é um jogo e nunca foi algo que me motivasse, talvez pelas sucessivas derrotas, porque a equipa não perseguia josés pratas pelo campo e não mostrava tanta vontade de conquistar como os adeptos, seja comofôr, não se pode comparar uma competição de um jogo com uma competição de muitos jogos independentemente do formato.